I Wouldn't mind escrita por Tobi4s


Capítulo 2
Out of line




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Sinto minhas pernas travarem e a minha consciência dizer “Volte, não vá até ela”. Entro em conflito com os meus próprios pensamentos. Continuo andando ou sigo em frente? Frações de segundos depois percebo: Ela está me olhando.

Não estamos muito longe um do outro. Não sei o que fazer. Nic também percebe a minha presença e me olha incrédulo. Eu definitivamente, não me importaria de sair correndo e voltar para Europa.

Sinto raiva por ver Nic com ela, mas ao mesmo tempo felicidade em vê-la.

“Volte, volte pra casa”, escuto minha consciência dizer. Mas mesmo assim, ainda não sei o que fazer. Meus ideais estão em conflito com ela. Minha vontade é de correr até ela e dizer o quanto ela fez falta, mas ao mesmo tempo dizer a ela tudo que eu estava pensando em dizer esse tempo todo. Não sei se terei coragem para isso.

—Posso ajudar? —Diz Nic. E isso mesmo que eu estou escutando? Nic perguntando educadamente ou estou delirando? Seria ironia?

—Eu... Eu... —Começo a dizer, mas paro no mesmo instante.

“Você consegue”, digo a mim mesmo.

—Eu... —Começo a dizer, mas paro ao ver o sorriso de Miranda enquanto ela caminhava até mim.

“Saia correndo agora!”, penso. “Não, fique”, o outro lado dos meus ideias definem.

—Oi. —Ela diz sorrindo parando na minha frente.

—Oi. —Respondo. Não sei se sorrio pra ela ou faço cara feia.

—Então... Você voltou?

—Voltei. —Digo sorrindo, mas no fundo, penso “É só isso que você tem a me dizer?”.

—Como foi na Europa? —Ela pergunta. Okay. Agora tenho certeza. Aquela não é a Miranda que eu conhecia há três anos atrás. A minha vontade é de gritar “Eu fiquei três anos fora e você apenas sorri e pergunta como foi na Europa?”.

—Bem. —Digo. Mas preciso dizer algo a mais. —Senti...

—Já se acomodou no colégio? —Ela me interrompe. Agora tenho mais certeza ainda, aquela não é a Miranda que eu conhecia. Acho que não direi o que eu iria dizer antes dela me interromper “Senti sua falta”.

—Aham. Então... Nic? —Digo baixo de mais para que Nic não escute. Acho que meu tom de voz saiu mais irônico do que o normal.

—É uma longa história. —Ela responde. —A gente pode jantar hoje à noite as 20:30 no Green Child’s. Pode ser?

—Claro. —Digo. Entendi mal ou ela praticamente está colocando um fim no assunto?

—Okay. —Ela diz.

—Okay. —Respondo.

◄►

Mil e uma coisas passam na minha cabeça nesse momento. É quase 20:00 quando ainda estou tentando decidir qual roupa usar, mas mesmo assim, não consigo esquecer a discussão de meus pais. Do que eles estavam falando? E do outro lado da minha cabeça estava Miranda. Ela pareceu tal igual, mas tão diferente ao mesmo tempo. Definitivamente não sei explicar.

As 20:10 estou tentando decidir se pergunto a ela se eu fiz falta. Penso em mais de dez jeitos de falar tudo que eu pensava sobre ela ter me esquecido completamente.

As 20:20 entro no escritório de minha mãe para perguntar seu eu poderia pegar o carro emprestado. Vejo resto de cacos de vidro no chão e minha mãe está lendo alguns papéis, provavelmente processos judiciários. Ela confirma com a cabeça.

Meu pai ainda não havia chegado. Pego o carro e forço a memória para me lembrar aonde ficava o Green Child’s

Chego ao restaurante as 20:45. Dez minutos atrasado.

Desço do carro e vejo Miranda sentada numa pequena mesa redonda do lado de fora do restaurante. Ela está um vestido florido e está com os cabelos presos.

Não sei o motivo, mas sorrio ao vê-la.

—Me desculpa, eu me perdi no caminho. —Digo, sentando na cadeira a frente dela.

—Sem problemas. —Ela diz olhando o celular. Era como se ela não prestasse atenção em mim.

—Então, você já pediu alguma coisa? —Pergunto. Meio sem jeito ao vê-la mexendo no celular.

—Já. Pode escolher o seu. Meu pedido já deve estar chegando.

—Okay. —Respondo.

Escolho um prato com Mashed potatoes e fried chicken. Ficamos em silêncio até o pedido dela chegar. Olho incrédulo. Ela pediu hambúrguer com fritas?

—Você pediu hambúrguer? —Pergunto sorrindo.

—Qual o problema? —Ela retruca de uma maneira fria.

—Achei que você fosse vegetariana.

—Achou errado. —Okay, eu estava com vontade de gritar pra ela devolver a minha Miranda. A que eu conhecia, apesar de me zoar, nunca falaria comigo daquele jeito.

Ela come o hambúrguer sem falar nada. Costumávamos ir ao Green Child’s. Achei que seria bom relembrar e conversar com ela, mas vejo que não é foi uma boa ideia.

Meu prato chega uns cinco minutos depois. E nada de conversa. Apenas silêncio.

—Então... Nic? —Não sei se fiz bem em dizer isso.

—É uma longa história.

—Temos tempo.

Ela sorri. Até que enfim uma luz no fim do túnel.

—Ele é bem... Digamos um amigo.

Não consigo conter o riso.

—Você tá brincando comigo, né? —Indago e me arrependo de ter dito.

—Como assim?

—Você o odiava. Lembra aquela vez que você deu um soco no nariz dele?

Ela sorri. Mas eu não estava brincando. Era confuso. Eu não conseguia acreditar no que eu tinha esquecido segundos atrás.

—O tempo passa, as pessoas mudam. —Ela diz.

—Percebi. —Digo sendo irônico.

—O que você quer dizer com isso Tobias? —Ela pergunta e me arrependo mais uma vez por ter dito aquilo. Mas já que comecei, é a hora.

—O que eu quero dizer? Na verdade eu que quero saber o que você quer dizer agindo dessa forma.

—Agindo dessa forma? —Ela indaga.

—Sim. Eu fiquei três anos sem te ver e quando você me vê você vem apenas com um “Oi”?

—O que você queria que eu fizesse? —Ela diz. Percebo que ela havia praticamente berrado.

Fico em silêncio e frações de segundos depois volto a dizer:

—Uma explicação?

—Explicação?

—Você não respondeu meus Emails, não entrou em contato comigo e agora tá agindo dessa forma. Tem certeza de que você é... Você? —Admito. Essa frase saiu estranha. Era isso que eu queria ter dito desde o início.

Ela fica em silêncio. Tenho certeza do que eu disse não ajudou em nada a situação.

—Você me deixou confusa. —Ela disse.

—Confusa? —Repito. —Você que me deixou confuso ao praticamente esquecer que eu era seu amigo antes de toda essa porcaria acontecer.

—Olha... Eu... —Ela começa a dizer.

—Não. —Levanto. Eu não suportaria escutar aquilo. Não haveria explicação plausível para aquilo. Tanto tempo esperando respostas e agora que eu estava prestes a conseguir, eu não suportaria escutar uma desculpa tão ridícula.

Saio caminhando rapidamente e vou em direção ao estacionamento.

Olho para trás e a vejo levantar e ir embora. Confesso, achei que ela iria reagir de alguma forma.

Entro no carro, dou partida e saio em alta velocidade.

No fundo de minha mente digo a mim mesmo: “Ela não se importa. Por que eu me importaria?”.


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