Back to Wonderland escrita por Clara Cavalcante


Capítulo 3
Reencontrando o Chapeleiro




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Regina e eu seguimos em direção a casa dela. No carro, não falávamos nada, tudo que eu ouvia era meu próprio pensamento. Quem será que estava com o Al? Jafar, a Rainha Vermelha ou o homem de capuz? De todas as minhas memórias que voltaram, a única que não voltava por mais que eu tentasse era o nome dele. Sabia que o conhecia, sabia que ele queria algo comigo, mas não sabia o quê e porquê.

Regina estacionou o carro e saímos entrando logo em casa. Eu corri até meu quarto e já comecei a arrumar uma mochila com tudo que iremos precisar. Arrastei o baú que eu mantinha embaixo de minha cama, o levantei com um pouco de dificuldade por conta do peso e o coloquei em cima da minha cama. Respirei fundo e passei a mão pela tampa retirando um pouco da poeira e mostrando um pequeno símbolo em forma circular com uma estrela de seis pontas no centro. Olhei para a porta e Regina me observava curiosa, ainda com o pequeno chapéu em mãos.

– Não consegui fazê-lo funcionar usando mágica. - disse Regina.

– É porque é à prova de magia. - eu disse. - Emm e eu conseguimos com a Lagarta.

– Emm é sua amiga? - perguntou Regina, ainda surpresa com o fato de existir itens à prova de magia.

– Sim. - sorri fraco. - Espero que ela ainda esteja por lá.

Vasculhei a lateral do baú com a ponta dos dedos para encontrar o botão para abrí-lo. Cuidadosamente, encontrei o pequeno retângulo na lateral e eu o pressionei, fazendo com que um buraco aparecesse na frente do baú. Nesse mesmo buraco, encaixei uma pequena chave dourada que eu tinha em minha pulseira e, assim que girei a chave, ouvia-se o barulho das pequenas engrenagens destrancando o baú.

Regina olhava aquilo surpresa e curiosa pra saber o que eu tinha ali. A única vez que ela havia visto aquele baú fora quando eu fui encontrada num dos armazéns do cais.

#Flashback ON#

Eu corria desesperada tentando fugir dos guardas da Rainha de Copas, precisava urgentemente encontrar um lugar pra me esconder. Os despistei utilizando um dos truques que Emm me ensinou e escalei rapidamente a árvore mais próxima. Vi os soldados da rainha passando por baixo de mim, dei um sorriso com a minha breve vitória, mas logo comecei a observar ao redor para me localizar.

Havia um chalé não muito distante dali, pulei de uma árvore pra outra e assim fui seguindo até chegar no quintal do chalé, descendo da última árvore, alcancei o chão e respirei fundo. Se eu tivesse sorte, o chalé estaria abandonado e eu poderia ficar lá por um bom tempo. Escutei as vozes e os passos dos soldados da Rainha de Copas e saí correndo em direção a porta do chalé, toquei a maçaneta no momento que a alcancei e girei abrindo a porta. Entrei o mais depressa que pude e suspirei aliviada pela sorte de que eu tinha nela estar destrancada.

Apoiei as mãos nos joelhos e respirei fundo, ainda ofegante. Olhei em volta e pude ver um grande número de chapéus e cartolas. Depois de recuperar o fôlego, comecei a andar lentamente com minha adaga em mãos. O lugar estava escuro, iluminado apenas pela luz do sol que atravessava as cortinas.

Como não ouvi nenhum som, relaxei e me endireitei. Observei uma escrivaninha e cheguei mais perto, observando uma pintura, provavelmente feita por uma criança. Havia um homem e uma menina na foto, ambos sorrindo. Estava tão distraída que não ouvi os passos atrás de mim, apenas fui surpreendida quando um pano foi colocado sobre meu rosto e eu apaguei.

#Flashback OFF#

Assim que a tampa do baú levantou, lá dentro havia todo o meu equipamento que eu usei no País das Maravilhas: adagas, bombinhas de fumaça, espada e minha roupa que Emm me deu. Sorri comigo mesma ao olhar e me lembrar do tempo que passamos juntas, ela era minha família.

– Annya? - chamou Regina, me despertando de meus pensamentos.

– Oi?! - perguntei a olhando, ela se encontrava ao meu lado, observando as coisas que tinha lá dentro.

– Vamos precisar de todas essas coisas? - ela perguntou.

– Sim, não sei como pode ser que esteja o País das Maravilhas agora. Talvez esteja mais perigoso do que quando eu saí de lá. -eu disse.

– Mas temos a minha magia a nosso favor.

– Não, Regina. Infelizmente não podemos usar magia, porque existe gente que rastreia magia.

Regina parecia não acreditar no que eu dizia. Eu não tinha tempo para explicar, comecei a tirar as coisas do baú e em seguida, peguei meu celular e liguei pra um antigo amigo. Assim que escutei um "Alô?!" do outro lado da linha, eu disse:

– Oi, sou eu, Annya! Queria te pedir um favor. - aguardei a resposta dele. - É urgente, por favor! Você me deve um favor!

Regina me olhou curiosa para saber com quem eu falava, e assim que ouvi a resposta dele, imediatamente respondi:

– Ok, me encontre em uma hora na frente do Buraco do Coelho.

Desliguei o telefone e peguei o meu equipamento. Olhei para Regina e ela me olhava como se pedisse explicações.

– Pra quem você ligou? - ela perguntou, enquanto eu me dirigia até o banheiro, para me trocar.

– Bem, pensei que, como teremos que saber como o chapéu funciona, nada melhor do que um Chapeleiro para nos ajudar. - sorri e entrei no banheiro fechando a porta atrás de mim.

#Flashback ON#

Acordei e me vi amarrada a uma cadeira. Em cima da mesa em minha frente se encontravam todas as armas que eu tinha trago comigo. Olhei em volta pra tentar ver se havia alguém por perto e tentei em vão me mexer. As amarras estavam muito apertadas e com qualquer movimento elas machucavam minha pele. Escutei um barulho vindo da porta à minha esquerda e imediatamente olhei para ela.

Assim que a porta se abriu pude ver um homem com os cabelos bagunçados e usando um tipo de cartola. Havia uma cicatriz em seu pescoço, como se alguém tivesse cortado sua cabeça e colocado de volta no lugar. Parece até impossível, mas não no País das Maravilhas. Aquilo era, definitivamente, obra da Rainha de Copas. Ele deve ter sido algum prisioneiro dela em algum momento de sua vida.

– Quem é você e por que invadiu minha casa? - ele me perguntou com uma adaga curvada em mãos.

– Eu não queria invadir. Eu só estava fugindo da Rainha de Copas. Vi seu chalé, pensei que estivesse abandonado e que eu poderia me esconder aqui. - eu disse, tentando parecer calma, mas o fato de eu estar em desvantagem não ajudou a manter minha voz num tom calmo.

Ele parecia não acreditar direito em mim, mas assim que ele ia me perguntar mais alguma coisa, alguém bateu na porta. Um certo desespero tomou conta do meu corpo e olhei pra porta temendo que fossem os soldados da rainha. Comecei a mover minhas mãos, ignorando a dor e olhei pro homem em minha frente. Ele segurou minha cadeira e a arrastou até uma das portas, me deixando dentro do cômodo e seguiu na direção da porta de entrada.

O medo tomou o lugar do desespero e eu não ousei fazer barulho algum. Mil pensamentos vieram em minha mente: eu sendo morta pelo homem dono do chalé, eu sendo morta pelos soldados da rainha, eu sendo morta pela própria Rainha de Copas. É, basicamente meus pensamentos eram sobre diferentes jeitos de eu morrer.

Estava tão perdida em meus próprios pensamentos que eu não prestava atenção no que o homem conversava com os guardas, apenas ouvi o som da porta se fechando. Emm estaria desapontada comigo por perder o controle tão facilmente na primeira situação de perigo iminente que enfrento sozinha. O homem veio em minha direção e apontou a adaga para mim.

– Você não me disse quem é. - ele disse.

Engoli em seco ao perceber um tom ameaçador em sua voz.

– Eu me chamo Annya. - respondi.

Ele não parecia satisfeito.

– Nome e sobrenome, não apelido.

– Eu não me lembro. Eu perdi minha memória, só me lembro do que vivi desde que acordei sozinha na Floresta Encantada.

Olhei nos olhos dele e acho que agora ele finalmente acreditou em mim. Ele girou a adaga na mão e cortou as cordas, me libertando. Acariciei os pulsos pra aliviar a dor e em seguida o olhei, sem compreender ainda a sua atitude, enquanto ele me devolvia minhas armas.

– Bem, não temos muito tempo. Precisamos ir seguindo até a Floresta de Cogumelos. - ele dizia enquanto se organizava.

– Espera, você vai me ajudar? - perguntei enquanto me levantava.

– Claro que sim, faço tudo por uma amiga.

Ok, aquele cara era definitivamente louco. Eu nem o conhecia. Ele terminou de arrumar as coisas ele e se posicionou ao lado da porta me esperando. Andei até a porta e ele me disse, fazendo uma leve reverência:

– À propósito, Annya, eu me chamo Jefferson, ou Chapeleiro Maluco, como uma garotinha dessa terra me apelidou.

#Flashback OFF#

Eu vesti a minha roupa e percebi que ela estava um pouco apertada. Bem, era de se esperar, já faz 3 anos (ou 32 pra ser mais exata) que eu não a uso. Respirei fundo e me concentrei. Fechando meus olhos, visualizei minhas roupas se encaixando perfeitamente em meu corpo atual e assim fiz a minha primeira mágica. Abri os olhos e a roupa estava da maneira que eu queria. Minha roupa era a única coisa que não era à prova de magia, porque fora feita pelos cavalos estilistas.

Suspirei ao perceber que a magia fora necessária. Ninguém podia saber que eu a possuía, do contrário, talvez pudessem correr um certo perigo. Sai do banheiro e Regina já estava pronta com uma mochila nas costas. Sorri fraco e terminei de me armar. Tranquei o baú e segui com Regina até o carro.

Enquanto Regina dirigia até o local de encontro, não pude deixar de pensar em como a Regina havia conseguido convencer Emma a deixar que fôssemos apenas nós duas para essa "jornada", e quando perguntei a ela, ela simplesmente me respondeu:

– Apenas conversando.

Sorri fraco e me virei pra janela ainda sem acreditar muito bem. Emma não era tão fácil assim de se convencer. Aposto que elas estavam armando algo. Regina estacionou o carro ao lado do "Buraco do Coelho" e, assim que saí do carro vi um conhecido carro estacionado de uns dois carros à direita. Fui até lá e bati na janela do carro, chamando a atenção de sua motorista e de seu passageiro.

– Emma e Gancho, o que fazem aqui? Não me diga que a Regina ligou pra você? - eu disse.

– Sim, nós iremos com vocês até o País das Maravilhas e isso está decidido. - disse Emma.

– Céus, não entendem que lá pode ser perigoso? Eu já nem queria que a Regina viesse comigo e agora vem os três? - revirei os olhos e andei até a entrada do "Buraco do Coelho".

Enquanto os três vinham discutindo algo do tipo: "Você devia ter dito a ela", "Vamos mesmo que ela não queira", alguém tocou meu ombro e por instinto eu segurei seu braço e ia virá-lo, quando a pessoa se livrou já conhecendo exatamente meu golpe, quando o vi, lá estava ele, com um certo charme, posso dizer, melhorou muito desde que veio para essa terra.

– Jefferson! Que bom que já está aqui. - eu disse ao revê-lo sorrindo.

– É sempre um prazer, revê-la, alteza! - ele fez uma reverência e eu revirei os olhos, o empurrando de leve pra que ele parasse.

– Não faça isso. - olhei pros três que vinham atrás de mim e observavam a cena, voltei a olhar pra ele os ignorando. - Preciso que me ajude a chamar o coelho, usando isso. - mostrei o chapéu a ele.

Ele segurou o chapéu e riu de sua própria invenção. O chapéu comunicador fora sua ideia, a parte do anti-magia...bem, não sei como a Lagarta conseguiu tal coisa. Ele fuçava com seus dedos rápidos e ágeis os cantos do chapéu até que ele encontrou um pequeno botão que abriu um botão maior na parte de cima. Ele me entregou e disse:

– De nada!

– Obrigada. - eu disse e o olhei. - Eu te chamaria pra se juntar a mim, já que conhece o País das Maravilhas como eu, mas já tem gente demais nessa missão de resgate e você tem sua filha.

– Bem, boa sorte! Poderá manter contato comigo por meio desse mesmo chapéu. - piscou. - E se precisar de um lugar pra ficar lá, use meu antigo chalé. - ele olhou pra Regina e Emma. - É bom revê-las, meninas. - piscou pra elas e em seguida saiu de volta para sua mansão.

Me virei para Emma, Regina e Gancho e suspirei.

– Vocês vão comigo, mas seguirão minhas regras. Não conhecem o País das Maravilhas como eu. Primeiramente: sem magia, ou seremos rastreados e mortos imediatamente. Segundo: não inventem de perguntar coisas, alguns dos habitantes de lá são bem delatores e fazem tudo por dinheiro. Terceiro: sem armas de fogo, celulares ou qualquer coisa desse mundo, seriam roubados em segundos e ai seria um completo caos. - eu disse os olhando. - Entendido?

Assim que eles afirmaram com a cabeça eu pressionei o botão no chapéu e em cerca de segundos ouviu-se um barulho e um buraco apareceu na rua ao nosso lado.


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