As mãos da Rainha escrita por Alihhh


Capítulo 6
Capítulo 5 - Guarda: 604


Notas iniciais do capítulo

Olá!! Primeiramente, gostaria de pedir perdão por não postar por tanto tempo. Estava (estou) em época de prova da faculdade e infelizmente não tive tempo de postar.
Para compensar, escrevi um capítulo um pouco maior que os outros.
Obrigada pela compreensão e boa leitura!!!



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No último capítulo de "As mãos da rainha"

"Sofi virou-se para Guarda: 604 se perguntando se ele tinha um nome. Pela primeira vez percebeu que ele era como ela. Seus olhos achatados como o dela. O cabelo, entretanto, era claro. Mas as feições eram parecidas. Se alguém a comunicasse que haveria alguém assim no castelo há uma semana, ficaria furiosa, afinal estava no castelo em busca do sonho, não para se tornar comum. Agora a única coisa que podia pensar era: que lindo!

– Hm, obrigado. Eu acho. - o guarda respondeu, sorrindo de lado. Suas sobrancelhas levantadas, espantado.

Essa não! Sofi percebeu da pior maneira possível, havia pensado alto. Mas seu corpo estava dormente de mais para registrar qualquer coisa, devido aos acontecimentos recentes.

Pelo menos era isso que tentava dizer a si mesma enquanto sentia o calor inundar seu rosto."

Os passos ecoavam no longo corredor. Sofi cogitou gritar para ouvir sua voz retornar, porém obviamente não o fez. Imagina se alguém pensa que estou invadindo o castelo e me matam de vez!? Brincou ensandecida. Primeiro Guarda:604 a levou de volta ao ponto de partida, o quarto da rainha, para que ela pudesse decorar o caminho e ser capaz de retornar. Logo após, se viraram e foram para a cozinha.

O silêncio se prolongava enquanto os dois não chegavam a lugar algum. Os minutos passaram como água correndo em um rio em época de cheia. Os segundos perlongaram como um barco no oceano. Constantes e eternos, sem nunca avistar a costa.

– Então... - Sofi não entendeu o modo sem graça que suas palavras fluíram ou a timidez com o qual apressou-se em esconder. O sentimento de aflição e a vontade de correr. Não sabia como ou porquê o sentimento brotara em seu interior; talvez a semelhança de Guarda: 604 e ela ou sua postura rígida; talvez o susto levado no passado recente; talvez a excitação do novo. Ou talvez o acaso, o descaso e o inevitável da situação que se encontrava. Esticou os braços para trás como se estivesse presa e espreguiçou-se rigidamente, a boca estalando simultaneamente.

– Sim, senhorita? - Guarda: 604 não demonstrou sentimento algum nas palavras. Nem a mais leve curiosidade, ele só respondeu por cortesia e educação. Nada mais, nada menos.

– Não vai chegar... quero dizer, a cozinha? Não iremos chegar a cozinha?

– Claro que sim, senhorita. Rei Adrian me incumbiu de leva-la a cozinha, se não me falha a memória.

– É tão longe assim? - perguntou Sofi enquanto dobravam uma esquina no corredor infinito. - Não me lembro que ter andando tanto da sala do trono até o quarto da Rainha. A cozinha é do outro lado do castelo?

– Longe? Não é longe! - Pela primeira vez Guarda: 604 olhou para Sofi, levantando as sobrancelhas em descrença. - A senhorita melhorou da viagem? Deve estar se sentindo cansada. Percorremos uma distancia muito pequena, senhorita. Menos da metade que percorreu da sala do trono aos aposentos reais. - Guarda: 604 arregalou brevemente os olhos, os olhos perdendo um pouco do brilho momentaneamente.

– O que? - sussurrou para ninguém. Como poderiam ter percorrido tão pouco em tanto tempo? Sofi tentou comparar o tempo que levou do primeiro trajeto para este. Eles poderiam ter ido e voltado da sala do trono ao quarto de Veranda mais de uma vez e seria mais rápido! - Isso não faz o menor sentido, er... 604? Esse é o seu nome? Não sei como me dirigir ao senhor.

– Você pode me chamar de Guarda: 604, e não é necessário formalidades com um simples guarda, senhorita. - Ele voltou a ser o guarda sem sentimento de outrora. Mesmo entranhando seu nome ser um número, não fez perguntas, apenas concordou e continuou o diálogo.

– Muito bem, isso não faz sentido, Guarda: 604. Estamos andando há muito tempo.

– Não, não estamos. - finalizou a conversa rigidamente. Algo na voz dele a fez recuar como um cãozinho assustado. Porém, a timidez de antes fora vencida e ela havia voltado a ser a Sofi de sempre. Então, obviamente, continuou a conversa ignorando o nervoso e o ponto final que Guarda: 604 havia posto entre linhas da conversa.

– Seu olhos são como os meus! - observou com um tom de voz mais suave. - Porém seu cabelo não é da mesma cor, mesmo aparentando ser do mesmo tipo, liso. Nunca pensei que existisse alguém assim além de minha família. - Guarda: 604 permaneceu quieto e nem sequer mostrou ter ouvido o monólogo. Sofi continuou sem se importar, era melhor falar com as paredes do que andar eternamente entre as paredes reais em um silêncio constrangedor. Sofi não gostava de silêncio, nunca gostou. - No meu vilarejo, as pessoas achavam minha família diferente. Tinham preconceito. Você também sofreu preconceito por ter olhos achatados? - mais uma vez o silêncio foi sua única resposta. - Espero encontrar mais pessoas como nós! - continuou como se não estivesse sendo ignorada rudemente - Ou melhor, espero não encontrar. Gosto da ideia de ser diferente. Você também deve gostar, aposto que adora se fazer de durão. Ou você realmente seja durão.

– Senhorita, - Sofi arregalou os olhos. Ele havia voltado a vida, porém tarde demais percebeu que estava errada. Ele não estava reagindo a sua conversa, ou monólogo. Eles finalmente alcançaram seu objetivo. - nós chegamos na cozinha. - informando o obvio virou as costas e foi embora sem mais nenhuma palavra ou gesto cortês.

– Olá! - uma voz feminina girou a atenção de Sofi em 180º. - Você deve ser a nova dama da Rainha Veranda! - uma mulher virou-se para ela atenta. Provavelmente em seus cinquenta anos, a senhora, levemente acima do peso, usava um avental lilás com bolsos rendados por cima de um vestido verde escuro simples. Seu cabelo grisalho, preso em um coque no topo de sua cabeça deixava bem a mostra o rosto pardo e corado pelo fogo do forno.

– E você deve ser a responsável pela cozinha, presumo. - respondeu Sofi, grata pelo gesto de bondade. A senhora parecia ser agradável, concluiu. A cozinha era bem grande, cheia de panelas de ferro escuro pelo tempo e carvão. Diferente do resto do castelo, não havia nada de luxuoso no cômodo de pedra. Uma enorme mesa de madeira escura com pouquíssimos acentos ocupava o centro do local, as bordas da cozinha eram preenchidas de diferentes máquinas e utensílios gastronômicos, o fundo da cozinha continha o enorme fogão e forno a lenha também em pedra. Arcos sustentavam o teto e um grande lustre de ferro escuro iluminava do centro. Havia algo de reconfortante naquele local, aconchegante. O cheiro era a melhor parte. Carneiro, ervas e pão fresco. Sofi percebeu como estava com fome.

– Isso mesmo, me chamo Geni. Sou a cozinheira chefe. Seu nome é?

– Sofi, me chamo Sofi.

– Sofi, que nome adorável! Agora, pelo seu rosto posso dizer que não comeu nada por muito tempo, correto? - sorriu ao confirmar suas suspeitas - ouvi que não passou bem na viagem, me disseram que a senhorita fez uma cena e tanto na porta do castelo.

– Não me sinto bem em carroças. - respondeu corando ao perceber que sua chegada mirabolante e constrangedora chegou à ouvidos alheios no palácio. - Estou melhor agora. Obrigada pela consideração.

– Ora, que isso! - Geni deu a Sofi um avantajado prato de comida. Ao provar, a menina quase caiu da cadeira. Nunca havia provado algo tão saboroso na vida! Seu prato continha carneiro, como havia imaginado ser pelo cheiro. Este desmanchava na boca de tão macio, era perfeito. Os legumes cozidos suavizavam o tempero forte da carne complementando o sabor e dando a impressão de pequenas explosões em sua boca enquanto fechava os olhos para apreciar completamente a comida. Sofi não sabia com o que comparar. Só sabia que era divino.

– Maravilhoso!!! - exclamou extasiada.

Ao abrir os olhos deparou-se com Guarda: 604 a olhando fixamente, um pequeno sorriso estampado no rosto. Ele havia retornado.

– Guarda: 604? - disse ao engolir a comida. - Não esperava que retornasse depois de sua súbita saída.

– Sofi, não se preocupe com esses guardas. - Geni disse seriamente. Seu comportamento se modificando como se não suportasse o guarda. A nova dama da rainha não conseguiu entender. Sabia que ele era um pouco grosseiro e havia a ignorado de propósito, porém nada sério o bastante para agir daquela maneira. Obviamente, os dois tinham um histórico ruim.

– Querida Geni, segui o maravilhoso cheiro de seu cordeiro. Não me culpe por apreciar sua comida. - sua voz era estranhamente calma, com um leve toque alegre. Completamente diferente do comportamento que Sofi havia recebido. Ela voltou a comer, percebendo que novamente Guarda: 604 não havia a incluído na conversa. Pelo menos desta vez, tinha algo melhor para fazer, sendo assim rapidamente terminou seu almoço enquanto ouvia a estranha conversa entre os dois. Enquanto Geni tentava ser o mais rude possível, Guarda: 604 respondia da mesma maneira, chegou até a sorrir uma vez ou outra.

– O que te leva a pensar que pode agir desta maneira? - por fim, Geni irritou-se mais que o imaginável e explodiu em rancor. Sofi não estava prestando atenção a conversa, por isso não sabia como Guarda: 604 estava agindo para desencadear a atitude irritadiça da senhora cozinheira. - Vocês nunca aparecem na minha cozinha. Agora um guarda invade o único lugar salvo deste castelo para me atormentar.

– Senhora Geni, está tudo bem? - Sofi perguntou preocupada.

– Senhorita Sofi, - surpreendeu-se a cozinheira. - havia esquecido que estava aqui. Perdoe-me por meu comportamento inapropriado. Porém, a senhorita vai aprender a temer esses guardas com o tempo. É melhor não os deixarem se aproximar. As vezes eles perdem o controle de suas dádivas e matam os que estão ao seu redor. Infelizmente, eles não morrem junto com os desafortunados.

– Querida Geni, perdoe-me por minha falta de consideração. - Guarda: 604 enriqueceu-se repentinamente - como nunca converso coma senhora, não havia compreendido seus modos. Apenas pensei que a senhora estava irritada com algo mais. Estou indo, perdão. - Guarda: 604 deixou a cozinha da mesma maneia da primeira vez. Sofi ficou embasbacada, sua curiosidade se misturando com o medo que sentia daqueles guardas. Lembrou-se claramente de como esteve perto de um destino fatal. Lembrou-se de como os guarda surgiram em fumaça e da ameaçadora luz que irradiava das mãos levantadas em sua direção. Imaginou algum deles perdendo o controle daquele poder desconhecido e matando ela e o rei. Estremeceu em resposta ao mesmo tempo que se perguntava o porque de ter ficado tão a vontade perto do Guarda: 604.

– Senhorita Sofi, - Geni chamou sua atenção a tirando de seus devaneios amedrontados e curiosos - o almoço da rainha está neste carrinho. A senhorita pode levar aos aposentos reais. - A dama da rainha percebeu que Geni a estava delicadamente expulsando da cozinha, porém não ficou irritada. provavelmente existiam sombras no passado da chefe da cozinha que se relacionava aos guardas do castelo. Algo que ela não estava pronta para compartilhar. Todavia, havia algo estranho em sua declaração.

– Como a senhora sabia? Quero dizer, ainda não havia dito nada sobre a refeição da rainha.

– Ora, um servo veio buscar o almoço do rei. - Geni respondeu como se fosse a coisa mais normal do mundo. A tensão foi camuflada por uma marcara bondosa, percebeu. - A rainha sempre come em seus aposentos quando não acompanha seu marido. Ao ver você aqui, apenas presumi o obvio. Estou correta?

– Sim, está. - Então é um padrão, concluiu Sofi. A dama real entendeu que a senhora a sua frente precisava de espaço e tempo, portanto não insistiu no assunto que a incomodava. - Adeus, então. Foi um prazer conhecê-la. A comida estava divina.

– Ora, obrigada. - respondeu e virou-se para sua próxima tarefa. Suas costas estavam retas como uma tábua.

Sofi respirou fundo e fez seu caminho de volta, suspirando por não ter ninguém com quem conversar durante a quase jornada entre a cozinha e os aposentos reais, ou pelo menos alguém para ouvi-la tagarelar. Alegrou-se ao perceber que havia memorizado perfeitamente o trajeto. Eram muitas as perguntas que inundavam sua mente. Perguntas sem respostas, perguntas respondidas por mais perguntas, perguntas que questionavam afirmações, perguntas que comprometiam negativas.

Perguntas em todo lugar.

Respostas em lugar nenhum.

– O que? - sobressaltou-se ao perceber que rápido demais havia chegado ao seu destino. Como a ida poderia ter sito tão mais demorada que a volta, se ela havia feito o mesmo caminho? E não era uma diferença pequena, foi menos de um quarto do tempo percorrido. Alguma coisa estava muito errada naquilo tudo.

Como um caminho poderia ser percorrido em menos de um quarto do tempo levado para percorrer o mesmo trajeto, levando um pesado carrinho abarrotado de comida?

Pior!

Como isso poderia acontecer quando Sofi andou vagarosamente e cuidadosamente para evitar entornar alguma coisa?


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam???
Não deixem de comentar!!!

E para aqueles que ainda não viram o trailer da fic!!
https://www.youtube.com/watch?v=rBhowwuak9c