Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 36
Assassinando Palhaços FINAL




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/526031/chapter/36

Eu realmente não sei o que dizer, não sei o que fazer, por isso chorei. Chorei e chorei, para depois secar minhas lágrimas e chorar mais. Solitária, o Sol está se pondo, a temperatura está caindo e a luz alaranjada do crepúsculo vem .
Saio lentamente da sala de espelhos, eu achei uma saída que não era o cano, uma porta rotatória atrás de uma cortina. Arrastando o corpo de Anthony Sohn Gottes, já não tenho mais forças para trazê-lo comigo. Quero realizar meus sonhos, meus desejos ocultos, as vozes dos palhaços na minha cabeça.
Coloco o cadáver junto a algumas arvores e colho gravetos e pedaços de coisas velhas e descartáveis. Lembro-me que quando conheci Faith ela acendeu o forno com alguns fósforos que deixou na banqueta, por isso entrei no se trailer destruído, repleto de furos de balas. Da para acreditar que ninguém jamais dormiria naquela cama? Ninguém mais visitaria Azazel, pois eu era a única. Ninguém mais daria um toque de vida àquele lugar. E hoje, agora mesmo, as flores já estão mortas sobre a janela da casa da minha amiga de olhos violetas.
Anthony, eu realmente não queria que você assim, mas o Diabo está em mim, Tony. Está em tudo o que eu faço, em tudo o que sou, eu tudo que pretendo ser... É difícil, muito difícil dançar com ele no meu pé, e a sua morte, Tony, a sua morte me vez ver que preciso me livrar do Diabo.
No fim de tudo, por quem eu estava vivendo? Ninguém, essa era a resposta.
Os pais de Tony mudaram-se, abandonaram ele, no mínimo estavam em complô com os Monarcas. Ele foi deixado para trás, mas não sei dizer se eles realmente eram seus pais.
– Eu te amo. – Digo pela ultima vez, acendo o fósforo e o lanço no corpo pálido e sem vida daquele que um dia amei. O único que amei de verdade.
Fiquei quieta, estupefata, vendo seu corpo ser devorado pelas chamas. Se o Inferno for real, será que verei Anthony lá? Será que poderíamos, enfim, sermos felizes no reino dos demônios? E se for o caso, e se houver 0,01% de chance, poderia uma pecadora como eu ter 99,99% de fé?
Minha cabeça zuniu, para depois tocar uma musica que já ouvi, uma musica familiar, mas de onde a conheci? E de onde ela vem? Tudo não passava de coisa da minha cabeça, mais uma vez, obra da minha psique.
Fechamos a nós mesmos dentro, o palhaço estava fora de controle. Ele ficou lá fora com sua faca, mas tínhamos colheres e fogo.
Eu só queria que fosse perfeito, entende Tony? Eu queria fingir que realmente valeu a pena lutar por um mundo melhor, mas o Inferno está predestinado para àqueles que não o temem.
Vi, eu vi lentamente as chamas subindo e devorando tudo o que restava do passado, pergunto-me se Tess, Liz, Raven estão mortas... Será que Gaby se arrepende do que fez? Não sei ao certo, mas agora nada parece certo, nada me parece errado.
Tudo isso foi apenas um desperdício de tempo, momentos patéticos sendo uma tola.
Após a ultima cinza ser lançada ao céu poente, após o ultimo rastro do pretérito ser levado pelos ares, após derramar a ultima lagrima secada pelo calor das chamas funéreas, eu consegui me mover. Caminhei devagar e sem pressa de volta à sala de espelhos. Entrei pela porta de madeira caída, caminhei ao seu centro, rodeada de reflexos de mim mesma: Várias Skyes distorcidas e quebradas.
Distorcida e quebrada, é assim que me sinto.
Antes que ele viesse até nós, foi para uma casa de espelhos. Seu rosto, ele pintou de branco, ele veio enquanto ninguém o conhecia.
Vi uma sombra se movendo devagar, sim, graciosamente por trás de um dos espelhos. A criatura parecia assustada, se afastava, como se não esperasse que eu estivesse ali. Era alto, muito alto.
– Quem está aí? – Pergunto, mas a sombra se projeta pra trás de novo, seus movimentos são belos e são tímidos – Eu não vou te machucar, por favor, saia daí.
A sombra caminhou para frente, devagar, uma mecha de luz a corta e posso ver parte do seu rosto branco e cabelos vermelhos: Um palhaço. Um palhaço assustado.
– O que você está fazendo aí? – Pergunto, mas ele se afasta de novo e consigo vê-lo colocando as mãos entre sobre os olhos, como se estivesse com medo. – Isso não está certo, eu que deveria temer você, e não ao contrário.
Ele chora, sim, ouço aquele enorme e potente palhaço chorando como uma garotinha. Ele dá mais um passo pra trás e entendo que foge de mim.
– Eu já disse que não vou te ferir, por que você está fugindo?
– Você vai me machucar. – Ele disse, sua voz era grave e, ao mesmo tempo, tão docemente infantil – Meu pai disse que não devo falar com estranhos.
– Olha só, seu pai é um homem inteligente. – Digo – Qual seu nome?
Ele permanece em silencio, quase como se tentasse lembrar o próprio nome.
– Joshua. – Diz enfim – Joshua Pennywise.
– Joshua? Que nome lindo! – Exclamo – Bem, Joshua, meu nome é Skye. E você é o Joshua. Agora não somos mais estranhos.
Ele solta uma pequena gargalhada sem graça.
– Sim, você está certa.
– Então Josh, posso te chamar de Josh? – Pergunto – Por que você está aqui?
– Eu vim pegar balões para brincar. – Diz o palhaço tímido.
– Mas aqui não têm balões. – Digo, mas estava enganada. Quando olho para minhas mãos novamente, no lugar da caixa de fósforos está um balão com rosto de palhaço. – Oh, é esse balão que você quer?
– S-sim. – Ele gagueja. – Ele flutua?
– Oh! É claro que ele flutua, Josh! Aqui em Azazel, todos nós flutuamos! – Digo.
– É sério?
– Sim! – Exclamo sorrindo – Oh! Você poderia fugir com o circo!
– Eu posso?
– Obvio que pode! Você poderia ser Pennywise, o Palhaço! E poderia ter todos os balões que quisesse! Que tal?
– Parece ser divertido! – Ele exclama rindo, e dessa vez não parece ser artificial – Eu quero!
Ele se aproxima, sai das sombras e posso vê-lo: É exatamente igual o palhaço do pesadelo, com nariz vermelho e rosto branco, cabelos cor de sangue e olhos prateados. Ele caminha alegremente e desajeitado até mim, a cena é engraçada, ver um palhaço tão grande e assustador sendo infantil e doce. Ele ergue sua mão direita para pegar o balão.
– E quando você se juntar a nós, Penny, também irá flutuar! – Exclamo.
O grande e alegre Pennywise nunca pegou o balão, eu não permiti agarrando seu pulso e torcendo-o, fazendo urrar de dor. O joguei no chão e pulei em seu peito, não deixaria que fugisse mais uma vez, porém agora quem chorava como uma garotinha era ele.
– Por que fez isso? – Disse ele em prantos, com lágrimas nos olhos, toda tinta do seu rosto agora derretia.
– Você está mentindo! Você é falso! – Grito, dando o primeiro soco em seu rosto, escuto os ossos da minha mão se quebrando junto com seus dentes.
Mate o palhaço, ele é tão injusto.
Eu espanquei o palhaço com o prazer em ver seu sangue sobre minhas mãos, com prazer em ouvir seus gritos pedindo para que parece, com prazer em ver sua dor. Não tinha mais a força de Hope, apenas o ódio de Skye. A sede de justiça de uma criança cristal.
Sim, eu queria ter sido melhor com ele, mas já não era mais tempo.
Seus olhos eram azul e verde, a boca era vermelha e amarela, nós abrimos a porta e corremos para fora para lutar com ele.
Só quando jaó não conseguia enxergar seu rosto devido ao sangue, só quando não sentia mais meus punhos, só quando ouvi o ultimo arfar dele, mostrando que estava sem vida, eu parei. Mas quando parei, pude ver a verdade.
Não, eu não estava espancando um palhaço, eu não estava espancando uma força maligna e mentirosa. Quando voltei a mim, vi a verdade, vi que não era o que eu pensava.
Eu estava espancando um espelho.
Olhei fixamente para seus pedaços encharcados de sangue, minhas mãos cheias de cacos de vidros, para ver meu rosto em seus fragmentos. Meu rosto, eu, Skye, espancada por mim mesma. E naquele instante eu conseguia enxergar a verdade feia que estava pendurada no meu nariz o tempo todo.
Eu era o palhaço, e por ser o palhaço eu gritei. Gritei por socorro. Gritei para fugir. Gritei para qualquer coisa que terminasse aquele ciclo macabro que se repetia dentro do meu ímpeto. O grito era pra que tudo parasse, mas não, ele não foi interrompido pelo som do meu despertador tirando-me do pesadelo. Não era um pesadelo, era real.

– Chega! – Grito o mais alto possível, fico de pé e pego a caixa de fósforos, minhas mãos estavam boas o suficiente para o que estava prestes a fazer.

Coisas velhas queimavam com mais facilidade, e por isso eu acendi um fósforos e o lancei em meio aos espelhos, e depois acendi outro e mais outro, e mais e mais outros.
Em poucos instantes estava eu rodeada por chamas, não conseguia respirar direito, mas a lona queimava e sim, o meu amor queima, ele ainda está queimando.
Eu mereço o céu? Eu não sei. Cresci ouvindo minha mãe dizendo que Judas quebrou o mandamento que nos impede de matar. Ele matou a si mesmo e por isso sua alma arde do Inferno.
Quando as chamas cresciam, eu vi minha vida inteira passando pelos meus olhos, eu esperava a luz branca, mas ela nunca veio. Meus pulmões estão quentes, muito quentes, cheios de fumaça, meu corpo fraqueja e caio de joelhos tossindo muito, tossindo tudo de imundo dentro de mim.
Mate o palhaço, ele é tão falso, deixe-o morrer.
É engraçado saber que até o momento da minha morte é irônico, queimando num circo que considerada minha casa, o mesmo circo que várias pessoas morreram até a morte.
Não, isso não é uma fanfic, o autor não seria tão irônico até esse ponto... Eu acho.
Pela ultima vez olho pro teto, espero ver alguém, escutar uma voz chamando meu nome, mas apenas vejo um par de olhos lilás, sim, um par de olhos lilás na lona.
Caio deitada, tossindo e suando.
– Pe-perdão Pai. – Sussurro pela ultima vez.
E aí tudo ficou escuro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dentro do Espelho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.