Can't Run From It Anymore escrita por Me


Capítulo 3
Capítulo 3




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Duda, tenho que ir. Amanhã temos de chegar cedo na agência para terminarmos as outras peças e enviarmos para aprovação. Não quero ninguém pegando no meu pé por causa de prazo. Já basta aturar a minha mãe.

– Tem certeza que não quer dormir aqui?

– Pow, não dá. Deixa poeira baixar. Não quero dar mais motivos para a minha mãe implicar comigo.

– Já que não tem nada que eu possa fazer para fazer você mudar de ideia... Boa noite!

– Para de doce vai... Boa noite. Até amanhã!

Ela me levou até a porta e demos um beijo de despedida.

***

A Duda morava sozinha. Os pais dela não moravam no Rio. Ela mudou para cá para cursar a faculdade, mas apesar de nós duas termos feito Comunicação Social -Publicidade e Propaganda na UFRJ só fomos nos conhecer no último semestre do curso e acabamos indo parar na mesma agência de publicidade. Não sei é destino, mas acho que por mais que tentemos negar o que somos, uma hora ele bate na sua porta novamente e cansamos de remar contra a maré. Foi muito difícil para eu me aceitar, mas com o apoio da Duda este processo ficou muito mais fácil. Não acredito que a Marina vai voltar para o Brasil! Fazem 5 anos, praticamente, que não nos falamos. Desde que ela foi para New York, nunca mais conversamos. Ela chegou a me mandar um e-mail pedindo desculpa pelo que aconteceu, dizendo que estava bêbada, que agiu por impulso e que foi um erro, mas acabei respondo o e-mail de forma fria, me envolvi com as coisas da faculdade, conheci o Cadu e acabamos nos afastando.

Não vou negar. De vez em quando, ela ronda meus pensamentos. Não tive coragem de assumir na época. Ás vezes, me pergunto se teria sido diferente se ela não tivesse ido para NY, se eu tivesse respondido o e-mail de forma mais carinhosa (deixando transparecer meus verdadeiros sentimentos por ela), se não tivesse um namorado no colegial, se não tivesse conhecido o Cadu na faculdade. Esse processo de auto-descoberta é muito difícil e doloroso, principalmente, para quem fugiu por tanto tempo.

– Entra.

– Clara, o Cadu te ligou. - disse minha mãe

– Nossa! Hoje é o dia das pessoas voltarem das cinzas.

– Você podia aproveitar que ele está atrás de você e voltarem as boas. Ele é um menino tão legal e tão centrado.

– Mãe, já te falei que eu gosto da Maria Eduarda. Fugi por muito tempo da minha verdadeira orientação sexual, mas não dá mais. Gosto do Cadu, como amigo! Quero muito ficar numa boa com ele, mas a senhora precisa entender que por mais que eu tenha tentado gostar de meninos, as meninas me prendem mais a atenção. O que eu posso fazer?!

– Clara, isso é muito difícil para mim. Juro que quero ficar em paz com você, mas é que...

– É o que, mãe? - disse interrompendo-a

– Você me disse que lutou contra esse seu sentimento e que tentou gostar de meninos, mas não conseguiu. Seja sincera comigo. Antes da Maria Eduarda, teve alguma outra menina? - minha mãe perguntou e eu fiquei em silêncio.

Será que eu deveria contar que a Marina é lésbica e que eu sabia disso desde o primeiro ano e que no dia anterior a viagem dela, ela se declarou e me beijou?!

– Hein, Clara?!

– Quer que eu seja sincera?

– Claro!

– No dia anterior a viagem da Marina...

– Marina, a sua amiga da escola? - disse ela me interrompendo.

– Isso. Ela mesma. Ela se declarou e me beijou. Aí vocês chegaram e ela foi embora. Quis ir atrás dela, mas a senhora mandou eu te ajudar com as compras. Pensei em ligar para ela, mas ela estava indo embora para sempre e para outro país. O que adiantaria?!

– Mas você não estava namorando um menino?

– Tínhamos terminado no meio do ano. Para falar a verdade, eu terminei com ele. Não tinha um motivo específico. Só sabia que não era apaixonada por ele e não gostava muito quando a Marina saia com as “amigas” dela. Não valia a pena manter um relacionamento apenas por companheirismo e amizade. Precisava de algo a mais. Quando estava tomando coragem para dizer que achava que gostava dela mais do que como amiga, ela me disse que ira morar em New York.

– Clara, você gosta da Marina ainda?

– Mãe, de clara só tenho o nome. É complicado. Estou com a Duda agora. Gosto muito dela. Ela é divertida e companheira. Adoro a companhia dela. Me sinto muito bem com ela. Finalmente, consegui encontrar uma pessoa com quem eu realmente me conecto, mas se dissesse que esqueci a Marina completamente e que esqueci o nosso único beijo estaria mentindo.

– Minha filha, vou ter de fazer um esforço sobre-humano, mas estou vendo que não posso te punir por causa da sua orientação sexual. Você já se martirizou demais por causa disso. E pelo que eu percebi, perdeu uma grande amizade também, né?

– Nem fala...

– Se quiser trazer a Maria Eduarda para jantar qualquer dia aqui em casa, prometo que serei mais amigável com ela desta vez.

– Obrigada, mãe.

– Não posso ser a única ovelha negra da família, certo?! - disse ela rindo.

Nos abraçamos. Ela estava saindo do meu quarto.

– Não esquece de ligar para o Cadu. Ele é um rapaz legal e mesmo que você não queira nada com ele, amizades como a dele valem a pena serem mantidas e cultivadas - disse ela.

– Pode deixar. Vou ligar. Boa noite!

– Boa noite!

O relógio já marcava 22h30, mas resolvi arriscar.

– Alô.

– Cadu, é a Clara. Tudo bem?

– Oi, Clara. Tudo certo. E com você?

– Tudo certo, mas diga lá. A minha mãe falou que você me ligou. Até estranhei quando recebi o recado.

– Nossa! É tão ruim assim receber uma ligação minha?

– Que isso, Cadu! Só estranhei. Fazia um tempão que a gente não se fala.

– Umas e outras começam a namorar e somem. O que eu posso fazer?!

– Ai, ai... Como você sabe que estou namorando?

– O seu irmão me contou.

– Esse Felipe é muito fofoqueiro.

– Era segredo?! Eu já tinha percebido que a sua amizade com a Maria Eduarda era mais que amizade, Clara.

– Cadu, eu não tinha nada com ela quando a gente namorava.

– Calma, Clara. Eu sei. Se tem uma coisa da qual não posso te acusar é de não ser leal comigo. Mudando de assunto. Olha só. Finalmente, consegui juntar um dinheiro e convenci o meu pai de entrar com uma parte da grana, tipo um empréstimo. Vou ter que dividir o lucro com ele até conseguir pagar o investimento que ele está fazendo, mas o importante é que vou conseguir abrir o meu Bistrô.

– Sério? Que legal, Cadu!

– Então... Já tenho o espaço. Estou começando a bolar o cardápio, mas estava precisando de alguém para fazer o layout do cardápio, a logo do bistrô, o site, essas coisas, sabe?! Ai lembrei que namorava uma menina super bonita, inteligente e que manja tudo dessas coisas e pensei: “porque não ligar para ela?! Quem sabe ela pode me dar uma força.”.

– Pow, Cadu. Por mim, tudo certo. A gente pode marcar um dia para conversarmos melhor sobre isso. Você me passa referências, se tiver alguma. Posso conhecer o espaço físico do Bistrô também. Isso ajuda a casar melhor o layout do material gráfico com a proposta do restaurante. O espaço já está pronto ou está reformando?

– Então, está em processo. Estou trabalhando com o arquiteto do próprio Galpão Cultural.

– Sério que o seu Bistrô vai ser lá?! A agência que eu trabalho que está fazendo o site e o material gráfico para eles.

– Que legal! O Rio é um ovo mesmo! Clara, não quero te atrapalhar e provavelmente amanhã você tem que ir trabalhar cedo, né?! Quando você tiver um tempo, me dá um toque para a gente conversar. Se tiver como ser ainda essa semana, seria muito bom.

– Tá certo, Cadu. Vou reservar um espaço na minha agenda para você. - disse rindo - Final de semana fica ruim?

– Que menina atarefada... Não, tudo certo. Você escolhe o dia e eu dou um jeito de te encontrar.

– Ok. Te ligo até quinta-feira, no máximo, para a gente marcar.

– Beleza. Clara, estava com saudade. Vê se não some. Boa noite. Beijos.

– Boa noite, Cadu. Beijos.


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