Além Do Fraternal escrita por Gey Scodelario


Capítulo 11
Quando já não é possível...


Notas iniciais do capítulo

Heey people! Cá estou eu de novo :3 kkk Obrigada pelos Reviews Perfects, vocês são divooos *-*



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Pedro observou o Sol nascer timidamente entre as montanhas geladas. Sentia-se extremamente cansado, a noite fora muito longa: mais uma vez tivera insônia. Suspirou pesadamente enquanto sentava-se na própria cama. Olhou o relógio luminoso no criado mudo, marcava 10h da manhã e a casa ainda estava silenciosa. Aliás, a casa se encontrava naquele estado há dois meses. Ele e seus pais estavam fazendo uma “escala” nada agradável todos os dias: casa-escola-hospital-casa, não exatamente nesta ordem.

Nem com a água quente escorrendo pelo seu corpo ele foi capaz de relaxar. Era sábado e estava disposto a passar o dia todo naquele hospital ao lado de Karina. Não a abandonaria um instante que fosse enquanto pudesse. Sentindo o coração acelerar ele se lembrou da última conversa que tiveram com o médico que estava cuidando da sua irmã...

... Dr. Jonas se sentou à sua mesa e tirou os óculos de grau. Não olhava diretamente para os pais dele, permaneceu cabisbaixo enquanto anotava algo em um bloquinho branco. Dandara respirava fundo e apertava a mão de Gael fortemente. Este, por sua vez mantinha os olhos fixos no homem à sua frente, que por fim disse:

_Eu fiz novos exames na jovem, conforme me pediram, e... Lamento dizer que o estado de saúde dela é o mesmo dos últimos exames.

Ele fez uma pausa e finalmente encarou os pais aflitos:

_Quando digo que não houve mudanças, quero dizer que ela não melhorou.

_Mas também não piorou!

A intervenção de Dandara, feita em uma voz falha, fez com que o médico retornasse a olhar fixamente seu bloquinho de notas.

_Sim Dandara, ela não piorou. _ ele soltou um longo suspiro e continuou, desta vez olhando novamente para o casal. _ Mas, infelizmente, não vemos chance alguma de mudança no estado dela e... _ os soluços dela o fizeram falhar, mas logo ele continuou. _ Ela pode ficar assim por tempo indeterminado... _ mais uma vez, os soluços._ Ela está em estado vegetativo e arrisco dizer... _ os soluços aumentaram._ Arrisco dizer que, no momento, quem está sofrendo é apenas a família... Vocês.

Um silêncio pesado tomou conta do ambiente, sendo quebrado algumas vezes pelos soluços de Dandara. Gael, que até alguns segundos atrás tentava dar força à esposa, agora permanecia sem reação, assim como Pedro, que sentia a parede atrás de si o único recurso para se manter de pé naquele momento.

_E-... Eu... Não vou desistir da minha filha. _ Dandara disse em um tom de voz desafiador._ Enquanto ela estiver aqui e Deus não leva-la, não vou desistir dela.

Pedro já não sabia o que pensar. Devia confessar a si mesmo que por várias vezes nos últimos meses chegou a pensar que o médico estava certo e a única solução era desligar os aparelhos que a mantinham viva. Mas sempre que pensava nessa possibilidade ele tinha sonhos muito realistas, onde Karina o pedia para que não desistisse dela e, na manhã seguinte, ele acordava com o triplo de esperança.

Mas, assim que ele chegava no hospital, mais especificamente no CTI onde a jovem se encontrava, era como se um balde de água gelada fosse jogado sem piedade. Ao vê-la pálida, sempre desacordada, com cortes espalhados pelo rosto, antes perfeito, as mãos inchadas devido às agulhadas diárias!

Apesar disso, ele ficava impressionado em como sua irmã era amada. Todos os dias, buquês de flores chegavam os montes, assim como ursinhos, bombons... Mas, como ela estava em um CTI, todos os presentes iam para a casa dela e, agora, o quarto da jovem estava bastante perfumado e decorado e Dandara estava disposta à mantê-lo daquele jeito até que a filha acordasse.

Dandara, aliás, estava se mostrando uma mulher extremamente forte. Era engraçado quando alguém se dirigia à ela com lágrimas nos olhos, lamentando pelo ocorrido e ela retribuía com um sorriso dizendo que estava confiante e que a filha iria sair daquela situação. Gael, ao contrário, permanecia sempre calado. Raramente sorria ou expressava algum sentimento. Talvez pensasse que, se chorasse, iria preocupar a esposa, que estava grávida e já não aguentaria tanta pressão.

Desde o ocorrido, Dandara passou mal apenas uma vez e fora logo naquela noite, quando receberam a notícia...

_Pedro... Eu preciso contar uma coisa muito importante para você. _ ela disse, ficando muito séria.

_Mãe, agora não! A Karina precisa de mim!

Ele começou a acompanhar o médico, quando ela gritou:

_Pedro! Você não pode...

_Senhora, por favor! _ disse o médico, impaciente. _ Precisamos urgente dessa doação!

_Mas... _ ela insistiu, sendo interrompida em seguida.

_Agradeça à Deus por ela ter um tipo sanguíneo que é receptor universal. Precisamos de toda a ajuda possível nesse momento!

Dandara ficou estática, observando os dois se afastarem.

Quando ele retornou para a recepção, recebeu a notícia de que sua mãe estava em observação na enfermaria pois sentiu um mal estar.

Desde então, ela passa a maior parte do tempo tentando se controlar, frequentando cultos aos domingos, criando novas amizades no hospital, participando de um programa de mães que acompanham os filhos internados. Pedro não sabia exatamente o que estava deixando-a tão calma, mas estava funcionando.

No caminho para o hospital, ele não pôde deixar de pensar em Cobra. O rapaz era outro que se revezava entre a escola, a casa e o hospital. Não conversavam muito, raramente se cumprimentavam, mas ele surpreendeu à todos com aquela atitude.

Chegou ao hospital relativamente cedo naquele sábado, mas quanto mais cedo, mais tempo ele teria com a irmã. Atravessou os corredores do CTI se preparando, orando, sentindo a respiração travar algumas vezes quando via uma família chorando pela perda de um ente querido. A morte passou a ser companhia diária naquele lugar.

Finalmente, chegou ao quarto de Karina. Deu um último suspiro longo e entrou.

Pedro estava se preparando para tudo, mas, naquele momento, estava se repreendendo por não ter se preparado para o momento aparentemente mais improvável dentre os outros: encontrou uma Karina sentada na própria cama, sorridente e serena. Seu cabelo um tanto bagunçado emoldurava seu rosto pálido mas, por incrível que pareça, radiante. Nesse momento ela ouvia atenta alguma coisa que Dandara contava, esta, por sua vez, parecia estar vendo uma aparição e admirava a própria filha como se fosse a primeira vez que a estivesse vendo. Falava em um tom muito baixo, mas bem compreensível para qualquer um, exceto para Pedro, que permanecia estático à porta, alheio à tudo ao seu redor mas bem atento à irmã, que, nesse momento, voltou seu olhar para a direção dele e sorriu.

_Oi... _ ela sussurrou ou falou com a voz falha, Pedro não pode decifrar, só sabia que precisava tomar uma atitude.

Dandara seguiu o olhar da filha e sorriu ao ver o rapaz.

_Oi meu amor! Por que não se aproxima? _ ela perguntou.

Finalmente Pedro pareceu retornar à vida e caminhou, a passos largos, até chegar bem perto de Karina.

_Como...?_ ele não sabia bem o que dizer ou perguntar, queria apenas abraça-la bem forte, mas o estado frágil dela o impediu. Por isso, ele se contentou em segurar a mão dela e distribuir vários beijos naquele local.

Dandara se afastou um pouco, mas foi Gael quem começou a dar explicações:

_Ela despertou de madrugada. Queríamos te ligar mas...

_Eu pedi para que eles não contassem. _ a voz dela, ainda que bem baixa, foi o suficiente para que o rapaz parasse com os beijos e a olhasse fixamente nos olhos. _ Queria fazer uma surpresa... Gostou?

Pedro deu uma risada rouca, emocionado e, com certa dificuldade, respondeu:

_Foi a melhor surpresa que eu já recebi em toda a minha vida!

Karina deu um sorriso tímido enquanto Dandara dizia:

_Vou deixa-los à sós, acho que têm muitas coisas para colocarem em dia. Eu e o Gael vamos para casa e descansar um pouco. _ ela olhou para o marido como se esperasse que ele dissesse algo contra àquela decisão, mas ele respondeu:

_Para mim está ótimo. Voltamos logo.

Despediram da filha e partiram, deixando um Pedro ainda emocionado e uma Karina tranquila... Tranquila até de mais.

_Então... _ Pedro resolveu quebrar o silêncio. _ Como está se sentindo?

_Um pouco tonta, mas acho que não tenho nada mais grave. _ ela respondeu calmamente. _ E como você está?

_ Agora estou bem melhor, pode acreditar. _ ela deu uma risadinha tímida. _ Você não imagina como fiquei preocupado!

_Sinto muito... _ ela sussurrou. _ Pedro... E o Cobra?

Pedro ficou imóvel por um momento. O nome do rival sendo dito na voz dela parecia uma punhalada. Ele não respondeu de imediato e foi necessário que ela repetisse a pergunta:

_Pedro, o Cobra esteve aqui?

_Sim. _ ele respondeu em um tom seco. _ Veio visita-la praticamente todo esse tempo em que você esteve...

Ele não conseguiu pronunciar as palavras “em coma”. Karina desviou seu olhar para as próprias mãos e parecia estar falando consigo mesmo:

_Eu não esperava menos que isso. Cobra é realmente o namorado perfeito.

Pedro, que antes estava sentado ao lado da cama dela, colocou-se de pé imediatamente.

_Namorado...? _ ele repetiu, incrédulo.

_Sim Pedro... Namorado... _ ela repetiu um pouco confusa.

_Mas... _ Pedro parecia procurar as palavras certas. _ Ele não é seu namorado Karina. E acho que nunca foi, pelo menos não oficialmente.

Karina o observava incrédula e parecia buscar na própria memória um contra argumento para o que o irmão dizia.

_Pedro por que você está falando isso? Quero dizer, Cobra é meu namorado desde que nos mudamos para cá! _ ela levou a mão à cabeça, demonstrando sua confusão.

O rapaz permaneceu estático. Mas de onde surgira aquela ideia de que Cobra era o namorado dela desde que chegaram à cidade? Ou será que era e ela mentiu o tempo todo? Tentando manter a calma, ele se sentou novamente ao lado dela e insistiu:

_K... Ok. o Cobra é seu namorado. Mas quero que me responda uma coisa: você se lembra de mais alguém? _ ela o observou confusa. _ Quero dizer, você se lembra de ter tido outro namorado?

_Mas é claro que não! _ o nervosismo fez a jovem se alterar visivelmente. _ Eu nunca trairia o Cobra!

A tensão parecia tangível entre os dois naquele momento. Karina tentava passar segurança no que dizia, mas o constante movimento das mãos no cabelo a denunciavam. Pedro não queria aceitar que ela tinha esquecido tudo o que passaram juntos, todos os sentimentos e confidencias. Por isso tentou uma última vez argumentar:

_Karina. Respire fundo e, por favor, me diga: você se lembra... _ ele fez uma pausa, buscando forças. _ de mim?

A jovem o olhou fixamente por um longo tempo, até dizer finalmente:

_Claro que me lembro! Você é o Pedro, meu irmão lindo que vive arrasando o coração das minhas amigas, mas no fundo é uma pessoa maravilhosa! Aliás, como está o seu namoro com a Jade? Me lembro que vocês formavam um belo casal!

Ele finalmente reconheceu a derrota. Sentindo o coração doendo fortemente e um nó incômodo na garganta, ele respondeu:

_Não... Estamos mais namorando.

O restante daquele dia foi um verdadeiro pesadelo para Pedro. Um pouco depois da conversa que tivera com a irmã, Cobra chegou e demonstrou a mesma reação de Pedro quando viu Karina acordada. Esta, por sua vez, realmente agiu como se o rapaz fosse seu namorado, beijando-o calorosamente e isso foi de mais para Pedro que preferiu ir para casa.

Não entendia o que tinha acontecido com Karina e não sabia se ela estava mentindo ou se realmente havia se esquecido de tudo. Mas era mais estranho ainda o fato de que ela tinha se esquecido apenas dele e o substituído nas poucas lembranças que tinha por Cobra. Sentou-se em sua cama sentindo-se desolado, no entanto estava disposto à esquece-la. Por isso, tomou uma atitude desesperada e um tanto drástica e esperava, sinceramente, que fosse o suficiente para ajuda-lo.


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