Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 16
Os Dias de Cão Acabaram


Notas iniciais do capítulo

Oe gente, para comemorar os três meses de Hope, já foram três capítulos postados essa semana, e ainda pretendo postar pelo menos mais um. #GogoHope
E lembrem-se: Dia 31 de Outubro tem uma surpresa, não só para aqueles que curtem Hope, mas para aqueles que curtem meu trabalho.
Bjos e até mais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/526031/chapter/16

Pequenos raios solares adentravam por entre as cortinas cor de rosa do quarto, um prisma refletindo nos pequenos cristais do lustre no teto em pequenos arco-íris que no fim fizeram-me acordar.
Amplo e pouco iluminado, mas de qualquer modo refletia uma paz do qual não provava há muito tempo. Um quarto de criança que me parecia ser familiar.
Um pequeno lustre de cristal no teto, cortinas cor de rosa, paredes brancas com desenhos de flores e beija-flores lilás e uma enorme foto de uma menina segurando uma boneca dançarina.
Melanie.
Coloquei meu pé no chão, sentindo a frieza do piso irradiar meu corpo. Pela primeira vez me senti viva. Estava usando um pijama branco de verão, porém as mechas ruivas continuavam caindo em frente aos meus olhos. Minha cabeça não latejava e já não sentia dor no corpo. Então por que me sentia tão imunda?
– Você deveria parar de se culpar. Está sendo patética. – Disse alguém.
Ao lado da janela estava uma garotinha com um vestido branco segurando uma boneca de pano. Seus cabelos pretos como a madrugada caiam lisos até sua cintura como se fosse uma peruca. Em sua cabeça um belo chapéu branco com estilo britânico e uma pluma de pavão, luvas que se moldavam perfeitamente em suas pequenas mãozinhas. Olhava pela janela, tendo seus olhos âmbares iluminados pelo sol matutino.
– Mas...
– Sem mais delongas, Sky. – Disse a garota – O tempo é algo precioso demais para ser desperdiçado. Estou aqui pra ajudar... Ou pelo menos tentar.
Eu estava calma. Eu estava cansada. Depois de acordar, de desmaiar, fazer coisas que não lembrava e ter a verdade e vislumbres misteriosos sendo misturados. Já não sentia mais medo. E por alguma razão, aquela garotinha me passava segurança.
– O que está havendo agora? – Perguntei.
Ela tirou um pequeno guarda-sol branco de algum lugar e o abriu, virando-se pra mim e mostrando um pequeno sorriso travesso. Suas bochechas eram rosadas e lábios vermelhos como sangue, fazendo um belo contraste com sua pele pálida.
– Já ouviu falar da Teoria do Caranguejo? – Ela perguntou – A teoria diz que certas coisas são como um caranguejo enterrado debaixo da areia da praia: Mesmo não sabendo, algumas coisas sempre estão lá. Só não as vemos.
Não estava fazendo sentido. Será que ela estava bêbada?
– Não, não. Não estou bêbada.
– Como você...?
– Já disse que o tempo é precioso demais para ser gasto assim, Sky. – Disse a garotinha – Você pode me chamar de Alaska. Mas temos que terminar isso logo, antes que ela acorde.
Ela. A palavra não soava bem... Nenhum pouco bem.
Alaska deu alguns passos até chegar ao criado mudo, pegou um pequeno pente cor de rosa e deixou a boneca em seu lugar. Começou a pentear seus cabelos enquanto se olhava no espelho. Porém não tinha reflexo.
– Você precisa matar o palhaço. Ele é tão falso.
E ali foi que eu soube de onde eu lembrava aquela garota: O pesadelo. O mesmo pesadelo que eu havia tendo durante dez anos. O palhaço perseguindo a garota e eu tentando impedi-lo. Era ela a garotinha assustada.
– Você. – Foi a única coisa que eu consegui dizer.
Ela sorriu. Um sorriso maldoso, porém tão doce. Largou o pente e pegou sua boneca, seus cabelos eram tão lisos que aquele ato não parecia fazer sentido.
– Ela está ficando mais forte. – Disse Alaska, olhando para o espelho como se alguém nos vigiasse – Não sabe o quão difícil foi conseguir essa visita. Eu estava tentando de avisar, porém aquela vadia confundia tudo. Você não precisava fugir dos corvos.
Nada. Nada fazia sentido. Do que ela estava falando? Aquelas explicações estavam confundindo mais ainda.
– Mas... Do que você...?
– Os corvos eram meus mensageiros e ela é o palhaço. Eu estava tentando te avisar que eu e Glass já não estávamos conseguindo conte-la. – Disse Alaska – Foram longos dez anos enfrentando-a e derrotando-a, a lançado para o fundo da sua consciência, porém no último ano ela se fortaleceu mais do que deveria e...
Não termine a frase. Não agora. Ela. Era disso que tudo isso se tratava.
– Ela quem? – Enfim perguntei.
Alaska olhou para o teto e depois para a janela. Estava com medo, eu sabia pois era a mesma expressão que eu fazia quando também estava.
– Babilônia. – Sussurrou.
Um forte vento levantou as cortinas, e a pequena boneca em suas mãos caiu no chão.
– Preciso ir agora. – Disse ela, erguendo sua voz, pois o vento impedia o som – Mate o palhaço, Sky. Ele é tão falso!
– Espere! – Eu gritei – Por que corvos? Por que não borboletas?!
Mas ela já havia desaparecido e o vento cessado.
Minhas pernas tremeram e caí no chão. Minha garganta ardia e a dor voltou.
– Que gritaria toda é essa? – Disse Gaby, entrando no quarto e me vendo ajoelhada – Ai meu Deus, Sky.
Ela tentou me abraçar, mas já não adiantava mais nada.
E de algum modo eu soube que a profecia fora lançada e os dias de cão haviam acabado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!