A Verdade Sobre Nós escrita por sayuri1468


Capítulo 3
Um Dia com Sherlock




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Meu trabalho infelizmente, naquele dia, estava corrido. Havia acontecido um acidente mais cedo, e milhares de corpos chegaram para que os avaliasse. Mal tive tempo e espaço livre na cabeça para pensar em Sherlock, e só efetivamente me lembrei de sua volta quando cheguei ao vestiário me trocar para ir embora, e o encontrei lá.

– Oi, Molly! – sua voz veio surpreendentemente por detrás de mim, e eu me virei surpresa. – Está bem, pelo que vejo!

– Sherlock! – exclamei, ainda surpresa- Como entrou aqui sem que ninguém te visse?

Ele sorriu. Notei o quanto sua expressão estava cansada. O rosto já mostrava as marcas do tempo, e Sherlock, decididamente, possuía algo diferente. Imaginei naquele momento o quanto ele deveria ter sofrido, e por tudo que deveria ter passado. Retribui o sorriso, secretamente, eu estava feliz por tê-lo de volta, e poder finalmente vê-lo novamente.

– O hospital está lotado hoje, foi fácil entrar!

– Tivemos um acidente! – informei, imaginando que ele provavelmente já sabia disso – E então, já falou com John?

– Falarei hoje à noite! Parece que ele vai pedir a namorada em casamento!

– E você irá atrapalhar, presumo! – falei dando uma leve risada.

– Apenas quero voltar em grande estilo!

Nós dois rimos. Era como se ele nunca tivesse ido. Eu senti, naquele instante, que o tempo havia parado desde que ele tinha ido embora, e que os ponteiros do grande relógio voltaram a girar agora, naquele momento.

– Ele vai te bater, provavelmente! – informei em tom de brincadeira.

– Vai! – ele respondeu concordando, e depois entrou em um curto de período de silêncio – E você, como está?

Naquele momento, eu percebi que podia contar a Sherlock sobre Tom. Dizer-lhe que estava noiva e que estávamos marcando o casamento. Mas não o fiz. Meu lado racional lutava bravamente contra meu emocional, nesse momento. Um dizia que eu deveria contar, e que não tinha nada demais, o outro, implorava para esconder isso dele o máximo que eu pudesse. Indecisa sobre qual lado venceria, eu apenas disse.

– Bem! Vivendo a vida! E você? Está com um aspecto péssimo, espero que pelo menos tenha acabado com a rede do Jim! – perguntei tentando desviar do assunto. Não pude deixar de notar a careta que Sherlock fez quando me ouviu dizer o nome de Moriarty. Por algum motivo, ele detestava que eu o chamasse de Jim.

– Admito que realmente, eu deva estar com um aspecto horrível! Mas algumas semanas preso, dentro de um campo de concentração na Rússia, provocam isso! – falou em um tom divertido, como se fosse algo engraçado.

– Fico feliz que tenha voltado a Londres! – disse, sem que eu mesma notasse, que essas palavras saíam da minha boca.

Sherlock me olhou seriamente. Os olhos dele estavam diferentes, e eu comprovei que realmente, algo havia mudado, embora não soubesse ainda o que. Ele se aproximou e pegou minhas mãos. Eu gelei, e olhei em pânico para elas. Suspirei aliviada ao ver que havia retirado o anel para trabalhar, e que ainda não o havia recolocado. Sherlock então se inclinou e beijou minha bochecha.

– Eu também estou feliz por ter voltado! – falou enquanto se afastava.

Naquele momento, eu pude perceber que minhas desconfianças estavam certas. Meu coração disparado e o chão que havia desabado sob meus pés, confirmaram as minhas suspeitas. Eu ainda era, totalmente apaixonada por Sherlock Holmes.

Eu me afastei, pois as lembranças da última noite em que havia visto Sherlock voltaram com força, e eu sabia que aquilo não deveria mais ser mencionado. Meu afastamento foi a deixa para que Sherlock se despedisse.

– Devo ir atrás de John, agora! Preciso recrutá-lo para um trabalho!

Eu sorri.

– Mal chegou e já vai partir em outra missão?! Deveria começar a cobrar pelas horas extras!

Minha tentativa de refazer a atmosfera anterior, foi bem sucedido. Sherlock sorriu.

– Do que está falando, Molly?! Estive em férias viajando pela Europa, até agora! Hora de trabalhar!

Nós dois rimos, e com um polido aceno de cabeça, Sherlock foi embora. Tristemente, me encaminhei para meu armário e peguei minha aliança. Encarei-a por um longo tempo. Será que ele havia notado? Será que Mycroft contara pra ele? Ou será que ele simplesmente já sabia?

Eu sabia que não deveria me incomodar com isso. Ele decidiu seguir sozinho, não foi?!Eu não tinha que seguir o mesmo caminho que ele! “Eu amo você, Molly Hopper!”, as palavras que ele disse voltaram à minha mente, e eu, sem pensar, atirei o anel dentro do armário e o fechei com raiva. Sherlock Holmes mal tinha voltado à Londres, e minha vida já voltava a ser uma novela.

Mais uma vez, meu sono havia ido embora. Olhei para Tom deitado do meu lado, dormindo tão sossegado. Que inveja! Sempre que eu fechava os olhos, as imagens de Sherlock não me deixavam dormir. Eu precisava contar-lhe a verdade, precisava dizer que estava noiva. Decidi que contaria pela manhã. Isso mesmo, eu iria até ele e contaria que eu estava noiva, feliz e que estava tudo bem comigo. Afinal, que direito Sherlock tinha de tirar meu sono? Ele decidiu ficar sozinho, ele pediu para que tudo o que ele havia me dito naquela noite, não fosse mais mencionado. Então não seria! Me deitei com raiva e fui dormir. Ahh, como eu queria que isso tivesse dado certo.

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Não dormi bem, e na manhã seguinte, concidência ou não, recebi um torpedo de Sherlock. Ele pedia para que o fosse até Baker Street, e eu o atendi. Na mensagem ele dizia que iria realizar meu maior desejo. “Vai me chamar para jantar!”, pensei rindo, lembrando-me de todas as vezes que o convidara para tal.

– Queria me ver? – perguntei ao entrar na Baker Street, ansiosa pela surpresa.

– Molly...sim... por um acaso...você gostaria de....

Ele andou em minha direção. Parecia nervoso e tenso, e achei que talvez devesse ajuda-lo.

– Jantar?

– Desvendar crimes!

Eu ri.

– Desde quando desvendar crimes é meu maior desejo, Sherlock?! – perguntei ainda rindo.

Ele pareceu meio encabulado.

– Não é?! Achei que fosse o maior desejo de todo mundo! – tentou se justificar.

– John brigou com você, não foi?! – deduzi, e pela expressão que ele fez, percebi que deduzi corretamente. – Te deu um soco?

– Uma cabeçada, na verdade! – informou.

Eu ri novamente, e Sherlock ficou visivelmente sem graça.

– Tudo bem, Sr. Holmes! Te ajudo com seus casos dessa vez! - falei concordando. Sherlock sorriu, e eu lhe retribui por entre a risada.

Confesso que fiquei um pouco nervosa. Afinal, estava lado a lado com Sherlock, e tinha que ser o “John dele”. Eu não sabia como John agia, então tentei puxar pela memória. Ele sempre anotava tudo, eu me lembrava disso. Um cliente chegou, e eu ainda não estava preparada. Retirei meu casaco e minhas luvas, e indo até a bolsa, peguei um pequeno bloco de papel e lápis.

– Quer que eu anote? – perguntei.

Percebi que o Sherlock frio e distante voltara. Ele ajeitou seu tenro e sentou-se na poltrona ao lado da minha.

– Se isso te fizer sentir melhor! – respondeu secamente.

– John sempre anota, então imagino que se eu vá ser John...

– Você não vai ser John, você vai ser você mesma! – falou firme.

Achei melhor não interromper mais. Sherlock no trabalho se transformava, então decidi respeitar isso.

Recebemos vários casos naquela manhã, e confesso que comecei a achar divertido. Minha admiração por Sherlock só aumentou naquele dia. Ele era capaz de solucionar os casos em questões de segundos, sem qualquer engano.

Depois dos pequenos casos da manhã, fomos até o Greg, na Scotland Yard, resolver outro caso em aberto.

– Se incomoda que eu veja? – perguntei a ele, enquanto observava o esqueleto à nossa frente.

– Não, de forma alguma! Por favor! – ele respondeu enquanto se dirigia à mesa.

Tentei ver pelos ossos qual seria a idade aproximada, e enquanto puxava levemente a roupa que encobria os ossos do pescoço, Sherlock surgiu por detrás de mim. Foi quando olhei a minha mão. Ali estava o anel. Removi minha mão rapidamente, torcendo para que Sherlock não o tivesse visto. Recoloquei minhas luvas, e após resolver o caso, Sherlock simplesmente saiu da sala, sem dar mais explicações. Meu coração tremeu, eu tinha certeza que Sherlock havia visto o anel.

Durante o caminho para o último caso do dia, nenhum de nós falou nada a respeito. Eu esperei que ele comentasse alguma coisa, já que ele sempre tecia comentários quando eu namorava alguém, mas ele não falou uma única palavra a respeito. Comecei a achar que talvez ele não tivesse visto o anel, e dei graças a deus a isso.

Embora eu estivesse adorando passar esse dia com Sherlock, a lembrança de Tom me veio naquele momento. Por algumas horas naquele dia, eu havia me esquecido que estava noiva, e me diverti ao lado de Sherlock. E ele também demonstrava que sentia o mesmo. Naquele dia nós nos entendemos como nunca antes, e conversávamos apenas com olhares. Eu não queria que acabasse, mas eu sabia que não podia. E conforme o dia terminava, eu sentia que uma pergunta precisava ser feita, e sem delongas, eu a fiz.

– Do que se trata o dia de hoje, Sherlock?

– Eu estou agradecendo você!

– Pelo que?

– Pelo que você fez por mim!

Então eu entendi tudo. Sherlock ainda estava me agradecendo por eu ter ajudado a forjar sua morte, e por ter mantido segredo disso. Me chamou para passar o dia com ele, como uma forma de agradecer.

– Foi um prazer! – disse brincando, já pensando em emendar um “da próxima vez, me dê chocolates!”, mas Sherlock me cortou.

– Não, é sério!

A entonação de sua voz mudou, e eu vi pelo seu olhar que era algo que ele queria dizer há muito tempo.

– Eu também falo sério, não é que tenha sido um prazer, mas é que não me importei de fazê-lo! – respondi no mesmo tom que ele.

– Moriarty cometeu um terrível engano, a pessoa que ele achou que não importava nada para mim, é a que a com quem mais me importo! – Eu recuei, sem saber o que fazer. A forma como ele falava, me lembrava daquela noite. Eu precisava dizer alguma coisa, eu precisava contar sobre Tom agora, antes que eu fizesse alguma besteira. – Mas você não pode fazer isso de novo, não é?!

– Foi um dia adorável, e eu adoraria fazer de novo, mas...eu...

– Ah propósito, parabéns! – ele me cortou secamente, e eu, sem entender o motivo daquilo, o encarei.

Então vi que seus olhos foram em direção a minha mão. Foi quando eu percebi que havia me esquecido de recolocar as luvas, e Sherlock, tal como eu imaginara, viu a aliança que eu tentei esconder. Não adiantava mais fugir.

– Ele não é do trabalho! – comecei - Nos conhecemos através de amigos, da forma antiga! – ele sorriu, e eu também tentei sorrir – Vamos ao pub as sextas, e compramos um cachorro! Ele é legal, e conheci seus pais e...não faço ideia do por que estou te contando isso!

Deus sabe o quanto estava nervosa. Eu percebi, tarde demais, que meu problema em contar sobre Tom para Sherlock, não era evitar magoá-lo, mas sim, me magoar. Eu não queria que ele soubesse, porque eu queria estar disponível pra ele, pra quando ele voltasse. Queria que ele soubesse que eu ainda o amava, e que queria ficar com ele. Contar a ele sobre Tom, era por um fim à isso.

– Eu espero que você seja muito feliz, Molly Hopper! Você merece!

Ele estava magoado também, eu pude notar pela sua voz e pela forma como falava. Eu sabia que ele não iria dizer mais do que isso a respeito. Eu sabia que ele não iria me pedir pra ficar com ele, porque ele já havia tomado sua decisão. Ele não estava me impedindo, ao contrário, estava me dando sua permissão.

– Afinal, nem todos por quem você se apaixona são sociopatas! – ele disse brincando, e eu concordei, sem realmente achar a graça nisso.

Ele se aproximou, indo em direção à minha bochecha, mas parou no meio do caminho, exatamente como tinha feito naquela noite em que nos beijamos pela primeira vez. Mas dessa vez, ele apenas sorriu e depositou os lábios na minha bochecha. Pude sentir toda a tensão que pairava no ar, naquele momento. E antes que eu tivesse me dado conta, Sherlock havia saído pela porta. Eu sorri, e disse para mim mesma.

– Talvez seja o meu tipo!

E censurando minha própria brincadeira, voltei para a minha vida. Se Sherlock tivesse me pedido para ficar com ele, se tivesse me dado qualquer sinal, eu sei que meu noivado estaria acabado no mesmo instante. Mas ele me deu sua permissão, e isso despertou em mim uma certeza: de um jeito ou de outro, eu deveria esquecer Sherlock Holmes.


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