Ignored escrita por The Corsarian


Capítulo 14
Beijos Não Fazem Mal


Notas iniciais do capítulo

Desculpa mesmo gente!! Era para eu ter postado na sexta, mas minha mãe me deixou de castigo...
Enfim, aí está mais um capítulo, feito especialmente para torturar vocês hehe :3 Eu amo fazer isso!!
Enjoy ;)



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Fraca!

Enquanto meus pensamentos eram inundados por aquela palavra, Mallon ainda distribuía seus beijinhos por meu pescoço. Lentamente fui pegando no sono e meu cérebro resolveu que eu estava sofrendo demais e me presenteou com boas lembranças.

Em meu sonho, eu estava embaixo de uma árvore, mas eu era mais nova, bem mais nova. Eu tinha três ou quatro anos de idade, e não tinha amigos naquela época. Eu me lembrava bem daquele tempo em que eu tinha que esperar meu pai chegar para me buscar da escola, e ele sempre demorava, então eu ia para debaixo de uma árvore e ficava esperando meu pai chegar.

Eu estava com um livro nas mãos, a testa franzida, esforçando-me ao máximo para decifrar aquele emaranhado de letras. De repente sinto alguém se sentar ao meu lado.

– Você sabe ler? - Ouvi alguém perguntar. Levantei os olhos de meu livro e fitei o garoto ao meu lado.

Ele tinha cabelos loiros desgrenhados, pele amorenada e grandes olhos verdes repletos de curiosidade. Fiz careta.

– Um pouco. Mas ainda é difícil entender... - Eu respondi, me embolando nas palavras.

Eu sempre fui muito sozinha, e não conversava muito, então, para a Annelise de quatro anos de idade, falar com as pessoas era algo extremamente difícil, muito mais quando essa pessoa era desconhecida. O garoto sorriu.

– Você está envergonhada - Afirmou ele. Fiquei vermelha até a raiz dos cabelos. Ele soltou uma risadinha. - Sou Dicent, e você?

– Annelise - Pronuncio meu nome com cuidado, como se estivesse com medo de repentinamente meu nome mudar e eu errá-lo.

– Nome bonito... Esse nome me faz lembrar comida - Dicent comenta divertido.

Na época eu não entendi o que era engraçado, mas depois descobri o que provocava humor naquela frase. Desde pequeno Dicent brincava com sua posição na sociedade. A menção à comida era irônica, pois ele praticamente não conhecia a comida de verdade.

Fiz careta.

– Não vejo como nome de comida pode ser bonito. Lá em casa, tudo o que comemos tem nome estranho. Uma vez, papai trouxe um tal de risoto. Ainda acho o nome estranho, me faz lembrar de algo sorridente, mas é realmente uma droga! - Exclamo ainda com uma careta. Dicent me olhou impressionado.

– Você deve ser rica não é? - Ele indagou curioso. - Quero dizer, livros e comida com nome estranho, nunca vi ninguém com tanto dinheiro na vida!

Na hora eu achei estranho, mas ao longo do tempo entendi o que ele estava querendo dizer. Era raro alguém comer alguma coisa, ou ter dinheiro para ler alguma coisa. Portanto, para Dicent, ter um livro era quase como jogar dinheiro na privada. Era algo difícil, e coisa que suspeitava ser só para ricos.

– Não sei se sou rica. Papai me disse que sou inteligente. Não rica - Afirmo com convicção.

– Tudo bem então, patricinha! - Dicent disse brincando. Corei. - Nos vemos por aí!

Então ele sumiu por entre o parque. Meu sonho se dissolveu e acordei com frio.

Logo entendi porque. Mallon tinha sumido, e desaparecido lá fora. Provavelmente tinha ido em busca de alimento ou algo assim. Olhei pela "janela" e vi que estava tão frio, que lá fora pequenos flocos de neve pousavam suavemente no chão. Estremeci e novamente de afundei nos sacos de dormir.

Depois de um tempo, Mallon voltou e me ofereceu uma garrafa de água quente para beber. É claro que aceitei, e senti o maior prazer ao sentir a água quente escorrer por minha garganta, me deixando quente e revigorada.

Depois de um tempo, Mallon sugeriu que ficássemos ali até o frio abrandar, o que demoraria um dia, no mínimo. Estremeci com isso.

Um dia, trancada naquela toca claustrofóbica, com Mallon apertado comigo, sem poder sair por causa do frio. Era tudo que eu menos queria no momento. Eu desejava correr em disparada, sumir da vista de Mallon, me esconder em um lugar longe de tudo e todos, e só sair quando os Jogos tivessem seu fim.

Mas no momento, eu estava presa em uma toca, com um homem pelo qual eu sentia coisas confusas, sem poder sair, ou sequer me mover por causa do espaço.

Esquentei meus dedos frios na superfície quente da garrafa. Mallon me olhava estranho, algo me deixava com medo, já que eu já me sentia um pouco apavorada em relação a ele. O silêncio que pairava entre nós era ao mesmo tempo reconfortante e constrangedor. Eu realmente queria falar algo para ele, mas não sabia o que dizer.

Eu queria quebrar o gelo entre nós, mas não sabia se possuía as ferramentas certas para isso, e se as possuísse, eu não sabia como usá-las.

Fitei o rosto de Mallon. Como sempre ele estava distante, bebericando sua água quente devagar, os olhos desfocados e sem emoção, como se ele estivesse em uma lugar muito longe dali. Suspirei baixinho, perguntando-me pela enésima vez o que se passava naquela cabeça.

Então, sem aviso prévio, ele desviou seu olhar para mim. Então ele sorriu, e ficou mais próximo de mim.

– Continua com frio? - Começou ele, indicando minha pele arrepiada.

Novamente ele me surpreendeu. Como ele conseguia puxar assunto tão naturalmente desse jeito?

Dei de ombros.

– Um pouco. É só que eu odeio o frio, portanto, o mais mínimo ventinho, para mim parece um vendaval. É quase como um trauma... - Murmuro, sem realmente dizer que realmente era um trauma.

Me lembrava dos dias frios, em que todos "da família" se reuniam na sala, embaixo de um cobertor grosso, com o aquecedor ligado e chocolate quente nas mãos. Todos contavam sobre seus dias, e aquela época de inverno era a única em que realmente conversávamos.

Certa vez, sem querer, derrubei chocolate quente no colo de minha irmã. Como ela era a filha querida, meus pais ficaram furiosos e como sempre, passaram dos limites. Me mandaram passear fora de casa, e nem ao menos me deixaram pegar um casaco mais grosso para me proteger da neve lá fora.

Fui até a casa de Dicent, e estava tremendo de frio. Desde aquele dia, morro de medo do frio, ou de qualquer coisa que me remeta a ele.

Mallon sorriu.

– Temos uma toca bem quentinha aqui. Relaxe, você não vai passar frio - Ele disse com naturalidade, me puxando para um abraço.

Seus braços me envolveram com calma, e logo eu já estava presa em um abraço apertado. Não demorou muito, e seu nariz passeava por meu pescoço e meu rosto. Novamente seus lábios pousaram nos meus e eu não sabia o que fazer.

A minha parte emocional gritava para eu corresponder, já a racional praticamente me obrigava a se afastar.

Mas minha desgraça começou quando Mallon infiltrou sua língua na minha boca. Eu, como a boba que sou, permiti que ele enrolasse sua língua na minha.

As mãos de Mallon puxaram-me para perto, logo pousando em minha cintura, acariciando ali. Minhas mãos se enroscaram em seus cabelos loiros, parecendo ficarem presas naquele emaranhado de fios. Minha mente gritava para eu me afastar, mas meu corpo queria aquilo.

Era maravilhosamente delicioso a sensação de nossas línguas lutando por espaço, nossas mãos explorando nossos corpos. Mas uma vez eu soube que todas as câmeras estavam com seus olhos curiosos voltados para nós.

Eu sabia que aquilo só piorava tudo, aquele beijo, aquele desejo, mas eu não conseguia parar, a força de vontade em mim, praticamente não existia quando a língua de Mallon se esfregava ousadamente na minha.

Lentamente fui perdendo o fôlego, e mais lentamente ainda, fui me descolando dos lábios de Mallon.

Finalmente nos separamos, e ficamos ali, fitando um ao outro, os rostos tão próximos que as respirações se confundiam. Mallon mordeu meu lábio, ainda com os olhos sobre os meus, suas mãos apertaram com mais força a minha cintura, como se Mallon quisesse muito mais que um simples beijo.

Me afastei por completo dele. Que merda eu tinha acabado de fazer?

Respirei fundo e virei o rosto, mas Mallon me puxou de volta para ele, selando nossos lábios mais uma vez. Então ele começou a tratar dos meus ferimentos, e mais por obrigação do que por qualquer outra coisa, tratei do corte na bochecha dele novamente.

Depois disso ficamos quietos o restante do dia, e a única coisa que interrompeu foram os barulhos incessantes do vento lá fora.

Rapidamente fiz uma contagem mental, e com um susto, percebi que só restavam eu, Mallon e os Carreiristas. Prendi o fôlego. O momento de matar Mallon estava mais próximo do que eu esperava, e ainda ele ficava tentando me confundir com aqueles beijos.

Merda!

Suspirei pesadamente, fechando os olhos. Além de fraca eu era estúpida! Como eu fazia uma coisa dessas praticamente no final dos Jogos?

De repente Mallon levantou-se, pegando o casaco. Ele me lançou um olhar estranho, que eu particularmente não entendi.

– Vou dar uma volta - Ele apenas disse e saiu.

Eu deveria me incomodar, desconfiar ou alguma coisa do tipo, mas eu simplesmente fiquei aliviada, afinal, ele tinha saído. Suspirei mais uma vez e comi um pouco dos biscoitos que nos restaram. Então coloquei minha luva, meu casco extra, a pele de bestante e minha meia extra, para logo depois me afundar nos sacos de dormir.

Fiquei bem alerta, esperando Mallon chegar. Eu ainda teria que ficar acordada a noite toda, pois eu ficaria de vigia. Tomei uma dar pílulas para evitar o sono, e fiquei aconchegada nas cobertas.

Depois de um tempo Mallon chegou, seu cabelo loiro todo coberto por flocos de neve e ele parecia muito mal-humorado. Ele se afundou no saco de dormir, resmungou algo ininteligível e virou para o outro lado, respirando com força.

Eu sabia que em instantes ele dormiria.

Eu poderia matá-lo naquele momento, poderia acabar com aquela ansiedade de vez, mas não o fiz. Apenas fiquei ali, observando ele dormir.

Eu sou muito burra.


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Notas finais do capítulo

Sou má ou não sou?? Haha
Sugestões? Reclamações? Comentários idiotas? É só escrever aí em baixo ;)