"I wish you could see your face right now
'Cause you're grinning like a fool
And we're sitting on your kitchen floor"

Já tinham se passado 40 minutos e Charlie estava tentando tirar o bolo do forno.

–Eu vou me queimar! –ela reclamava.

–Quer que eu tire?

–NÃO! –tem como ser mais orgulhosa? –Eu consigo fazer isso sozinha!

–Se você não for mais rápida o bolo vai queimar.

–Cala a boca Thomas, não vê que eu estou tentando me concentrar?

Me afastei, não queria problemas.

–CONSEGUI! –ela dava pulinhos- Me ajuda Thomas, ele vai cair!!

–Põe na mesa!

– ‘Tá!

–Mais rápido, eu ‘tô com fome!

–Se você abrir a boca mais uma vez, vai ficar sem bolo.

A deixei fazer todo o trabalho.

–Pega faca, garfo e prato.

–Pra que eu preciso de uma faca? –perguntei confuso.

–Você quer que eu corte a fatia do bolo com as mãos?

–Ah...ok... –peguei o que ela tinha mandado e ela cortou dois pedaços- Ei! O seu é maior que o meu!

–Depois você pega mais! Agora vamos, vai começar As Meninas Superpoderosas!

–Ás vezes eu me admiro com a sua maturidade...

–Falou o cara que não sabe pra que serve uma faca.

–Não é bem assim- me defendi.

–Claro que não...- disse irônica- Agora cala a boca que já vai começar! –ela já estava sentada no sofá, com as pernas cruzadas (como se faz no jardim de infância, sabe?) e o prato equilibrado no meio das duas –pernas-, a imitei.

–----

–Thomas...Thomas, acorda- senti alguém me chacoalhando e abri os olhos.

–Hm...- murmurei meio grogue, vendo Charlie na minha frente- Eu dormi, não foi?

–Sim- ela deu risada- Você dormiu, e ainda por cima dormiu em cima de mim. Por sorte eu acabei adormecendo logo depois.

–Desculpe...não era minha intenção cair em cima de você.

–Estou acostumada- ela parecia estar lembrando de alguma coisa, mas resolvi não perguntar nada.

–Por quanto tempo eu desmaiei?

–Uma hora...- respondeu-me- Ei, sobrou um pouco de brigadeiro, você quer dividir?

–Adoraria.

Fomos pra cozinha e eu logo vi uma travessa com brigadeiro, minha boca começou a salivar, literalmente.

–Pega uma colher- ela pediu.

–Que colher o que? –enfiei o dedo no chocolate- Eu vou é comer com o dedo mesmo.

–Thomas! Isso é nojento! –disse brincalhona.

–Isso é nojento? –ela concordou com a cabeça, e eu tive uma ideia- Sabe o que é mais nojento?

–O que- ela perguntou receosa.

–Isso- e passei o dedo, coberto de doce, na sua bochecha.

–Oh, isso não é nojento- ela passou a mão no rosto e tirou um pouco com o dedo, para logo depois o colocar na boca- ...ISSO é nojento! –lambuzou o dedo, como eu, e passou em meus cabelos.

–Você não deveria ter feito isso, vai ter que arcar com as consequências dos seus atos!

Logo estávamos todos sujos de chocolate sentados, no chão da cozinha, rindo descontroladamente. Era bom rir desse jeito, fazia tempo desde a última vez...

–Eu...eu acho que...- Charlie tentava parar- Nós...deveríamos arrumar essa bagunça...meu pai...vai me matar- ela recuperou o fôlego.

–Não, espera um pouco...ele só chega mais tarde...- pedi, esperançoso.

–Mas acabou o brigadeiro, não tem mais nada pra fazer aqui.

–Claro que têm brigadeiro! Bem aqui! –passei um dedo pelo seu nariz, sujo de chocolate- Está vendo? – o coloquei na boca- Uma delícia!

Ela COROU! Por que, diabos, ela ficaria vermelha só por eu ter passado a mão em seu rosto? Mas eu só conseguia pensar em como ela ficava linda corada.

Foi aí que fiz (disse, na verdade) a coisa mais estúpida do universo:

–Você fica linda vermelha...- IDIOTA! Ela conseguiu ficar mais rubra ainda, não duvido muito que até eu tenha ficado.

–Erm...obrigada...- disse olhando pros sapato- Gosto dos seus olhos. Eles são verdes...parecem que conseguem enxergar sua alma... é legal.

–Os seus também- a olhei nos olhos-, mas ainda não me decidi se são verdes ou castanhos.

–É uma mistura dos dois. Ele muda de acordo com o que eu estou sentindo- ela explicou- De que cor estão agora?

–Verde escuro. O que isso quer dizer?

–Que eu estou muito envergonhada ou que eu estou muito brava.

–E qual é o de agora?

–Um pouco dos dois...

Estávamos perto, bem perto, um do outro...eu diria uns 10 cm...e nos aproximando...

–Thomas...- sussurrou.

–Oi?

–Não faça isso. Por favor- ela parecia envergonhada.

–Fazer o que? - nós dois sussurrávamos.

–O que estamos prestes a fazer...

Mas já era tarde demais.