Designium escrita por Caio Historinha


Capítulo 2
Ted II


Notas iniciais do capítulo

Capítulo de autoria de Edielson Enzo Torrielli



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Os raios de sol adentraram no cubículo por entre as brechas da janela do quarto. Atingiram o rosto de Ted em cheio, um despertador natural que instantaneamente o retirou do sono.

Levantou-se completamente nu, sentia os músculos do corpo gritar de dor. No entanto aquela era uma dor boa. Que o fazia lembrar-se do dia anterior. "Eu posso voar" pensou, enquanto se encaminhava para o banheiro. Escancarou a porta com um pontapé, e adentrou no Box, ligou o chuveiro e água jorrou numa torrente de vapores. Ao entrar debaixo d'água, a pior das sensações o abateu.

– Caralho! - Praguejou enquanto saltava para longe da água quente que o atingira feito um chicote.

O quê teria sido aquilo? Alguma reação alérgica aos seus novos dons? Ted não sabia a resposta. Então girou a chave para a temperatura de verão. Colocou-se debaixo da água novamente, e desta vez se sentiu relaxado. A temperatura fria o revigorava. “Tenho de me acostumar com isso" pensou. Acabou por passar horas no banho frio. Mas quando saiu se sentia novo em folha, nada de dores - e muito menos cansaço.
Deu seqüência em seu ritual matinal como de costume.

As mãos trabalhando em conjunto como uma orquestra sinfônica. Um dedo abria a gaveta da cômoda e trazia pelo ar uma cueca flutuante, outro agarrava uma calça jeans azul e a colocava sobre a cama. Acabou de se vestir com uma camisa pólo marrom e um casaco surrado verde musgo. Seguiu para a cozinha e seus novos poderes lhe prepararam uma refeição.

– A vida é mesmo uma maravilha! - cantarolou alegremente. Os vizinhos que já o achavam louco, certamente agora estavam apenas tendo a confirmação.
– TODOS VOCÊS QUE SE FODAM! - gritou aos quatro cantos.

Terminou de tomar deu café e saiu em direção ao trabalho. Passou pelo síndico do prédio e lhe sorriu. O homem lhe presenteou com uma carranca de insatisfação.

– Tenha um bom dia o senhor também. - Disse Ted, com um sorriso largo.

Já na rua parada na calçada, vislumbrou as pessoas desconhecidas se acotovelando em uma luta frenética por espaço. Outros corriam desesperadamente para um ponto de ônibus ou atrás de um táxi.

"Que se dane" pensou Ted "Eu não preciso mais disso". Encaminhou-se para um beco, aos fundos do cortiço em que morava... E então se preparou. "Concentre-se, vamos!" Aos poucos sentiu as pulsações inundarem seu corpo. Uma corrente elétrica de satisfação, e aos poucos seus pés foram deixando o chão. Concentrou uma massa maior de energia e então se lançou no ar, rápido feito uma bala, riscando o ar. Enquanto subia Ted procurava se estabelecer no céu, aos poucos conseguia visualizar linha translúcidas que brotavam de todo seu corpo e se conectavam a todas as matérias sólidas em sua volta: Prédios, casas, carros e todo o resto.

“Não estou voando” percebeu quando de estabeleceu nos ares. “Estou me empurrando”. Era isso, Ted não "voava" não literalmente como pensara anteriormente. Na verdade ele "empurrava" e "puxava" a matéria sólida, tal como tinha feito com as cartelas de comprimido e também com as sucatas do lixão.

– Isso não importa - disse nas alturas - não faz a menor diferença, ainda assim é um vôo.

Lançou-se para frente com empurrões poderosos que lançavam metros e mais metros em direção a corretora de seguros. O que antes levava de meia à hora a quarenta minutos, e foi capaz de fazer em apenas cinco. "Magnífico" pensou "Sem suar uma única gota".

Aterrissou graciosamente em um local tranqüilo e sem (muito) movimento.
Apenas alguns mendigos embriagados o viram, um deles esbugalhou os olhos e perguntou:

– Você é o super-homem? - Ted revirou os olhos. - Nem tanto amigo, nem tanto.

Largou os homens estupefatos ali mesmo e seguiu para o trabalho. Estava atrasado e seu chefe certamente estaria furioso.

– Tedersson, seu filho da puta! - Esbravejou Ben Hudson, ao vê-lo chegar. - Sabe que horas são seu patife? Por algum acaso eu lhe pago para chegar ao serviço a hora que bem entender?

Ted não estava com estômago para Ben, não hoje e nem amanhã... Certamente nunca mais.

– Não chefe, certamente não. - Respondeu secamente seguido para sua mesa.
Todos no escritório pararam estupefatos para assistir ao espetáculo.

– É só isso que têm a dizer, Tedersson? - Ted odiava seu nome.

– Na verdade não seu gordo desgraçado! - Cuspiu Ted - na verdade temos assuntos inacabados a respeito de certa promoção que nunca chegou a acontecer - Ben recuou os ombros e amarelou a cara. - Então se você não tem nada para me dizer a respeito, sugiro que me demita ou me deixe trabalhar - Ted o olhou nos olhos de maneira confiante - e então Hudson, o que vai ser?

Ben Hudson remoeu em silêncio e por fim disse:

– Tem relatórios inacabados Ted, volte ao trabalho! - Girou nos calcanhares e se dirigiu para sua sala.

"Não tão depressa babaca" Ted concentrou um pulso e agarrou as calças de Hudson. O homem pareceu desconfortável com ambas as pernas girando em sentidos contrários, e acabou se estatelando no chão.

– Opa! - disse Ted, com um sorriso malandro. - Tenha cuidado chefe, o chão aqui sempre anda bem encerado.

Judith, uma das maiores bajuladoras de Ben Hudson se apressou em ajudar o patrão a se por de pé. O homem se livrou da mulher de forma grosseira e se foi sem nada dizer. Ted obteve uma vitória naquele momento. Uma bela e gratificante vitória.

Ao cair da noite Ted se lembrou de seu objetivo principal. "O garoto do lixão”
Seguiu até o lugar voando pelos seus noturnos. Aterrissou no centro do local, abandonado.

– Garoto do lixo! - Gritou para o vazio. Não obteve resposta. - Não tem problema, eu esperarei você aparecer.

Passado um tempo, sem que o garoto aparecesse. Ted resolveu matar o tédio praticando um pouco mais suas habilidades. Aproximou-se de uma pilha de destroços e concentrou-se para agarrar uma cabine de caminhão.

– Vamos lá belezinha - disse enquanto a enorme cabine levitava da pilha de sucatas.

Ted sentia as vibrações magnéticas que seu cérebro produzia e enviava para seus braços enquanto o objeto se erguia com um pêndulo. Concentrou uma segunda onda de magnetismo, e com a mão esquerda fez um movimento brusco para a direita. A cabine recebeu a onda de pulso e começou a girar feito uma hélice, mas por algum motivo não sai do lugar. "O que houve?" Se perguntou Ted. E foi ai que percebeu que sua mão direita funcionava feito uma ancora, prendendo a cabine no ar.

Assim sendo Ted fez um arremesso imaginário, e num estalo, a cabine se lançou em velocidade absurda, seguiu em giro frenético chocando-se contra uma parede de sucatas, provocando um barulho ensurdecedor. Ted se preparava para um segundo assalto, quando alguém gritou protesto:

– Que diabos, será que eu posso dormir em paz! Era o rapaz do lixão, estava com as mesmas roupas surradas da noite anterior: uma jaqueta jeans rasgada, uma calça preta muito desbotada, e aquele boné surrado.

– Resolveu aparecer, menino-do-lixo? - Perguntou Ted em tom de zombaria. O rapaz revirou os olhos.

– Já disse que esse não é meu nome.

Ted sorriu.

– E qual é o seu nome?

– Rock. - Respondeu o rapaz.

– Bom, Rock, meu nome é Ted. O que acha de praticarmos um pouco nossas habilidades?

O rapaz o encarou com uma sobrancelha levantada.

– Ah, o quê? Agora já não sou mais uma aberração?

Ted recuou os ombros e disse:

– Esta certo. Isso foi errado de minha parte, peço desculpas. Você aceita?
Rock deu de ombros.

– Humm, tudo bem desculpas aceitas.

– E então vamos praticar, Rock? - Ted era pura adrenalina, e precisava descarregar. Rock o olhou despreocupado.

– Entenda bem senhor Ted - disse o rapaz - não quero soar convencido, mas... No nível em que você se encontra, não teria chance alguma contra mim.

Aquilo foi ofensivo para Ted.

– Quantos anos tem Rock? Humm, Quinze talvez. - Ted riu alto. - Quer dizer que um rapaz de quinze anos se julgar capaz de derrotar um homem de trinta e dois? Não me entenda mal, garoto... Mas acho que é você que não teria chance alguma!

O rapaz coçou um dos ouvidos e disse:

– Está bem senhor Ted, já que insiste.

Ted lançou-se ao ataque, concentrou seus pulsos magnéticos em ambas as mãos, conseguindo assim "puxar" dos entulhos duas massas ao mesmo tempo. Um dos objetos era uma porta de algum carro qualquer, o outro, era uma geladeira velha e corroída de ferrugem.

– Vejamos o que pode fazer Rock! - Gritou Ted.

Ele agarrou a porta com violência, fazendo-a riscar o ar como um arco. A porta veio de encontro à Rock, que se deu ao trabalho de sair do lugar. A coisa o atingiu como uma foice, bem na sua linha de cintura. No entanto nada lhe ocorreu - como Ted previra, a porta passou por dentro dele.

"Isso garoto" pensou sorrindo "A porta era só uma distração”
O segundo ataque veio do alto, a geladeira que Ted agarrara, encontravas-se acima de Rock. Ted fez um movimento de cima para baixo com a mão direita, e velharia desceu como uma marreta de encontro a uma parede. O objeto esmagou Rock de imediato, aterrissou no chão com um baque seco, se enterrando alguns centímetros no chão de terra batida.

Ted transpirava levemente. "E se ele não conseguiu se livrar a tempo?" Pensou preocupado, afinal de contas não tinha a intenção de machucá-lo. A resposta veio em seguida. Rock saiu de dentro da geladeira sem precisar abri-la. O rapaz bocejava enquanto pulava para fora.

– Então senhor Ted, já se deu por vencido? - Perguntou Rock.

– O quê é você? - Disse Ted espantado.

– Eu sou o que eles chamam de desmaterializador. Um SD, abreviação para Super-dotado... Mas acho que isso você já sabe. Já que você também é um. E então se rende?
Ted respirou fundo.

– Só que não!

Concentrou mais uma onda de ataque, e desta vez agarrou objetos menores, como barras de ferros e outros metais retorcidos, criando assim uma enorme tromba de metal. Ted a elevou ao céu agarrando a tromba com firmeza. Os metais subiram ao céu como um arco. Ted manteve os olhos no seu alvo e lançou a tromba em direção à Rock - claro tomando o devido cuidado de materializar sua esfera protetora.

Os metais caíram por sobre Rock como uma chuva de ferro. Um segundo depois o lixão era um verdadeiro redemoinho de caos, uma enorme onde de pó e ruído.
Neste momento Ted viu pelo canto dos quando Rock Surgia de baixo da terra ao seu lado. Tentou acertar um soco no rapaz, porém seu ataca transpassou no vazio. Rock pegou uma parra de ferro e acertou Ted na altura da cabeça.

Ted gemeu de dor e caiu de joelhos na terra.

– Desista senhor Ted - Disse Rock. - É inútil continuar.

Ted ergueu às mãos.

– Eu me rendo! - Gritou - por hoje.

Rock sorriu. Aos poucos a redoma de pó, criada por Ted ia se desfazendo, no entanto soou um alarme:

– QUEM ESTA AÍ? - soou uma voz amplificada. - INDENTIFIQUE-SE. - voltou a dizer.

– Essa não! - Ted ouviu Rock dizer. Ted o agarrou.

– Tenha calma, Rock.

O garoto tentava desesperadamente se livrar da pegada de Ted, no entanto não conseguia. E foi ai que Ted percebeu. "Ele não consegue se desmaterializar, depois de ser pego ele não consegue, isso anula a habilidade dele".

– Temos que sair daqui senhor Ted! - Rock disse - Se não fomos embora, eles nos matam!
– Eles quem Rock?

– Os farejadores senhor.

– MUTANTES - a voz amplificado disse - MONSTREM SUAS AUTORIZAÇÕES.

Ted não conseguia compreender, mas quando a poeira abaixou por completo, entendeu que a situação era realmente feia, Rock parecia ter razão. A voz amplifica Ted viu que vinha de um helicóptero que sobrevoava o lixão. Nesse mesmo instante pode perceber que área estava tomada por um exercito de homens vestidos em armaduras de couro e borracha, na cabeça utilizavam um capacete de viseira negra como a noite.

– O que eles querem Rock?

– Nossas cabeças senhor. - Respondeu o menino.

– ATAQUEM!

E então uma chuva de balas disparadas em sua direção veio como flechas disparadas. Ted agiu instantaneamente. Formando seu escudo magnético, protegendo a si e ao garoto.

– Um magnetizador. - Disse um dos homens, com a voz abafada pelo capacete. - Materializador, apresente-se! - Gritou o soldado novamente.

E do nada Ted viu um soldado saltar nas alturas, mas o que foi mais impressionante foi a lâmina que Ted viu brotar do braço esquerdo do homem, uma lâmina cintilante com quase três metros de comprimento. Enquanto o mesmo completava sua descida, Rock gritou:

– Me solta senhor Ted!

– Por quê?

– Esse ai pode romper seu escudo, anda me solta!

Ted largou do braço de Rock, quando o soldado estava a centímetros do seu escudo magnético. A lâmina do soldado passou por dentro do crânio de Ted enquanto o homem aterrissava no chão de terra, ele saltara com tanta velocidade que só conseguiu parar à metros de distancia de Ted e Rock.

Ted então atacou com eficiência. Agarrou uma sucata de fusca velho, e a arremessou de encontro ao soldado. O homem soltou um grunhido quando atingido e voou de encontro a outra pilha de sucatas e Ted a fez desmoronar sobre ele.

– Isso não irá detê-lo por muito tempo - disse Rock - precisamos sair daqui antes que enviem um Bloqueador.

– Um Bloqueador?

– Isso senhor, um Bloqueador é um SD capaz de manipular a mente, ele consegue bloquear as habilidades de qualquer SD que esteja em seu alcance. Segure em minha senhor Ted. Vou tirar a gente daqui.

Rock avançou para a saída do lixão. Uma avalanche de balas choviam na direção deles, todas passavam por dentro de Ted e do rapaz, sem mau nenhum lhes causar. No entanto, Ted percebera que aquilo estava cobrando um esforço mental muito grande de Rock.

– Vou te ajudar. - Disse ao rapaz.

Ted se concentrou e fez uma avalanche de massas cair sobre os exércitos que o cercavam, afastando soterrando e matando os homens que cercavam. Rock apressou o passo e Ted teve de correr para alcançar o rapaz.

– Temos de chagar aos esgotos, senhor Ted.

– Esgotos? - Perguntou Ted desorientado.

– Sim, rápido!

Mas antes de alcançar Rock, que já pulava para dentro de uma galeria, Ted focou no helicóptero que os seguia do alto. Agarrou uma sucata de tanque de caminhão e arremessou-a na aeronave. O tanque se chocou contra o helicóptero, e uma grande explosão se fez ouvir no céu.

– Strike! - Gritou Ted.

Rock o agarrou e puxou-o para dentro dos esgotos.

– Esta preparado para cair, senhor Ted?

– O quê...

De repente não havia mais chão sobre os pés, Rock mantinha uma mão firme no braço de Ted enquanto despencavam galeria abaixo. Alcançaram o fim da descida alguns minutos depois. Aterrissaram em um local mal iluminado e fedorento.
Ao se recompor, Ted percebeu que não estavam sozinhos.

– Quem são vocês? - Perguntou aos rostos estranhos que o cercava.
– Somos amigos. - Respondeu um homem magro alto e estranhamente pálido. Sua cabeça era raspada, e desproporcional ao corpo. - Meu nome é Salize, sou o líder da resistência SD.

– Resistência SD? - Repetiu Ted.

– Esse ainda está confuso, Salize. - Disse uma garota morena de corpo saliente e lábios fartos.

– E quem é você? - Perguntou Ted.

– Sou Alys. - Respondeu a garota com um sorriso. - E você tem nome?

– Meu nome é Ted.

– Ted teve o estalo, senhor Salize. - Disse Rock.

– Entendo. - Respondeu Salize. - Bom, Ted. Agora que teve o estalo, não pode mais sair por ai exibindo suas habilidades, isso claro se quiser se manter vivo... Então eu lhe sugiro, que se junte à nós.

– E seu não aceitar?

Um brutamontes pesando cerca de cento e vinte quilos se aproximou e disse:

– Viver ou morrer, Ted.

Salize aproximou-se de Ted.

– É como o Goorg diz- a voz do homem era como uma serra na madeira - Viver ou morrer Ted. Faça sua escolha.


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