Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 9
Desenho


Notas iniciais do capítulo

"O futuro é como o papel em branco em que podemos escrever e desenhar o que queremos." - Marquês de Maricá



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Abro a porta vasculhando toda a área da escadaria que pode ser iluminada pela lanterna. Pelo menos não vejo mais a presença daquela coisa, mas de qualquer modo continuo sentindo o cheiro fétido de putrefação e o enorme calor emanado de dentro daquele lugar. Começo a subir devagar o próximo lance de escadas, uma subida que a cada segundo parece mais uma ida para o inferno. As paredes pulsam constantemente e ouço o barulho de gritos e gemidos. Minhas mãos suam freneticamente e meus olhos não conseguem parar em suas órbitas, seguindo cada movimento que a minha mão faz com a lanterna. Os degraus rangem a cada pisada, fazendo com que eu sinta a cada segundo que irei morrer por fazer barulho demais. Finalmente consigo terminar os dois lances de escadas e paro diante de uma porta com um enorme “3”, indicando o terceiro piso provavelmente. Tento abrir: nada. Pego a pequena chave que encontrei dentro da maleta e introduzo na fechadura dando três voltas no sentido anti-horário: a porta abre me revelando um lugar quase que idêntico ao segundo andar. Vejo uma mulher de costas com um vestido bem curto. Ela parece uma enfermeira.

–Er... Moça, tudo bem?

–Aaaahhhh!

O gemido entra na minha mente junto com o cheiro de carne podre no meu nariz. A mulher se vira na minha direção e então vejo o seu rosto completamente deformado e enegrecido por algum tipo de líquido estranho, provavelmente sangue. Essa mulher me lembra quando voltei doente da casa da minha tia em Silent Hill...

Não dá mais tempo de pensar e ela tenta me atacar com uma seringa. Ela erra. Puxo a chave inglesa e uso toda a força que tenho em movimentos repetitivos, investindo contra a coisa. Sinto um arrepio quando o sangue dela começa a jorrar e a me sujar. Ela tenta uma nova investida, mas eu sou mais rápido e acerto o rosto deformado com a chave inglesa derrubando a criatura no chão que ainda grita e esperneia. Vou até ela reunindo todas as minhas forças na minha perna direita e piso no rosto, fazendo com que a criatura pare de se debater e de gritar. Coloco as mãos nos joelhos respirando fundo. Perco a consciência por alguns instantes.

[–Mas tia... Eu tô bem.

–Bem, bem... Até parece. Vamos levar você ao Alchemilla. Você parece acometido de alguma doença muito grave.

–Não, não!! Eu não quero ir ao hospital! Lá tem aquelas mulheres dão injeção... Vai doer muito!

–Ah, mas tenha calma. É apenas uma picadinha... E sua febre está muito alta.

–Mas... Elas são feias.]

Recobro a consciência. Agora realmente me lembro, eu já vim em Silent Hill outras vezes. Minha tia morava aqui, então deve ser por isso que sempre sonhei com a realidade dessa cidade. De algum modo, parece que o meu passado e o meu ser está profundamente interligado com essa cidade e tudo isso que estou vivenciando. As enfermeiras, os manequins... Essas coisas são fruto dos meus medos.

Caminho até a porta dupla, ainda ofegante. Abro-a e encontro um corredor bem semelhante ao que havia no andar de baixo. Começo a abrir porta por porta tentando encontrar Mateus.

–Mateus... – grito no corredor.

Vejo leitos manchados de sangue. Ainda há mais quatro portas a serem abertas além dos dois banheiros. Decido ir até o banheiro masculino na esperança de encontrar algum objeto que me ajude aqui, mas não encontro nada além de um banheiro limpo, iluminado e com um espelho que mostra a minha camisa completamente suja de sangue. Decido trocar de roupa e coloco uma camisa manga longa listrada de preto e marrom junto com uma calça jeans azul, colocando a roupa suja de sangue dentro da mochila. Dou uma ultima olhada no espelho revendo a minha aparência e saio.

Vou a três primeiras portas e nada encontro, então decido tentar a última. A porta parece trancada e há um recado ao lado, na parede: “A chave está no telhado”. Penso que o que devo fazer é seguir mais desses joguinhos, mas ainda sim tento abrir a porta com o canivete. Não obtenho sucesso. Volto até onde estava a escadaria e subo os lances de escada restantes, chegando a última porta que não havia nada riscado por trás dela. Olho pro céu e vejo que não há uma estrela sequer, muito menos a Lua. Começo a vasculhar com a lanterna todos os lados e finalmente encontro um pequeno livro. Abro-o. Não consigo ler muita coisa, mas cai de dentro dele uma pequena chave prateada. Coloco-a no bolso e ouço a porta bater.

Viro-me para trás e dou de cara com ele, o Cabeça de Pirâmide. Vejo a criatura musculosa e pálida com uma enorme pirâmide no local da cabeça feita de metal enferrujado e suja de sangue. Ele porta uma pesada espada que arrasta pelo chão enquanto ele a carrega e ele vem em minha direção. Sinto um arrepio na espinha e meus pés travam no chão me impedindo de prosseguir. Meu coração acelera e sinto que vou morrer. Ele ergue a espada, fazendo um pouco de força e se aproxima ainda mais de mim. Não consigo acreditar que vou morrer sem lutar e isso me faz correr. A coisa é meio lenta, então consigo correr nas direções em círculos me livrando dele e aproveitando que o terraço é espaçoso. A criatura continua vindo até mim lentamente arrastando a espada no chão fazendo um barulho ensurdecedor e eu continuo correndo vasculhando todo o local com a lanterna.

Consigo focalizar em um objeto que conheço muito bem: uma arma. Corro até ela e a pego em minhas mãos e mesmo sem saber se está carregada, miro na coisa e atiro. A criatura grita, emitindo um som ainda pior do que o da espada. É semelhante a o som de giz riscando no quadro ecoando por algum material de metal. Meus ouvidos quase ficam surdos e a criatura já está caminhando em minha direção como se nada houvesse acontecido. Me afasto mais um pouco me aproximando do parapeito. Dou dois tiros seguidos e a criatura grita um pouco mais e começa a regredir, indo em direção à porta. Um barulho de sirene começa a entrar por dentro dos meus ouvidos e após a criatura passar pela porta, isso se intensifica. Meus olhos giram por dentro das órbitas enquanto que vejo as coisas começarem a voltar ao lugar. Uma claridade começa a tomar conta da cidade como se estivesse amanhecendo e por um momento eu vejo Silent Hill da vista de cima do hospital. Parece uma cidade realmente linda, apenas abandonada. Então, como que por mágica, uma neblina começa a emanar do chão, se tornando cada vez mais densa e não me permitindo ver além do que cinco metros à minha frente, baixando ao mesmo tempo o volume do barulho da sirene até cessar de vez.

Respiro fundo. Quase fui morto agora por aquela criatura. E Se ela houver encontrado Mateus? E porque ela foi embora sem mais nem menos?

Corro até a porta e desço as escadas, agora de metal, correndo e vendo um hospital aparentemente normal em relação ao estado anterior. Entro na porta do terceiro andar e chego até a ultima sala, destrancando-a com a chave e entrando dando de cara com um garotinho de calça jeans, casaco verde com alguns lápis de cor desenhando. Era Mateus e respiro fundo ao ver que ele está bem. O garoto olha pra mim e sorri, tirando um papel do bolso e desdobrando em um mapa.

–Mateus... Porque você fugiu naquela hora?

O garoto deixou o desenho de lado e correu até mim me abraçando.

–Eu... Eu tenho medo de quando fica escuro. Aparecem coisas piores do que os manequins.

–Tudo bem, mas não pode sair por aí sozinho. Não vou poder te ajudar caso aconteça algo com você.

–Tudo bem, desculpa Matt.

Tento sorrir de forma torta, mas não consigo expressar nada depois de ter visto aquela coisa mais de perto. Aquilo realmente me deixou abalado.

–E o mapa? É útil?

–Ah... é sim. Tem um lugar que acho que dá pra ir de barco, mas não sei se dá pra passar.

Olho pro garoto que mais parece uma cópia minha de quando criança. Não sei porque, mas ele parece um pouco animado e isso de certa forma me contagiando e me dando mais esperanças para sair daqui, mesmo que seja encontrando o Selo de Metatron.

–Certo, vamos sair desse hospital.

Pego na mão dele e vou em direção à porta, mas o garoto resiste e volta para a cama.

–Não... Meu desenho.

Ele abre a folha dobrada de papel ofício e me mostra metade de um rosto de uma mulher, dois garotos sendo um mais velho e um mais novo, sendo que o mais velho usa as mesmas roupas que eu e o mais novo usa as mesmas roupas que ele. Vejo também a pirâmide na cabeça da coisa e a sua enorme espada. Mais ao centro, estava escrito o nome da cidade, isto é, Silent Hill.

–Esses... somos nós?

–Sim, Matt... – ele sorri - e você está com a mesma camisa que eu te desenhei!

Olho pra minha camisa, é exatamente a mesma que ele desenhou, mas não consigo entender em como ele sabia disso.

–E essa mulher? - Ela me parece familiar - Sabe quem é?

–Não...

–E essa coisa da pirâmide, você sabe o que é?

–Er... não.

–E como desenhou isto?

–Eu não sei. Apenas desenhei. – Ele dá de ombros.

–E esse símbolo? - Aponto para o desenho do Selo de Metatron, com o nome escirto embaixo.

–Ah... Eu ainda não sei ao certo, mas sei que tem alguma importância na minha e na sua vida. - Ele ri.

–Certo. Guarde isto na sua mochila, certo?

–Sim.

Sinto suas mãos mexendo na minha mochila.

–Podemos ir?

–Sim, podemos.

...

Damos de cara com um manequim quando abrimos a porta do hospital e eu o mato frente de Mateus com a chave inglesa. Ele tem um pouco de medo, mas não posso esconder tudo dele. Estamos indo para algum lugar que eu não sei exatamente, mas que Mateus sabe para onde estamos indo e nos dirigindo pelo mapa. Pelo que parece, vamos ter que atravessar o lago.


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