Estou sentado na frente de Max enquanto ela me encara com uma expressão fria em vazia em seu rosto. Carter e Birdy estão ao meu lado. Birdy parecia viajar na maionese observando o quadro velho pendurado na parede.

Saímos mais cedo da aula e fomos direto para o hotel em que Max estava hospedada. Tínhamos exatamente seis dias para fazer com que Max dissesse ou mostrasse qualquer coisa que rompesse a ligação de meu pai com o assassinato de Cosima.

—Seu pai sempre foi muito detalhista, sempre organizou todos os documentos da empresa... Cosima era o peso morto mais bem protegido. Até Nathan demonstrava piedade.

A forma como ela falava deixavam as coisas mais ainda esquisitas e confusas. Meu pai afirmava que Nathan era o assassino e que Max tinha a informação que o poderia tirar da cadeia. Mas porque diabos ela não contara nada a polícia? Se tivesse dito alguma coisa talvez seu pai não estaria preso e aguardando julgamento.

6 dias.

Olho de lado para Carter que encarava Max de uma forma duvidosa. Conheço aquela olhar. Dúvidas rondavam sua cabeça.

—Meu pai disse que você... —Começo a dizer, mas ao perceber o sorriso debochado e estampado no rosto de Max, paro rapidamente.

Fico em silêncio por frações de segundos.

—Cosima tinha um alvo em sua cabeça. Nathan coordenava metade das ações e seu pai à outra. Cosima era praticamente a intermediária dos dois.  

—Por que ele a matou?

—Creio que tenha perguntado isso para a pessoa errada meu caro.

Tudo era confuso demais. Porque Max já não havia sido interrogada? Afinal, ela também trabalhava na empresa e poderia dar a polícia informações sobre Nathan.

—Preciso da sua ajuda. Tenho até semana que vem para conseguir algo que tire meu pai de lá. —Digo encarando Max.

Ela fica parada por alguns instantes e logo levanta caminhando até a gaveta do criado mudo e abre a mesma, puxando um cd.

—Isso me parece mais um pedido para testemunhar. —Ela afirma e me entrega o cd.

—Então por que tá se escondendo?

Max solta uma risada baixa e me encara.

—Nathan é capaz de arrancar minha própria língua se souber que eu sei ou disse algo sobre Cosima. Assista isso.

Desvio meu olhar até o cd.  

FLASHBACK ON

—Você sabe que isso é errado. —Carter diz enquanto abro a porta do carro e desço do mesmo. —Eles vão acabar te expulsando daí...

Continuo andando e escuto Carter dizer:

—Tobias, seu idiota.

—Eu preciso falar com ela.

—Depois de tudo acha mesmo que os pais dela deixarão você chegar perto dela? Se a sua mãe souber que você saiu sem o consentimento dela ela vai te matar...

—EU NÃO LIGO, OKAY? —Grito e Carter me encara. —Eu só preciso vê-la e saber se está tudo bem.

Fazem exatamente um mês que recebi alta do hospital. As cicatrizes em meu corpo ainda permaneciam e minha respiração arfava em qualquer movimento brusco que eu fazia. Não vejo Miranda a 4 meses.

Depois do acidente fiquei em coma por três meses e desde então não tive nenhuma notícia de Miranda. Não recebi nenhum telefonema ou notícia. Era como se eu estivesse na Itália novamente e Miranda estivesse aqui, só que dessa vez eu tinha a certeza de que Miranda não tinha culpa.

A culpa era minha.

Por ter tido aquela ideia maluca de fugir. Eu quase a matei.

Carter permanece em silêncio e começo a caminhar em direção a porta da casa de Miranda. Toco a campainha e em frações de segundos a Sra. Thompson abre a porta e ao me olhar percebo sua feição que exalava puro ódio e repulsa.

—O que você está fazendo aqui? —Ela indaga e arqueia uma das sobrancelhas.

—Eu só preciso vê-la okay? Saber se está tudo bem.

—Tudo que ela menos precisa nesse momento é você por perto.

—VOCÊ ACHA MESMO QUE EU TINHA A INTENÇÃO DE FAZER QUALQUER MAL? PARE E PENSE BEM SE A CULPA DE TODA ESSA MERDA SER VOCÊ E O PAI DELA TORNAR A VIDA DELA AINDA MAIS COMPLICADA. TALVEZ SEJA POR ISSO QUE ELA TENHA ACEITADO QUANDO EU A CHAMEI PARA IR EMBORA DAQUI. ENTÃO NÃO OUSE DIZER QUE EU NÃO MEREÇA VÊ-LA DEPOIS DE TUDO. —Uma raiva iminente me faz dizer todas essas coisas sem o mínimo de remorso ou medo. Dou um passo à frente e estou inerte demais para perceber os gritos da Sr. Thompson dizendo que chamaria a polícia se eu não fosse embora.

Vou em direção as escadas e subo as mesmas com dificuldade. Vejo Carter pedindo desculpas logo atrás de mim e me acompanhando. Vou em direção ao quarto de Miranda e ao abrir a porta, me assusto o suficiente para perder todas as forças das minhas pernas e cair de joelhos enquanto fixo meu olhar em Miranda.

FLASHBACK OFF

Saio do hotel em que Max estava escondida com os meus pensamentos a mil. Era confuso demais toda a história. Por que diabos Nathan mataria Cosima e meu pai seria acusado? E por que Max poderia ajudar a tirar meu pai da cadeia?

Carter estaciona o carro ao chegar em minha casa e corremos rapidamente até o meu quarto. Pego o notebook e coloco o cd.

Birdy senta ao lado de Carter na cama e dou play no arquivo de vídeo.

A imagem parecia ser de câmeras de segurança de algum escritório. Demoro frações de segundos para reconhecer o lugar.

Era a empresa em que meu pai trabalhava.

Um homem de terno estava de frente para uma mulher que usava um vestido azul. Os dois pareciam estar discutindo.

O homem gritava e era perceptível a reação da mulher de se afastar, com medo. A tela automaticamente aumenta o zoo e vejo o rosto da mulher.

Cosima.

Reconheço pela foto que havia visto alguns dias atrás nos documentos do advogado de meu pai. O homem ergue a mão e bate na cara de Cosima que cai no chão com a mão em sua bochecha. Ao se levantar, a mulher sai andando rapidamente em direção a porta e o homem vai logo atrás e o vídeo acaba.

Ficamos em silêncio por alguns segundos até Birdy dizer:

—Uau, é isso que chamamos de virada de jogo senhoras e senhores.

                                               ◄►

—O que faremos agora? —Carter indaga.

—É óbvio, entregaremos esse vídeo ao advogado de Devan. Isso pode levar a investigação até Nathan... E se Devan afirma que Nathan é o assassino...

—Uma coisa ainda não está batendo em toda essa história. —Começo a dizer e coloco o vídeo para rodar novamente. —Cosima foi encontrada morta depois de cair do décimo segundo andar do apartamento em que ela morava. Isso acontece no escritório da empresa, olhem.

Carter e Birdy desviam seus olhares para a tela.

—Tobias... Olha o horário. —Carter aponta para o canto do vídeo. Ficamos em silêncio por frações de segundos até ela retomar e continuar dizendo. —Eu olhei nos arquivos do advogado aquele dia. Cosima foi encontrada as 22:36.

—E isso acontece as 20:00... —Finalizo a fala.

Tudo fazia sentido.

Com esse vídeo toda investigação seria voltada para Nathan.

—Mas então por que Devan foi acusado? —Birdy pergunta fixando seu olhar em mim. —Vamos entregar esse vídeo ao advogado né?

Não sabia a resposta para a primeira pergunta, mas confirmo com um aceno de cabeça a segunda.

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FLASHBACK ON

Miranda está deitada em sua cama enquanto um aparelho ligava um tubo até o seu braço. Seu rosto estava mais fino e pálido do que o normal e seu cabelo parecia não mais tão vivo e brilhante.

—Tobias... —Ela começa a dizer.

Me levanto e caminho até lá quando escuto a voz da mãe de Miranda gritando para que eu saísse.

—Eu sinto muito... —Começo a dizer e uma lágrima escorre de meus olhos. —Eu sinto muito por tudo. Por ter me afastado, por ter de certa forma te culpado depois que voltei, por ter me envolvido e por isso ter acontecido, eu sinto muito... —A senhora Thompson fica em silêncio. —Eu devia ter prestado mais atenção, devia ter vindo o quanto antes mais eu não consegui... Eu sinto muito...

—Sente muito? —A sra. Thompsom começa a dizer. —Numa ideia maluca de um adolescente provavelmente com problemas mentais, você fez com que minha filha colocasse um pouco de roupas numa mochila e saísse num carro com você. Você é culpado... Então não venha dizer que sente muito depois que tudo isso aconteceu. Você fez com que minha filha ficasse submersa na água por mais de 17 minutos sozinha. E mais vários minutos para que o resgate a tirasse de lá. Sabe o que aconteceu em seguida? Ela quase morreu duas vezes. Havia tanto sangue que mal conseguiam enxergar devido a cor avermelhada da água...

—Mãe... —Miranda a interrompe.

—Então não venha me dizer e dizer a ela que depois de tudo isso você sente muito. Você está ai em pé, se curando e minha filha não consegue mexer nenhum músculo de suas pernas e a culpa disso tudo é sua.

Minha cabeça gira e fico inerte demais para entender.

Ela percebe minha expressão e continua dizendo:

—Miranda tem passado meses em cima dessa cama sem colocar o pé no chão. Acha que tem o direito de entrar na minha casa e pedir perdão?

—Tobias, vamos... —Carter começa a dizer enquanto me puxa.

Dou uma olhada em Miranda e vejo sua cara sem qualquer expressão, ela mal conseguia me olhar.

—Acho melhor mesmo que vá... Antes que eu chame a polícia. Sua família já tem problemas demais com ela. Não quero ser responsável por mais um. —Ela diz e cruza os braços. —Mas por um lado foi bom ter vindo aqui. Encerramos isso tudo de uma vez.

Minha barriga gelava depois de escutar todas as palavras hostis que ela me dizia. Miranda não dizia nada. Não a posso julgar. Talvez a Sra. Thompson tenha razão. Tudo tenha sido culpa minha por dar aquela ideia estúpida de fugir. Era o que eu fazia de mulher. Todas as vezes que algum problema surgia o meu instinto natural era fugir o mais longe possível. Só aproveitei a oportunidade de me livrar de toda essa história de meu pai e levar Miranda junto. Porque eu a amava. Eu a amo.

Tomo coragem o suficiente começo a dizer:

—Pode me acusar e continuar dizendo todas essas coisas. Eu me arrependo. E nunca, em hipótese alguma meu objetivo seria expor sua família a qualquer coisa que a machucasse. Nunca foi meu objetivo. Desde quando eu voltei novamente pra cá e nos aproximamos novamente eu... Eu... Miranda...

Desvio meu olhar até ela.

—Você sabe que eu sinto muito. Eu tentei entrar em contato depois que eu sai do hospital e eu não sabia que suas pernas...

—Não podem se mexer? —Miranda me interrompe. Sua voz parece estar fria e distante. Talvez seja o efeito de algum remédio, insisto em dizer pra mim mesmo que ela não estava me culpando. —É, meio que não consigo mais mexer minhas pernas. E Tobias, relaxa... Tá tudo bem okay? Mãe já conversamos sobre isso, ele não é culpado. Não é como se eu tivesse entrado naquele carro a força. Não se culpe Tobias. Eu tentei te ver depois que você acordou, mas como pode ver estou um pouco ocupada deitada nessa cama sem fazer nada.

Ela solta uma risada baixa e a encaro.

—Tobias, vamos... —Carter diz mais uma vez.

—Olha Tobias... —A sra. Thompson começa a dizer e fico atento ouvindo o que ela dizia. —Sei que as coisas não tem sido fáceis, mas quero pedir que não procure mais Miranda. Acho melhor as coisas permanecerem do jeito que estão principalmente agora que ela vai começar um novo tratamento e...

Ao escutar o que ela dizia, não consigo conter e esboço um sorriso enquanto volto a olhar Miranda.

—Novo tratamento? —Indago. Inundo toda minha mente com esperanças de que ela voltaria a andar novamente.

—Sim. —A sra. Thompson responde. —Semana que vem ela começará o tratamento e espero que não a procure mais, ou mande mensagem ou qualquer coisa do tipo. Vamos deixar as coisas do jeito que estão, okay?

—Tobias... —Miranda começa a dizer. —Estou indo embora.

Arqueio uma das sobrancelhas esperando Miranda explicar o que aquilo significava.

—Acho que está na hora de vocês irem. —A mãe de Miranda diz.

—Indo embora? —Não consigo pensar em qualquer outra coisa a ser dita.

A sra. Thompson demora alguns segundos para responder e logo diz:

—Tentaremos um novo tratamento na Inglaterra. Encontramos um médico que talvez possa operá-la e dar bons resultados numa fisioterapia. Bom, Miranda precisa descansar e eu tenho malas para arrumar. Acho que isso é um Adeus senhor Baker. Um adeus e um boa sorte.