Ignored escrita por The Corsarian


Capítulo 19
Acordando


Notas iniciais do capítulo

Não sei o que dizer, apenas aproveitem
Enjoy ;)



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Quando acordei me senti confusa.

Era como uma daquelas sonecas em que você tira de tarde, e que quando você acorda, não se lembra de onde estava quando pegou no sono, ou que horas eram, e nem mesmo o dia em que está. Mas agora era diferente.

Eu estava em um quarto completamente branco. Ofuscante até, fazendo-me apertar os olhos para enxergar alguma coisa. Olhei em volta.

Eu estava em uma cama macia, com lençóis brancos que cegavam, assim como a brancura da parede, que parecia não ter porta alguma. A única coisa que não era branca por completo ali, era o espelho, que refletia minha imagem.

Nua, de cabelos curtíssimos, sem uma cicatriz sequer. Um colar de corda com um pingente azul em volta do pescoço.

Franzi a testa. Colar? Esforcei-me para lembrar, até que uma voz me veio a cabeça Seu irmão me pediu para te entregar. Disse que é o símbolo do Distrito.”. Então me lembrei.

Agarrei o colar. Tinha me esquecido completamente dele na Arena. Mas agora, olhando para ele, eu via meu irmão ali, me desejando sorte, sucesso, e todas essas coisas que irmãos desejam. Sorri.

Mas depois tive vontade de chorar.

Droga!

O que eu estava pensando? Matar gente? Desde quando eu tinha me tornado esse tipo de pessoa? A do tipo que fazia tudo para alcançar o que quer? Desde quando eu tinha me tornado tão egoísta?

Aquela sensação era estranha, diferente, e num sentido ruim, horrível, péssimo. Era como se eu estivesse em um pesadelo que não acabava, mesmo se eu abrisse os olhos, mesmo que eu me belisque, aquilo não acabaria.

Respirei fundo, desejando que aquilo fosse mesmo somente um sonho, e que eu acordaria agora para ir para a Colheita, que eu ainda colocaria meu vestido, ainda veria Dicent, e Mallon nunca teria aparecido para mim. Eu não me voluntariaria, e eu assistiria outra garota lutar até a morte para vencer.

Mas aquilo não aconteceria. Eu já tinha acordado e causado toda a merda que me trouxe até esse lugar, onde era para mim supostamente ser a vencedora, e eu não me sentia assim.

Agarrei o colar com mais força, observando meu corpo anormalmente perfeito através do reflexo do espelho. Aquilo me incomodava. Ser perfeita, quero dizer. Falsamente sem defeitos. Eu quase senti nojo.

De repente a parede que parecia não ter porta se abre, revelando uma Avox de cabelos loiros platinados. Quase grito de susto, quando ela entra com uma bandeja prateada em mãos. Ela apenas levanta a cabeça, inclinando-a ligeiramente, como que perguntando algo. Ao analisar seu rosto sinto uma pontada de inveja. Ela é simplesmente perfeita.

Rosto fino, com bochechas carnudas, assim como os lábios, pele de porcelana, e olhos cinzas clarinhos, como nuvens de chuva de verão. Suspirei e me sentei na cama. Ela coloca a bandeja sobre minhas coxas, e sai. Quero desesperadamente que ela fique, que ela converse comigo, mas lembro-me do detalhe de que ela não pode falar nada.

Olhei para a bandeja. Ali havia um pequeno pote com um caldo alaranjado, e ao lado dele um grande prato com carne e cereais, acompanhados de um copo de um líquido escuro e gelado. Devoro tudo num piscar de olhos, e ainda sinto fome. Desejo poder chamar a Avox novamente, e pedir mais comida. Suspirei, sabendo que isso não seria possível, então apenas me deitei, exausta, e dormi em questão de segundos.

Não sei dizer se passaram segundos, dias, horas, minutos, meses ou anos desde que dormi, mas quando acordo me sinto completamente renovada, rejuvenescida e feliz. Ao lado de minha cama tem uma blusa larga e rosa, acompanhada de uma calça jeans clara e delicada. Havia também um par de sapatilhas cor da pele. Vesti-me em um segundo, e parei na frente da parede, onde sabia haver uma porta.

Saio do lugar, desesperada pela companhia de alguém. Qualquer pessoa me faria bem naquele momento. Fui parar em um corredor branco e ofuscante, assim como a sala em que antes me encontrava.

Olhei para os dois lados do corredor. E então a vi. Andrea. Linda. Confiante. Feliz.

Abri um sorriso, e fiz uma coisa que eu não imaginava que faria. Corri desesperada para seus braços, me aconchegando neles, me sentindo feliz, e acolhida ali.

Andrea retribuiu o abraço, apertando meus ombros, beijando o topo de minha cabeça. Sorri, incapaz de acreditar que finalmente estava tendo um contato real, com uma pessoa com sentimentos, uma pessoa que se importava comigo.

Afastei-me, encarando o rosto de Andrea.

— Você conseguiu afinal, não?

Ela só disse isso, e depois me apertou mais contra seu peito. Eu jurava ter visto lágrimas em seus olhos, mas preferi ignorar. Afastei-me dela mais uma vez, para depois ver meu irmão ali, sorrindo para mim. Abracei-o com força também, enquanto ele bagunçava meus cabelos, agora curtinhos.

Depois de abraçá-lo, dei um passo para trás, mês sentindo vazia e completa ao mesmo tempo. Era estranho, mas dessa vez um estranho bom.

— Ainda bem que está aqui. Por um momento, pensei que não fosse conseguir – Disse meu irmão com um sorriso de orelha a orelha em seu rosto.

— Eu também – Digo retribuindo o sorriso.

Então fiquei ali, parada, olhando para os dois. Ao lado deles estava Adeely, com seus olhos anormalmente grandes e vermelhos faiscando em minha direção. Ela ainda parecia falsa e detestável, mas abriu um sorriso, tão verdadeiro e perfeito que me senti tranquilizada.

As tatuagens em suas bochechas ondularam quando ela sorriu. Dessa vez ela usava um vestido longo, e extremamente colorido. Ela estava bonita, eu tinha que admitir, por mais que fosse falsa e irreal, como uma pintura.

Para a surpresa dela e minha, eu a abracei, com força, afundando o rosto em seus cabelos extravagantemente coloridos. Pude sentir seu sorriso.

— É bom que tenha feito uma roupa perfeita, para eu arrasar – Digo a ela, com o meu maior sorriso. Ela riu.

— Como se eu não tivesse feito isso até agora, não querida? – Ela comentou, rindo adoravelmente. Ri junto dela. – Agora querida, é hora de arrasar!

Assenti, e então Adeely me guiou pelos corredores até o elevador. Fomos para o quarto andar, e três garotas extravagantes e animadas me receberam. Lembro-me de elas serem minha equipe, mas não me lembro de seus nomes complicados e estranhos.

Mas elas se lembram exatamente do meu nome, e não param de repeti-lo, cumprimentando-me tantas vezes que perco a conta.

Elas me arrastam até a sala de jantar, me entopem de comida, reclamando de como eu estava magra, e que eu não caberia em meu vestido. Então elas me arrastam até meu quarto, me banham, e me arrumam, passando cremes em mim, ajeitando a maquiagem, e tudo mais.

Uma das garotas, a com um enorme e horrendo cabelo verde, reclama dizendo que meu cabelo está muito curto e desregular. Uma outra, que tinha os cabelos modelados como uma onda nos tons do fogo, estava fazendo minha unha e dizendo aos quatro ventos como participar dos Jogos acabavam com as unhas. A última, uma que usava uns saltos anormalmente altos, estava fazendo algum tipo de procedimento em meus pés, e reclamava de como eu estava magra e estranha.

Elas não paravam de falar, e a cada nova atividade que realizavam, trocavam de assunto. De certo modo aquilo era reconfortante, quero dizer, ouvir vozes, pessoas, saber que não estava sozinha, que tinha gente comigo. E era bem divertido ouvi-las reclamando de suas vidas pateticamente fáceis e ridículas.

Depois que as garotas terminam seu trabalho, me deixando ainda mais anormal e esquisita aos meus olhos, Adeely entra, com um sorriso, e me pede para fechar os olhos. Ela parecia gostar de surpresas.

Senti o vestido deslizando sobre meu corpo, e também senti ela ajustando-o sobre minha pele fina, e sobre a pouca carne que me restava. Ela me sentou e colocou-me sobre saltos, e depois colocou joias ao redor de meus pulsos, de meu pescoço, de meus dedos. Então ouvi sua voz doce e melodiosa pedindo:

— Abra os olhos, querida.

E eu abri. Sorri. Adeely nunca algum dia iria me decepcionar.

Se no dia de minha entrevista eu parecia uma princesa, agora eu parecia uma rainha.

Meus cabelos estavam cortados certinhos na linha de minha nuca, e minha franja estava um pouco maior que o resto do cabelo, mas ele parecia estar perfeitamente preparado para receber uma coroa de rainha. Meu rosto estava repleto de maquiagem, mas de algum modo aquela maquiagem me deixou mais saudável, aparentemente.

Meu vestido era azul, mas desta vez, era um único e puro azul anil, exceto por pequenos fios dourados que se espalhavam como pequenas lágrimas de ouro pela saia bem rodada. O corpo do vestido não era muito apertado, de modo que minha magreza não era tão aparente. Os ombros do vestido eram caídos até um pouco abaixo das axilas, deixando meus ombros a mostra. As mangas eram largas e só iam até o pulso.

Em meu pescoço, um enorme e pesado colar dourado, abraçava meu pescoço, combinando com o par de brincos perolados que apareciam por baixo da franja, dando um destaque ao meu rosto que parecia ter ficado sem graça sem o comprimento antigo.

Meu pulso direito estava cheio de pulseiras, que iam até o término da manga, e se conectavam com os anéis em meus dedos, todos eles, até mesmo o polegar.

O salto não aparecia, mas ao levantar o vestido, vi que era um sapato dourado, e simples.

— Arrase na entrevista – Pediu Adeely.

— Eu vou fazer isso – Afirmei convicta.


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