As latinhas estavam lá caídas, uma ou outra ainda tinham salvação, mas eram poucas.
Então eu a vi, com a saia de pregas do colégio, a meia até o joelho e a camisa, sua gravata estava certinha, mas ela logo começou a afrouxá-la e um sorriso se formou no canto de meus lábios. Garotas não atiram.
Mas era ela, com o cabelo loiro comprido preso e uma franja e a mochila posta nas costas. Ainda assim, garotas não atiram.
- Não sobrou nenhuma? – ela perguntou andando pelo campo sem medo de sujar os sapatos de boneca, e isso me surpreendeu.
Mas eu estava firme sobre o fato de garotas não atirarem.
- Garotas não atiram – respondi pondo minha arma em seu estojo e jogando dentro da minha mochila.
- Você não sabe disso – ela respondeu arqueando uma sobrancelha, e naquele momento eu soube que seu gênio não seria dos mais fáceis, como se estivesse escrito em seu rosto o quanto gostava de teimar.
- Eu sei – eu respondi com um sorriso. – Arranje outro para isso! Eu não me arrisco – e só então percebi que estava desdenhando, que eu A estava desdenhando, fechei meu punho contendo a vontade de dar um tapa em meu próprio rosto e agarrei minha mochila decidido a seguir o caminho para casa.
- Você não seria nem capaz de apostar isso – ela me perguntou, um sorriso divertido brincava em seus lábios e seus olhos escuros refletiam um brilho único.
Isso que eu era só uma criança.
- Eu não faço aposta com garotas – eu respondi e lhe dei as costas.
- Machista – ela gritou saindo batendo os pés para o outro lado do campo.
Só me restava rir e seguir meu caminho, estava anoitecendo e mamãe deveria estar me esperando para o jantar.
Minha camisa estava suja e meus sapatos tinham barro até em seu interior, eu cheguei todo quieto em casa e quando mamãe me viu seus olhos se arregalaram, meu cabelo continuava colado a testa e a nuca e eu estava quase arrastando a mochila.
- O que fizeram com você? – ela perguntou agarrando minha mochila e pendurou-a no cabideiro e se aproximou de mim novamente. – Você precisa ficar de molho – disse num típico tom materno que me fazia sorrir.
- Eu estava treinando minha mira – respondi com um sorriso. – Estou melhor que Edward e Jasper...
- Seu pai gostaria de ouvir isso – ela disse com um sorriso enquanto me empurrava até o banheiro.
- Não – respondi imediatamente, como que por reflexo, enquanto tirava minha camisa. Havia chego o ponto que eu queria falar com ela. – Mamãe...
Ela me respondeu de forma suave, como sempre, enquanto ligava a banheira para que eu me banhasse com água morna.
- Se eu não quisesse ir para o exército – comecei de forma sutil. – Você pensa que talvez papai concordaria com isso?