Ciclo Vicioso escrita por Lady


Capítulo 6
Silêncio.


Notas iniciais do capítulo

Demorou mais saiu, hohoho.
Sinto muito pela demora excessiva, eu pretendia postar o capitulo no começo do ano, mais ocorreu alguns imprevistos.
Enfim, espero que gostem do capitulo, boa leitura.



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Ato I

Silêncio.

 

~~

 

Terça-feira, 05 de Agosto de 2024, 14:08 AM

Localização: Roma, Itália – Mansão Vongola.

Nota: A jornada não acaba aqui. A morte é apenas outro caminho que todos temos que tomar.

 

Engoliu em seco antes de bater na porta do escritório de seu chefe, Tsunayoshi nunca estava ocupado para seus amigos, sabia disso, entretanto o assunto que queria abordar com o amigo era algo pessoal demais, talvez sequer tivesse o direito para aquilo, mas ele parecia estar sofrendo de alguma forma e que tipo de amigo e Guardião seria se não tentasse ajudá-lo. Adentrou silencioso quando o castanho pedira e, fechando a porta com ainda mais silencio, aproximou-se da mesa de seu chefe e amigo.

O Sawada nunca parecera tão atarefado quanto naquele momento e já se arrependia do que indagaria; e quando o castanho erguera o olhar pode contemplar as olheiras rasas que marcavam a pele claro, o sorriso nos lábios do mesmo tornara-se tenso e frágil e Takeshi já estava pensando em outro assunto para tratar com o homem, qualquer coisa que tirassem aquele sorriso doloroso dos lábios do mesmo; todavia fora pego de surpresa pela seguinte fala do moreno.

— Takeshi... – murmurara o Don. – Eu... Estava mesmo querendo falar com você.

E fora a vez do espadachim abrir um sorriso tenso, duvidoso do que seu superior queria tratar consigo.

— Sim... Aconteceu algo, Tsuna? – indagou, sorrindo.

Veio um suspiro e mais do que nunca Takeshi Yamamoto temeu o que seria dito a seguir. Viu o amigo se erguer de seu lugar atrás da mesa e seguir para o seu lado, depositando uma mão sobre seu ombro o levou a um dos sofás que havia mais ao canto, o fazendo sentar-se; tudo sobre o olhar questionador e curioso do Guardião da Chuva.

— Seu pai. – pronunciara inicialmente o castanho, e o moreno já sentira a bile subir a garganta. Não poderia ser o que estava pensando, certo? – Seu pai foi assassinado Takeshi. – sussurrara o moreno. – Tudo indica que foi a arma de Kaoro Mizuko que o ferira mortalmente. – e assim o aperto sobre o ombro do espadachim tornara-se mais forte, o Sawada já podia ver as lágrimas acumularem-se no canto dos olhos do amigo de infância. – Tentaram socorrê-lo, mas ele morreu a caminho do hospital. – informou ao fim. – Sinto muito. – murmurara passando um dos braços sobre os ombros trêmulos do mais alto.

Em seu pequeno momento eles não haviam notado a figura pequena que esgueirava-se pelas brechas da porta, o cabelos negro encaracolado decaindo um pouco sobre os olhos, ouvira o que fora dito pelo seu chefe e irmão mais velho, não era justo que ele houvesse morrido, era um homem bom.

— Lambo-chan. – a vos doce de Chrome o despertara de devaneios, e apesar de tudo a imagem sôfrega de um de seus irmãos sofrendo ainda estava impregnada em sua mente. As lágrimas mostraram-se no canto de seus olhos, estas que a Dokuro secara com carinho. – Esta tudo bem Lambo-chan. – abraçara-o. – Vai ficar tudo bem. – e com isso o levara para calmamente para longe dali.

— Só, não é justo. – murmurara o adolescente com fungados.

— Nem tudo nessa vida é justo, jovem Bovino. – fora a voz de Mukuro quem o chamara em seguida, para logo depositar a mão sobre os fios negros, bagunçando-os. – Um dia aprende a conviver com isso.

 

(...)

 

Quarta-feira, 12 de Agosto de 2014, 11:01 AM

Localização: Roma, Itália – Mansão Vongola.

Nota: Há uma razão por trás de cada ato, pensamento e sentimento.

 

Os passos silenciosos e apressados seguiam pelo corredor, dobrara a direita, parando apenas quando deparara-se com seu futuro chefe, o jovem herdeiro, Tsunayoshi Sawada. O porque de ele estar ali, não sabia, entretanto a pouca intuição que desenvolvera nos anos trabalhando e dedicando-se a Vongola, indicava que era algo que o castanho queria tratar consigo.

Engoliu em seco.

— Décimo. – fizera uma mensura em respeito ao mais jovem, mais do que nunca deveria ser respeitosa ao mesmo e conquistar sua confiança, ainda mais depois de tudo o que ouvira na ultima reunião. – Deseja algo? – indagou baixo, seu olhar se encontrando com as orbes douradas quase a fizeram tremer. O menino acenou, talvez não para si, ainda mais quando a figura pequena de cabelos num corte peculiar surgira logo atrás do adolescente.

— Suas atividades para com a Vongola estarão suspensas até segunda ordem. – informou-o fazendo sinal para que Chrome. – Assuntos a respeito da Cervello deveram passar para Chrome para, em seguida, serem mandadas a Coyote que passará as devidas informações ao Nono. – a mulher engoliu em seco. – Cervello estará sob investigação restrita da minha Guardiã e, gostaria de ressaltar, em breve sua lealdade será posta a prova. – cerrou o olhar para a mulher antes de dar as costas a mesma. – Creio que não esteja pedindo muito, ainda mais se for para atestar sua real lealdade para comigo e com a Famiglia.

A mulher mascarada tomou uma respiração profunda, mesmo não querendo ser posta sob investigação, compreendia as ações do adolescente e sabia bem que o mesmo só não as estava banindo – ou mesmo sentenciando-as a morte – devido a seu respeito por Nono, por que, Louise sabia, se fosse Xanxus no lugar do jovem castanho, todas as mulheres Cervello já teriam encontrado seu fim  há anos. Acenou em aceitação a tudo o que lhe fora dito, acataria cada ordem com devida precisão e, junto a Dokuro, iria o mais profundo possível naquele assunto e descobriria quem ousava tentar corromper o motivo de todo seu orgulho.

Só sob seu cadáver que a Cervello trairia a Vongola, isso era uma certeza.

 

(...)

 

Quarta-feira, 12 de Agosto de 2014, 11:01 AM

Localização: Suíça.

Nota: Eu queria que você tivesse ouvido meu grito de socorro; silencioso, frio, impiedoso... Como um agouro de morte.

 

Tamborilou os dedos sobre a mesa de mogno, nunca esteve tão intrigado em toda sua vida, e Bermuda Von Vichteinstein já vivera o suficiente para ter a certeza de nunca ser pego de surpresa, ou mesmo pego em um jogo estúpido devido a sua curiosidade. Mas ali estava Tsunayoshi Di Vongola – vulgo, Sawada Tsunayoshi – lhe propondo a libertação de um dos mais perigosos criminosos do mundo da máfia alegando que o mesmo será de grande utilidade na quebra da maldição dos Arcobalenos.

— E como pretende quebrar a maldição, Sawada Tsunayoshi? – questionou, o chefe Vindice possuía algum interesse em como o adolescente faria aquilo, não que ele realmente acreditasse que o jovem Don poderia realmente quebrar uma maldição que se estendia ceifando vidas século após século, e isso já se repetia há milênios.

Cerrou o olhar diante do sorriso branco que lhe fora devolvido. Era um sorriso tão verdadeiramente falso que, se seu corpo não passasse de um cadáver a mais de séculos, o homem teria sentido sua bile subir a garganta em puro enjôo; e tal ato trouxe uma nova questão à mente do velho Vindice: o que aconteceu a Tsunayoshi, porque o menino carregava aquele sorriso tão inescrupulosamente falso?

— É um segredo, para falar a verdade, será exigido algum trabalho e procura pelas pessoas certas; mas com a libertação do Mukuro e com sua ajuda, é claro, garanto-lhe que a maldição poderá ser quebrada. – garantiu o mais jovem, desviando o olhar do bebê enfaixado para fixar suas orbes douradas no Pacifier transparente que repousava inerte agarrado a uma corrente que envolvia o fino pescoço de Bermuda. – Eu gostaria de uma resposta o mais breve possível, Bermuda, o tempo está correndo e eu ainda tenho muito a fazer, com referencia a outros assuntos é claro. – informou passando uma das mãos por seus cabelos castanhos desgrenhados e fora nesse singelo ato, diante de um simples retrocesso da manga de seu terno, que o bebê pode contemplar as faixas que envolviam o pulso fino do adolescente; o que poderia ser aquilo?, questionou-se mudo. E então veio o silencio, tão frio quanto à nevasca que assolava os picos montanhosos naquela época do ano. A figura jovial podia ver que o jovem herdeiro observava, curioso, os arredores do cômodo, afinal, ele era a primeira pessoa que adentrava em Vindicare sem que fosse para ser preso para todo o sempre, ou por um período bastante longo de tempo.

Sim, ele estava curioso sobre como seria quebrada a maldição, sobre quem mais seria necessário para isso, e, ainda mais curioso, sobre o que o adolescente carregava por debaixo das ataduras em seus braços e o porquê daquilo; mas anos de pratica ensinaram o Vichteinstein a saber se conter, ou, ao menos, dar-lhe paciência o suficiente para esperar, por que o tempo sempre tratava de revelar segredos, principalmente os mais obscuros e bem guardados.

— Tudo bem então, Tsunayoshi. – e rapidamente o castanho voltara-se para a figura pequena sobre a mesa de mogno. – Rokudo Mukuro será liberto e estará sob sua custodia, por enquanto. – anunciou. – Quanto ao que nós, Vindices, precisamos fazer para a conclusão deste plano...

— Obrigado. – o mais jovem sorriu, fora outro sorriso falso, um sorriso que fizera o Vindice Major questionar a sanidade do adolescente a sua frente. – Realmente aprecio a sua ajuda. – completou, deslizando uma nota alaranjada de um bolso interno de seu terno fino, isso antes de estender o papel lavanda para o bebê. – Preciso que encontre essas duas pessoas, Talbot com toda certeza será fácil, mas Kawahira já é outro assunto, ele muda muito de lugar e usa um Anel da Nevoa muito poderoso. – complementou. – E antes que pergunte, esse homem, Kawahira, é aquele que os Arcobalenos conhecem normalmente como ‘ChakerFace’. – e com tal conclusão do líder de Vindicare arregalou seus pequenos olhos infantis, queria questionar o menino sobre aquela informação, mas um olhar naqueles olhos dourados distantes fora o suficiente para que Bermuda compreendesse que aquilo era história para outro dia.

— Tudo bem. – sussurrou, tomando a nota entre os dedos pequenos enquanto via o adolescente erguer-se. Guardou a nota em um bolso escondido entre suas vestes, isso antes de flutuar para cima da cabeça do adolescente, acomodar-se sobre os fios castanhos macios e desgrenhados, com a certeza de que poderia ficar ali para sempre de tão macios e sedosos que eram os fios acastanhados, e então tornou a guiar o jovem Don Vongola por entre os corredores escuros e tenebrosos da prisão mais temida de todo submundo da máfia, isso apenas com o intuito de libertar o pior e mais perigoso prisioneiro que já residiu nas prisões submersas.

 

(...)

 

Segunda-feira, 17 de Agosto de 2014, 07:13 AM

Localização: Namimori, Japão.

Nota: Moça, seus olhos trazem solidão.

 

Cerrou o olhar para a figura feminina, os cabelos negros longos - presos num rabo de cavalo – dançavam a brisa que fazia-se presente, franziu a testa, e mesmo repudiando tal ato, quase arregalou os olhos em surpresa quando Reborn os informara que a morena – que em algum momento se apresentou como Suzuki Adelheid – junto ao grupo de herbívoros tinham sido transferidos para Nami-chuu devido a um terremoto ocorrido no local – ilha – onde habitavam e também devido a tal Cerimônia de Herança que seria realizada o mais breve possível.

Engoliu a surpresa e o sorriso de orgulho que tentou mostrar presença, ele era a Nuvem distante e o infame demônio de Namimori, mostrar emoções tão publicamente era coisa para herbívoros e não para o carnívoro que Hibari era. Ignorando o dialogo e lançando o olhar atroz – mais ainda sim cheio de significados - ao jovem chefe Vongola, este que devolveu tal olhar com um aceno discreto e mudo, e com tantas especificações que Kyoya mal conteve o orgulho borbulhante no peito.

Em minutos viu todos saírem seguindo para suas salas – ao menos era isso que o moreno esperava, senão, mais herbívoros para morder até a morte – e quando o último restou o prefeito deixou seu olhar fixar-se nas orbes carmins da mulher que lhe desafiara vendo ali, não um outro desafio nem uma ferocidade quase palpável – como fora tão presente no duelo -, mas a emoção com que o moreno deparara-se fora na verdade tristeza, dor e arrependimento; foram míseros e imaculados segundos para que tudo aquilo desaparecesse no mar vermelho brilhante de pura ferocidade segura por um autocontrole férreo, e assim a mulher deu as costas, a barra da saia curta ondulou alto deixando parte de suas roupas intimas a mostra, logo a mulher não se encontrava mais a vista do disciplinador e a porta metálica bateu.

Kyoya limitou-se a ficar em seu lugar ao parapeito do prédio, observando o vazio que se instalava por toda área do pátio que avistava, mas momento algum aquele olhar arrependido deixou sua mente.

Porque ela o olhara daquela forma? Questionou-se.

— Tão... – rosnou baixo. – Herbívora.

 

(...)

 

Quinta-feira, 07 de Agosto de 2024, 23:43 PM

Localização: Roma, Itália – Mansão Vongola.

Nota: Expectativas são decepções esperando para acontecer.

 

Estava em seu escritório, a noite caia tranqüila e logo seria hora do jantar; a chegada de sua mãe era prevista para ainda naquele dia, e só desejava que ela chegasse um pouco mais cedo do que na missão anterior que recebera. Realmente, ser acordado de madrugada para ler o relatório de sua mãe após a mesma tê-lo o feito após tomar duas dúzias de xícaras de café extremamente forte, não era algo lá tão agradável assim.  Na verdade, ser acordado pela madrugada já era, em si só, um desconforto para o jovem Don.

Suspirou antes de depositar outra folha sobre a pilha que se erguia a direita, e assim pegar uma das ultimas da pilha da esquerda, estava quase finalizando seu trabalho, só mais uma ou duas folhas e teria terminado a papelada da semana e assim teria tempo para um descanso propriamente dito, ou talvez um pouco de treino descontraído... E pagar uma luta que devia a Kyoya também, sabe-se lá o quão ansioso por essa luta o Guardião da Nuvem estava. Sem contar que na manhã seguinte deveriam pegar um vôo a Namimori onde seria realizado o enterro de Hana, Kyoko já havia viajado com Ryohei e Bianchi, Hayato cuidava de alguns últimos preparativos e o restante dos Guardiões mantinham-se em alerta desde a fuga da Shimon.

Massageou as têmporas diante de todos os recentes acontecimentos, estava exausto, tanto física quanto mentalmente; e tudo só parecia piorar quando seus pulsos coçavam e sua mente desejava ardentemente por um calmante, ou qualquer coisa mais forte; era nesses momentos que odiava o fato de bebidas alcoólicas não fazerem qualquer efeito sobre si, senão, a esta hora já encontrar-se-ia embriagado até a ultima garrafa de vinho do estoque.

Conteve um suspiro quando batias ecoaram pelo cômodo.

— Entre. – a voz soara baixa, mas ainda fora alta o suficiente para quem quer que estivesse do outro lado ouvir. E logo a cabeleira castanha longa mostrou-se com um sorriso fácil e doce nos lábios, mais atrás de Nana, Talbot seguia com um sorriso desdentado e parcialmente curioso pelo chamado.

O assunto tratado com o velho não era algo de extremo sigilo, por isso a mulher ainda permanecera no cômodo enquanto seu filho e chefe discutia o porque de o homem ter de ser mantido na Vongola por tempo indeterminado, a Shimon era um perigo com o qual não dever-se-iam baixar a guarda, a morte de Hana Kurokawa era mais do que prova disso. Ao fim o velho havia cedido, não queria ter a vida ceifada logo naquele momento em que encontrara um Herdeiro Vongola tão interessante quanto o fundador; e com um sorriso, um pouco mais largo do que usara ao entrar na sala, o velho despediu-se, saindo dali com a castanha logo atrás de si, esta que o levaria a seu atual laboratório no interior e nas profundezas da mansão italiana.

Voltando-se para seus documentos Tsunayoshi não pode deixar de pensar em como tudo poderia ser diferente, ou melhor, em como tudo um dia seria diferente. Seu eu do passado mudaria tudo, ele tinha certeza, já havia feito algo como aquilo uma vez; o futuro já havia sido mudado uma vez, Byakuran e Uni eram a prova viva disso, e, se agora, o futuro necessitava de uma nova mudança, um novo rumo, ninguém melhor do que ele própria – apenas mais jovem – para assim providenciar isso; e erguendo o olhar para a figura quieta ao canto da sala o Chefe tinha certeza de que estava mais certo do que nunca antes, o Giotto o estava apoiando naquela decisão mais do que em qualquer outra que chegou a ter.

Ao assinar a ultima folha o castanho permitiu-se esticar os músculos retesados. Saira do escritório em passos rápidos que seguiam para seu aposento particular, um bom banho e estaria pronto para jantar com seus Guardiões, sua mãe, seu tutor e o velho Talbot, isso é, se ele decidisse assim se juntar a todos. Entretanto em seu caminho para o quarto, uma mão agarrara-lhe pelo braço e o puxara para um dos diversos cômodos que havia naquele corredor longo. Não poderia ser nenhum inimigo, sua intuição o avisaria, todavia quando seus olhos cor de mel encontraram-se com a negritude solene dos olhos do Maior Hitman do Mundo, Tsunayoshi nunca desejou tanto que um inimigo o houvesse encontrado e encurralado ao invés de seu ex-Tutor sádico que, ultimamente o estava levando a loucura.

Passou a língua pelos lábios secos, disfarçando da melhor forma que pode o nervosismo.

— Reborn. – sussurrara antes de passar o olhar pelo cômodo e identificar, com facilidade, a biblioteca. E antes que pudesse se voltar para o mais velho este já o colocara contra a parede, fechara os olhos de súbito diante do impacto de suas costas contra a superfície solida e por alguns segundos o ar faltara de seus pulmões o obrigando a tossir levemente. Quando ergueu o olhar fora para se deparar com um par de orbes de ônix o fitando analíticas e perigosas; e se não estivesse acostumado a aquele olhar vindo de seu ex-tutor, Tsunayoshi poderia encolher-se de medo e pavor. – Precisa de alguma coisa , Reborn? – indagara tão levemente quanto um animal encurralado poderia assim o fazer.

— Eu estou curioso. – admitiu o homem baixo e quase rude, a face se aproximando perigosamente da do castanho. – Por que não confia em mim, mesmo depois de tudo o que passamos? – a questão veio simplória fazendo com que as orbes de mel arregalassem-se de forma surpreendente. Aquilo o pegara desprevenido, absolutamente. Nunca imaginara que Reborn o perguntasse aquilo, e ainda mais, o fizesse daquela forma. Lhe humilhar na frente dos outros Guardiões e o forçar a contar tudo era mais a cara do moreno.

Piscou, franzindo a testa quando a questão penetrou ainda mais profundo em seu cérebro. Será que aquela questão tinha a ver com suas cicatrizes? Será que Reborn, de todas as pessoas, havia descoberto seus segredos? Não, não poderia, nem deveria, aquele homem não deveria de forma alguma tomar consciência de seus temores, de seus vícios e suas drogas; somente Bermuda tinha o direito de saber, isso, obviamente, não por decisão do castanho, a seu ver aquilo deveria ser um segredo absoluto e sem acesso externo, mas o Vichteinsten o descobrira e, apesar de ser tamanhamente insano, ainda sim decidiu manter aquilo no silencio e as escuras; Tsunayoshi sabia que aquela decisão do Vindice devia-se a assuntos muito maiores do que conseguia imaginar, mas preferia acreditar que o carcereiro apenas mantivera segredo pelo seu próprio bem estar, para preservar a pouca sanidade que sobrara por trás daqueles olhos de mel.

— Não faço idéia do que esta falando Reborn. – mentira descaradamente depositando as mãos sobre os ombros do assassino. – Agora, se me der licença. – suspirara logo em seguida, dando as costas ao Hitman e saindo do aposento, deixando para trás um Reborn completamente insatisfeito e duplamente desconfiado.

Chega a seu quarto suado e ofegante, havia corrido pelo corredor tentando chegar o mais rápido possível a seu aposento; os pulsos nunca antes haviam incomodado tanto pelo desejo de um corte, sua garganta seca o estava deixando acabado, os lábios rachados denunciavam o nervosismo; e o castanho quase enfartara quando, logo ao fechar a porta de seu quarto de forma brusca, uma voz fria e baixa o chamara poucos metros atrás de si. Virou-se rapidamente, as costas chocando-se contra a madeira da porta num baque silencioso; e então seus olhos depararam-se com os fios negros abaixo da cartola quase não-identificável na escuridão do aposento, o terno escuro e as correntes facilmente mesclavam-se na escuridão e, por muito pouco, Tsunayoshi não reconhecia Bermuda.

Soltou um suspiro aliviado, fazendo com que o convidado erguesse a sobrancelha para aquilo, entretanto, não era do feitio do moreno intrometer-se nos assuntos do Vongola, por esse fato, resolvera manter-se em silencio.

— Precisa de algo, Bermuda? – questionara, aparentemente aquele estava sendo um dia de pegarem-no de surpresa. Será que sua intuição resolvera tirar alguns dias de folga? Bem se fora o fizera num momento nada oportuno. E então o castanho vira o homem erguer um papel simples com alguns rabiscos na letra curvilínea e elegante do Vichteinstein.

— A Shimon foi localizada. – informou estendendo o bilhete para o Don. – Eles, agora, são sua responsabilidade, Décimo. – afirmara, recebendo um aceno afirmativo em resposta. – Entretanto, manterei contato a fim de ficar atualizado sobre seus movimentos para esse assunto.

O Sawada sorriu diante daquela desculpa tola para se manter mais presente em sua vida, mesmo que não admitisse, Tsunayoshi sabia que Bermuda queria manter o olho e o controle sobre sua sanidade um tanto escassa.

— É claro. – sorriu logo ao ver o carcereiro desaparecer nas sombras. E com outro suspiro deixou o corpo relaxar e escorrer pela madeira da porta, inspirou e respirou alguns vezes antes de por os pensamentos em ordem mais uma vez.

Um dia chegaria ao limite e não conseguia deixar de temer a aproximação de tal dia. E baixando a cabeça para apoiar nos joelhos curvados, o castanho teve apenas a certeza de que tal dia estava infinitamente mais próximo do que poderia imaginar.

 

(...)

 

Quinta-feira, 20 de Agosto de 2014, 15:34 PM

Localização: Roma, Itália – Mansão Vongola.

Nota: As minhas cicatrizes são de batalhas que tenho comigo mesmo.

 

— Como era? – questionou o mais novo ali presente, não era novidade que o seu guardião mais jovem, mesmo já sendo um homem adulto, tenha se apegado a seu herdeiro; quem não o faria?, Tsunayoshi era cativante. Acenou em afirmação diante da forma um tanto enérgica como Ganauche III se encontrava logo após saber que o castanho havia feito, sem qualquer hesitação, uma tatuagem para simbolizar sua entrada, permanência e fidelidade a Famiglia, a máfia; e, claro, uma marca para representar a sua imperturbável decisão a respeito de seus Guardiões, eles nunca seriam substituídos, não importa quanto tempo passasse, e Timoteo Rosso entendia bem o que o adolescente sentia, fizera o mesmo, ou algo bem parecido com isso, pouco antes de aderir ao cargo de Nono, recordava-se bem de como sua mãe, Daniela, tivera um ataque ao ver o filho com uma tatuagem – mais de uma na verdade. E não pode conter o riso silencioso diante da lembrança, ato que chamou a atenção dos outros três Guardiões presentes. Tossiu silenciosamente a fim de esconder sua diversão perante a lembrança de uma de suas poucas alegrias juvenis.

Fascinante. – sussurrou em resposta a questão de seu jovem Guardião enérgico, era quase notável a crepitação das chamas ao redor do homem de cabelos escuros, o terno fino e elegante, pouco arrumado dava-lhe um charme único e contrastava com todas as facetas que este estava a demonstrar em seu êxtase. – E diferente. – acrescentou baixo, não escondendo o pequeno sorriso de orgulho, mas evitando demonstrar a pequena centelha de dor que brotou em seu coração ao recordar da cicatriz que enfeitava o ombro de seu neto, o velho acreditava ter visto, até mesmo, outra, ou outras, cicatriz nos braços do mais jovem; mas Timoteo não queria se preocupar tão precocemente com algo que talvez tivesse sido uma simples distorção de sua mente. Se houvesse algo errado com Tsunayoshi, Reborn certamente saberia e, com toda certeza do mundo, o informaria, talvez, até antes mesmo de informar ao pai do dito adolescente. E assim o idoso suspirou, os anos de profissionalismo como Chefe apossando-se de si enquanto este mudava o tópico para algo que gostaria de tratar somente com seus Guardiões. – E como anda a investigação abordada por Tsunayoshi-kun? – indagou, logo ao ver que todos os seus Guardiões mostravam-se presentes no momento.

E assim a tensão silenciosa mostrou-se.

— Surpreendentemente melhor do que se poderia imaginar. - Visconti adiantara-se com um suspiro baixo, quase inaudível, não que o homem estivesse decepcionado, pelo contrário, sua surpresa chegava a ser tanta que mal sabia como se expressar adequadamente. – Rokudo Mukuro mostrou-se mais útil e cooperativo do que o esperado, em vista do seu estado atual; os espiões estão sendo identificados rapidamente e caindo como dominós. – argumentou ao ver seu chefe erguer a sobrancelha em surpresa a citação do nome do prisioneiro recém-liberto, e que ainda encontrava-se de cama recuperando-se fisicamente, afinal mentalmente ele era mais do que apto a um trabalho como aquele; e Nana, ou Nanami, mãe do jovem herdeiro, realmente mostrou por que se tornou uma criatura temível desde tenra idade, porque era uma lenda urbana mesmo dentro do obscuro mundo da máfia.

— E como anda o estado físico do Mukuro? – a indagação veio após minutos de um silencio contemplativo. E esta fora a deixa para o Guardião do Sol, Nie Brow Jr., dar seu veredicto.

— Ele ainda está de cama, mas mostra uma recuperação rápida. – e então o homem balançou a cabeça, os fios violetas de seu cabelo mediano indo de um lado para outro antes de se estabelecerem de volta em seu lugar, queria desacreditar nas próprias palavras, mas não podia, era obvio que o adolescente era algo fora do comum para si. – Seu corpo já esta ingerindo alimentos sólidos de forma normal e sua visão está se adaptando rapidamente as mudanças de luminosidade. Creio que até o fim do mês ele já possa andar e realizar outras atividades menos exaustivas. – o velho acenou em afirmação.

— Meu neto provavelmente vai querer tê-lo por perto o mais rápido possível... – murmurou o velho, sabendo que de tal frase viria uma intersecção de algum de seus guardiões exibindo os contras para tal pedido.

Visconti, a Nuvem, e Coyote, braço direito e atual Tempestade, entreolharam-se numa questão duvidosa a respeito daquela afirmação de seu Don. Era notável que o azulado estava sendo de grande ajuda para a Vongola e que aparentava demonstrar certa fidelidade para com o jovem herdeiro, mas o quão longe se podia confiar naquela perigosa, estranha e hostil Nevoa? O mesmo já havia dito varias vezes a Tsunayoshi que possuiria o mesmo e que assim destruiria a máfia, o fizera diversas vezes na frente do próprio Nono e este vira apenas seu neto rir em resposta a aquela louca afirmação, mas Timoteo e seus guardiões sabiam melhor, ou assim pensavam o ser, talvez aquilo não fosse uma brincadeira do prisioneiro, mas, obviamente, também poderia ser algo que envolve somente a Nevoa e o Céu, poderia ser aquela brincadeira a base do relacionamento Guardião e Chefe que havia entre Tsunayoshi Sawada e Mukuro Rokudo.

Diante do silencio questionador fora Bouche, a silenciosa Nevoa da Nona Geração, quem se pronunciara com palavras que levara o próprio chefe ao desconcerto enquanto enchia a Nuvem e a Tempestade com mais duvidas.

— Não tenho certeza sobre como poderia ser o relacionamento de Mukuro Rokudo para com a Vongola. – anunciou o homem moreno, o moicano dourado decaindo frente à testa franzida. –Ele é tão indecifrável quanto a Nevoa em si, e é um manipulador nato. – confirmou. – Mas ele é fiel a Tsunayoshi, eu sei disso. A forma como ele age e pensa muda completamente na presença do garoto. Ele não é fiel a Famiglia, talvez um dia o seja, mas no momento ele é absolutamente devoto a Tsunayoshi, deve ao mesmo sua vida e liberdade, afinal. – completou, com palavras que o próprio Rokudo havia pensado, mas que nunca dissera, ou diria, em voz alta.

— Nunca irei confiar nele. – resmungou o Nougat, franzindo a testa para Bouche que calmamente ignorou a afronta e a afirmação ali implícita; mesmo os anos de parceria e convivência não tornava um guardião menos desconfiado do outro.

— Mas não precisamos confiar nele. – Brabanters se pronunciou pela primeira vez desde o começo da reunião, as palavras ditas pelo Guardião da Nevoa realmente deveriam ser levadas em conta, decerto que poderia haver desconfiança da Famiglia para com Mukuro, mas não deixava de ser verdade que o mesmo tinha sua fidelidade voltada para Tsunayoshi; e se Rokudo Mukuro traísse o jovem Don, ele pagaria, isso era certo, afinal, meio mundo já se via mais do que apaixonado pelo menino japonês. – Contanto que Tsunayoshi confie nele, e que Mukuro seja fiel a seu chefe; nós não precisamos confiar em nenhum dos guardiões do Décimo. – o Guardião da Chuva nunca fora tão sincero em suas palavras. – Tudo o que podemos fazer é observar de longe e intervir apenas em casos extremos, ou se o herdeiro exigir que, senão, não há nenhum motivo para continuarmos a debater isso. – concluiu com um: - É apenas perda de tempo.

O velho Don suspirou, em parte seu Guardião da Chuva estava certo, aquele assunto dizia respeito apenas a seu neto. Cabia somente a Tsunayoshi acreditar ou não na fidelidade daquela sádica Nevoa e se, no momento, o menino confiava em Mukuro, Timoteo daria voto de confiança ao mesmo também, mas, claro, não deixando de manter um olhar atento sobre as ações do perigoso Guardião.

— Agora, sobre a Cervello? – questionou. – Como elas estão lidando com o afastamento da Famiglia e as investigações feitas por Chrome Dokuro? – diante de tal indagação Visconti resmungara baixo o suficiente para apenas o jovem Trovão ouvir e fazer uma careta em retorno. Coyote suspirou diante das ações do mais novo ali presente enquanto Nie Brow Jr e Croquant Bouche soltavam risos que soavam com deboche; Brabanters, de seu lugar mais ao canto do aposento, limitou-se somente a balançar negativamente a cabeça em uma diversão muda.

O Guardião da Tempestade tossiu a fim de cortar o clima inapropriado, a seu ver, antes de dar continuidade ao novo assunto abordado por seu chefe. Cervello não parecia ser algo a se preocupar no momento, talvez o jovem herdeiro estivesse precipitando-se, era isso que Coyote Nougat queria acreditar, mas o primeiro relatório enviado a si pela Dokuro fora mais do que o suficiente para deixar a imparável Tempestade em estado de choque enquanto Louise Di Caprio, chefe das Cervello, fazia juras de morte a aqueles que lhe traíram e traíram sua amada Famiglia.

Era perto de seis da tarde quando o velho dispensou seus Guardiões. A reunião fora muito mais do que o esperado, as informações trazidas pelos Guardiões da Nona Geração foram das mais simples e compreensivas, a chocantes e aterradoras; e Timoteo não podia deixar de sorrir, enquanto fitava o céu escurecer-se através da grande janela que havia atrás de sua poltrona, estava orgulhoso por seu neto e herdeiro abordar aquele assunto e tomá-lo como sua responsabilidade, mesmo que não fosse realmente o chefe, ainda. O próprio Rosso havia visto o brilho de orgulho nos olhos do maior Hitman do Mundo, e isso era algo muito raro e difícil de se conseguir; Reborn não se orgulhava de qualquer um e também não o fazia a toa. Era certo que ainda havia coisas sobre Tsunayoshi que tanto Reborn quanto Timoteo desconheciam, mas o tempo cuidaria de, se assim fosse necessário, revelar os segredos que residiam no coração do jovem Don.

Piscou, afastando as lágrimas que lhe vinham aos olhos enquanto a vaga lembrança do que viu mostrava presença novamente. Como antes, desejava do fundo de seu velho coração que o vislumbre que viu das cicatrizes nos braços de seu neto não fosse nada além de uma distorção de sua mente cansada, mas sua intuição – mesmo que fraca em comparação a de Tsunayoshi - latejava e apontava exatamente o oposto. Não era uma invenção da imaginação fraca do idoso, era verdade; as cicatrizes brancas que marcavam a pele um tanto apática dos braços do mais jovem eram puras e reais, e causavam tanta dor em vista quanto quando infligidas. Nono não podia deixar de se ver preocupado quanto ao por que daquilo, pois o pouco que ele viu aparentava ser da época anterior a chegada de Reborn; talvez as cicatrizes – pelo menos a maioria delas – não tivessem nada a ver com a máfia, talvez fossem por motivos completamente diferentes dos quais Timoteo agarrara-se anos atrás, quando ainda era um jovem adolescente com sonhos loucos, quando tentara retirar a própria vida por uma estupidez.

Suspirou desviando o olhar do céu parcialmente obscurecido para as mãos que agarravam-se firmemente aos braços da poltrona macia de couro marrom. Era frustrante imaginar que Tsunayoshi podia ter passado por algo que o fez cogitar tirar a própria vida; como Iemitsu não lhe contou sobre isso?, talvez Nana não o houvesse informado... Ou talvez a ex-dona de casa se quer houvesse percebido. Céus isso complicava cada vez mais as coisas, pois, se o menino fora capaz de enganar uma pessoa astuciosa e perceptiva como Nanami Kasumi por sabe deus quantos anos, como poderia abordar sobre aquilo com o jovem sem que o fizesse se sentir encurralado, ou pior, sem fazer com que aqueles ao seu redor que desconhecem aquilo sintam pena do mesmo, assim levando Tsunayoshi a um estado ainda pior.

Tomou uma respiração profunda antes de inclinar a cabeça para trás apoiando-a sobre o encosto da cadeira. O que se podia fazer para ajudar o adolescente? Reborn sabia que o jovem herdeiro guardava segredos – estes que o idoso acreditava não necessitarem de tanta atenção, pelo menos era isso que gostava de crer antes de ter um vislumbre daquelas marcas tão familiares – e o Rosso fora mais do que direto com o Hitman para que ele deixasse o jovem Sawada ter seus segredos para si, pelo menos alguns deveriam ser pessoais demais, mas agora Timoteo agradecia mentalmente ao assassino por ser cabeça dura e persistente em querer descobrir o que o adolescente escondia por debaixo das mangas – literalmente, infelizmente.

A única coisa que o velho Chefe podia esperar era que o maior Hitman do mundo não abrisse ainda mais as feridas que, certamente, habitavam o jovem coração de seu neto.

 

(...)

 

Quinta-feira, 07 de Agosto de 2024, 23:59 PM

Localização: Desconhecida.

Nota: Guerras são brigas em que você nunca sairá com vida, pode sair de pé, mas uma parte sua morre no campo de batalha.

 

— Dimitri, cuidado! – a voz do Don Cavallone nunca havia soado tão alta quanto naquele momento e, se um dos seus melhores assassinos não houvesse se jogado contra si os levando ao chão naquele exato momento o Chefe Giegue não passaria de um queijo suíço.

— Obrigado. - agradeceu ao homem que o salvara, recebendo um aceno em resposta enquanto o mesmo sacava uma sub-metralhadora que havia caída próxima a si e disparava consecutivamente contra o inimigo. Rapidamente o ruivo, Dimitri, pusera-se de pé, as chamas alaranjadas brilhando ameaçadoramente nas flechas de sua besta. Em segundos Dino e puxara seu chicote e o montara em sua arma-caixa, um cavalo que ostentava uma crina de chamas do céu puras e incorruptíveis.

Os ataques se seguiram sem hesitação, era mais do que obvio que em algum momento a Famiglia Scuro investiria contra a aliança Vongola, apenas não imaginava que fossem o fazer de forma tão exagerada e breve. Os sons de balar cortavam o ar, aliados e inimigos iam ao chão gravemente feridos e desacordados, talvez até mortos; e numa virada brusca do Don Cavallone ele avistara alguém que, possivelmente, era o real inimigo de toda aquela situação, pois mesmo que o Don Scuro fosse alguém a se temer, ele não era inteligente o suficiente para tramar aquele plano – se é que podia ser chamado assim já que tantos de sua Famiglia foram assassinados.

Os cabelos vermelhos estavam um tanto maiores e as roupas impecáveis, seus Guardiões o seguiam fielmente, como sempre fizeram, e todos estavam diferentes, até mais ameaçadores do que recordava-se.

— Enma Kozato. – murmurara, cerrando os olhos quando este sorrira para si. A atenção do Don Giegue fora tomada pelo murmúrio de Dino e só então ele avistou a figura do Shimon, um inimigo em comum naquele mundo escuro, alguém tão perigoso quanto o Décimo.

As estalagmites surgiram no chão espalhando-se tão rápido quanto fogo e derrubando quem estivesse pelo caminho, não importando o lado pelo qual estavam a batalhar. Indignado, o chefe Scuro tentou atacar o, até então, aliado, mas fora rapidamente subjugado e morto por Koyo Aoba. E nenhuma palavra se seguiu a tal ato, ainda mais quando a cortina de areia do deserto rastejou entre aqueles que ainda se encontravam vivos, pretendendo extinguir a vida de todos rapidamente, entretanto, para a infelicidade de Jullie, Enma e, até mesmo, Adelheid, uma cortina de Nevoa entrelaçou-se a areia, desfazendo a mesma com uma facilidade abismal. Recuando a Nevoa fundiu-se numa esfera de sombras e logo videiras surgiram e entre as mesmas Mukuro Rokudo mostrou sua face e seu sorriso cruel.

— Rokudo Mukuro. – pronunciara Jullie Katou de testa franzida enquanto apertava ainda mais fortemente o cajado amadeirado em suas mãos.

— Kufufu... Ora, o que temos aqui? – questionou retórico, o Guardião da Nevoa. – Parece que os passarinhos fugiram de suas gaiolas. – sorriu abertamente diante da frustração obvia do ruivo, Enma. Dino e Dimitri rapidamente uniram-se ao Rokudo, e junto aos mesmos seus mais fieis assassinos e subordinados; Mukuro podia ser alguém desprezível, entretanto era alguém formidável de se ter ao seu lado numa batalha.

E tudo ocorreu mais rápido do que qualquer um poderia realmente compreender, num momento a Nevoa branca e fria mostrou-se e no momento seguinte o grito agoniado do Guardião do Deserto enfurecera a Rainha de Gelo, tal como, provocara arrepios mesmo naqueles que estavam ao lado do Guardião da Nevoa Vongola. O sangue arrastou-se para fora dos lábios de Jullie cujo corpo chocara-se contra o chão em um estado de semi-morte, raivoso o Don Shimon avançara sem pensar duas vezes contra a Nevoa, entretanto o mesmo era intangível para si, voltara-se rapidamente para o alvo mais próximo, Dino, cuja surpresa indicava que não esperava aquilo, todavia o mesmo fora empurrado pelo seu mais fiel subordinado e, como conseqüência, a luva rubra metálica fincara-se logo abaixo do externo de Romário cujo grito silencioso apenas indicava o obvio, sua vida esvaíra-se em segundos.

Ainda em choque, o loiro tentara investir contra o ruivo, entretanto fora parado pelo Don Giegue, este que, apesar de compreender a dor do amigo, sabia melhor do que investir cegamente contra alguém como o ruivo. Diante dos acontecimento, um movimento do Vongola fora o bastante para que cadeias de vinhas brotassem do chão e nocauteasse os inimigos Scuro que haviam restado, isso enquanto a Shimon aproveitava a oportunidade de fuga.

— Guarde minhas palavras. – pronunciou o ruivo com um ultimo olhar sobre o Rokudo. – Isso é apenas o começo, Rokudo Mukuro, Vongola irá cair e Tsunayoshi verá cada um de vocês sucumbir antes de eu mesmo tirar sua vida! – e com isso desapareceu deixando para trás o silencio e o choque ainda presentes no ar, os mesmo que mesclavam-se a fúria indomável que se apossava da perigosa e traiçoeira Nevoa, e também ao pútrido odor do sangue que, ainda quente, impregnava-se na terra.

Ao fundo Dino socava o chão, frustrado e irritado, jurando sob o corpo desfalecido de seu subordinado e amigo que o vingaria.

 

(...)

 

Sábado, 09 de Agosto de 2024, 08:59 PM

Localização: Namimori, Japão – Cemitério.

Nota: Um coração tão pequeno para tantos sentimentos.

 

O dia havia amanhecido ensolarado e a ruiva nunca sentiu tanto asco ao ouvir os pássaros cantando melodicamente alegres em sua janela. Ela não havia acordado, afinal, era necessário dormir para realizar tal façanha; a lutadora – tal como seu irmão – não pregara os olhos um minuto naquela madrugada. A cada minuto revivia aquele momento de descuido. Um erro, era isso que a morte de Hana era, a porcaria de um erro estúpido seu. Baixara a guarda; expusera seu chefe, seu amigo, a um ataque de sorte de um infeliz qualquer e, para que não houvesse uma perda catastrófica, a morena se pusera entre a bala e seu alvo e o resultado fora que a mulher recebera um golpe preciso e certeiro no coração, um golpe único e fatal.

Kurokawa Hana se fora como uma heroína. Por causa dela a Vongola não ruiria. Por causa de seu sacrifício e devoção a Famiglia ainda tinha seu precioso e amado Céu. Mas o Sol estava se escurecendo diante daquela perda, talvez não completamente, mas uma mancha estava para engolir parte do brilho que um dia tão apaixonadamente iluminou a Famiglia Vongola.

De fato aquela havia sido uma perda que abalara muitos, a mulher era amada e admirada dentro daquela organização, e mesmo que sejam poucos aqueles que estejam  a participar de seu funeral – esta que estava a ser enterrada ao lado dos pais, estes que faleceram quatro anos antes -, não significava que esta não possuía uma quantidade grande de amigos espalhados pelo mundo, estes que sentiriam pela perda de uma grande mulher e assassina, mas que não poderiam dar-se ao luxo de demonstrar tal fato, como aqueles presentes no cemitério, que derramavam seu pranto dolorido e angustiado.

Erguendo a cabeça para fitar o céu azul, Kyoko sentiu-se franzir a testa, ainda com as lágrimas descendo pela lateral da face, sua dor era silenciosa e profunda, e a estava torturando tão profundamente, mas ela sabia que seu irmão estava sofrendo mais, afinal, Hana era amante de Ryohei, e o albino pretendia pedi-la em casamento em breve.

Por que tinha que estar tão quente, brilhante e aconchegando? Por que logo hoje? Era o que a Sasagawa questionava-se intimamente, indignada com a beleza daquele dia. Com raiva por o céu sob sua cabeça não estar tão triste quanto o Céu que cuidadosamente depositava uma flor arroxeada sobre o caixão de madeira trabalhada, uma rosa dentre tantas outras, mas aquela que mais se destacava por ter uma cor diferente, a cor que Hana mais amava, a ruiva sabia disso, todos sabiam.

Tornando a baixar o olhar Kyoko avistou o irmão ajoelhado, desconsolado, quebrado. As rachaduras, mesmo que internas, eram tão obvias que quase eram palpáveis. Chrome amparava o Guardião do Sol, próximo estava um Mukuro de testa franzida e olhos cerrados em direção aonde o Boss Vongola fazia uma silenciosa prece a falecida, juntamente com Tsunayoshi, Takeshi tomava uma sutil respiração enquanto apertava os punhos com raiva de si mesmo por não ter sido útil e impedido aquele infortúnio a seu senpai, Hayato não se encontrava em melhor estado e Lambo mal continha os soluços arrastados que cruzavam seus lábios. Reborn silencioso escondia seu olhar sob a fedora e Bianchi limitava-se a respirações profundas e controladas, isso para que não caísse em lágrimas por ali mesmo, tinha de ser forte para com aqueles que não conseguiam o ser.

E então a ruiva fechou os olhos num silencioso adeus e na promessa muda de que vingar-se-ia por sua melhor amiga, prometendo que não repetiria o mesmo erro, sua fúria cairia sobre os inimigos da mesma forma como uma tempestade furiosa castigava a terra; mas não era apenas a lutadora que fazia uma promessa muda ante o tumulo de uma grande mulher e guerreira. Todos e cada um prometiam algo ali, naquele momento; todas promessas diferente, mas com o mesmo propósito no fim: Vingança, fosse pela mulher que agora repousava eternamente, ou pela Famiglia que quase perdera seu maior orgulho, Tsunayoshi.

— Não será em vão. – sussurrou-a, ainda de olhos fechados enquanto a brisa suave e morna beijava-lhe a face. A presença da mulher de cabelos escuros era quase identificável naquele vento passageiro. – Sua morte não terá  sido em vão Hana-chan. – finalizou, os punhos cerrados apenas fortaleciam suas palavras em seu coração.


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Notas finais do capítulo

Comentários?
Ficou bom?
Faz algum tempo que não escrevo, entretanto espero que alcance as expectativas de todos.
Beijos, Lady.



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