A Verdade Sobre Nós escrita por sayuri1468


Capítulo 2
Hiatus




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Dois anos se passaram desde que Sherlock havia ido embora em sua missão. Mycroft me mandava notícia periódicas, embora eu jamais as tivesse solicitado, mas acredito que tenha sido a pedido do próprio Sherlock. Todo o teatro que envolvia a morte dele ocorrera com sucesso, e eu observava o mundo de pessoas que eu gostava desmoronar perante essa notícia; John, Sra. Hudson, Greg e até mesmo Anderson, que havia perdido seu emprego tentando comprovar que Sherlock ainda estava vivo. Eu assistia a tudo, e tive que ficar calada.

Em todos os momentos que John vinha ao laboratório falar comigo, eu pensei em contar- lhe a verdade. Queria dizer para que ele parasse de se lamentar, de chorar e de se culpar, pois Sherlock estava vivo, mas infelizmente, essas conversas aconteciam apenas em minha cabeça, e eu o deixava ir pior do que quando ele viera. Com o tempo, John parou de me visitar, e isso foi deixando mais fácil para que eu mantivesse o segredo de Sherlock. Em sua última visita, ele me contou que havia arrumado uma namorada, e eu cheguei a conhecê-la quando esbarrei com os dois acidentalmente pela cidade. Era uma moça meiga e adorável, e eu sabia que John ficaria bem, naquele momento.

Eu mesma havia me arrumado alguém naquela época, também. Tom era um rapaz adorável e muito carinhoso. Ele era de fácil personalidade e nos divertíamos muito. Levávamos uma vida comum, íamos ao mercado, levantávamos tarde no domingo, saíamos as sextas, enfim, uma vida comum e pacata. Preciso confessar que era esse tipo de vida que eu desejava, sem os altos e baixos que minha vida costumava ser, quando Sherlock Holmes ainda habitava meu coração.

Os dias se passavam sem nenhuma novidade, até o dia em que Mycroft veio me visitar. Apesar de ele me trazer notícias de Sherlock, estranhei que ele as tivesse trazido pessoalmente. Normalmente ele as enviava em um arquivo, com instruções para queimá-las depois – atitude, que confesso não saber o motivo, nunca tomei – e vê-lo parado em minha porta, despertou em mim desconfianças de que algo ruim acontecera. Caminhei mas rápido em sua direção, e chegando ao seu lado, não lhe dei chance para dizer nada. Abri a porta e o trouxe para dentro, fechando e trancando a porta logo em seguida.

– Muito razoável de sua parte! – ele disse com um sorriso cínico. Comprovei que Sherlock estava certo sobre esse sorriso, era realmente irritante.

– O que aconteceu?

Fui direta, não havia necessidade para não o ser. Não iria ser polida e educada, para fingir que Mycroft e eu tínhamos um relacionamento, que nunca tivemos.

– Vou trazer ele de volta amanhã!

– Vivo?

Ele sorriu novamente, e constatei naquele instante que não importava o momento, seu sorriso sempre pareceria cínico. Mas aquele sorriso me deu a confirmação que eu precisava, e o peso que havia se instalado em meu peito desapareceu. Respirei aliviada, e tal atitude fez com que meus pensamentos raciocinassem melhor, e uma pergunta surgiu.

– Por que está me contando isso?

– Porque ele pediu para que eu o fizesse!

– Por que ele pediria isso? – rebati confusa.

Mycroft riu.

– Srta. Hopper, há muitos anos que não tento entender as atitudes românticas de meu irmão! – disse colocando certo desprezo na palavra “românticas” – Em todo caso, saiba que trarei ele de volta amanhã, mas que sua condição de falecido deve permanecer!

Eu assenti e Mycroft, fazendo um gesto polido e educado com a cabeça, se despediu. No momento em que ele abriu a porta para partir, para a minha infelicidade, deu de cara com Tom, que estava chegando do trabalho.

– Ora! – exclamou enquanto Tom olhava confuso para ele – Tom, não é?! Muito prazer, Mycroft Holmes!

O motivo de Mycroft de repente ser tão educado, só me passou pela cabeça quando ele me olhou de relance e soltou um sorriso. Naquele momento, um sentimento de raiva e culpa se alojou em mim. Ele sabia, sabia o que Sherlock havia me dito na noite em que foi embora, e estava jogando na minha cara que eu o magoaria.

Mycroft despediu-se mais uma vez e foi em direção ao seu carro. Em um ato impulsivo, eu fui atrás dele, fechando a porta por detrás de mim, para que Tom não me ouvisse.

– Não conte ao Sherlock! – pedi enquanto ele ainda abria a porta do carro.

Por que eu disse isso? Por que eu não queria que Mycroft contasse a Sherlock sobre Tom?

– Não se preocupe Srta. Hopper, eu particularmente, detesto dar más notícias ao meu irmão! Ele tende a ficar insuportável!

E dizendo isso, adentrou no carro e sumiu. Fiquei mais um tempo encarando aquela rua, pensando no que acabara de fazer e tentando descobrir o motivo disso.

Voltei para casa em silêncio e pouco falei com Tom, embora tivesse que explicar quem era Mycroft e o que ele havia ido fazer em minha casa. Não contei sobre a morte de Sherlock, era um segredo que ele deveria quebrar, mas contei que trabalhava com ele eventualmente, e que Mycroft veio falar sobre o resultado de um trabalho. Tom não era da área de medicina ou um policial, ou qualquer outra profissão que se interessasse por casos de mistério e autópsias, por isso não pediu mais explicações, e pude voltar ao meu silêncio. Sherlock voltaria, e como isso me afetava? Não deveria me afetar, em absolutamente nada! Eu tenho minha vida agora, com Tom, e eu o adorava. Sempre tive certeza de que havia expulsado Sherlock do meu coração, e que iria viver tranquilamente agora. Mas Sherlock estava voltando, e isso, querendo ou não me afetava. Como iria encará-lo? Na última vez em que estivemos juntos, ele disse que me amava, mas também disse para que isso não fosse mencionado novamente. Ele tinha decidido permanecer sozinho, eu não, então eu não deveria me sentir culpada por estar noiva de alguém agora. Eu estava noiva, pensei em como Sherlock reagiria a isso. Foi quando um sentimento de autodefesa entrou, e minha subconsciência gritava: Talvez ele nem me ame mais, talvez ele nem nunca tivesse amado, talvez só tenha falado isso pra que eu o ajudasse. Censurei meu subconsciente imediatamente, claro que ele estava sendo sincero, eu vi em seus olhos que estava. O dia amanheceu sem que eu nem percebesse, e eu me levantei da cama. Iria pro trabalho, e tentaria esquecer por um momento, que Sherlock estava voltando pra Londres, e em consequência, pro meu coração. De onde comecei a desconfiar que ele nunca tivesse saído.


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