Ignored escrita por The Corsarian


Capítulo 9
Uma conversa nada amigável


Notas iniciais do capítulo

Oee o//
Voltei cedo dessa vez :3
Bem aí está, e garotas ou garotos que querem romance, só digo para não alimentar muitas esperanças ;*
#FicaAdica
Enjoy ;)



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Andar sob a chuva era algo que eu realmente gostava. Fazia eu ficar calma e me ajudava a pensar.

Mas ela estava se transformando num pesadelo, porque tudo que eu não queria no momento era baixar a guarda ou pensar demais. Pensar naquele lugar me fazia lembrar que eu poderia morrer a qualquer momento, assim, subitamente, sem porque e sem volta.

Mas quanto mais andávamos, mais eu ia ficando despreocupada, afinal, até aquele momento não havia ocorrido algo extraordinário, o que me fazia suspirar aliviada.

Foi então que comecei a olhar demais para Mallon, e aquilo me levava a pensar em Dicent, que estava me vendo, provavelmente.Fechei os olhos, pensando que provavelmente eu estaria com ele, sentada debaixo de uma árvore sem sombra, olhando para o lago, com a cabeça encostada em seu ombro e ouvindo suas piadas sem graça, mas que ainda sim me faziam rir.

Pisquei com força, espantando as lágrimas que teimavam em vir, as mesmas lágrimas de frustração que derramei antes de entrar no trem para vir para esse inferno.Virei o rosto, olhando para as paredes de pedra, que provavelmente estavam cheias de câmeras, curiosas para saber como meus olhos estavam por baixo dos óculos noturnos.

Foi então que meu coração parou por um segundo. Eu havia ouvido passos.

–Mallon. -Chamo tão baixinho que foi difícil me ouvir com o barulho da chuva. Ele se vira e ergue as sobrancelhas. - Eu ouvi alguma coisa.

Ele franze a testa e olha em volta, apurando os ouvidos.

–Não escuto nada... - Ele sussurrou de volta. Aproximei-me dele, agarrando seu braço.

–Estou falando sério! Ouvi passos, chapinhadas para ser mais exata. Tem alguém nos seguindo. -Insisto. Ele olha em volta novamente.

–Nada. -Diz ele com uma careta.

Então eu fico angustiada. Mallon me lembrava meu pai, quando eu lhe disse que tinha algo errado com a casa. Meu pai não acreditou naquele dia, e ignorou-me como sempre. Mas logo depois descobrimos que nossa empregada tinha morrido e tinham levado uma pintura de minha irmã, assim como fotos íntimas de nossa família, que ficaram no fundo no baú.

Eu estava certa, mas meu pai me ignorou, e no final acabamos ficando mal na frente de toda Panem.

–Mallon! -Choraminguei, implorando para que ele entendesse e acreditasse.

– Eu sei que acha que ouviu algo, Annelise, mas realmente não ouço na... -Uma faca passou zunindo por meu ouvido.

Berrei mais de surpresa do que de dor. Olhei para o lado e vi um garoto com um sorriso maligno no rosto.

–Hey!! Kennom, olhe o que achei! - O garoto gritou. Foi então que o cara do um apareceu, com sua enormidão, e nos encarou com um sorriso de escárnio.

–Olhe o que temos aqui! Uma princesa falida e um servo inútil. -Desdenhou o cara, que provavelmente se chamava Kennom.

Mas ao invés de ficar com medo, uma raiva tão grande quanto a do dia da Colheita me assolou. Mais uma pessoa duvidava de mim, e o pior era que essa pessoa nem me conhecia. Rangi os dentes e agarrei o chicote com a mão direita, com tanto ódio que eu tremia.

–Cuidado com o que fala. Eu já calei a boca de gente pior que você. -Rosnei. Kennom riu alto.

–Seu escravo não é maior que eu, sua putinha. -Ele riu-se. Eu estava pronta para estalar o chicote na cara daquele filho da puta, mas Mallon agarrou minha mão.

–Não. -Ele sussurrou em meu ouvido. Kennom riu novamente.

–De servo a amante. Isso aqui fica cada vez mais interessante! -Exclamou. Eu novamente quis marcar aquela cara feia, mas Mallon novamente segurou firmemente minha mão, impedindo-me de fazer qualquer coisa.

–Não vale a pena. -Ele acrescentou.

–O que fazemos então?! -Sussurrei com raiva.

–Vocês falam demais para pessoas que estão prestes a morrer. -Riu-se o outro garoto. Kennom assentiu.

–Eles parecem até a Deline. Mas eles vão ser calados rapidinho. -Então Kennom pegou um arco, e logo pegou uma flecha.

Fechei os olhos. Eu não poderia morrer agora. Não, não agora.

Olhei para trás discretamente. Havia uma saída. Sorri. Olhei bem para a mira do arco. Minha garganta, minha garganta seria atingida pela flecha. Eu só precisava desviar, e fugir. Mas ainda tinham as facas.

Pensa, Annelise! Pensa rápido!

Mordi o lábio. Merda, iríamos morrer. Kennom estava puxando a corda, a flecha a postos, pronta para me matar. Pensa!

Foi quando Kennom estava soltando a flecha que agi por impulso. Agarrei a espada de Mallon e desviei a flecha com a lâmina. Agarrei a mão de Mallon e corri, corri o mais rápido que meus pés permitiam. Senti uma fisgada forte na parte de trás da perna, o que provavelmente era uma faca, mas corri mesmo assim. Quando virei o corredor, vi uma piscina. Somente a piscina nos levaria ao outro lado.

Sem nem ao menos pensar, mergulhei na água e nadei o mais rápido que conseguia. Rapidamente cheguei ao outro lado, assim como Mallon. Então corremos, corremos como não corríamos desde que fugimos da Cornucópia.

Eu ainda agarrava a mão de Mallon como se minha vida dependesse disso. Sua mão era grande, quente, e envolvia minha mão com firmeza e delicadeza ao mesmo tempo. Esse toque me lembrava tanto Dicent...

Sacudi a cabeça com força. Não Annelise! Não se apegue justamente a ele! Ele deve morrer, e você viver, se lembre disso!

Respirei fundo, ainda correndo, tentando não pensar. De novo. Olhei o céu, que começava a clarear. Desejei que naquele momento eu estivesse sonhando. Só um sonho ruim, eu logo acordar, comer o café da manhã na escada e me encontrar com Dicent. Era tudo que eu mais queria.

Mas mesmo assim eu corri. Eu tinha que sobreviver a qualquer custo, eu não podia deixar meu pai provar que eu estava errada. Tinha que ser o contrário.

Corri mais e mais, sentindo minha perna doer cada mais, mas eu me recusava a olhar,a sentir, a deixar de correr.

Só diminui o ritmo quando chegamos a um lugar que nunca tínhamos estado antes.

Era uma sala circular de pedra, aberta, é óbvio. No centro havia uma única árvore, uma árvore enorme, com um tronco grosso e galhos nodosos, com folhas verdes em abundância.

Joguei-me exausta debaixo da árvore, e finalmente olhei minha perna. O corte estava feio, mas não era tão grave assim. Ao menos eu achava isso.

Mallon sentou-se ao meu lado e analisou minha perna.

–Não parece tão grave. -Ele murmurou com a testa franzida, tirando a faca dali. Gemi baixinho. Aquilo doía, muito.

–Sério? -Perguntei com lágrimas nos olhos. A chuva ainda caia impiedosamente e eu estava com os óculos, então ele não podia vê-las.

Mallon sorriu, pegou o quite de primeiros socorros, passou alguma coisa por cima do machucado e colocou um curativo por cima. Então Mallon beijou o curativo, e se levantou, sentando-se ao meu lado.

–Sério. -Ele finalmente respondeu.

Porque ele tinha que ser tão carinhoso? Porque ele tinha que ser tão legal? Ele não podia ser assim! Isso era injusto! Eu estava ali, ralando para não me apegar e ele vinha e ficava todo fofo?!

A minha vontade estava dividida entre dar-lhe um soco ou de finalmente virar sua amiga e morrer.

É claro que fiquei dividida e não fiz nenhuma das duas coisas, apenas encostei a cabeça na árvore olhando para o alto, a dor de cabeça por estar usando os óculos em plena luz do dia, já me assolava. Eu queria dormir, esquecer, ou sei lá.

Mas permaneci de olhos abertos. Fechei um pouco os olhos, reorganizando os pensamentos e abri-os novamente, a tempo de ver o enorme pássaro voando em minha direção.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :3