Ignored escrita por The Corsarian


Capítulo 11
Finais nada felizes


Notas iniciais do capítulo

Gente me desculpe, por favor!!
Prometo que vou programar o próximo capítulo!!
Desculpa mesmo... :/
Enjoy ;)



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Acabei adormecendo durante o meu turno de vigia.

Quando acordei já era de manhã, tinha parado de chover, e Mallon ainda dormia tranquilamente em meu colo. Me assustei ao lembrar que eu deveria estar vigiando. E me assustei mais ainda com o risco que corremos por causa de meu descuido.

Determinada a sair dali, acordei Mallon, e não mencionei meu pequeno deslize na noite anterior. Ele me ajudou a levantar e continuamos andando. Eu me movia melhor comparada à ontem, mas mesmo assim eu era muito lenta, um fardo para ser mais exata. E eu via isso na expressão de desagrado de Mallon, ele provavelmente deve estar me odiando nesse momento.

Me pergunto o que o faz me deixar viva, o que o convence de não me largar sozinha por aí. Pensei por um momento nisso, quando ouço um barulho. Foi um barulho bem alto, mas assim como apareceu de repente, ele sumiu mais que rápido.

Olhei para Mallon, e ele não pareceu ter percebido. Por que eu era sempre a única a ouvir esse tipo de coisa?

– Mallon... - Chamei baixinho. Eu estava me sentindo mal, pressentindo algo.

– Hãn?? - Ele perguntou no mesmo tom.

– Ouviu isso? - Devolvi. Ele olha para trás.

– Não, mas confio nos seus ouvidos, o que...

Não deu tempo dele terminar, logo havia uma faca em meu pescoço. Soltei um gritinho rápido de susto.

– Me dê tudo o que tem - A voz rosnou em meu ouvido. Fechei os olhos. Eu pensava melhor assim.

Os braços da pessoa eram finos, e pareciam frágeis. Eram provavelmente de uma garota. Ela era fraca, eu sabia, pois sua mão tremia muito, e ela não me segurava com firmeza, de modo que eu poderia me soltar a qualquer momento. Ao abrir meus olhos novamente, Mallon estava me olhando com dureza. Ele sabia que eu conseguia me soltar, e provavelmente me repreendia por não fazê-lo logo.

Então eu o fiz. Soltei-me do aperto frouxo de suas mãos, tomei-lhe a faca e sem nem ao menos pensar, espetei-a em sua garganta.

Ela morreria logo, e eu sabia disso.

Afastei-me, ligeiramente assustada com meu movimento repentino. Perdi o ar quando o canhão soou alto em meus ouvidos. Olhei para a garota, e percebi que era a menina do doze. Senti-me um pouco mal, já que ela vinha de um Distrito pobre, e provavelmente era da mesma classe que...

Então eu quis chorar. Matar alguém tão digno de pena, era como matar Dicent para mim. Coloquei a mão sobre a boca, apavorada. Mas então senti braços ao redor de minha cintura, e beijos leves em meu pescoço.

– Você foi muito bem, patricinha... - Mallon sussurrou em meu ouvido.

Quase gritei, afastando-me. Porque ele trocou o "princesa" por "patricinha"? Ele não podia fazer aquilo! Não agora, quando eu finalmente tinha decidido que ele deveria morrer!! Mallon me olhou confuso.

– Que foi Annie? Viu alguma coisa? - Ele indagou, olhando em volta. Porque eles tinham que ser tão parecidos?!?!

– Não, só... Nada - Concluí, nem na verdade ter terminado. - Temos que ir. Precisam pegar o corpo dela...

Mallon assentiu, agarrou uma garrafa de água que ela tinha e me auxiliou a sair dali.

Como sempre, começou a chover. Dessa vez, a chuva caía mais impiedosa que todas as outras vezes. Junto com as grossas gotas de água, pedras de gelo batiam em minhas costas, machucando ainda mais a minha ferida aberta.

Mallon providenciou um guarda-chuva com o toldo pequeno que possuíamos, e aquilo ajudou muito. Ao menos as pedra não caíam em nós...

– Você foi muito boa... - Mallon comentou de repente. Ajeitei-me em seus braços forte que me sustentavam parcialmente, para olhá-lo.

– No que? - Questionei-o. Ele sorriu.

– Quando matou aquela garota. Sei que não foi lá muito honroso, já que ela era bem mais fraca, mas mesmo assim, mandou bem - Ele disse com um pequeno sorriso nos lábios. Seus olhos castanho-avermelhados me fitaram com admiração. - Na verdade, você andou nos salvando muitas vezes desde o começo dos Jogos. Acho que devo minha vida à você...

Corei fortemente, e virei o rosto, deixando meus cabelos castanhos cobrirem meus olhos. Meus cabelos, originalmente ondulados, constantemente ficavam lisos e molhados pela chuva, e consequentemente, ofereciam-me menos proteção a esse olhar que Mallon me lançava.

– Que isso - Sussurro num fio de voz, completamente envergonhada. - Você que nos salva. Na verdade eu nem estaria aqui se você não estivesse cuidando dos meus ferimentos. Eu sou desajeitada e desastrada, só atrapalho. Quero dizer, nem ao menos posso andar sem você agora.

Então finalmente nossos olhos se encontram. Castanho com castanho. Ele riu de leve. Uma risada gostosa, fraca e sincera, uma risada que eu costumava ouvir todos os dias. A risada mais linda do mundo.

– Você é minha aliada! Tenho que cuidar de você. Além do mais, você tem bons ouvidos. Daria uma ótima caçadora, princesa - Ele disse com um sorriso encantador. Desejei que ele fosse feio. Ou ao menos, um pouco menos parecido com Dicent.

Então ficamos em silêncio no resto do percurso. Aquele dia obviamente não teve um final feliz para muita gente. Cinco pessoas morreram, contando com a que eu matei. Isso dava 13 pessoas a menos nos Jogos, e mais 11 para enfrentar.

No final do dia, a chuva era tão forte, que nem ao menos eu conseguia conversar com Mallon. O barulho das pedras caindo no chão era insuportável, além de elas serem muito perigosas. Pedras do tamanho de tijolos caíam com força no chão, espatifando-se nas pedras cinzentas, enegrecidas pela umidade , deixando-as mais negras ainda.

Tivemos que parar em uma das salas redondas, já que não enxergávamos nem um palmo a frente do nariz. Mas ainda assim eu estava ansiosa. Se uma pedra daquelas caísse em mim, eu morreria na certa, e um toldo não aguentaria o peso dela, e provavelmente rasgaria, deixando-a cair em minha cabeça. Não estávamos seguros em lugar nenhum.

Assim que Mallon ajeitou o toldo no chão, ele começou a trocar minhas bandagens. Logo depois ele se ajeitou do meu lado, e ficamos olhando para o céu. Raios cortavam a chuva, e trovões provocavam estrondos ensurdecedores.

E então, no meio daquela chuva toda, o vendo começou a soprar forte. Imediatamente comecei a tremer. Eu era sensível ao frio, e vento provavelmente era meu pior pesadelo. Nem mesmo a pele do bestante me esquentava. E Mallon pareceu notar isso. Logo ele nos enfiou em um saco de dormir, e me abraçou.

Odeio admitir que gosto dos seus braços ao redor de mim. E do seu cheiro natural adentrando minhas narinas. E sua respiração leve batendo em meu pescoço. E o fato de ele ser viciado em dar beijinhos em meu pescoço.

Odiei-me por completo ao perceber que realmente eu gostava de tudo nele. Tudo, sem exceção. Eu estava me apaixonando e eu sabia disso. E sabia que isso iria doer depois, mas mesmo assim, eu já tinha me decidido quanto ao que eu deveria fazer. E me doía saber disso.

O céu logo começou a escurecer, e Mallon entregou-me um óculos de visão noturna. Não demorou muito e a chuva começou a enfraquecer, virando somente pequenas gotas finas, que faziam um barulhinho gostoso.

Logo o hino de Panem começou e o céu se iluminou, as imagens começando a surgir. Os dois do doze, um do seis, um do oito e um do onze. Suspirei, me sentindo aliviada e ao mesmo tempo angustiada. 23 pessoas teriam que morrer para eu voltar.

Foi então que pensei no quanto eu era egoísta. Vai ver aquela garota do doze tinha feito uma promessa à alguém. Pensei no garoto estraçalhado pelos lobos. E se ele tivesse uma família amorosa chorando por ele agora? Ou uma namorada que rezava para que ele voltasse vivo? Uma irmãzinha que torceu por ele?

Senti-me totalmente mal. 23 pessoas iriam sacrificar todos os seus sonhos, toda a sua vida, para que eu pudesse ver Dicent. 23 pessoas deixariam família, amigos, namoradas e namorados e muitas outras coisas, para eu poder provar para meu pai que existo.

Então eu me senti suja. Tive vontade de chorar, como se eu tivesse realmente matado todas aquelas pessoas que apareceram no céu. Como se os Jogos fossem minha culpa, como se eu fosse responsável pelo sofrimento dos milhares e milhares de povos que foram atingidos pelos Jogos.

Fechei meus olhos, segurando as lágrimas. Eu não queria que ninguém morresse. Eu só queria voltar para casa.

Eu só quero voltar para casa.

Para casa.

Para minha casinha.

Para Dicent.

Para Aaron.

Para o Distrito 4.

Para...

– Annie, acorda - Ouvi Mallon sussurrando em meu ouvido pela manhã.

Acordei sobressaltada, e olhei em volta. Por um momento pensei estar em casa, perto do lago, adormecida no colo de Dicent. Mas não. Eu estava ali, naquele inferno, sofrendo, vendo pessoas sofrerem.

– Precisamos sair daqui! - Mallon disse com urgência. Levantei-me e comecei a desarmar o toldo.

– Porque? - Indaguei à Mallon. Ele me olhou, como se estivesse com pressa em tudo na vida.

– Ouvi passos. Alguém está correndo atrás da gente - Ele falou simplesmente. Então olhou minha perna. - Consegue correr?

Dei alguns pulinhos no lugar e percebi que não doía nada. Apenas assenti, então Mallon agarrou meu pulso e começou a correr. Logo ouvi passos apressados atrás de nós, e vozes altas, rindo e gritando. Eram os Carreiristas, definitivamente. Só eles seriam descuidados à esse ponto. Eu seguia Mallon como eu podia. Escorreguei várias vezes, e por estar sem as luvas, ralei minhas mãos, fazendo-as arder muito. Mas nem por isso parei de correr atrás de Mallon, seguindo cada um de seus passos.

Mesmo correndo tão rápido quanto corríamos, as vozes estavam cada vez mais próximas, e logo percebi que uma luta seria inevitável. Mallon também pareceu notar isso, já que ele começou a desacelerar. Então ele me puxou para perto.

– Se esconda atrás de uma dessas paredes. Não podem saber que está aqui, eles te odeiam e vão te matar na hora, sem dúvida. Eu cuido de tudo - Sibilou em meu ouvido. Assenti e corri atrás de uma parede.

Aquilo era bem covarde, mas assim como Mallon confiava em meus ouvidos, eu confiava em suas decisões. Ele era bom como capitão, e como seu posto exige isso, ele me dá ordens que eu devo cumprir. Pelo menos por enquanto.

Ouvi então os passos pararem.

– Olhe o que temos aqui... - Ouvi uma voz feminina, zombeteira.

– Cala a boca, Deline! - Ouvi a voz do cara do 1. Estremeci. - Você só fala baboseiras.

– Argh! Pare de me dizer o que fazer Kennom!! Você não manda em mim!

– Já disse para calar a merda dessa boca, Deline!! - O cara do 1 berrou. A garota chamada Deline se calou. - O que faz aqui sozinho, escravo.

– Não sou escravo de ninguém. Abandonei minha aliada, estou sozinho - Ouvi a voz de Mallon. O que ele pretendia fazer?

– HÁ! - Riu uma outra garota. - Até parece que um escravo deixa sua soberana assim tão fácil! Cadê a vadia? Queremos ela, não você!

– Já disse! Abandonei-a. Não estou mais com ela. - Mallon respondeu com firmeza.

– E o que ganhamos com você? Além do mais, acha que falando isso vai se livrar da morte? Aquela garota é esperta, mas você?! Um simples escravo sexual de uma putinha, nunca conseguiria pensar em uma ideia tão boa quanto a dela.

Então ouvi sons de luta, e logo Mallon apareceu correndo. Corri atrás, sem hesitar. Eles não pareciam estar nos seguindo. Olhei bem para meu aliado, e vi o corte que alguém havia deixado em sua bochecha. Aquilo sangrava muito, manchava suas roupas e deixava seu rosto repleto de sangue.

Estremeci ao pensar que teria que cuidar daquilo.

Finalmente paramos de correr. Ninguém havia nos seguido. Sorri olhando para Mallon.

Mas ele não estava sorrindo.

– Annie!! Atrás de você!!


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Notas finais do capítulo

Gostaram?? Ideias??