Ignored escrita por The Corsarian


Capítulo 21
A Volta Para Casa


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei, e mil desculpas, mas eu estou em uma fase ocupada da minha vida, por isso demorei.
Enfim, aqui está.
A Fanfic está acabando então deixem suas opiniões!!
Enjoy ;)



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Acordei tarde no outro dia, com Adeely já em meu quarto. Minha equipe irritante de preparação não estava ali, e só Adeely me preparou. Ela me deu um banho, cuidou da minha maquiagem e minha pele, e me colocou num vestido.

O vestido, como todos os outros era baseado nos vestidos de princesa de contos de fada. Mas eu não me sentia como uma princesa depois do sonho de ontem.

Eu nunca reparei em mim mesma depois dos Jogos, mas depois daquele pesadelo eu tive que fazê-lo. Encarei minha imagem no espelho. Eu estava num vestido branco e claro, com detalhes em dourado. Pulseiras pendiam de meus pulsos e uma tiara estava equilibrada em minha cabeça. O vestido era curto e menos formal, e mostrava minhas sandálias altas e cor-de-rosa.

Encarando aquela fachada eu nem parecia eu. Tudo parecia diferente.

Olhei em meus olhos. Meus familiares olhos castanhos, que deviam, como sempre, ter aquele brilho inocente de uma criança. Meus cabelos deviam ser longos e ondulados nas pontas, como sempre foi. Minha pele, que deveria ser branca como leite, tinha um tom rosado, com marquinhas de sol. Sardas. Meu rosto, que sempre tinha sido gordinho, agora estava magro e estranho. Meus braços estavam mais fortes.

Encarei aquela imagem no espelho, como se encarasse uma daquelas fotos ridículas de supermodelos da Capital. Agora eu parecia uma delas.

Analisando minha imagem eu pude ver algo além daquela aparência falsa de felicidade e beleza. Encarei meus olhos e enxerguei a verdade. Eu estava quebrada. Se eu reparasse bem, veria os mesmos fantasmas de meu sonho pairando acima de mim.

Eu poderia ver o sangue escorrer de meu peito e pingar no chão.

Quase conseguia ver as lágrimas não derramadas dentro de mim.

Podia enxergar a pequena parte de meu ser que ainda não tinha sido completamente aniquilada.

Respirei fundo, trêmula. Ouvi Adeely dizer algo sobre uma entrevista. Assenti e fui guiada por um corredor de meu próprio andar, até chegar a um local onde Caesar estava.

O local era confortável, apenas duas poltronas viradas uma de frente para a outra, algumas rosas e alguns quadros decorativos, e um punhado de câmeras.

Assim que Casear me viu, ele andou até mim e deu-me um abraço afetuoso.

— Deslumbrante como sempre, Annelise!

Sorri apenas. Um sorriso oco.

— Como se sente em relação a entrevista, querida? — Indagou Caesar com seu sorriso jovial.

Sorri trêmula.

— Nervosa, ansiosa. Com medo de dizer algo estranho. Ou sei lá, surtar. — Respondi ainda com um sorriso trêmulo. Em parte aquilo era verdade. Mas eu estar trêmula não tinha nada a ver com a entrevista.

Caesar riu de um modo acolhedor e me disse para relaxar. Assenti brevemente e sentei-me na poltrona em frente a de Caesar. Ajeitei meu vestido, e ajustei minha alma e meu estado de espírito para esta entrevista.

Então alguém fez uma contagem regressiva, e logo Annelise Banks estava sendo transmitida obrigatoriamente para toda Panem.

Ele começou com as perguntas usuais. Quase como se fosse um amigo de anos, perguntando sobre as mudanças da vida. Respondi todas as perguntas dignamente, com um sorriso, de modo alegre e cheio, para tentar passar a todos uma versão diferente de mim. A versão inteira, a versão que não chorava por mortes. A versão mais normal.

Então, de repente ele me fez uma pergunta que demorei um bom tempo para responder.

— Agora gostaria de falar algo em relação a sua família, que é, obviamente, uma família de astros e estrelas, não?

Assenti.

— Pergunte-me o que quiser Casear. — Digo com um sorriso. — Pensarei em lhe conceder o direito de falar sobre a família da rainha, hãn?

Brinquei, de modo que Caesar riu, mas logo estava pronto para fazer essa pergunta.

— Como você sabe, há uma entrevista quando se chega aos oito participantes nos Jogos. — Começou Caesar. Concordei com um aceno de cabeça, pedindo para ele prosseguir. — Nessa entrevista, sua família toda falou bastante sobre você. Mas seu irmão mencionou alguém, que, aparentemente, não apareceu na entrevista, mas que deveria ser entrevistado.

Fiz careta.

— Tenho certeza que todas as pessoas de importância foram entrevistadas. A Capital não se esqueceria de ninguém. — Comento, bajulando de propósito a Capital. Não acho que eu tenha feito algo errado que possa deixar o Presidente irritado, mas sempre é bom ter um crédito com o povo.

— Sim, mas pelo que sei, este jovem não é da família.

Senti um frio no estômago. De repente eu senti que surtaria. Eu sabia exatamente de quem ele estava falando, e eu não queria falar sobre essa pessoa no momento. Fechei os olhos por alguns segundos, aguardando a pergunta.

— Gostaria de saber mais sobre este seu amigo, Dicent Morff.

Fiquei em silêncio por um longo tempo. Fiz uma careta pensativa. Oque falar sobre Dicent Morff?

Suspirei e continuei a pensar.

— Demore o tempo que precisar Annelise. — Murmurou Caesar.

Assenti e voltei a pensar.

Não que fosse difícil falar de Dicent. Na verdade eu poderia passar horas, dias, anos falando de meu melhor amigo. De minha família de uma pessoa só. Mas era difícil medir nosso relacionamento em palavras.

Primeiro, porque eu havia associado Mallon de algum modo a ele. Segundo, eu saberia que ele estava assistindo. Terceiro, eu não sabia o que dizer, sem colocar toda a importância da minha vida naquela pessoa. E eu tinha certo medo de que a Capital não gostasse de saber que minha família não era tão perfeita assim afinal.

Olhei para Caesar, que aguardava pacientemente minha resposta. Respirei fundo e olhei a câmera, onde eu sabia, que em algum lugar além dela, Dicent também esperava minha resposta.

Olhei fundo para a câmera, como se olhasse para ele, e respirei fundo novamente.

— Olhe, é um pouco complicado falar sobre ele em palavras. Mas em suma, ele foi a pessoa mais importante da minha vida. — Murmurei cautelosa, encarando a câmera nem mesmo notando a presença de Caesar ali. Era como se eu estivesse com Dicent de novo embaixo de uma árvore, e era como se estivéssemos apenas conversando casualmente. Fechei os olhos e tornei a abri-los. — Dicent sempre foi meu amigo, meu apoio, a única coisa normal da minha vida. Não consigo colocar em palavras tudo o que sinto por ele. Não conseguiria, nem em mil anos, mostrar todo o carinho, o amor, e a gratidão, que estão associados a ele. Caesar, eu não conseguiria explicar tudo para você agora, mas quero que todos saibam, ele é meu irmão, meu segundo eu, meu lar, minha... Escapatória. — Suspirei e então voltei a encarar Caesar, que sorria afetuosamente para mim.

— Ele é seu, por assim dizer, príncipe, querida? — Indagou Caesar maliciosamente curioso.

Corei até a raiz dos cabelos, mas eu ri. Senti pela primeira vez eram sentimentos verdadeiros, e percebi que isso era por falar de Dicent. Sorri. Ele conseguia mudar minha vida mesmo estando a quilômetros de distância.

A entrevista continuou, e não teve mais incidentes como aquela pergunta. Novamente eram todas vazias e estranhas.

No final da entrevista eu senti uma melancolia estranha. Uma vontade imensa de me afundar numa poça de desgraça e ficar ali pra sempre.

Entrei em meu quarto, onde supostamente seria para eu arrumar minhas coisas, mas como não havia nada para arrumar, eu apenas tomei um banho longo, e, como sempre, joguei-me nua na cama e tirei um cochilo.

Andrea me acordou e disse que era hora de ir para casa. Eu me vesti e fui para um carro. E depois para um trem. E depois para uma cama. E depois para um mundo completamente sinistro e cheio de pesadelos.

Depois eu me afundei em lágrimas que pareceram vazias e ocas até para mim. Ninguém veio me consolar, então me lembrei de que nunca mais alguém viria me consolar.

Tomei mais um banho curto e então vesti algo mais confortável, mais parecido comigo, mais parecido com minha volta para casa.

Uma blusa verde e justa, com um short jeans e um tênis.

Encarei minha imagem no espelho.

Eu nunca tinha esperado que voltaria para casa assim. Tão diferente de mim mesma. Fechei os olhos e me imaginei como antes. Seria tão melhor se eu nunca tivesse saído de casa.

— Sei o que está pensando. — Ouvi a voz de Andrea atrás de mim. — Mas agora não dá pra voltar. Você é uma vitoriosa. Venceu os Jogos. Você é uma deles agora. Sua vida não voltará a ser normal. Você precisa entender isso, isso é parte de você agora.

Assenti.

— Agora é hora de encarar aquela multidão, fingir que está feliz, e continuar a fazer isso pelo resto da sua vida.

Olhei pra Andrea e soube que ela não estava brincando. Seria realmente assim. Suspirei e abri os braços, de repente querendo muito um abraço. Andrea sorriu solidária e me abraçou, acariciando meus cabelos.

Então me afastei e abri um sorriso.

— É assim que começa — Ela incentivou. Assenti.

Então encarei a realidade que vinha pela frente.


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Notas finais do capítulo

E aí? Oque acharam?
Comentem!!