Ignored escrita por The Corsarian


Capítulo 20
As Horas Não Passam no Modo que Devem Passar


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a ultra demora gente!!
Mas deu não abandonei a fic viu!!
Enfim, o problema foi que eu estava de férias, em Floripa, com meu computador no mínimo 700 km longe de mim, e num apto. sem Wi-Fi.
Não deu pra postar gente!!
Mas eu não tenho nada pra dizer além disso, então...
Enjoy ;)



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Saí dali para me encontrar com Andrea, que sorria abertamente para mim. Ela me levou até onde Caesar iria me fazer algumas perguntas, iria fazer algumas piadas e então eu assistiria o filme com os melhores momentos dos Jogos, para depois eu ganhar a coroa, que eu sabia que iria combinar perfeitamente com meu vestido.

Mas eu me sentia péssima. Ridícula, vazia, idiotamente triste por vencer. Eu não merecia coroa alguma. Eu merecia uma punição, algo pior que morrer, algo que me faria desejar não vencer. Mas eu sabia que nada disso iria acontecer. Eu iria ser tratada como uma rainha, as pessoas me honrariam e me parabenizariam, e eu iria sorrir falsamente para todas elas.

Senti-me grata por Andrea estar perto de mim. De repente me perguntei como ela se sentiu depois de vencer. Perguntei-me se ela se sentia triste por receber atenção por matar pessoas. Perguntei-me se ela sequer se importava com alguma coisa.

– Então é essa a sensação? - Sussurrei.

Andrea ficou calada por um tempo, e não perguntou do que se tratava a pergunta. Eu sabia que ela tinha entendido.

Ela demorou um pouco para me responder alguma coisa.

– A sensação de vazio? A sensação de estar suja por sangue inocente? A sensação de que está sendo castigada, não premiada? A sensação de querer se esconder em um buraco? A sensação de vencer essa droga de jogo inútil, que só vai trazer mais uma caralhada de problemas na sua vida? A sensação de querer quebrar a porra toda e sumir do mundo? A sensação de querer enfiar a idiota cabeça do presidente na privada e fazê-lo sentir todo o sofrimento do mundo? - Disse Andrea, apertando os punhos com força.

Ela se calou por um tempo, enquanto andávamos silenciosamente até o elevador.

– A sensação de estar sozinha, mesmo com o mundo inteiro ao seus pés? - Concluiu. Então ela me olhou, e pude ver toda a raiva, frustração, solidão e ódio que ela sentia. Entendi porque ela sempre foi uma mulher fria. Os Jogos congelaram o coração dela. - Sim. Essa é a sensação. Não é boa. É a sensação de dormir e ter um pesadelo, para acordar e ver que não é um alívio. Que a sua realidade é igual ou pior. Sim. É essa a sensação de "vencer" os Jogos Vorazes.

Foi quando chegamos ao lugar onde deveríamos ficar para finalmente subir ao palco, que Andrea me olhou, e terminou de me responder.

– Ninguém vence. Ninguém tem honra. No final não há riqueza. Não há paz. Não há a sensação de segurança. Só há a dor de acordar todos os dias e se lembrar do que você fez.

Então ela se virou e foi embora.

Por um momento eu não processei nada, mas por fim entendi as palavras de minha mentora. Fechei os olhos, tentando por apenas alguns segundos imaginar minha vida antes dos Jogos.

De repente ser uma ignorada me pareceu tão mais fácil...

Mas eu sabia que tinha que encarar o que haveria pela frente. Eu me tornaria uma mentora. Eu veria pessoas morrerem de novo, e de novo. E me tornaria fria, insensível, dura, vazia.

Sacudi a cabeça e me posicionei em meu lugar. Era uma placa de metal, que me içaria até o palco, no qual eu entraria por baixo. Lembrei-me que primeiro viria a Equipe de Preparação, então Affinie, Adeely, Andrea e Aank, e finalmente, eu. A vitoriosa.

Eu não me sentia assim.

Balancei a cabeça novamente, e fiquei paradinha, esperando meu momento.

Meu momento de subir ao palco chegou cedo demais. Assim que apareci, a multidão se calou, hipnotizada, por alguns segundos, mas logo depois explodiu em gritos, enquanto eu caminhava para a poltrona luxuosa, sorrindo e acenando falsamente na direção dos meus recém-adquiridos fãs.

Sentei-me na poltrona, e Caesar Flickerman começou a fazer suas perguntas. Não foram tantas, porque a verdadeira entrevista seria no dia seguinte. Hoje eu só veria o filme dos melhores momentos.

Respondi a cada uma de suas perguntas desnecessárias, aceitei cada um de seus elogios, e ri em cada uma de suas piadas.

Eu não conseguia entender como ninguém percebia a minha falsidade. Eu estava fazendo tudo mecânica, e falsamente. Não tinha como alguém não perceber.

Mas eles eram da Capital, e tudo ali tinha um fluxo completamente diferente. Era óbvio que ninguém percebia, notava, ou realmente se importava com meus sentimentos. Eu era só mais uma vitoriosa que eles tinham que vangloriar.

Quando o filme começou eu me calei. A maior parte do filme mostrava Mallon distribuindo beijinhos por meu pescoço. Só de pensar eu tive raiva e nojo, mas não deixei aquilo me dominar. Pela primeira vez na minha vida, eu controlei minhas emoções, que vinham todas em uma enxurrada, e eu contive todas elas, mantendo minha expressão dura, impassível, impenetrável.

Não fiquei surpresa ao descobrir que Mallon planejava me matar desde o princípio. Ele nunca tinha sido meu aliado. Ele sempre esteve do lado dos Carreiristas, e seu único objetivo era me matar. O único momento em que deixei escapar uma expressão, foi quando a cena da morte de Mallon apareceu.

Ele fora a única pessoa naquela Arena que não me arrependi de matar.

Deixei escapar uma expressão de prazer ao ver seu corpo morto, o que provavelmente me fez parecer uma maníaca, mas eu pouco me importava.

O filme acabou comigo abraçando Andrea com força, o que me fez parecer um pouco menos sem coração.

Ao término do filme, o Presidente Snow em pessoa apareceu no palco, e colocou a coroa sobre meus cabelos. Enquanto ele ajeitava a coroa pesada demais em seu devido lugar, ele me olhava com seus olhos venenosos. Mas ele não me olhava com olhos reprovadores. Na verdade parecia satisfeito, era como se eu tivesse feito exatamente o que ele queria.

E me assustei por perceber que eu realmente fiz isso.

A horas depois disso passaram por mim como um jato.

Gente gritando e acenando para mim, Caesar dando boa noite, o jantar da Vitória, gente tirando fotos comigo, gente chorando por eu ter voltado, gente pedindo para casar comigo, fotos e mais fotos, e eu sempre sorrindo falsamente.

Quando cheguei ao meu andar novamente o tempo desacelerou, e eu odiei isso.

Fui para o banheiro e tomei um longo banho de duas horas, e então me joguei na cama, nua e seca, os cabelos penteados e uma tristeza enorme dentro de mim.

Então enfiei-me debaixo das cobertas, liguei o ar-condicionado em sua temperatura mais fria, e programei a parede para ela parecer uma praia calma com as ondas batendo na areia. A única reação que tive foi afundar a cabeça nos travesseiros e chorar até meu estoque de lágrimas esgotar.

Depois disso dormi com o rosto colado no travesseiro úmido, e tive vontade de nunca mais acordar.

Meu sonho não parteceu fazer muito sentido no começo. Era apenas eu, nua e com frio, no meio de uma clareira escura e vazia. A noite era fria e sem estrelas e o vento açoitava as árvores, fazendo seus galhos chacoalharem ruidosamente.

No chão, perto de mim, havia um sobretudo negro, o qual rapidamente coloquei sobre meu corpo. No instante em que fiz isso, algo estranho aconteceu. Olhei para meus braços e vi que minhas veia tinham se tornado aparentes, pulando de seus lugares e ficando vermelho-vivas.

Ao meu redor, vultos começaram a se mover, e logo começaram a me atacar, chutando-me, estapeando-me, enfiando facas em minhas pernas. Caí no chão, arquejando, enquanto sentia meu pescoço explodir em dor. Coloquei a mão ali, e logo ela ficou úmida de sangue.

O sangue espirrava surrealmente para fora de meu corpo, saindo de pequenos buracos de minha pele, jorrando forte como os esquichos de uma fonte. Logo ao meu redor havia uma poça de sangue. Eu sentia a dor dilacerar meus ossos, sentia cada golpe dos vultos queimar e explodir de dor. A poça de sangue se tornou um rio, e meu corpo todo estava manchado.

Olhei ao redor, para ver o que eram os vultos, e reconheci cada um dos rostos. Eram todos os outros 23 tributos.

Eles sussurravam coisas horrendas para mim, e zombavam da minha situação. A noite ficou mais escura, e o vultos ficaram mais claros, quase como se fossem realmente pessoas vivas, e emitiam um brilho perolado, que refletia horrivelmente no rio que meu sangue tinha feito.

Eu sentia a dor mortal, eu sentia minhas veias ficarem sem sangue para bombear, eu sentia meu coração parar de bater aos poucos, eu sentia meu cérebro ficando letárgico e parando de funcionar, eu podia sentir cada um de meus órgãos falecendo, mas eu não morria.

Eu continuava a sentir os golpes dos vultos, eu ovia suas risadas, sentia a dor de estar morrendo, mas eu não perdia a consciência. Eu não tombava mole e sem vida. Eu não sentia minha alma deixar meu corpo.

Caí por cima da poça horrenda que meu sangue tinha causado, e senti chutes e pontapés sendo desferidos em todas as partes de meu corpo. Eu me ouvia gritar, pedindo por socorro, e eu sentia o cheiro de ferrugem e sal de meu sangue. Eu coseguia ver mais fantasmas se juntando ao meu redor, eu sentia mais golpes em mim, golpes mais fortes.

Eu me ouvia chorar, ouvia o lamúrio das almas mortas ao meu redor, ouvia as zombarias, ouvia os risos. Sentia a morte.

Nada parecia ser mais real do que aquilo.

Fechei meus olhos, e lentamente senti a vida deixando meu corpo. Eu sabia que tinha começado a chorar, a soluçar, a implorar por perdão. Mas eu sentia estar morrendo, e não me sentia triste por isso. Eu agradeci.

Mas nesse momento eu acordei, e senti como se nada nunca mais fosse se encaixar em minha vida.

Chorei mais alguns litros de lágrimas e voltei a dormir.

Dessa vez eu não tive sonho algum.


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