Além Do Fraternal escrita por Gey Scodelario


Capítulo 10
Quando estou sem você...


Notas iniciais do capítulo

Oie! Gente, me desculpem pela demora, a escola tá peso e os professores não colaboram em nada... E me desculpem também por não ter respondido aos Reviews do capitulo anterior, tô com um trabalho de português do demônio e não tenho tempo nem pra respirar direito. Passei aqui pra postar o capitulo pra vocês porque vocês são divos e não mereciam mais demora. Eu li todos os Reviews e amei um por um! Um agradecimento especial a Tropa Perina, Luiza e Gabriella pelas recomendações divissimas! Três recomendações ao mesmo tempo, quase infartei quando vi kkk Enfim, sem mais delongas, vamos ao capitulo *-* Boa Leitura!



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Os primeiros raios de Sol estavam tão reconfortantes, que Karina estava relutante para abrir os olhos e receber o novo dia que nascia. Era que como se acordar trouxesse à tona aquela realidade que relutava em aceitar: estava apaixonada pelo seu irmão.

Devagar ela rolou pela cama e se sentou na beirada da mesma, espreguiçando-se, enquanto sua mente turbilhava em pensamentos e raciocínios. Estava tentando decifrar, por exemplo, o estranho comportamento do irmão nos últimos dias desde aquela tarde em que se beijaram. Ultimamente ele a evitava mas, ao mesmo tempo, tinha um comportamento estranho... “Obsessivo”, ela pensou de repente, assustada com a própria conclusão.

Após um banho relativamente demorado, ela enrolou-se na toalha e saiu do banheiro. Sufocou um grito de susto ao ver Pedro parado em frente à janela de seu quarto. Ficou em silêncio, esperando alguma reação dele, mas percebeu que ele estava muito quieto e pensativo.

—Humm... Pedro?_ ela chamou, cautelosa.

Ele pareceu ter sido despertado e a olhou como se nem soubesse que estava realmente no quarto dela.

—Oi... Desculpe ter..._ ele se calou instantaneamente ao ver os “trajes” da outra, havia perdido a fala. Um rubor de vergonha subiu pela sua face e ele virou-se de costas para ela imediatamente, dizendo:_ Por Deus mulher, vista-se!

Karina deu uma gargalhada e sentou-se em sua cama, ainda de toalha. Cruzando as pernas e fingindo tédio ela disse:

—Diga logo o que quer Pedro e lembre-se de que foi você quem invadiu meu quarto.

Pedro permaneceu de costas para ela, o corpo visivelmente rígido, como se ele estivesse tentando reprimir algo.

—Eu... Consegui uma entrevista de emprego.

—Que maravilha!_ ela sorriu com a notícia. _ Aonde?

—Um empresa de software, no centro na cidade, a entrevista será na próxima semana.

Karina ia insistir na conversa, quando percebeu que não havia entusiasmo na forma como ele dava a notícia. Cautelosa, ela disse:

—Está tudo bem Pedro?

—O lugar é longe..._ ele continuou falando, ignorando a pergunta dela. Por fim, virou-se para ela, sua expressão era de repulsa por si mesmo._ Acho que, se eu conseguir esse emprego, eu vou me mudar.

Karina engoliu a seco e colocou-se de pé. Tentava transmitir a mesma tranquilidade que ele pensava estar transmitindo, mas foi impossível.

—Você acha realmente necessário?_ ela perguntou, o tom de voz se alterando um pouco.

—Bom..._ ele suspirou, desviando seu olhar para algum ponto atrás dela._ Acho que sim, fiquei pensando no custo de ter de vir de ônibus todos os dias, seria complicado.

A voz dele falhava, como se aquela notícia fosse mais difícil do que realmente parecia. Ela não retirava seu olhar do rosto dele, ignorava o fato de que seu cabelo molhando já havia molhando toda a beirada da sua cama. Estava concentrada naquela decisão repentina do irmão de ir embora. Franzindo o cenho, disse:

—E você já informou isso ao papai e à mamãe?

—Não, eu queria... Que você soubesse primeiro.

—Por quê?

Ele não esperava essa reação dela: ela estava nervosa e sua voz falhava constantemente, como que reprimindo o choro. Após algum tempo sem nada responder, ele deu um suspiro longo, dizendo:

—Porque eu quis, achei que fosse ficar feliz por mim.

Karina não estava entendendo aonde Pedro queria chegar e isso já estava incomodando-a.

—Você não me engana. _ ela disse com um tom de ironia na voz._ O que está acontecendo Pedro? Você não me olha direito mais, não conversa comigo como antes... Sei que o que está acontecendo entre nós é errado mas você prometeu que tudo ficaria bem, que ficaria do meu lado.

Ele fechou os olhos e levou as duas mãos ao rosto, depois as abaixou dizendo em um tom de voz baixo:

—Eu não quero... Não quero mais passar pelo o que estou passando Karina._ ele abriu os olhos com muito esforço por que sabia que veria o olhar triste da irmã e isso era a pior coisa do mundo._ Karina eu estou enlouquecendo, todos os dias conto os minutos para te ver, mas aí... Estamos no pátio do colégio e todos aqueles garotos te olhando e eu não posso nem correr para te dar um beijo simplesmente por que sou seu irmão... Não posso andar sempre de mãos dadas com você, não posso ir com você ao parque e me sentar ao seu lado em um daqueles bancos de madeira e te encher de carícias... Eu não posso ser seu namorado! Por tanto não posso agir como tal! _ ele deu um passo à frente, os olhos suplicantes._ E isso me mata por que vejo a forma como os outros caras te olham, principalmente o Cobra. A cobiça no olhar dele, a forma como ele toca seu rosto quando conversam...

—Eu recuo..._ ela disse num fio de voz.

—Karina, eu não estou acusando você._ ele deu mais um passo à frente. _ Estou protegendo você... Nos protegendo.

Ela abriu a boca para protestar, mas o orgulho falou mais alto. Recuando inconscientemente, ela baixou sua cabeça e disse, num sussurro:

—Eu preciso me vestir, por favor saia.

—Você não está me entendendo! Karina, por favor! _ ele eliminou as distância entre eles, segurando os braços dela, que continuava de cabeça baixa. _ Eu amo você, mas também quero te ver feliz! Seria egoísmo meu viver em baixo do mesmo teto que você, controlar você, como venho fazendo ultimamente e não poder nem ao menos agir como seu namorado!

Karina sorriu de forma triste e levantou seu olhar para o rosto dele, não tinha reparado no quanto ele voltou a ficar abatido desde que seu comportamento mudou. Com dificuldade, ela se livrou dos braços dele e disse, decidida:

—Saia.

Pedro não podia julgá-la, não podia repreende-la por ficar com raiva, afinal ele mesmo não estava contente com aquela situação. Mas ultimamente vivia um dilema interno: lutar por ela e revelar à todos que estava apaixonado pela irmã ou agir como se nada tivesse acontecido e vê-la sendo conquistada por Cobra, ou qualquer outro idiota que pudesse realmente trata-la como namorada... Futura esposa. Ele não queria estragar a vida dela, sabia que a irmã tinha sonhos de se casar e construir uma família “morar em uma casa no interior, com um belo jardim e um labrador!” ela dissera uma vez.

Com pesar no olhar, ele saiu do quarto, batendo a porta ao sair. Karina se sentou na cama e sentiu seus olhos marejarem. “Não vou chorar!”, ela pensou, mas já era tarde. Mais uma vez chorava por ele. Talvez ele tivesse razão, já que nunca poderiam assumir o que sentiam, era melhor ficarem longe. Respirando fundo, ela se colocou de pé. Aquilo não iria abalar seu dia... Não poderia.

Para espanto de ambos, Gael e Dandara haviam saído logo pela manhã: ele foi trabalhar mais cedo, ela deixou apenas um recado na geladeira dizendo que assim que voltasse teriam novidades. Foi uma situação chata: Karina evitava trocar palavras com Pedro, evitava olha-lo e agia como se não houvesse mais ninguém na cozinha. Era um pouco infantil, ela sabia, mas talvez fosse melhor se acostumar com a ideia de que um dia ele partiria.

—--***---***

—Talvez pudéssemos ir ao cinema...

—Ah não, Lírio! Eu gosto de lugares agitados, você sabe disso.

Lírio olhou para Jade com raiva e ela entendeu o recado, calando-se.

Estavam no intervalo das aulas e, buscando uma socialização, Lírio chamou Pedro para se sentar à mesa com seus amigos, para total alegria de Jade que fez questão de se sentar ao lado dele. Ele também tentou arrastar Karina, mas esta fingiu uma dor de cabeça, algo como “muita bagunça, vai piorar a dor...” e simplesmente sumiu, o que deixava Pedro aflito: onde ela estava?

—Pedro? Preste atenção na conversa?_ Jade chamou sua atenção, enquanto ele olhava pelo local procurando a irmã.

—Me desculpe, o que vocês estavam dizendo?

—Estamos pensando em sair para comemorar o fim das provas bimestrais nesse fim de semana, o que acha?_ disse uma Jade entusiasmada

— Ahn... Bom, vou ver se posso ir, aviso com antecedência.

—Chame a Karina. _ Lírio fingiu desinteresse, mas seus olhos brilhavam._ Quem sabe ela não quer ir também?

Jade deu uma risadinha e fingiu tomar um gole de suco para disfarçar, mas Pedro percebeu o sarcasmo da outra.

—O que foi?_ ele perguntou.

—Ahn... Bom, acho que ela já tem compromisso para esse fim de semana.

Pedro endireitou-se no banco, visivelmente irritado. Lírio percebeu que Jade estava adorando aquela situação, por isso disse:

—Não fale do que não sabe Jade!

—Estou dizendo alguma mentira? Você ouviu muito bem quando ele disse que fazia questão de convidá-la para a festinha nojenta dele nesse fim de semana. E se não perceberam eles são praticamente os únicos ausentes no refeitório.

A irritação de Pedro aumentou e ele explodiu:

—De quem estão falando? Ele quem?

—Cobra, quem mais seria?_ foi Jade quem respondeu, mostrando um certo nojo ao falar do rapaz.

Pedro não rebateu. Seu olhar vagou pela porta de entrada do refeitório, mas ela não estava ali... Nem ele. “Estão juntos!”, pensou desesperado.


Assim que o sinal bateu, anunciando o intervalo, Karina se desviou de todos que a convidavam para o lanche e correu para a biblioteca. Agradeceu pelo lugar estar relativamente vazio naquela hora e se perdeu entre as estantes mais distantes, com maiores corredores e mais desertos.

O cheiro de livros antigos misturado com poeira não a incomodou, pelo contrário: ali era o lugar perfeito para fugir do mundo. Começou a caminhar devagar entre as estantes altas de madeira boa. Seus dedos deslizavam pelos livros e o silêncio ali era precioso! O piso de madeira fazia o barulho de seu tênis ecoar.

Ela caminhou até o fim do corredor, onde parou de andar e fixou-se em uma fila de livros sobre biologia, um mais antigo que o outro. Não soube quanto tempo ficou olhando os nomes dos livros, até que passos chamaram sua atenção. Ela olhou para a direção de onde eles vinham e viu Pedro, caminhando a passos lentos, vindo em sua direção. Seus olhares se cruzaram e ele sorriu, para desespero dela que voltou sua atenção para o livro à sua frente.

—Vai fingir que não me conhece agora? _ ele perguntou, parando à poucos centímetros de distância.

—Que bom que percebeu minha tática. _ela respondeu seca.

—Achei que estivesse em outro lugar. _ ele fingiu desinteresse, olhando os livros na mesma estante que ela.

—Aonde?

—Não sei bem. _ foi a vez dele ser seco. _Achei que estivesse com outra pessoa.

Karina cruzou os braços e o encarou:

—Outra pessoa?

Pedro confirmou e continuou sua caminhada pelas estantes. Ela, por sua vez, ficou estática, tinha algo errado na forma como ele agia.

—Por um acaso, recebeu algum convite? _ ele perguntou, o tom de total despreocupação na voz enquanto retirava um livro da estante e o folheava.

—Não... Quer ser claro por favor? _ o tom de voz dela se alterou visivelmente, do calmo para o irritado.

Pedro devolveu o livro ao seu lugar e observou a jovem atentamente. Karina permanecia com os braços cruzados, esperando uma resposta.

—Ouvi dizer que uma certa pessoa a convidaria para uma festa nesse fim de semana._ ele parecia estar escolhendo cada palavra para não deixa-la mais nervosa.

—Seja CLARO Pedro. _ ela enfatizou a palavra “Claro”, as sobrancelhas fechadas.

—Olha, eu ouvi que o Cobra dará uma festa e que sua presença é imprescindível. Ouvi dizer que ele a convidará hoje ainda. Imaginei que estivesse com ele.

Karina esperou alguns minutos, tinha esperança que ele dissesse “Brincadeira!”, mas o rapaz permaneceu em silêncio, fixando seu olhar no dela o quanto podia, até ela o desviar e suspirar cansada.

—Isso ainda não explicou o que você está fazendo aqui.

—Eu não vim aqui atrás de você... Talvez sim... Olha._ ele estava confuso, para total diversão da irmã, que permaneceu séria._ Eu achei que você estivesse com ele, então...

—Então você veio aqui para me controlar, é isso?_ a revolta estava estampada no olhar dela.

—Não distorça as coisas!

—Distorcer as coisas? FOI O QUE VOCÊ ACABOU DE DIZER!

Ela alterou a voz, mas logo se repreendeu ao se lembrar de onde estavam. Por sorte o lugar em que estavam era tão afastado que não pareceu vazar som algum. Karina respirou fundo antes de continuar:

—Quem te disse essa idiotice?

Pedro não queria revelar sua fonte, sabia que, se o fizesse, os problemas entre os dois aumentariam.

—Responde Pedro._ ela pressionou, dando um passo na direção dele de forma ameaçadora.

—Jade.

Ele respondeu tão depressa, que ela teve que prestar bastante atenção no movimento dos lábios dele para entender: Jade. Karina não estava acreditando naquilo, aonde aquela menina queria chegar?

—Eu... Eu não acredito nisso..._ ela sussurrou e talvez fosse melhor se tivesse gritado, por que o som que a voz dela emitiu, mesclada com o riso de sarcasmo fez Pedro sentir um arrepio._ Quer dizer que se ela dissesse que eu e o Cobra estávamos em um motel você acreditaria e iria até lá apenas para confirmar?

—Você tem a terrível mania de entender errado as coisas que eu digo._ ele bufou irritado, o que não a afetou em nada.

—Eu não te entendendo, hoje pela manhã você... Praticamente me deu um fora e agora está controlando com quem ando! Você é louco!

—Olha aqui..._ ele começou a falar, mas ela foi mais rápida.

—Olha aqui você: para de acreditar no que aquelazinha te diz e se o Cobra realmente me convidar para uma festa, pode acreditar que eu vou, queira você ou não!

Sem mais, ela deu meia volta e caminhou de volta para o centro da biblioteca, seus passos firmes ecoavam entre as estantes. Pedro a observou partir sentindo-se um completo idiota. Pelo visto Jade conseguiu o que queria: separa-los de vez.

Pensou em ir atrás da irmã e implorar perdão, mas seu orgulho gritou dentro de si: era melhor deixar como estava.


Quando entrou na sala, logo Karina foi interceptada por Cobra. Ele estava radiante ao dizer:

—Enfim encontrei você, tenho um convite a fazer.

Karina já esperava aquilo, por isso foi direta:

—Cobra eu adoraria ir à sua festa, mas não posso aceitar. Infelizmente tenho plano nesse fim de semana e...

—Olha, sei que minhas festas não são de seu agrado, mas garanto que essa festa não é só minha. Antes de continuar, pode me dizer como ficou sabendo disso?

—B-Bem, eu ouvi falar... _ ela não podia entregar o irmão, mas adoraria entregar Jade, porém preferiu ser superior à ela.

—De qualquer maneira, _ ele continuou._ é uma reunião da minha família, minha avó vai comemorar 80 anos e todos se reunirão em um restaurante para um jantar de confraternização. Eu poderia ir sozinho, mas acho que se você fosse ia ser tão melhor! Além disso, Valentina está morrendo de saudades.

Karina sorriu com a lembrança de Valentina, a governanta dos Magalhões, que era tão doce quanto os bolos e quitutes que preparava. Não pôde negar aquele pedido:

—Me diga o endereço, estarei lá.

—Verdade? _ ele ficou entusiasmado por um momento, até se controlar e continuar:_ Eu faço questão de buscá-la no sábado às 19:30, tudo bem?

—Tudo bem.

Cobra deu um outro sorriso animado e foi para sua carteira. Na porta, observando todo o ocorrido, ela avistou Pedro. Não resistiu e foi até ele.

—Diga à sua “informante” que não é uma festa, é um jantar comemorativo. Da próxima vez que ela quiser fazer fofoca, o faça direito.


Chegaram em casa um tanto tarde, devido ao transito. Não trocaram nem palavras, nem olhares, foram direto para a cozinha onde esperavam encontrar um dos pais.

Dandara preparava um almoço maravilhoso, o que os fez olharem desconfiados para a mãe. Foi Karina quem falou primeiro.

—Mãe, estamos comemorando algo?

—Ah sim, vocês chegaram! Que bom! Vão se trocar e lavar as mãos, o pai de vocês vem almoçar em casa hoje.

—E todo esse banquete é só por isso?_ disse Pedro, ainda desconfiado.

—Não... Andem logo, daqui a pouco os chamo para almoçarem.

Em silêncio, eles seguiram para seus respectivos quartos.

Era estranho não conversar com Pedro, preferia quando ele a ignorava mas ainda sim era educado e amável. Agora pareciam dois estranhos, dois inimigos vivendo na mesma casa. A culpa os sucumbia e o amor parecia uma utopia perto de tudo o que estavam passando.

Para Karina, aquele amor sempre existiu, desde que começaram a diferenciar as coisas, desde que abandonaram a infância. Pedro era o garoto perfeito, o homem perfeito. E ela queria tanto que ele fosse só dela...

O celular começou a tocar despertando-a de seus sonhos impossíveis e trazendo-a para a realidade um tanto agradável: Cobra.

—Oi Cobra.

—Ah, oi! Então, estou ligando para saber se os nossos planos de sábado continuam de pé?_ a voz transmitia uma certa tensão.

—Mas é claro que sim, por que eu mudaria de ideia?

—Sei lá... Em todo caso, não sei se eu te disse, mas o evento é um tanto formal, então...

—Já sei. Acho que posso suportar algumas horas usando vestido longo e salto._ ela deu uma risada, sendo acompanhada por ele.

—Ótimo então. Até logo!

Karina se despediu e desligou o telefone. Sentia-se bem quando conversava com Cobra, só não sabia se isso era bom.

—--***---***

—Eu espero que gostem do almoço, preparei com muito amor.

—Tudo o que você prepara é maravilhoso Danda, um manjar dos deuses!

Estavam todos sentados à mesa, Pedro e Karina observavam os pais e sentiam uma certa inveja: formavam um casal tão lindo e tão apaixonado! Dandara agora servia os presentes, fazia questão e aquilo não era normal.

—Ok, agora será que a senhora poderia nos dizer por que tanta formalidade?_ Pedro perguntou, espetando o garfo em uma batata assada.

Todos olharam para a mulher que sorria abertamente. Fazendo um pouco de hora, ela respondeu pausadamente:

—Hum... O que... Vocês acham.... _ela serviu um pouco de vinho para Gael._ Conto agora... Ou..._ serviu a si mesma um pouco de vinho._ Não?

—Mãe! Fala logo!_ aquele suspense estava matando Karina.

Dandara se colocou de pé e olhou nos olhos de cada um ali presente antes de dizer:

—Há alguns dias, eu fui fazer um exame, pois estava me sentindo mal, com enjôos. Pois bem... Hoje, pela manhã, a clínica me ligou para dizer que os resultados estavam prontos. Fui até lá bem cedinho. Enfim, _ ela suspirou._ Eu estou grávida.

O barulho de talher caindo no prato fez todos olharem para Gael, que estava boquiaberto e pálido, mas essa reação não durou muito, logo um sorriso iluminou seu rosto, antes pálido e ele balbuciou:

—_Gra-Grávida...

—Estou grávida meu amor! Finalmente teremos um filho!

Gael saiu do seu lugar e correu para abraçar a esposa. Pedro e Karina se entreolharam, o som de risos sumindo aos poucos.

—Finalmente..._ ela sussurrou.

—Teremos um filho._ ele completou no mesmo tom.

Logo Gael e Dandara perceberam que a alegria deles não estava sendo compartilhada pelos filhos, que permaneceram sentados em seus respectivos lugares à mesa. Foi Gael quem tentou desvendar o motivo pelo qual os filhos não compartilhavam suas alegrias:

—O que foi? Não me digam que estão com ciúmes?

Pedro continuou olhando para Karina, buscando apoio, quando resolveu dizer:

—A mamãe disse...

—A mamãe disse que percebeu na semana passada não é? De quantos meses a Senhora acha que está?

Pedro não entendeu por que a irmã o interrompeu e claramente mudou o rumo do que ele ia dizer. Enquanto Dandara respondia alegremente que pensava estar grávida há algumas semanas, Pedro colocou-se a pensar no que a frase que martelava na sua cabeça queria dizer. “Finalmente teremos um filho”. Será que os dois estavam tentando ter mais um filho há muito tempo? Era claro que ambos eram novos e um filho não atrapalharia os planos de ninguém, mas por que usar a palavra “Finalmente”?

Assim que o almoço terminou e Pedro conseguiu ficar um pouco sozinho com Karina (fizeram questão lavar as louças, um presente para a mãe), ele perguntou:

—Posso saber por que motivo você me interrompeu naquela hora? _ a voz dele era tensa, temia que o ouvissem.

—Por que eu sabia a pergunta que iria fazer e não achei o melhor momento._ ela respondeu, a testa encoberta pela franja de seu cabelo curto enquanto ensaboava um prato.

Pedro a observou atentamente e deu um suspiro, apoiando-se na bancada ao lado da pia.

—Mas você concorda comigo que foi estranho, não concorda?

—Sim... Ou não._ ela abriu a torneira e começou a enxaguar os pratos._ Há um tempo que eles estão tentando ter um filho, por isso mamãe falou daquela maneira. _ à medida que o sabão saia das louças, ela foi passando para Pedro secá-las. Ele reparou que a jovem fazia um esforço enorme para não olhá-lo e tampouco tocá-lo.

—Hum... _ ele murmurou, conformando-se.

Ficaram em silêncio o restante da tarefa, ambos se olhando pelo canto do olho, mas nunca deixando que um percebesse que o outro o observava.


Sábado chegou com extrema rapidez e, naquela manhã, Karina não se sentiu muito bem. Um aperto no peito a fez ficar deitada grande parte da manhã, até que sua mãe, preocupada, veio ver como ela estava.

— Estou bem mãe, é só um cansaço. E como está meu irmãozinho?_ ela tocou a barriga de Dandara, que sorriu radiante enquanto respondia:

—Está ótimo, mas quero que você e o Pedro saibam que nunca vou deixar de amá-los.

Karina riu e sentou-se na cama. Dandara estava tão linda, emanava alegria.

—Tenho reparado que você e seu irmão não têm conversado muito, aconteceu alguma coisa?

—Nada de mais, discussões bobas, a senhora sabe como é.

—Não tem nada a ver com a sua saída hoje com o Cobra, tem? Por que se tiver, eu vou lá agora mesmo e...

—Mãe, não é por isso. Apenas não somos mais tão unidos como antes, acho que é normal isso acontecer. A senhora nunca teve irmãos, por isso não compreende.

Dandara sentiu um baque ao ouvir isso da filha e desviou seu olhar para a janela. Havia um tempo que não pensava em Marcelo. Será que ele ainda a procurava? A perdoaria um dia? Será que algum dia poderiam conviver juntos, com seus respectivos companheiros, em harmonia, sem segredos?

—Tá tudo bem mãe?

Dandara deu um sorriso, disfarçando a tristeza e disse, caminhando para a porta:

—Levante-se logo, está um dia lindo.

Ela saiu sem dar tempo à Karina para dizer mais nada.

Karina sempre pensou em como seria ter uma família grande. Não costumava comentar muito isso porque entendia que os próprios pais deveriam ter sofrido bastante ao perderem praticamente toda a família. Uma vez ela e Pedro conversavam sobre o assunto. Sempre brincalhão, ele perguntou “Será que você teria um caso com algum primo?”. Ela sorriu ao se lembrar daquela conversa, como se divertiram. Logo se lembrou do momento mais lindo daquela última noite em que conversaram civilizadamente, foi no mesmo em que se beijaram pela última vez.

“Estavam no quarto dela, observando a noite silenciosa chegando. Pedro a abraçava fortemente, sentindo o perfume de seu cabelo encher suas narinas de forma sensual e delicada ao mesmo tempo. Sorriu ao ver que a irmã acordou assustada.

—Desculpe. _ ele disse. _ Te acordei?

—Não… Eu acho… _ ela respondeu sorridente e aconchegou-se mais ao peito dele.

Pedro sorriu sonhador enquanto dizia:

—Podemos fugir.

A sugestão repentina fez a jovem gelar. Entre risos nervosos ela respondeu:

—Acho que não...

—Por que? Poderíamos descobrir o mundo, conhecer vários países...

—Pedro, por favor.

—Você nunca me levou a sério.

Karina riu e fechou os olhos mais uma vez, não queria dormir, apenas curtir o momento. Porém, Pedro estava disposto a dialogar:

—Fica do meu lado amanhã?_ ele pediu.

Mais uma vez ela ficou em silêncio antes de retrucar a pergunta:

—Como assim?

—Na escola._ ele foi rápido na resposta.

—Claro.

—Digo, em todos os momentos, desde a chegada até a partida? _ ele parecia aflito. Karina posicionou-se melhor na cama, deitando-se de lado de modo a olhar para ele, o que não foi retribuído por que ele olhava para o teto, como sempre fazia quando estava preocupado. Ela respondeu com cautela:

—Sim... Por que está me pedindo isso?

—Não sei..._ ele finalmente a fitou, preocupado._ Sinto que algo mudou e que devemos ser cautelosos.

O olhar dele transmitia tanta paz que contradizia o que ele tinha acabado de responder. Ela suspirou pausadamente e novamente fechou os olhos. Sentiu um toque suave correndo de sua teste, descendo pela ponte do nariz, passando pela ponta do mesmo e parando nos lábios. Sentiu os mesmos sendo contornados e, depois, o toque desceu para o queixo e sumiu.

—Você... É tão linda... Seus traços em nada lembram os meus. _ ele sussurrou por fim.

—É por que você não quer encontrar algo em mim que lembre a você que somos... Ir-Irmãos. _ ela praticamente cuspiu a última palavra, um estranho gosto amargo surgindo em sua boca.

Ela estava certa. Quando via algo nela que lembrasse a si mesmo, Pedro negava o que tinha visto. Mas, tinha que confessar, era tão raro isso acontecer! Afastando os pensamentos da cabeça ele se aproximou mais dela, de modo que a respiração dela fosse uma resposta a sua. Ela abriu os olhos devagar e o observou. O silêncio, cúmplice de todas as maluquices, tomou conta do quarto, sendo substituído aos poucos pelo som delicado dos lábios se tocando, de dois corações batendo acelerados.”

Foi como despertar de um sonho, um sonho maravilhoso. “Estou morrendo de saudades de você... Pedro.”

Karina abriu a porta do quarto e, como sempre, foi no mesmo momento em que Pedro resolveu sair de seus aposentos. Pararam instantaneamente na porta de seus respectivos quartos, se olhando. Foi Karina quem quebrou o longo silêncio:

—Bom dia.

—Bom dia.

E foi ele quem rumou diretamente para a cozinha.

Já sentados à mesa estavam Gael e Dandara. Olhavam um catálogo com acessórios para recém nascidos e pareciam absortos no mesmo, até Pedro dizer em um tom relativamente alto:

—Pois é, acho que conquistamos nossa independência sem ao menos pedir ou implorar por ela.

Karina foi obrigada a dar um risada, sufocando-a assim que ele a olhou, também sorrindo.

—Por que está dizendo isso? _ Dandara perguntou.

—Chegamos há um bom tempo e vocês nem repararam._ ele respondeu, tomando um gole de seu café.

Todos riram, até que a campainha soou quebrando o clima. Foi o próprio Pedro quem atendeu a porta, segundos depois ele retornava trazendo uma caixa relativamente grande. Ele olhou para Karina, desconfiado.

—É para você.

Ela olhou para os pais antes de ir até ele e pegar a caixa. Tinha um bilhete anexado na mesma, a letra ela não reconheceu. Apenas quando leu o conteúdo do mesmo, pôde compreender, pelo menos um pouco, aquilo tudo. Ele dizia “ Para você usar hoje à noite,espero que goste. Seu admirador nada secreto”. Pedro já havia lido o bilhete, mas fez questão de não dar sua opinião sobre o assunto. Naquela noite queria se esquecer dela, de tudo que a envolvia.

Durante o resto do dia ele observou o entusiasmo da irmã ao experimentar o vestido, escolher a maquiagem, o penteado, o perfume, o esmalte, o colar, o brinco, a pulseira, a sandália...

—Você também não ia sair hoje? _ perguntou Gael quando o Sol já estava se pondo.

—Sim, já vou me arrumar.

Ele se levantou do sofá em que estava assistindo Tv, mas foi barrado pelo pai que disse:

—Sua irmã vai ficar bem, eu confio nela. Ela está linda, por que não vai vê-la e dar sua opinião?

Pedro ia negar, mas já estava sendo arrastado escada acima pelo pai. Pararam na porta do quarto, onde puderam ouvir gargalhadas.

—Gosto de ver como as duas se dão bem, isso não é tão comum sabia?

Sem esperar resposta do outro, Gael bateu à porta e aguardou as risadas cessarem para ser recebido. Assim que abriu a porta um perfume maravilhoso invadiu as narinas de Pedro, que fechou os olhos, sentindo-o. Ele conhecia aquele perfume. Gael não entrou no quarto, apenas empurrou o filho que já não via saída: teria que dar sua opinião sobre a roupa dela. Pretendia ser breve, mas assim que a viu sentiu como se esquecesse como se fala.

Parecia um anjo, mas ao mesmo tempo estava tão sedutora que ele preferia realmente que ela fosse humana. E pensar que ela passaria o resto da noite com Cobra fez seu ciúme crescer de forma que chegou a doer em seu peito. Uma coisa ele não podia negar: o rival tinha um gosto excelente para roupas. O vestido azul-marinho, na altura do joelho, marcava bem a cintura, sendo levemente rodado, nada escandaloso. O tecido fino, que ele não soube distinguir, ajudava a destacar o tom de pele dela. O cabelo estava preso em uma elegante fita azul e Pedro teve que se segurar para não correr até ela e beijar seu pescoço e sua nuca até que ela implorasse para ele parar.

Afastando esses pensamentos rapidamente, ele se recompôs. Disse em seguida,dando um pigarro:

—Er... Bom, parabenize o Cobra, ele acertou em cheio no vestido._ ele esperava que isso soasse o mais despreocupado possível.

E soou. Karina o olhou triste, mas o que ela esperava? Que ele dissesse “Você está maravilhosa” ou “Case-se comigo?”.

—Agora, se me dão licença. Também tenho um compromisso, não quero me atrasar. E eu dispenso comentários sobre meu visual.

Ele deu meia volta e saiu do quarto o mais rápido que pôde. Dandara e Gael olharam para Karina que encolheu os ombros e disse:

—Mãe, me ajude a escolher a pulseira?

Cobra foi pontual: às 19:30 minutos ele estava na porta da casa dela, tocando a campainha. Foi Pedro quem atendeu, dizendo:

—Ela já está descendo. Com licença.

Ele passou pelo rapaz dando-lhe um empurrão proposital. Até que parou, no meio do jardim, virou-se para Cobra e disse, a foz um tanto confusa:

—Por favor, cuide dela.

Cobra assentiu e o observou partir. O barulho de salto alto indo de encontro ao chão chamou sua atenção e ele voltou-se para a escada. Karina descia os últimos degraus, emanando elegância. Ele suspirou e disse:

—Minha nossa, como você é linda!

Karina deu um sorriso e foi até ele. Seus pais vieram logo atrás, Gael um tanto sério.

—A que horas vocês voltam?_ ele perguntou, de braços cruzados.

—Hum... Ás onze? _ foi Cobra quem respondeu, olhando para Karina.

—Sim pai, as onze?

Dandara e Gael trocaram olhares, pareciam que estava lendo a mente um do outro, até que ele confirmou:

—Às onze.

Karina se despediu dos pais e seguiu com Cobra para o restaurante. Por algum motivo, sentia que algo não estava certo.

—--***---***

Pedro chegou ao pub no horário combinado com Lírio, que já o aguardava. Jade estava ao lado do irmão e conversava alegremente com outra amiga. Ao vê-lo, ela interrompeu a conversa bruscamente e disse:

—Pedro! Que bom que chegou, trouxe uma amiga minha. _ ela apontou para a garota ao seu lado com quem conversava há pouco._ O nome dela é Pri... Acho que já se conhecem...?

Pedro lembrou –se de quando se sentou com ela em uma das aulas químicas, já fazia um tempo. Pri não escondeu o encanto ao vê-lo, pelo visto não sabia que Jade já se sentia dona dele. Lírio reparou isso e disse:

—Vamos entrar logo? Está esfriando e o resto do pessoal já está lá dentro, nos esperando.

O pub estava cheio, uma fumaça baixa tornava o ambiente um tanto fechado, mas agradável. Foram para uma mesa que já estava com 4 pessoas ao seu redor: duas meninas e dois rapazes. Pedro os reconheceu como amigos de Lírio e Jade, mas realmente não se lembrava do nome de cada um. Sentou-se em qualquer lugar, um aperto em seu peito surgindo do nada.

—Vai beber algo Pedro?_ Jade perguntou, sentando-se ao seu lado.

—Nada por enquanto.

Ele respondeu monotamente. Sua mente vagava para Karina, o que fez o aperto em seu peito aumentar ainda mais.

—--***---***

—Então, gostou do vestido ou apenas está usando-o para me agradar?

A pergunta de Cobra a fez sentir-se desconcertada: realmente estava usando apenas para agradá-lo, mas havia gostado do vestido. Com um sorriso amável, ela respondeu:

—O vestido é lindo, muito obrigado.

—--***---***

Pedro olhava para todos os lugares, a dor em seu peito aumentava, triplicava a cada segundo.

—Pedro, está tudo bem?_ Jade perguntou.

—Sim... Eu acho.

—Talvez devesse desabotoar o primeiro botão de sua camisa, aqui está um pouco abafado.

Foi a voz de Pri o tirou de alguns devaneios. Apenas naquele momento havia notado que estava sentado no meio das duas “amigas”. Pri sorria para ele, lançando olhares sedutores.

—Você está muito bonita._ ele a elogiou, sem ser verdadeiro. Por que Karina não saía de sua cabeça?

—--***---***

Cobra dirigia tagarelando a todo momento. Karina tentava acompanhar as coisas que ele dizia, mas de repente sentiu uma vontade repentina de voltar para casa. “Não posso decepcioná-lo... Não posso!”

Estacionaram em frente ao restaurante, uma das poucas vagas restantes. Karina saltou para fora do carro, as pernas trêmulas. Sentiu uma forte tonteira e cambaleou, dando passos desconexos para trás.

—--***---***

Pri definitivamente não sabia da queda de Jade por Pedro. Após o elogio que ele lhe fez, ela se aproximou mais, o decote gritando aos olhos de qualquer um, exceto aos olhos de Pedro, que agora havia parado de falar do nada. Olhava para algum ponto fixo no chão, o aperto em seu peito agora era de matar, mal podia respirar. Foi Lírio quem reparou que o colega não estava normal.

—CHAMEM UM MÉDICO!

—--***---***

Karina queria voltar para casa. Agora sua mente estava uma bagunça e parte dela era composta por Pedro. Pedro beijando-a, Pedro nervoso, Pedro chorando quando eram mais novos, Pedro jogando futebol e dedicando um gol à ela, Pedro beijando outra garota, Pedro, Pedro, Pedro....

—Pedro..._ ela sussurrou.

Um barulho alto de buzina a assustou.

Foi tudo muito rápido. O barulho alto a assustou e a última coisa que ela ouviu foi o grito desesperado de Cobra:

—KARINA, CUIDADO!

—--***---***

Pedro sentiu a dor em seu peito sumindo do nada, como um baque. Um soluço alto saiu do fundo de sua garganta e ele se colocou de pé. Todos no pub o olhavam assustados.

—Você está bem? Pedro?_ a voz de Jade o despertou.

Seu celular começou a tocar, chamando sua atenção. Como se já soubesse que algo havia ocorrido, ele atendeu o telefone:

—Karina..._ ele murmurou, sem sentido.

Um som de choro veio do outro lado da linha, seguido por um soluço. Após um breve silêncio, a voz embargada de seu pai disse:
—Ela sofreu um acidente filho. Foi levada para a emergência do pronto socorro. Eu e sua mãe estamos...

—Estou indo para lá.

Ele desligou o telefone e correu para fora do pub. Lírio foi atrás dele e o segurou pelo braço.

—Aconteceu alguma coisa?

Pedro não havia derramado uma lágrima, mas a dor de algo ter ocorrido com a irmã estava matando-o.

—Karina sofreu um acidente. A levaram para a emergência de um pronto soco... AH DROGA!

Apenas agora ele havia percebido que não tinha perguntando ao pai em qual pronto socorro ela estava. Lírio percebeu o ocorrido e disse:

—Fica calmo, provavelmente a levaram para o pronto socorro central, acidentes assim são comuns lá. Vamos.

Pedro não esperou nem mais um minuto, o acompanhou até o carro.

Dandara e Gael estavam na sala de espera, ambos com os olhos vermelhos devido às lágrimas.

—Graças a Deus, você chegou._ ela disse, o abraçando fortemente.

—Como ela está? Aonde ela está? Como foi o aci...

Pedro parou de falar de imediato. Um rapaz moreno estava recostado em uma parede ao lado da entrada da sala de espera, os olhos também denunciavam sua dor. Sem pensar no que estava fazendo, Pedro caminhou à passos largos até ele e lhe deu um soco tão forte que a própria mão doeu. Lírio e Gael o seguraram, acalmando-o, mas isso parecia um tanto impossível naquele momento.

—SEU IDIOTA! COMO PÔDE DEIXAR QUE ELA SE FERISSE?_ ele gritou.

Cobra nada respondeu. Não queria se defender, sabia que a culpa foi sua, devia ter prestado mais atenção nela, como não notara a palidez no rosto dela quando ela desceu do carro?

—Não se culpe meu querido._ Dandara disse, sua voz se sobressaindo aos urros de raiva de Pedro._Tenho certeza de que a culpa não foi sua.

Pedro continuava bufando de raiva, até que a chegada de um médico chamando pela família Duarte chamou a atenção de todos.

—Eu... Eu sou a mãe dela doutor, como ela está?_ Dandara tentava se controlar, mas era impossível. Todo seu corpo tremia.

O médico lançou a cada um, um olhar preocupado antes de dizer:

—A Karina sofreu algumas fraturas, está inconsciente e respirando com a ajuda de aparelhos, mas temos esperança que o quadro se reverta dentro de algumas horas. Porém, ela perdeu muito sangue e será preciso fazer uma transfusão com urgência.

Todos se entreolharam apavorados. Exceto Pedro que logo deu um passo à frente dizendo:

—Sou irmão dela doutor, posso fazer a doação._ ele não estava perguntando, estava afirmando, decidido.

Dandara sentiu o corpo gelar. Pela primeira vez, desde que o acidente ocorreu, ela não pensou na filha em específico. Agora, sentia que tinham chegado a um limite, o limite da mentira. Gael, ao seu lado, pensava o mesmo.

Estavam em um beco sem saída.

Era a vida da filha ou a perpetuação de uma mentira, com a morte dela.

A escolha devia ser feita e foi Dandara quem tomou a decisão e a iniciativa:

—Pedro... Eu preciso contar uma coisa muito importante para você.

Não importava se Gael concordaria ou não. Era a hora da verdade.


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