Ciclo Vicioso escrita por Lady


Capítulo 5
Causa e Efeito.


Notas iniciais do capítulo

Yo.
Depois de meses longos, árduos, cansativos e preguiçosos; eu trago o capítulo.
Um capítulo grande e maravilhoso com o começo do caos, hohoho.
Na verdade eu estou me perguntando se ainda há quem acompanhe a fic, sei la, a categoria anda tão parada, e ninguém comentou na última one que postei nem na atualização de Páginas Desconhecidas.
De qualquer forma, boa leitura.



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Ato I

Causa e Efeito.

~~

Segunda-feira, 06 de Julho de 2014, 18:42 PM

Localização: Desconhecida.

Nota: Secar as lágrimas e lamentar, no que isso realmente ajudará?

Seus olhos estavam arregalados, os lábios secos entreabriam-se num grito mudo que expressava todo o terror que sentia, as mãos tremiam agarradas firmemente as vestes rasgadas e ensanguentadas do desfalecido corpo de sua jovem irmã, as lágrimas escorriam por sua face marcada pelo horror e pelo sangue e as mesmas gotículas salgadas pingavam sobre o sangue coagulado que lhe banhava as vestes; ao seu redor a podridão já começava a se mostrar, o odor fétido de cadáveres lhe dava náuseas, mas não conseguia se mover... Não podia se mover. Temia o pior. Temia que aquele homem lhe encontrasse.

O silêncio era sua única companhia - além da irmã morta - e este se espalhava por todo o cômodo e para muito além dele, mas o ruivo sabia que não era o único ali que encontrava-se com vida, o assassino ainda rondava pela residência, talvez o procurando a fim de terminar o serviço do qual fora imposto; e tudo que Enma poderia fazer era esperar, rezar, chorar... Desejar que tudo não passasse de um sonho ruim enquanto, ao mesmo tempo, martirizava-se por ser um absoluto inútil, um maldito expectador e - quem sabe o pior de tudo - um cumplice daquela atrocidade.

Engoliu em seco, o coração batendo forte em sua caixa torácica bombeando o medo por suas veias. E então um som fez-se presente seguido a este uma luz se acendeu no cômodo ao lado, logo a escuridão dera lugar a penumbra aterradora e fria. Foram segundos que pareceram anos até que a porta fosse aberta de forma brusca e nesta a silhueta de um homem alto mostrou-se esbanjando um sorriso branco cruel.

Com uma mão puxou o corpo morto em seus braços mais para si enquanto a outra arrastava-se sobre o carpete aos seu lado logo encontrando-se com a arma - uma calibre 32 que seu pai usava para ensinar a si como atirar - que repousava silenciosamente ao seu lado; agarrou a empunhadura não tardando em apontar o cano negro para seu indesejável inquilino que apenas sorrira ante tal ato.

O assassino tivera a chance apenas de dar um passo antes de sons preencherem o vazio que se instalara mais uma vez, vozes chegaram aos ouvidos do menor, vozes que este reconhecia bem. Com o resmungo o homem cerrou o olhar em direção ao ruivo que ainda segurava o corpo pequeno da irmã, aparentemente apenas o menino havia sobrado, este certamente poderia ser morto em breve - talvez por si ou por qualquer outro assassino - tendo em mente isso este apenas virou-se, sairia rápido dali, não deixaria um vestígio sobre qual Famiglia pertencia e tinha a certeza de que aquela pequena e inútil Famiglia não teria recursos para localizá-lo - ou qualquer coisa do gênero.

– Não... - o gaguejo lhe chegara aos ouvido e, logo em seguido, o som do tiro cuja bala passara longe de si por meio metro e alojara-se da parede ao fundo. Cessou os passos e virou um pouco a cabeça assim visualizando a figura ruiva, em pé segurando tremulamente a arma em sua direção; talvez este tivesse a mesma idade e tamanho que seu jovem filho, mas aquilo não importava, máfia era máfia.

Um sorriso de canto e um brilho dos olhos azuis céu fora o que marcara a mente do jovem Enma, e o vulto dourado da chama na testa e dos cabelos loiros foram tudo o que o ruivo vira antes do misterioso homem desaparecer; levando consigo toda a esperança e felicidade que um dia Enma Kozato possuiu, e deixando para trás apenas três cadáveres e um jovem herdeiro órfão.

(...)

Quinta-feira, 31 de Julho de 2024, 05:45 AM

Localização: Roma, Itália Mansão Vongola.

Nota: Tudo nela era triste desde o olhar, até o sorriso.

A manhã chegava agradavelmente fria para aquela estação em particular, mas o albino pouco ligava para tal fato, achava até aconchegante a brisa fria que raramente podia se encontrar em uma manhã de verão; talvez tenha sido isso, a calmaria daquele dia em particular que lhe deixara tão preguiçoso e pensativo, porque Sasagawa Ryohei não era assim com tanta frequência, mas ainda sim o era, por que apesar de tudo - apesar de ser mais enérgico que o normal - ele ainda era um adulto, as pessoas crescem e amadurecem, mas o homem, mesmo já tendo seus plenos vinte e oito anos não conseguia deixar de ser enérgico e animado quase em tempo integral, aquilo já era de si, e não mudaria tão drasticamente assim, Hana não se importava e quaisquer outros de seus amigos também não, Tsunayoshi que poderia ser aquele que mais desaprovaria as muitas ações de seu inconsequente Guardião do Sol, chegava até a se divertir com o mais velho; não definitivamente não tinha motivos para mudar.

E então um sorriso se arrastara por seus lábios enquanto cruzava caminho pelo jardim lateral, rumando para o pequeno campo de treino externo que, na verdade, havia sido projetado como uma plataforma onde Irie e Spanner poderia facilmente realizar a manutenção da grande defesa subterrânea que ironicamente havia sido implantada pelos mesmos; de toda forma, aquilo era detalhes irrelevantes, o espaço tomado por aquilo era grande, liso e firme, e era perfeito para se realizar treinos ao ar livre, como o lutador gostava tanto de praticar. Logo quando fez a curva - cumprimentando alguns homens que passaram por si, os mesmos que devolveram o cumprimento de forma tão solene e até admirados - que levava ao segundo jardim pode avistar, após os arbustos gordos e floridos, os fios ruivos longos balançarem elegantemente diante dos movimentos bruscos, ousados e firmes da mulher mais nova.

Nenhum movimento passava despercebido por seus olhos. Um soco de esquerda, outro de direita, a flexão dos braços rente ao corpo, a flexão dos joelhos antes de erguer a perna direita em um chute preciso... A concentração exercida pela mulher não passava despercebida pelo albino, tampouco o suor que escorria pela lateral de sua face, as próprias vestimentas justas de malha mostravam-se encharcadas por suor, e isso podia indicar que Sasagawa Kyoko já estava treinando há um tempo demasiado longo. E escorando-se na parece, Ryohei não pode deixar de notar o quanto a irmã mudou desde quando eram crianças; nunca havia imaginado ver sua doce irmã na máfia... Por deus, nunca havia se quer cogitado possibilidade de Kyoko - tão doce e gentil - ser uma lutadora, e uma no seu nível. Ficara surpreso quando ela lhe disse que sabia sobre a Vongola, sabia sobre Tsunayoshi e a máfia; e que apesar de tudo ainda estaria com ele, com todos eles, e que se juntaria a Famiglia como um membro, como uma hitwoman em treinamento - tal como Hana e Haru estavam fazendo. Ficara surpreso, ficara nervoso, mas de alguma forma - que até o dia atual não conseguia explicar como - Hana o convencera, talvez fosse por isso, por ter sido a Kurokawa a ter ido conversar com ele, que facilmente concordara; de alguma forma essa mulher o havia enfeitiçado e tal fato até excitava o lutador.

Então suspirou, o sorriso que antes havia se alargado agora desfazia-se num mar de lembranças que começavam a desagradar. Viu a ruiva pular dando um chute no ar que balançou até as roseiras que estavam um pouco longe de si, ele tinha certeza de que aquele chute certamente poderia lhe render uma bela vitória por nocaute em um torneio profissional. Queria sorrir de orgulho por a irmã ter chego tão longe, por ela ter se dedicado tanto, por, simplesmente, ter se tornado uma mulher magnifica... Excepcional, mas não conseguia, não quando se lembrava de por que, por causa de quem ela estava se dedicando tanto, dando tudo de si e mais um pouco. Era frustrante, agonizante e o pior de tudo... Era culpa sua, completa, inteira e absolutamente sua. Deixou-se cegar tanto por um objetivo que quase a perdera, e apenas por este pensamento o olhar do albino cerrou-se em direção a irmã fixando-se exatamente na perna esquerda onde uma grande e branca cicatriz escorria cobrindo quase completamente o membro. E automaticamente as mãos do homem fecharam-se em punhos, as ataduras que deveriam lhe proteger a pele das mãos estalavam enquanto as linhas partiam-se, tamanha força usada pelo Guardião, não tardou para que as ataduras tomassem um tom rosa que logo avermelhara antes de formar gostas e pingar sobre o gramado verde.

Odiava-se por ter depositado sua confiança e os preciosos sentimentos de sua irmã nas mãos daquele homem, nunca se perdoaria pelo que fizera, e também nunca se perdoaria por ainda deixá-lo viver, por ter sido fraco duas malditas vezes, mas Ele pagaria com sua vida por tudo o que fez. Trincou o maxilar, piscando algumas vezes e notando que sua irmã havia lhe visto; parada em pé, com uma garrafa d'água em mãos e uma toalha sobre os ombros, ela lhe fitava muda, e apesar do pequeno sorriso que fizera-se presente nos cantos de seus lábios Ryohei sabia que aquilo não passava de mera formalidade para a mulher cujos olhos de mel transmitiam dor e ódio, um ódio tão sólido e perigoso quanto os chutes que esta poderia dar. Viu-a dar alguns goles na água e secar as gotas de suor da face antes de dar continuidade as séries que praticava. Ela não havia visto o sangue que manchava as ataduras, mas havia alguém que viu, não só o sangue, mas o ódio borbulhante que cercava os irmãos lutadores.

Ainda mantendo os punhos fechados e tendo os olhos fixos na irmã, o albino não notou o anel em seu dedo brilhar num amarelo alarmantemente enérgico enquanto, mais atrás do homem de cabelos brancos uma outra figura, muito parecida com a do lutador - trajando uma espécie de túnica negra e carregando nestas um rosário amadeirado - observava ambos os irmãos com pesar e tristeza. O mundo podia ser um lugar cruel, principalmente com crianças tão boas como aqueles jovens eram; pelo menos era isso que o desconhecido dizia a si mesmo ante aqueles dois filhos tão profundamente magoados, era disso que tentava se convencer, pelo bem deles.

(...)

Quinta-feira, 30 de Julho de 2014, 12:03 PM

Localização: Desconhecida.

Nota: O melhor tipo de vingança é fazer aquilo que todos duvidavam que você fosse capaz de fazer.

Tomou uma respiração profunda enquanto ignorava o calor dos raios ultravioletas contra sua pele. Mais um dia quente se mostrava, tão calmo e silencioso, e o adolescente teve inveja de toda aquela paz. Ajoelhou-se sobre o mármore polido de uma das três lapides disposta a sua frente.

Por quê? Questionou-se enquanto as lágrimas já escorriam por sua face alva. Estava tão cansado de chorar e sentir-se incapaz. Tão cansado de ser fraco, mesmo não o sendo verdadeiramente. Abraçou-se, buscando conforto nas próprias ações. A mente rodava em busca de meios para vingar-se daquele que lhe usurpara sua preciosa família; aquele bastardo maldito. Fungou baixo antes de estender a mão ao nome de sua preciosa irmãzinha, esta que falecera em seus braços, em meio ao sangue, enquanto – o ruivo podia recordar-se perfeitamente bem – aquele homem de cabelos loiros os olhava lívido de qualquer emoção.

Soluçou, mais alto do que gostaria. As lembranças invadiam sua mente rápida e cruelmente. O sangue, os gritos, os tiros... Tudo vinha a si tão rápido que lhe torturava de forma desumana. E em meio ao pranto desesperado e desolado, Enma questionou-se – por mais uma vez – o porquê de ter sido o único a sobreviver; não havia motivos para ser poupado, não quando até mesmo sua pequena irmãzinha tivera a vida ceifada.

Mas mesmo que tantas vezes questionasse a si mesmo o porquê de ter recebido tamanha misericórdia, o ruivo não podia deixar de ruminar o ódio mais e mais por aquele homem, por aquele maldito assassino. Ele se vingaria, jurou sob o tumulo de sua jovem irmã, iria vingar-se e reergueria a Shimon com todo o orgulho que a mesma sempre deveria ter tido.

E enquanto sua determinação queimava alimentada pelo ódio desumano pelo assassino de sua família, o ruivo mal notara a aproximação de uma mulher as suas costas. Vestindo um sorriso triste, Adelheid não pode deixar de lamentar por aquele menino, amava-o como se o mesmo fosse seu irmão mais novo e lhe doía tanto vê-lo de corroer em ódio e vingança; mesmo que este tivesse o direito para se sentir dessa forma, ainda sim esses sentimentos fariam mais mal do que bem. Suspirando a Suzuki apenas rezou para ter forças, para se manter sempre ao lado de Enma, para que pudesse protegê-lo, como sempre fizera, como sempre faria.

(...)

Sábado, 02 de Agosto de 2024, 03:01 AM

Localização: Roma, Itália Mansão Vongola.

Nota: Na maioria das vezes, as pessoas mais tristes estão sempre sorrindo.

A escuridão se espalhava fria pelo cômodo. Os ventos gelados chocavam-se contra a porta envidraçada da varanda que havia no quarto, mas mesmo a melodia que estes cantavam era capaz de despertar o rapaz do transe induzido por remédios o qual este encontrava-se preso. As paredes, o teto... O mundo a sua volta girava, e apesar do cansaço, a insônia agarrara-se firmemente a si naquela noite gélida.

Em meio ao torpor e delírios, sua intuição lhe avisou sobre uma visita inesperada noturna, e virando-se sobre o colchão macio de sua cama fixou os olhos castanhos num ponto onde as sombras pareciam mais densas que as que se espalhavam pelo restante do cômodo escuro. Puxou uma leve respiração, piscando algumas vezes até conseguir ver alguns traços sutis em meio a nevoa sombria. Ouviu alguns movimentos, identificando os sons de correntes – o que foi o bastante para que o Don retirasse a hipótese de que ali era Reborn, lhe espionando e buscando provas para seus pecados particulares -, mas, se não era seu ex-professor, quem poderia ser?

Após minutos silenciosos de pura observação, quando o Don encontrava-se lúcido o suficiente para sentar sobre o leito, fora que a figura sombria rastejara para longe das sombras densas e grotescas, o tilintar de correntes fez-se presente mais uma vez, e fora como um click que Tsunayoshi identificara aquele som.

– A que devo o prazer a essa hora da madrugada Bermuda? – indagou rouco e cansado. A garganta ardia, e quase podia sentir a aproximação de uma gripe, mas ignorava isso. Passou a mão pelos fios castanhos, longos, bagunçando-os e o deixando com uma aparência mais desleixada. Terminou de afrouxar a gravata e abrir o colete negro enquanto soltava um suspiro longo e penoso. O efeito do remédio estava dando tchau enquanto sua dor de cabeça e a dor pelo restante do seu corpo acordava mais revigorada do que o jovem Don poderia suportar.

– Parece cansado, Décimo. – o sussurro fantasmagórico ecoou baixo e tenebroso, logo em seguida uma brisa gélida soprou pelo cômodo causando calafrio o homem de cabelos castanhos.

– Já estive melhor, posso garantir. – respondeu num resmungo sussurrado. Houve silencio pelos míseros segundos em que Tsunayoshi recompunha-as de seu estado semi-letárgico. – Alguma novidade? – indagou, voltando seus doces e vazios olhos castanho-mel para a figura sombria do Vindice, este que atentamente lhe fitava.

– Jagger está trabalhando no caso com outros dois membros confiáveis. – confidenciou sem qualquer preocupação. E assim avançou alguns passos, logo estando frente a Tsunayoshi, este que não pode deixar de notar as correntes que envolviam o torso, por baixo do casaco negro, do líder de Vindicare. – Mas não foi por causa disso que vim. – o sussurro fez-se presente, audível somente ao Vongola. E num aceno frágil e quase indetectável Bermuda retirou uma sacola de papel pequena do bolso interno de seu casaco e a depositou sobre a cama, ao lado do Don, afinal podia ver as mãos do mesmo tremer de exaustão e sabia que este não conseguiria segurar o peso mais leve que lhe fosse entregue.

A boca do Sawada abriu-se num mudo ‘o’ compreensivo. Era apenas uma visita casual para mais uma entrega especial.

– Obrigado. – e assim sorriu, o típico sorriso falso que todos tendiam a acreditar. A bela mascara que enganava a todos tomava seu lugar, mas aquele homem a sua frente era diferente, desde o começo foi. Bermuda nunca fora enganado por sua mentira tão comum, e Tsunayoshi quase enlouquecera quando o mesmo lhe dissera que não poderia ser enganado com uma coisa tão ridícula quanto uma ‘mascara de felicidade’. Mas o Vichtenstein nunca teve a pretensão de dividir aquela descoberta assustadora com qualquer outro ser, afinal, já vivera muitos anos, não tinha motivo nem razão para desmascarar o jovem Don, e também, o garoto era importante demais dentro da máfia e fora da mesma para que o Vindice deixasse que aquela informação chegasse aos ouvidos errados e causasse um transtorno dentro do sanguinário mundo cuja paz era mantida a rédeas curtas. E Bermuda sabia, em algum canto de sua alma sombria, que se aquele jovem Don se envolvesse num escândalo de proporções abomináveis, todos os pilares que erguiam a Vongola poderiam se abalar e com isso o caos se instalar.

O homem bufou. Nunca permitiria que seu mundo obscuro fosse destruído. E se alimentar os desejos insanos daquele rapaz, controlando a loucura que devorava o mesmo pouco a pouco, o permitia estender aquela frágil Paz por mais alguns anos; então Bermuda Von Vichtenstein faria o possível para que Sawada Tsunayoshi tivesse acesso aos mais variados tipos de drogas e remédios, para alimentar e controlar seus impulsos doentios.

– Não perca seu tempo com sorrisos falsos Tsunayoshi. – comunicara frio. – Sabe que não funcionam comigo. – alegou por fim, seus olhos obsidianos fixando-se nos castanho-mel do jovem Vongola que piscara desnorteado por alguns segundos antes de devolver o olhar com uma expressão vazia despedaçada.

O Vindice percebeu que aquele olhar era diferente de todos os outros que ganhara no decorrer dos anos que acompanhara as loucuras do mais novo; não era o mesmo olhar desmotivado, mas que ainda sim tinha um brilho de esperança em suas profundezas; também não era aquele olhar decepcionado e triste que em algum ponto esperava amedrontado e ansioso que descobrissem sobre si e lhe impedissem de continuar com loucuras absurdas; não era nenhum olhar que presenciara, aquilo era novo, e quase pegara o Vichtenstein desprevenido; era vazio e desprovido de qualquer esperança ou alegria, sem qualquer desejo, ambição ou amor; e por alguns segundos o perigoso Vindice pode jurar que aquele homem, aquele menino tão corajoso e forte, estava morto – talvez não literalmente, mas, de alguma forma, morto.

Avançou um passo, numa invasão de espaço pessoal que não apreciava, mas ainda sim o fez, por que precisava ver mais de perto, precisava ter a certeza total do que estava vendo, por que não queria acreditar a primeira vista. Mas ao depositar as mãos enluvadas sobre os ombros largos do Décimo, impedindo-o de qualquer movimento, e aproximar sua face da lívida que o mesmo demonstrava, o líder Vindice pode ter toda a infeliz certeza de que aquele garoto estava tão morto quanto a si próprio. Talvez até um pouco pior do que a si próprio já que, afinal, Tsunayoshi ainda respirava e, o pior de tudo, sentia.

Suavemente acariciou a face cansada do castanho, de tão perto quanto se encontrava podia ver as olheiras que marcavam abaixo de seus olhos. Suspirou antes de voltar a ficar ereto.

– Você não pode morrer Tsunayoshi. – sussurrou, acariciando os fios castanhos uma última vez antes de ser engolido pelas sombras numa muda despedida. O Sawada apenas piscou diante daquelas palavras antes de um sorriso solitário arrastar-se por seus lábios.

Bermuda sempre era Bermuda. Impulsivo. Incontrolável. Incompreensível.

E assim permitiu-se afundar novamente sobre o colchão, claro que antes puxando a sacola de papel e escondendo-a debaixo do travesseiro, logo que possível guardaria junto a seus outros pecaminosos vícios. Virou-se de um lado para outro, sabendo que o sono não viria tão cedo, ainda mais com sua intuição lhe importunando tanto por nada. E então parou, relembrando-se do olhar que o Vichtenstein lhe mandara quando estavam tão próximos; e por mais que odiasse admitir, o Sawada viu pena naquelas orbes tão escuras e tenebrosas. Pena, pesar e, talvez, compreensão. Ou isso, ou estava louco.

Por mais que odiasse admitir, a segunda opção era a mais viável de se crer.

(...)

Sexta-feira, 31 de Julho de 2014, 15:33 PM

Localização: Roma - Itália.

Nota: Às vezes a aparência é só isso mesmo, aparência.

Puxou o fôlego a fim de dar continuidade a melodia sussurrada, os passos que seguia eram calmos e os allstar's que utilizava se quer fazia algum som contra o chão cimentado de uma das grandes, maravilhosas e movimentadas ruas da grandiosa Roma. continuou seu percurso pouco ligando para a atenção que chamava, o menino era um ícone em ascensão, todos ali o conheciam, todos da maravilhosa e magnifica Itália sabiam quem era Tsunayoshi o jovem herdeiro da imperiosa Vongola; muitos se perguntavam se aquele rapaz de simples dezesseis anos conseguiria, verdadeiramente, liderar uma empresa - por que as vistas da sociedade era isso que a Vongola era - de porte tão grande e de impacto mundial na atualidade, mas ao ver o carisma, a serenidade e a bondade daquele jovem japonês não havia quem não se rendesse aos encantos deste. A face delicada e jovial, o corpo firme e a segurança diante de cada passo que dava... Tudo contribuía para a adoração infundada que todos tinham por aquele menino que somente haviam ouvido falar sobre. Ele era incomum e atraente, e, por deus, não havia uma dama que não caia de amores pelo jovem herdeiro, nem mesmo homens eram isentos da sedução daquela aura angelical.

E de súbito este cessara seus passos e junto aos mesmos a melodia nipônica que sussurrava; fitou pensativo a vitrine onde letras negras e ensanguentadas apresentavam uma loja de tatuagens. A fachada era simples e se o menino não estivesse realmente prestando atenção nos arredores - por que o jovem Sawada tinha plena consciência de toda a atenção que estava a receber - aquela simples construção teria lhe passado despercebida. Passou suas orbes castanho douradas pelos desenhos bem feitos que enfeitavam a vitrine, isso antes de resolver adentrar no estabelecimento, claro que certificando-se de que nenhum guarda-costas super-protetor o estava seguindo naquele instante - não que ele se importasse com os mesmo de modo geral, mas havia momentos em que gostava de pregar uma peça nos homens apenas para divertir-se vendo os mesmos procurá-lo quase desesperadamente; isso era apenas uma de suas artimanhas para diversão desde que descobrira sobre... Tudo.

– Seja bem... - e assim a moça de tatuagens e piercings arregalou os olhos logo quando seu olhar decaiu sobre a figura que passava o olhar por todos os desenhos bem feitos, surpreendendo-se com os detalhes que alguns possuíam. - Bem vindo. - gaguejou-a, após sair do torpor ao identificar a figura tão conhecida que adentrara em seu humilde espaço de trabalho.

– Olá. - o Don sorriu branco para a moça, uma mulher jovem, de aparentes vinte anos, seu cabelos rosa com azul estava preso em um rabo de cavalo com tranças e a franja de cores divididas caia perfeitamente reta sobre a testa, destacando os olhos verde oliva. O castanho também não pode deixar de notar os piercings que a mulher possuía sendo três em cada orelha, uma simples argola no lábio inferior e havia pontinhos prateados que destacavam-se na clavícula, estes que o Don concluiu ser alguma espécie de piercing da moda feminina; a mulher trajava nada mais que um tomara-que-caia rosa com preto, uma saia preta com pregas e camadas coloridas, e um par de botas negras, as quais o Sawada jurou serem bastante pesadas; e mesmo diante de tudo a garota parecia normal aos olhos do castanho, vira figuras com visuais muito diferenciados em sua curta estadia na máfia, aquela mulher era nada menos do que uma beleza exótica para o futuro Don.

– Eu... - gaguejou-a não sabendo como atender a aquele tipo de cliente, era peso demais para seu simples cargo de atendente.

– Luna por que todo esse silêncio? - fora um outro rapaz quem surgira por detrás da cortina que havia um pouco mais ao fundo da loja, e então os olhos escarlates do homem encontraram a figura que passava o olhar pelos desenhos expostos no balcão.

– Chefe. - sussurrou-a, as mãos tremendo, tamanho medo de cometer qualquer tipo de erro frente a aquela pessoa tão importante.

– Quando ele... Entrou? - sussurrou o homem para a rosada puxando a franja esverdeada para misturar-se ao restante dos fios negros de seu curto cabelo bagunçado; de súbito o nervosismo apossara-se de si enquanto, ao mesmo tempo, questionava-se por que um Vongola, logo o herdeiro, adentrara em sua humilde loja. E, ao não obter nenhuma resposta de sua atendente, resolvera voltar-se ao menor. - O que traria o herdeiro Vongola a minha humilde loja? - questionou-se, ao se aproximar do castanho que folheava uma pasta com mais desenhos, tal pasta que encontrava-se sobre o balcão vítreo poucos minutos atrás.

E então o menino olhou para o homem. Jaqueta de couro com uma camiseta branca rasgada por baixo, um jeans rasgado, botas de couro misturadas com metal, cabelos bicolores tal como a mulher de antes, piercings em algumas partes da face, tatuagens cobrindo toda pele exposta, olhos em um tom exótico, um sorriso tenso nos lábios e uma aproximação de presença sutil e sem qualquer ameaça, somente... Adoração, o que de fato ainda inquietava um pouco o adolescente que a muito acostumara-se com a hostilidade das pessoas para consigo onde morava.

– Eu estava pensando... - sussurrou mais para si do que para o homem um pouco afastado. - O que acha desta, nas costas? - e então mostrou o grande desenho da coroa de sete rosas, sendo a central a maior, as pistolas despontando em direções opostas enquanto ao centro uma cruz de Ankh era envolvida pelas vinhas espinhosas das flores; a tatuagem em si exalava beleza e ferocidade enquanto, ao mesmo tempo simbolizava a vida eterna.

– Oh. - surpreenderam-se ambos os residentes da loja ante aquela pergunta tão repentina. Será que aquele menino desejava macular sua pele com algo tão... Doloroso, mas, se assim era o desejo do mesmo, não havia como nem por que dizer não a aquele jovem. - Ficaria magnifico em você Senhor Vongola.

– Me chame de Tsuna. - sorriu, e seu italiano nunca fora tão impecável quanto naquele momento. - E eu gostaria de fazer esta nas minhas costas, ainda hoje, se possível.

O homem piscou, não havia realmente nenhum cliente marcado para aquele dia - e mesmo que houvesse, pelo futuro Don Vongola ele desmarcaria o que fosse necessário pra atendê-lo - então não haveria motivos em negar aquele cliente tão especial.

– Será um prazer atendê-lo, Senhor Tsuna. - sorriu-o, já acenando para sua atendente segui-lo a fim de poderem preparar tudo para dar inicio ao procedimento, só sairia dali quando seu cliente estivesse satisfeito com seu pedido.

(...)

Domingo, 03 de Agosto de 2024, 16:59 PM

Localização: Roma, Itália Mansão Vongola.

Nota: Um sorriso carregado de lágrimas.

Piscou diante da figura translucida a sua frente. Os olhos azuis brilhavam enquanto este lhe estendia uma carta inesperada, e ao esticar a mão para tomar o envelope pode constatar a chama dourada que tremeluzia sob o belo e único anel Vongola, fora questão de segundos após a carta encontrar-se nas mãos do Don que a chama desaparecera e, junto a mesma, a figura translucida de Vongola Primo.

Curioso trouxe o envelope para mais próximo, analisando o papel simples dobrado em suas mãos magras. Não fazia a mínima ideia de quem poderia ter lhe enviado aquela carta, e muito menos por que logo Primo estava com a mesma e isso, o fato de o remetente ser desconhecido, apenas desconcertava o jovem Décimo sobre a ideia de abrir ou não o envelope. O que poderia ser? De quem poderia ser?

E só então a ficha pareceu cair para si depois de longos minutos reflexivos. Erguendo-se de forma brusca de sua poltrona no escritório o homem de cabelos castanhos apressou-se em abrir a carta e ler o que lhe era informado. Cada palavra lhe deixava com um nó na garganta, as lágrimas acumulavam-se nos cantos de seus olhos e todas as emoções que mostravam-se obrigaram o jovem chefe a apoiar-se em sua mesa de trabalho; o sorriso espalhado em seus lábios nunca antes fora tão verdadeiro.

Levando a carta ao peito enquanto ainda mantinha seu apoio sobre a mesa o homem permitiu que suas lágrimas escorressem por sua face cansada; depois de tudo o que passara, depois de todos aqueles anos de sofrimentos, depois de tudo, o futuro teria uma nova chance, ele mudaria mais uma vez; e desta vez Tsunayoshi queria garantir que não haveria erros de sua parte. E imerso em sua pequena utopia sangrenta o castanho não notara a porta de seus escritório, agora, entreaberta, um único olho achocolatado fitava o Don expressar-se tão singela e, ao mesmo tempo, dolorosamente; era magnifico e assustador de se presenciar, e Yamamoto Takeshi estava tão assustado e concentrado em seu patrão que mal notou a aproximação da Nuvem solitária.

Hibari lhe puxara pelo ombro antes de tornar a fechar, silenciosamente, a porta do escritório de seu suposto chefe, isso antes de voltar seus analíticos olhos do mais frio metal para a Chuva ainda aturdida. Fora um choque para o espadachim ver aquela face logo em seu chefe, uma face que há muito não presenciava e que, somente naquele momento, dera-se conta disso.

– Herbívoro. - fora a voz baixa e calma de Kyoya quem chamara a atenção de Takeshi, despertando-o de suposições as quais nunca chegou a ter. - Esqueça o que viu. - informou por fim, depositando um aperto forte no ombro do portador do anel da Chuva Vongola, um alerta silencioso de que não deveria tocar no assunto ou se quer pensar a respeito do mesmo, isso antes de partir novamente, desaparecendo em uma das diversas portas que haviam o extenso corredor enfeitado por grandes janelas de cortinas cor de sangue, tudo sob o olhar confuso de Yamamoto.

Baixando o olhar, Takeshi vira o brilho suave de suas chamas acesas sob a bela peça que carregava em seu dedo anelar, não estava fazendo aquilo então como era possível que o anel acendesse sozinho? Talvez, se erguesse a cabeça e levasse o olhar a janela que havia poucos metros a sua frente, avistasse alguém muito semelhante a si o fitando com um olhar compassivo e tendo um sorriso de compreensão e apoio. O espirito sabia que mais do que nunca, agora, aquele jovem precisava de força para tudo o que iria vir a seguir, seu futuro ainda guardava muitas dores e tormentos, e não apenas o seu, mas o de todos que o cercavam, principalmente Tsunayoshi. Mas apesar de tudo Asari Ugetsu tinha a certeza de que seu sucessor suportaria o que quer que fosse jogado para si, e ele lutaria com todas as suas forças para manter a Vongola unida e forte, mas acima de tudo, ele daria sua vida pelo seu chefe, da mesma forma em que o próprio Ugetsu havia feito a muitos anos atrás, por que a fidelidade da Chuva era tão única e sincera quanto a de qualquer outro elemento.

(...)

Segunda-feira, 04 de Agosto de 2024, 13:21 PM

Localização: Roma, Itália Mansão Vongola.

Nota: É mentira, o tempo não cicatriza porra nenhuma.

Cerrou o olhar em direção a grande mansão onde o caos se espalhava. Era um espectador de todo aquele sangue derramado e, ao mesmo tempo, era o mestre de todas aquelas marionetes que sucumbiam ante o poder descomunal do grande e valoroso Décimo Vongola. Sawada Tsunayoshi estava muito mais forte do que poderia imaginar, mas isso não o impediria de seguir com seus planos, sua doce vingança, pois também estava forte. Enma treinara e dedicara tudo de si em todos esses longos anos para poder destruir seu inimigo, o inimigo de sua família, o primeiro passo fora tirar Adelheid da prisão gélida de Vindicare, o segundo passo o menino já havia posto em prática, testando a força e as falhas da Vongola com peões fracos e descartáveis; e a Famiglia Scuro se encaixava mais do que perfeitamente em tal papel.

Facilmente um sorriso cruel se espalhou pelos lábios finos do ruivo sentado sob o galho de uma árvore qualquer que havia ao fim da floresta nos terrenos Vongola. O campo aberto do jardim, mesmo com alguma roseiras ocupando parte do espaço, lhe dava uma visão quase privilegiada de tudo o que ocorria.

Frente a todos Tsunayoshi enfrentava Raphael Belicardo, chefe da Famiglia Scuro que recém fora expulsa da Itália e da aliança Vongola; próximo ao Céu Vongola, uma mulher de curtos cabelos negros - Kurokawa Hana, como o ruivo identificara - disparava tiros e desviava daqueles que investiam contra si; junto a mesma uma ruiva, que facilmente o Shimon identificou como a jovem moça que seu Guardião da Floresta deflorou e quase assassinou, Sasagawa Kyoko, se bem lembrava o nome, lutava com um bastão longo. Era patético ver aquela luta tão desequilibrada, e pensar que um par de menininhas e o Décimo seria o suficiente para destruir aqueles considerados o melhores e mais promissores da Scuro, ao menos a Shimon não estava perdendo, pelo contrário, ganhando com tudo aquilo.

E por alguns segundos a face sorridente se transformara num branco papel enquanto as orbes carmins fitavam a grama verme alguns metros abaixo. Seu peito doía, latejava e pulsava de uma forma que o ruivo só sentiu quando presenciou a morte dos pais e da irmã, e teve de enterrá-los. De onde vinha aquilo?, não sabia dizer, mas vinha, veio, e se instalou dentro de si, causando arrepios que o Kozato não queria sentir. Ele não queria sentir aquilo, por que de alguma forma ele sabia que ligavam-se todos a Tsunayoshi, e Enma não queria nada daquele homem em si, nenhum sentimento ou pensamento, tudo o que desejava ter para com o Don Vongola era o ódio infinito que insistia em nutrir e fazia questão de todos os dias lembrar-se do assassinato de sua família, e de que fora esse rapaz que roubara sua vingança, que roubara suas chances e o futuro de seus amigos mais preciosos. Apertou forte os punhos não querendo mais pensar no castanho e no mal que o mesmo trazia para si, tudo o que precisava agora era vê-lo sofrer, e pagar por todo crime que cometeu.

Em seu momento de distração o ruivo não chegou a ver, mas ouvira o grito aterrador que cortara seu silêncio reflexivo, e ao erguer o olhar vira a ruiva furiosa em batalha, arrancando a vida de quaisquer inimigos que se atrevessem a entrar em sua frente, lágrimas agoniadas escorriam por sua face enquanto a mesma recebia cobertura de alguns homens de terno que serviam a Vongola; metros atrás da mulher furiosa Tsunayoshi encontrava-se pálido e tremendo, como o ruivo tanto desejava ver, o pânico era proeminente na face do Don paralisado, mesmo a chama dourada em sua testa deixara de brilhar; ao chão frene a Tsunayoshi um outro homem de cabelos brancos se encontrava curvado sobre um corpo que o Kozato identificou como Hana. A mulher estava morta, e tudo indicava que fora por culpa do Sawada. Os gritos agoniados do Guardião do Sol ecoavam em puro pesar, de onde o homem surgira Enma não sabia, ficara distraído por segundos, mas Ryohei surgira e presenciara a amada sucumbir e desfalecer em seus braços; os gritos do mais velho unidos aos sons da batalha eram apenas musica em seus ouvidos treinados, e o melhor de tudo eram as lágrimas do tão amado Don Vongola.

A gargalhada que o ruivo soltara fora de puro êxtase e agrado, e junto a gargalhada do homem de cabelos vermelhos o grito do chefe Vongola ecoou, sofrido, dolorido, amargurado... E logo após uma luz tomara toda a visão do ruivo, encobrindo toda a área com um calor e amabilidade que eram tão conhecidos pelo Kozato. Trincou o maxilar constatando que o castanho era quem produzia aquilo, tudo aquilo, um ataque de proporções inimagináveis, um ataque cujo dano Enma temia; por que aquilo não parecia ser algo que pudesse ser parado, mesmo por suas Chamas da Terra em seu auge. E quando a luz sumira tudo o que o ruivo pudera contemplar fora um jardim absolutamente destruído onde os membros da Vongola se erguiam surpresos e assustados, cada um carregando algum tipo de ferimento enquanto todos os inimigos encontravam-se paralisados, petrificados, ante a descarga de todas aquelas puras chamas celestes. Nunca um poder tão grande fora presenciado antes, e esta fora a vez do Shimon gritar e grunhir em raiva e ódio antes de descer de seu lugar e ir embora, desaparecendo como se nunca houvesse estado lá.

(...)

Terça-feira, 04 de Agosto de 2014, 18:20 PM

Localização: Desconhecida.

Nota: Às vezes você faz escolhas na vida, e as vezes as escolhas fazem você.

Silêncio. Era isso a única companhia do ruivo no momento, isso e também o seu desejo puro e cru de vingança, e cada vez que aquelas cenas se repetiam em sua mente, cada vez que os gritos agoniados da sua irmã, o choro, as vozes de seus pais e os pedidos de misericórdia para com as crianças... Tudo isso se misturava arrancando o ar e a pouca sanidade que ainda habitavam a mente do adolescente. Pior de tudo talvez não fossem as memórias que estavam marcadas a ferro em sua mente, talvez se quer fosse os olhos azuis brilhantes que ainda teimavam em lhe assombrar, os fios loiros do invasor e assassino; talvez o que mais destruísse aquele jovem fosse o fato de se sentir – e de ter sido – um inútil perante a necessidade das pessoas mais importantes para si. Ouviu os próprios pais serem assassinados, e em seus braços viu a vida abandonar o infantil e ferido corpo da sua pequena irmã, de Mammi.

Fungou, engolindo as lágrimas e o nó que formava-se em sua garganta. Não choraria, ao podia... Não agora, quando concluísse sua vingança o faria, tanto quanto achasse necessário, isto é, se sobrevivesse ao que quer que estivesse por vir, afinal o inimigo agora não era somente um homem, se assim o fosse este já estaria morto há muito tempo. Não, Juli – seu Guardião do Deserto – descobrira muito mais, mais do que poderia imaginar, e talvez até mais do que poderia alcançar.

E assim tomou uma respiração profunda, acalmando o coração latejante em sua caixa torácica. Desviando o olhar da parede de pedra a sua frente, o adolescente levou a mão a face marcada pelo cansaço, as olheiras mais do que nunca destacavam-se sob a pele clara; puxou os cabelos rubros para trás num ato que buscava afastar as memórias e o cansaço, com outra respiração profunda e calma devolveu a mão ao braço do trono de pedra ao qual encontrava-se sentado já há algumas horas.

Manteve o olhar sobre a parede de pedra rachada que estava a sua frente, não havia mais nada naquele local que pudesse chamar sua atenção, exceto – talvez – pelo anel pesado que carregava em seu dedo anelar. O material escuro que segurava firmemente uma pedra amarronzada onde tentáculos escamosos agarravam-se como vinhas grotescas. Era algo único, admitia, e muito além disso, aquilo era uma herança há muito perdida; Kozato Enma tinha a plena certeza de que tal peça deveria valer milhões sozinha e, junto com seu conjunto original – o qual encontrava-se cada um nas mãos daqueles aos quais o adolescente confiava a vida e juntos formavam uma Famiglia – possuíam um valor inestimável, talvez não tanto quanto seus irmãos, mas ainda sim um valor quase incalculável.

Sentiu a peça esquentar, o desejo de vingança alimentava o poder que residia naquela relíquia e o ruivo arrepiou-se pela ânsia de uma batalha, uma ânsia que a custo mantinha sob controle, em breve poderia saná-la, sabia disso, por isso a restringia tão bem.

Fora ao desviar o olhar que avistou sua formosa Guardiã da Geleira parada a soleira da porta pedregosa, o fitando muda. Sentia a preocupação da mulher que a tanto custo cuidara de si naqueles dias sombrios, devia tanto a ela.

– Enma. - a voz ecoara pelo grande salão de poucas, ou quase nenhuma, janelas. - Chegou uma carta... - completou erguendo o envelope branco e um tanto pesado demais para ser simplesmente papel, aproximou-se do ruivo e não tardou a entregar a este a carta.

Uma simples carta pouco importaria para o Kozato, mas o símbolo de tinta vermelha que condecorava aquele simples envelope fora o bastante para que o adolescente cerrasse o olhar para o papel. Com cuidado excessivo abriu e retirou o elegante convite ali contido, arregalando exorbitantemente os olhos quando passara os olhos pela mensagem.

Silenciosamente um sorriso arrastou-se por seus lábios enquanto ainda mantinha o papel elegante em mãos, este que logo fora abaixado para que o ruivo fitasse sua preciosa Guardiã.

– Enma? - fora o questionamento da morena de olhos scarlets ao ver o sorriso que seu suposto patrão esbanjava. Por mais que Adelheid não quisesse admitir, havia crueldade ali, e por mais que seus inimigos mereçam pagar pelo que fizeram, não somente ao jovem Kozato, Adelheid Suzuki não tinha certeza se valia a pena ver o ruivo perder sua inocência para uma vingança tão... Obscura. Ela sabia que o ruivo precisava daquilo, que muitos que constituíam a Shimon precisavam daquela vingança concretizada, mas a mulher tinha consciência de que, mesmo que completassem aquela loucura, todos os que morreram não seriam trazidos de volta. Talvez se quer Cozart Shimon estivesse a aprovar aquilo, de onde quer que o fundador estivesse.

– Nosso plano precisará de algumas modificações. - afirmou o adolescente num murmúrio. - Não vamos atacá-los de frente. - e então o sorriso alargara-se a um nível que Adelheid jurou ser de insanidade. - Vamos pegá-los bem no centro de seu ego... - e as chamas brilharam nas orbes carmins do ruivo. - Vamos matar Vongola Décimo.


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Notas finais do capítulo

E então, ainda tem alguém por aqui disposto a comentar? *O*.
Alguém? Algum comentário?
Bom, para que quem quer que esteja lendo isso saiba, eu estou demorando em tudo por que estou sem pc, desculpa, mas não é minha culpa.
Bye, Lady.
Ps: foram exatos 8 meses e 27 dias de atraso, então não me culpem por que há quem demore mais, muito mais. Quem lê fanfics no fanfiction.net sabe disso.



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