Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 8
O Selo de Metatron


Notas iniciais do capítulo

"Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor." - Johann Goethe



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/529086/chapter/8

[Era uma manhã típica de janeiro. Estava frio, muito frio. Meu pai havia saído de casa enquanto minha mãe chorava no quarto: ele iria beber. Meu pai era alcóolatra e não conseguia ficar mais de 48 horas sem ingerir alguma coisa que contivesse álcool. Nós sabíamos disso e sempre nos lamentávamos por causa desse vício do meu pai. Apesar de tudo isso, ele era legal, isto é, quando estava sóbrio. Ele sempre brincava comigo nesses momentos apesar de eu já ter doze anos de idade e ser um pouquinho velho para o tipo de brincadeiras que ele costumava fazer comigo como esconder coisas e me fazer procura-las dizendo se eu estava “frio” ou “quente” além de outros tipos de brincadeiras. Mas naquele dia, era um dia de tristeza porque sabíamos como ele voltaria do bar. Era sempre a mesma coisa: batia a porta e queria comida. Se minha mãe falasse qualquer coisa, eles brigavam e ela apanhava feio. Meu pai era alto, forte... O suficiente para conseguir fazer um grande estrago na minha mãe.

Olhei pro quarto dela, vendo-a chorar com as mãos no rosto. Já sabíamos por quê. Ela olhou pra mim de repente, percebendo que eu já sabia de tudo e fez um gesto com a mão me chamando mais pra perto. Fui até o quarto e sentei na cama junto com ela, do seu lado. Ela enxugou os olhos com as mãos e olhou pra mim fingindo um sorriso torto.

–Matthew, tudo bem?

Ajeito os óculos no meu rosto tentando não esboçar nenhuma expressão.

–Err... Sim mamãe. Mas porque a senhora está chorando?

–Eu? Ahh... É porque me lembrei de uma coisa muito triste.

–Tem a ver com o papai?

–Ah... – ela se atrapalhou um pouco nas palavras – Tem sim filho. Acho que já chega de esconder as coisas de você.

Naquela manhã descobri tudo sobre o meu pai. Certo que algumas coisas eu já havia visto, mas não da perspectiva da minha mãe. Ela me contou o quanto ele era horrível quando bebia que gastava todo o dinheiro com álcool e que havia meses que não sobrava nada para comprar comida e que os finais de semana que eu passava na casa da minha tia eram devido à escassez de comida em casa, que eu precisava me alimentar. Ela me falou quantas vezes passou fome por causa do meu pai e seu vício idiota.

–Filho... Provavelmente essa semana eu terei que mandar você pra casa da sua tia em
Silent Hill mais uma vez. Seu pai recebeu dinheiro ontem e não guardou nada... Acho que vai gastar tudo hoje.

–Mas mãe... Eu quero ficar com a senhora. Eu não quero mais ter que ir à Silent Hill toda vez que isso acontecer e lhe deixar aqui sozinha com o papai. Eu agora estou com medo de que aconteça alguma coisa.

–Filho... – ela enxuga mais uma vez os olhos com as mãos – Mas você vai! Eu não quero ver você em casa com fome. A próxima semana sai o dinheiro do meu salário e então vou lhe buscar. Não se preocupe com isso. E se você não quiser ir, eu vou lhe levar assim mesmo! Sou sua mãe!]

Abro os olhos. Estou caído perto de uma porta e sinto um cheiro podre invadir minhas narinas ao mesmo tempo em que gritos agudos e gemidos de dor tomam conta dos meus ouvidos e mente. A realidade ao meu redor mostra paredes pulsantes, pelo menos é o que a lanterna caída no chão me mostra. Levanto sentindo dor por todo meu corpo e com muito esforço me mantenho de pé. Vou até a lanterna e a pego, dando uma olhada pelo lugar. A escadaria some no meio do escuro fazendo com que um calafrio passe pela minha espinha. O cheiro lembra enxofre junto com animais mortos, fazendo com que eu sinta náuseas. Lembro-me de Mateus, preciso encontra-lo. Começo a subir a escada lentamente, que já não é mais de metal e sim de madeira. Os degraus fazem um rangido toda vez que eu piso em um deles, o que me dá calafrios a cada passo que dou. Consigo subir o primeiro lance de escadas, faltando mais um para chegar ao próximo andar. De repente, ouço o barulho de uma porta se abrindo. Era a porta onde eu estava caído. Volto um pouco para ver se era Mateus e vejo um homem sem camisa, com uma espécie de toalha em volta da cintura com uma enorme espada na mão e uma cabeça de metal formando uma espécie de pirâmide. Era a coisa da foto.

Meu coração acelera enquanto começo a subir correndo o segundo lance de escadas. Um barulho ensurdecedor de alguma coisa arrastando no chão me persegue e dou mais uma olhada para trás. A coisa vem em minha direção e o peso da espada é tão grande que está arrastando na escadaria de madeira produzindo um som horrível. Continuo correndo e chego até a próxima porta, me jogando contra ela e abrindo-a com toda a força que tenho o que me faz cair no chão. Fecho rapidamente, usando o pequeno canivete para isso. O barulho de algo arrastando se une aos dos gemidos, produzindo um som ensurdecedor em minha mente. Eu temo por Mateus.

Seguro a lanterna firmemente com a mão esquerda e puxo a chave inglesa do outro bolso. Visualizo o local, vendo o corredor que estou. Há um corredor à esquerda, e corro até ele. Tento abrir alguma das portas, mas todas estão com a fechadura quebrada, o que nem possibilita o uso do canivete. Volto ao corredor principal e vejo uma porta dupla. A porta de onde saí está emitindo um barulho como se alguém estivesse forçando... Provavelmente é o homem da espada. Corro até a porta dupla e abro com todas as minhas forças, trancando-a com o canivete ao passar.

Estou num corredor enorme. As paredes pulsam aqui também e ouço vários gemidos. Há várias portas instaladas no lugar, o que me parece ser um corredor com vários leitos.

–Mateeus!

Não ouço nada além dos gemidos. Começo a tentar porta por porta, não encontrando muita coisa além de leitos vazios e sujos de sangue. Meu coração acelera a medida que aumenta a possibilidade de encontrar com aquela coisa. O cheiro de sangue podre misturado com enxofre ainda me enoja, me fazendo quase vomitar no chão.

–Mateeeuuus!!

Nenhuma resposta. Abro outra porta e vejo uma pequena maleta em cima da cama. Há em cima um papel informando: “A chave para o terceiro andar está no banheiro”. Tento abrir a maleta mais há uma combinação a ser feita... Preciso encontrar o código. Depois de umas três tentativas, desisto e vou procurar nas outras salas... Nada! Entro no banheiro masculino que está completamente podre. Procuro por alguma chave na pia ou nos vasos sanitário... Nada. Saio rapidamente do banheiro masculino e entro no feminino dando de cara com uma sala vazia e apenas um ralo. Vou até ele e vejo com a ajuda da luz da lanterna um objeto prateado, acho que a chave. Pego a chave inglesa e começo a bater no ralo de plástico, conseguindo quebra-lo. Puxo o objeto prateado e vejo uma placa com três números: 486. Saio da sala e volto até o quarto onde encontrei a maleta. Mexo na combinação e coloco os dígitos, conseguindo abrir a maleta. Dentro dela há alguns papeis e uma chave pequena, prateada. Pego um dos papeis com a foto do objeto, o Selo de Metatron que havia encontrado antes. Sento na cama e com a ajuda da lanterna começo a ler.

O Selo de Metatron, um objeto circular de ouro que possui o selo gravado na sua frente. O objeto possui o poder da própria entidade, sendo emprestada a pessoa que o usar. O poder é capaz de fazer coisas além da naturalidade humana. Se assemelha ao poder da Mãe Sagrada, porém é ainda mais forte. O objeto foi deixado na Terra com o objetivo de capacitar a pessoa que seria responsável por cuidar da mãe sagrada, protegendo-a também do julgamento de deus enquanto o mesmo é gerado. Ao usar o selo, o seu portador obtém acesso ilimitado ao poder da entidade, entretanto, esse poder é incapaz de ser habilmente controlado se não for usada pelo seu usuário original, isto é, o protetor da Mãe Sagrada, uma vez que Metatron é o protetor de deus enquanto ele não assumir a sua forma completa. O objeto confere força suficiente para o seu utilizador para caminhar por entre as duas realidades presentes durante o julgamento de deus quando ele ainda não assumiu sua forma original.

–Então... Ele de fato existe... Se ele realmente existe, então poderei passear por essas duas realidades que a cidade apresenta? Se for assim, talvez o poder dessa coisa seja capaz de me arrancar daqui junto com Mateus!

Começo a vasculhar tentando encontrar mais alguma coisa sobre o selo, mas não encontro mais nada além de uma caneta. Decido escrever alguma coisa para não enlouquecer:

“Era apenas uma lenda. Sim, uma lenda... Eu acreditava que era uma lenda. Quando ouvi falar sobre Silent Hill, algo dentro de mim, isto é, a minha razão, me dizia o tempo inteiro que era apenas uma lenda e que tudo não passava de um plano único onde tudo que existia era material. Mas... Cometi o grave erro de ir contra minha razão e verificar a fundo e agora estou aqui nessa droga de cidade. Eu... eu estou com medo. Existem coisas aqui que vocês não acreditariam se estivessem no meu lugar. Eu estou enlouquecendo e as coisas que me amedrontavam em minha infância estão voltando à tona todos os momentos. Além do mais, estou sendo perseguido por aquela coisa que nem consigo nomear... Não é uma lenda, não é uma lenda. Eu posso morrer aqui... Porém, existe uma esperança: O Selo de Metatron!”

Coloco a caneta junto com o que acabei de escrever na minha mochila, tentando lembrar de escrever sempre. Se sair daqui louco, pelo menos alguém poderá saber o que passei e que isso é real. Pego a chave inglesa e a chavezinha do terceiro andar e as coloco no bolso. Preciso chegar lá de alguma forma, esse aviso não pode ter sido em vão. Abro a porta da enfermaria e caminho até a porta que dá na escadaria. Se a coisa com cabeça de pirâmide estiver lá, espero ter sorte o suficiente para passar por ela. Se não, espero que ela não tenha encontrado Mateus. Respiro fundo e forço a fechadura com o canivete.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse capítulo possui muitas referências os três primeiros jogos da série Silent Hill. É necessário o conhecimento do enredo desses games para uma melhor compreensão.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Silent Hill: The Artifact" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.