Acordei com um sorriso no rosto. Mas não um sorriso do tipo “Ahm, hoje é meu aniversario” como eu tive seis semanas atrás. Foi um sorriso aberto, com todos os dentes sendo mostrados e as bochechas se forçando ao máximo. Eu sentia que meu coração iria pular para fora da boca de tanta animação!

Pulei da cama e tomei um banho demorado, o qual eu cantei Happy do Pharrell Williams. Escovei os dentes e penteei o cabelo. Depois fui para o meu guarda roupas e peguei uma calça jeans escura. Escolhi a bolsa em seguida, uma marrom da mesma cor que a minha bota de cano alto, a qual eu iria colocar. A blusa também era jeans, só que mais clara e social.

Desci e encontrei Ginna vestida. Levantei as sobrancelhas e peguei uma maça na geladeira enquanto perguntava:

– Vai para a escola?

– Sim. Mamãe disse que é importante para mim. – ela estava com uma cara de sono, mas ainda sim continuava linda. Sua blusa era rosa clara e ela usava uma calça preta. Seu cabelo castanho claro estava arrumado em um coque no alto da cabeça.

– Também acho. Quer uma carona? Vou sair agora. – pergunto, apontando para a porta.

– Não, vou daqui a pouco. Pode ir indo. – eu assinto e caminho em sua direção. Dou-lhe um beijo estalado na bochecha e, quando passo pela sala, faço o mesmo com meu pai e Sara.

Entro no Fusca e coloco o radio em um volume relativamente alto. O Sol brilhava no céu, então abro a capota do Fusca. Chego à escola com o meu cabelo voando e estaciono no lugar de sempre. Logo vejo meus amigos, reunidos na porta da escola.

– Bom dia povo! – falo sorrindo com todos os dentes. Eles me olham estranhos e Ash quem se pronuncia primeiro.

– Algum bicho te mordeu? – indaga com a sobrancelha levantada, a dando um ar de detetive. Não, um bicho me beijou! Foi o que tive vontade de responder. – Porque essa é a única razão pra um sorriso as 8:00 horas da manha.

– É verdade. Você sempre chega com uma cara meio amarrada e hoje chega assim, com esse sorriso bobo na cara. – Lírio fala apontando para mim. Ao seu lado, Justin concorda com a cabeça.

– Meu sorriso não está bobo! – exclamo colocando a mão no peito e fingindo estar magoada. Mas continuo sorrindo.

– Na verdade, está sim. O que aconteceu? Sonhou comigo? – pergunta Ian com um certo sarcasmo na voz. Bato de leve em seu ombro, para brincar mesmo. – Ai!

– Olha, vocês que estão com essas caras amarradas! Não é culpa minha se a vida de vocês não é feliz! E alias... – eu olho para o portão quando falo isso, pois Andrew caminha em minha direção com um sorriso no rosto. – Ontem foi um dia ótimo.

– Só se for pra você! – Logan exclama com uma cara horrível. – Eu briguei feio com minha mãe. Ela me deixou de castigo pela vida inteira.

Eles começam a conversar, mas eu não estou prestando atenção. Meus olhos estão voltados para o loiro que caminha até aqui. Sabe quando você está tão concentrada que a conversa ao seu redor parece desaparecer? Então, isso acontece agora.

– Oi. – exclamo quando Andrew para em minha frente.

– Oi Jane. – ele vem até mim e me dá um demorado beijo na bochecha, ignorando totalmente o olhar mortal que Ian o lança.

– Oww! Aquela ai não é a Ginna? – Justin aponta para a morena que acaba de sair do seu carro vermelho. Toda a minha atenção vai de Andrew para ela.

– É. Ela resolveu vir hoje. – respondo dando os ombros. Andrew olha para lá também, só que com menos atenção. E aproveita que todos estão tão concentrados na minha irmã para sussurrar em meu ouvido:

– Está linda.

– Obrigada. – agradeço no mesmo tom de voz. Vejo Ian se remexer desconfortável. Mas, quer saber? Estou pouco me ferrando para ele.

– Vish! Vai dar problema! – Dora exclama levando as mãos a cabeça. – Acho melhor você ir lá Jane.

– Por que? – olho em direção a Gin novamente e a vejo encostada no carro, mexendo no celular. Mas o problema não é o que ela está fazendo. É quem se aproxima dela.

– Jessica e Samantha estão indo para lá agora e, pela expressão delas, eu sairia de perto. – conclui Logan cruzando os braços.

Eu não ligo para o que eles falam. Apenas caminho rápido até lá, com alguém me seguido. Jessica e Samantha já chegaram e intimidam Gin.

– Posso saber o que estão fazendo aqui? – pergunto, chamando a atenção das três meninas, que me olham. Gin suspira aliviada e Samantha bufa.

– Ninguém chamou você para a festa garota. – Samantha responde mascando um chiclete. Ela está com uma blusa curta, mesmo estando um certo frio.

– Ahm, eu não preciso ser chamada para a festa querida. – respondo irônica, cruzando os braços. – É só mexerem com alguém que eu gosto que eu mesma me convido.

– Só estamos conversando com a Gin. Queremos saber se ela sabe que por causa dela o Harry teve que sair da cidade. – Jessica diz superior.

– Na verdade, não foi por minha causa. – Gin se defende enquanto caminha até o meu lado. Olho de canto de olho para o lado e vejo Andrew atrás de mim, pronto para interferir se necessário, mas tentando se esconder de Samantha, atrás de um carro. Isso me faz sorrir por dentro. Mais a frente, Ash e Ian também esperam.

– Foi sim. A culpa desse filho é sua. – Samantha fala apontando para a barriga de Gin. Eu juro que tentei me controlar, mas não deu.

– Olha, querida – digo irônica dando um passo a frente, fazendo meu corpo ficar frente a frente com o dela. – se você é burra ou algo assim não é culpa minha. Então, vamos ter uma aula de biologia ok? Um filho não é feito sozinho! Uma vagina necessita de um pinto para fazer isso, sabe? Sei que você só deve fazer isso na pratica, mas deveria aprender para conseguir pelo menos ter um emprego de gari.

– Quem disse que esse filho é mesmo do Harry? – Jessica indaga com o rosto superior, ignorando o meu discurso que fez algumas pessoas rirem. Samantha me olha ameaçadora. Nem preciso defender Gin, pois ela parte para cima da antiga amiga e lhe dá um tapa na cara.

– Eu posso ter sido uma vadia, ter maltratado das pessoas, ter me sentido superior, mas uma coisa eu nunca fiz é trair o Harry! – grita, depois de ter dado o tapa. Vejo que Jessica ameaça ir para cima de Gin, mas um menino a segura.

– Vadia! – grita sendo arrastada para longe. Samantha a segue, mas não antes de me mandar mais um olhar raivoso.

– Você está bem? – pergunto me virando para Gin. Ela assente e eu abro os braços, entendendo que ela precisa de um abraço.

– Acho... Que vou voltar para a casa. Não estou pronta para isso. – declara depois do abraço abrindo a porta do carro.

– Vou com você. – digo já dando a volta. Mas ela segura o meu braço e diz que é melhor não. Gin sai com o carro de lá logo depois.

O sinal toca e todos começam a se espalhar para ir para a aula. Mas eu não quero ir. Estou me sentindo uma péssima irmã por deixar Ginna sozinha em uma hora dessas. Deve ser horrível ver as amigas que antes você confiava se voltarem contra você quando se mais precisa.

– Nós vamos para a aula. – declara Ash passando a mão pelo meu ombro. Eu assinto e vejo ela e meus amigos entrarem na escola. Sobramos eu, Ian e Andrew ao longe.

– Você está bem mesmo? – Ian pergunta chegando perto de mim. Andrew está encostado em um carro afastado e acho que Ian não percebeu que ele está lá, nos observando.

– Sim. Pode ir, vou demorar um pouco. – ele assente e me dá um beijo na testa. Assim que entra na escola Andrew se aproxima.

– Esse cara é um mala sem alça mesmo, hein? – pergunta me fazendo rir.

– Eu até que gosto dele.

– Mais do que gosta de mim? – pergunta fazendo biquinho. Eu rio novamente e chego perto dele, encostando-o no carro mais próximo.

– Talvez. – respondo dando os ombros. – Sabe como é né! Tem taaantos garotos caindo em meus pés que eu nem sei o que sinto.

– Ahm, então a senhorita me beija daquela forma ontem e quebra o meu coração hoje? – pergunta com a sobrancelha levantada.

– Claro! Esse é o meu trabalho. – respondo chegando mais perto de seu rosto. Logo que nossos narizes roçam um no outro falo novamente. – Agora vai falar que não pensou em mim ontem.

Eu repito a pergunta que ele mesmo fez quando eu descobri que estudava na mesma escola que a minha, quando nos conhecemos. Ele ri alto.

– Eu pensei. Sonhei com você. – e logo depois, sem aviso prévio, me beija, com aqueles lábios macios e aquele olhar penetrante.

E nessa hora foi como se todos os fogos de artifício que estavam guardados dentro de mim fossem soltados. Como se a Bola do Times Square tivesse acabado de cair em mais um ano novo e os dragões da China tivessem sido soltos.

– Vamos fugir de tudo? – pergunto quando o beijo acaba, permanecendo perto ainda perto do rosto de Andrew, testa contra testa. – Só vamos ir embora hoje, fazer alguma coisa diferente do comum. Fugir um pouco das responsabilidades.

Primeiro ele me olha duvidoso. Depois sorri com todos os dentes e, para a minha surpresa, abaixa e pega a dobra dos meus joelhos com uma mão e com a outra ergue o meu tronco. Seguro em seu pescoço para não cair.

– O que está fazendo? – eu grito animada e soltando um grunhido logo depois.

– Te pegando no colo! Porque, não posso? – ele sorri e me gira, caminhando em direção ao Ford Marevick comigo ainda em seus braços. Eu rio, mas não respondo. – Sabe de uma coisa?

– O que? – falo olhando diretamente em seus olhos já que Andrew parou de repente, antes de me deixar no chão para que eu pudesse entrar no carro.

– Essa foi a melhor ideia do mundo.

– Claro, ela foi tida por mim! – gabo-me com um sorriso convencido no rosto. Ele me avalia com um olhar estranho e, depois de um tempo, gruda seus lábios nos meus.