Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 7
Foto Em Cima Da Escrivaninha


Notas iniciais do capítulo

"Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo." - Mark Twain



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O lugar está completamente escuro, o que faz com que imediatamente eu pegue a lanterna e a ligue. Estou num tipo de corredor com algumas prateleiras e armários... Tudo parece podre e sujo, como se ninguém os tivesse usado por muito tempo. Consigo ainda enxergar alguns ratos passando sorrateiramente. Caminho direto até a porta que está a minha frente, ela está arrancada deixando apenas um buraco revelando um grande salão de boliche. O lugar é espaçoso, mas me dá arrepios. Há uma pequena luminária em uma escrivaninha, das pistas de boliche. As paredes estão rachadas, como se o lugar houvesse passado por um terremoto. Sinto um pouco de medo, minhas mãos começam a gelar e tento me aproximar da escrivaninha. Não sei, mas sinto meu coração acelerar rapidamente como se eu estivesse amedrontado mais do que já estou. Meus olhos vão se acostumando a luz fraca emitida pelo abajur verde. Sinto que meu coração está prestes a sair pela boca. Me aproximo o suficiente para ver o que está em cima da mesa: uma foto. Meu corpo inteiro gela e sinto minhas mãos suarem ao olhar para a criatura. Era exatamente a coisa que sempre encerrava meus sonhos, a coisa a qual sempre tive medo a minha vida inteira, a coisa que também apareceu nas fotos que procurei sobre Silent Hill na internet. Era... ele!

Dou alguns passos para trás, recuando como se aquele ser fosse sair da foto e me perseguir com aquela espada. Meus sentidos começam a se confundir, não consigo pensar direito, e sinto perder minha consciência. Porque aquela droga de foto estaria tão destacada, sendo a única coisa iluminada por aqui? Olho a minha volta, vejo todo aquele salão com manequins, manequins segurando bolas de boliche por todos os lados. Vejo aquelas coisas monstruosas me cercarem e o medo invadir minha mente... Pareciam pessoas, pessoas que foram transformadas em coisas, em objetos! Minha respiração acelerou e por pouco não grito. Tento recuar até a porta de fora dessa droga de prédio e aos poucos apresso o passo e corro até a porta, dando de cara mais uma vez com a rua.

Respiro golfadas e mais golfadas daquele ar enevoado. Passo a mão na testa e sinto a enorme quantidade de suor que a molha. Meu coração, ainda acelerado, reflete as cenas vistas e vividas à minutos atrás.

–Será que realmente valeu a pena vir a Silent Hill?

Viro para a esquerda e vejo aquela mulher, Angela Orosco se não me engano. Ela me olha ainda com uma expressão indiferente. Tenho a impressão de que ela me persegue.

–Angela... O que ainda faz aqui?

Ela me olha, ainda sem expressão alguma como se não se importasse com o meu estado.

–Humpf! E tudo por causa de uma lenda idiota, de um artefato poderoso.

Minha mente se reorganiza. Relembro o motivo de vir aqui, era por causa da lenda, do Selo de Metatron.

–Como sabe?

–Ahh, eu sei. Muitos já vieram a Silent Hill tentar encontrar esse objeto, o Selo de Metatron. Alguns a pesquisa, outros para tentar ressuscitar pessoas e até mesmo para se dar bem na vida. Mas uma coisa eu te afirmo, não há nada que esse objeto possa trazer de bom. A morte é irrevogável, falo isso porque eu sei.

–Angela... Aquele túmulo então...?

Ela olha pra mim rapidamente, como se desconfiasse que sei de algo. Tento disfarçar, virando o rosto.

–O que sabe sobre tudo isso? Mal chegou aqui, já quer mandar na minha vida? Garoto – ela puxa uma faca suja de sangue e vem até minha direção olhando fixamente nos meus olhos – você não sabe onde está se metendo...

–Eeer... – falo recuando alguns passos para trás – eu realmente não sei. Não estou me metendo em nada... Apenas vim investigar sobre essa droga de cidade ver se era real! Tudo que eu quero agora é achar Mateus e ir embora. Por favor, guarde isto.

Ela passa mais alguns minutos com a faca na mão, ainda me olhando fixamente.

–Tome!

Ela estende a mão com uma chave prateada e coloca na minha mão.

–Escolhas... Salve alguém, ou salve-se a si mesmo. Se salvar alguém, pode ser que se salve... Mas se tentar se salvar, então pode ser que morra. Não venha atrás de mim!

Ela se vira e começa a seguir em frente pela rua até desaparecer na névoa. Fico olhando para a pequena chave que ela me deu e corro até o prédio onde estava Mateus. Subo a pequena escada e introduzo a chave na fechadura, me perguntando por que ela teria especificamente essa chave. Abro a porta e dou de cara com várias luzes em neon, um palco para a prática de poli dance, algumas mesas e cadeiras além de som de música alta. Embaixo de uma delas, estava Mateus.

–Mateus...

O garoto sai debaixo da mesa com os olhos lacrimejando. Estão vermelhos de tanto chorar e me lembra de alguém... Lembra-me a mim mesmo quando criança e meus pais começavam a brigar no meio da sala. Eu chorava, chorava principalmente porque ele chegava bêbado e batia na minha mãe. Começo a sentir dó de Mateus, mas o vejo como a mim mesmo. Seguro em sua mão.

–Matthew... Obrigado por me salvar. Aquelas coisas estavam querendo me pegar.

–Tudo bem, mas não era pra ter trancado a porta, rapaz... Eu só queria lhe ajudar. Venha, vamos sair daqui.

Saímos daquele bar e agora estamos caminhando pela rua. Mateus acha que deve ter alguma coisa aqui que talvez possa nos ajudar, então estou sendo guiado por ele. Passamos por dois ou três manequins, mas ele conseguiu passar quando apertei sua mão forte. Eu também consegui, esse garoto parece me deixar mais forte. Continuamos caminhando, até que avistamos um hospital. Tem uma cruz em cima de uma porta dupla de vidro.

–Matt, temos que entrar aqui.

–Porque, rapaz? Pode ter mais coisas assustadoras aí dentro.

–EEerrr... Eu sei! Mas a gente precisa de um mapa! Eu não consigo andar por aqui sem mapa, é mais difícil de saber pra onde vai e ainda mais porque tem várias estradas que não dá pra ir.

O garoto me puxa pela mão até a porta do prédio. Decido entrar. Ele tenta empurrar a porta, mas está trancada.

–Ah... e agora?

–Hm... Espera!

Pego mais uma vez o canivete e forço a porta. Com um click mais alto, o trinco se abre revelando o salão de recepção do hospital. Ligo a lanterna, trancando logo em seguida a porta para impedir que alguma coisa indesejada entre. Vejo uma bifurcação em duas direções e uma placa informando: Brookhaven Hospital. O lugar está completamente silencioso e frio. Vejo a parede com marcas de infiltrações e algumas rachaduras. O local parece tão abandonado como a própria cidade. Vejo portas de metal enferrujadas e vidros quebrados no chão junto com marcas de sangue.

–Eu acho que tem um elevador em algum lugar por aqui.

–Mateus, vamos com calma. Esse lugar nem energia deve ter quanto mais algum elevador que funcione. Além do mais, pode estar cheio de coisas.

Caminhamos pela direita. O lugar parece ser um quadrado com outro quadrado no meio. Vejo algumas salas da administração.

–Mateus, é numa dessas salas.

–Não! Eu sei pra onde estou indo. Já vim aqui uma vez, sei onde fica o mapa.

–Tudo bem então, mas vamos com calma.

Damos praticamente à volta ao redor das paredes do meio até encontrarmos uma porta prateada com alguns botões.

–Aqui!

Mateus começa a apertar os botões do elevador incessantemente, mas não se ouve nenhuma resposta.

–Droga!

–Eerr... Mateus, deve ter alguma escada por aqui.

–É, tem... Mas eu não gosto delas. Escadas me dão medo.

–Eu também tenho medo de altura, mas... Estamos um com o outro. Sejamos fortes, okay?

Ele assente com a cabeça apontando a porta mais à esquerda. Ilumino-a com a lanterna, mostrando assim um número 1 gigante na porta, indicando que estamos no primeiro piso. Acima da escada tem uma placa informando que é uma saída de emergência. Caminho até a porta abrindo-a. Olho para a parte que se projeta para cima, vendo o escuro que me esperava ali junto com Mateus. Tudo parecia assustador e meus pés não queriam subir. Subitamente, o garoto me puxou pela mão fazendo com que minhas pernas subissem degrau por degrau. Sinto minha mão suar junto com a dele. Continuamos subindo pouco a pouco, eu iluminando com a lanterna e o pequeno Mateus me puxando pelo braço. De repente, começo a sentir um zumbido em meu ouvido, um zumbido que logo se transforma em uma sirene. Uma sirene alta que toma conta da minha mente. O barulho se torna ensurdecedor, solto as mãos de Mateus e da lanterna e colo as nos ouvidos.

–Nãoo... Faz parar, faz parar!

Ouço o barulho ainda mais intenso, Mateus começa a correr gritando pela escadaria acima. Meus pés parecem enraizados no chão e não consigo me mover. Sinto meu corpo desfalecendo aos poucos enquanto um terrível cheiro de podridão invade minhas narinas. Começo a ver as paredes se tornando avermelhadas através da luz da lanterna caída ao chão, veias pulsantes começam a se ramificar pelas paredes, fazendo um enorme barulho de batimentos cardíacos. O chão começa a queimar, mas um queimar quente sem fogo. Sinto minha temperatura corporal subir e tudo ao meu redor se tornar completamente diferente.

–Mas que diabos!

Começo a perder os sentidos e me sinto cair escadaria abaixo. O lugar está muito quente, tudo cheira a podre... Algumas batidas são amortecidas pela mochila, mas me sinto morrer. Meu corpo queima, me sinto dentro de uma fogueira. Bato com a cabeça em um degrau.


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