Scott andava pelos corredores vazios do palácio a procura de Melissa, Kate e Grace. Elas haviam sumido logo que chegaram e ele não as encontrava em lugar algum. Suas suspeitas sobre Melody só aumentavam conforme vasculhava os quartos do castelo, muitos conselheiros reais haviam sumido e isso, certamente, não era algo que seu pai permitira.

Quando chegou a sala do trono, o Atlante viu sua prima sentada no trono, conversando com Apolo e Kevin.

— Não consigo achar minhas amigas. — disse o príncipe, andando na direção da morena.

— Elas devem estar por ai, querido. Não se preocupe. — Melody sorriu e se levantou, fazendo sinal para que ele se aproximasse. Com certa hesitação, ele o fez, podendo ver um brilho arroxeado nos olhos de seus amigos.

— Meu pai a proibiu de encantar humanos, Melody! — Scott a repreendeu, irritado.

— Seu pai não está aqui, correto? E como seu filho irresponsável se recusa a tomar seu lugar de direito no trono, eu terei que fazer isso.

O príncipe sentiu sua raiva crescer quando ouviu isso e cerrou os punhos.

— Onde está minha mãe? — disse, entredentes.

— Isso não importa, eu sou a rainha! Se você quiser pode ser meu rei. — a morena se aproximou dele e envolveu os braços ao redor de seu pescoço. Scott a afastou, segurando seus braços com força e olhando em seus olhos.

— O que você fez com minhas amigas, sua maluca? — ele gritou, fazendo o sorriso no rosto dela desaparecer.

— Você sabe que se eu quiser posso mandar Kevin quebrar todos os ossos de seu corpo e Apolo cortar sua cabeça, eles obedecerão de boa vontade, então me solte agora! — a sereia gritou. Scott sabia disso e largou seus braços, dando alguns passos para trás. — Acho que você precisa de um tempo para pensar na minha proposta.

Sem que ele visse, um guarda se aproximou por trás e lhe acertou um golpe na nuca, o deixando desnorteado e fazendo-o cair no chão. Quando acordou, Scott estava na masmorra do palácio. O local era escuro e feito de pedras negras cobertas por musgo verde, o cheiro era de peixe podre, mas as celas eram bem grandes.

Ao olhar para o lado, o jovem viu três estátuas de gelo e seu queixo caiu ao perceber serem as heroínas. Ele se aproximou delas e, com um movimento lento de sua mão, começou a descongela-las. Conforme o gelo derretia elas abriam os olhos e respiravam profundamente.

— O-o que aconteceu...? — Kate perguntou, tremendo por conta do frio.

— Aquela vadia congelou a gente! — Melissa gritou, tentando se recuperar após ter todos os membros de seu corpo congelados.

— Scott! Nós encontramos sua mãe! — Grace gritou, movendo seu corpo rapidamente, sem sair do lugar, para se aquecer. — A Melody colocou ela em um tipo de câmara em uma sala secreta... Uma Câmara Secreta, tipo a do Harry Potter!

— Ela ainda está viva, se quisermos salvar Atlantis dessa maluca precisaremos dela. — Melissa se aproximou das barras grossas de metal da cela.

— E salvar Apolo e Kevin também. — ele completou, recebendo olhares confusos e curiosos das três. — Melody é uma sereia, ela encanta os homens e depois os mata. Por isso meu pai a proibiu de ir a superfície e de se relacionar com humanos!

— Ah, que merda! O que vamos fazer?! Eles estão correndo o risco de serem seduzidos e devorados por uma sereia psicopata! — Grace começou a correr pela cela a procura de alguma porta secreta. — Por que não podíamos enfrentar uma seria legal, tipo a Ariel... Não, ela má me daria pesadelos por anos! Melissa, você precisa ter um plano!

— Eu digo qual é o plano, — Batgirl pegou um cabo de metal grosso em seu cinto e o prendeu em uma das barras, puxando-o mesmo para o lado e fazendo a barra se entortar. — Vamos sair daqui, pegar a Mera e dar uma boa surra naquela sereia maldita!

— Isso vai demorar muito, precisamos sair agora! — Kate tentou ajudar a morena, mas não adiantou muito.

— Alguma ideia melhor? — retrucou, entortando outra barra.

— Eu tenho! — Scott segurou duas barras de ferro com as mãos e, depois de respirar fundo, as empurrou para lados opostos. Usando toda sua força, o atlante conseguiu arrancar as barras e as jogou no chão, logo fazendo isso com outras duas.

— Tecnicamente essa é a minha ideia. — Melissa largou o cabo de metal e foi a primeira a sair quando ele já havia removido as quatro barras, sendo seguida pelos outros heróis.

— O que fazemos agora? — Grace estava pronta para correr quando sentiu a mão de Kate em seu ombro.

— Vamos com calma. Mera ainda está presa, precisamos soltá-la! — disse a loira, olhando para Mel.

— Vocês podem levar o Scott para a sala secreta onde Mera está que eu me resolvo com aquela garota peixe. — a morena falou e seguiu para a sala do trono, não deixando que os outros heróis argumentassem.

Batgirl correu pelo corredor vazio, vendo a porta do enorme salão principal aberta e entrando no mesmo. Seus olhos encontraram os de Melody, que não pareceu nada contente em vê-la ali.

— Como você escapou? — a atlante indagou, andando na direção do trono e pegando um tridente dourado ao lado dele.

— Graças a sua brilhante ideia de nos colocar na mesma cela em que seu primo estava, nós todas escapamos. — Batgirl olhou na direção de Apolo e Kevin. — Vou te dar uma chance de se render, talvez não se machuque tanto dessa forma.

Melody, segurando o tridente com força, andou na direção de Melissa e apontou o objeto afiado na direção da heroína.

— Vou matar você agora e seus amigos logo em seguida. — dizendo isso, a sereia avançou dois passos para frente, por pouco não acertando o peito de Batgirl. Melissa segurou o cabo do tridente e o puxou para frente, fazendo Melody ir junto e acertando um chute em seu estômago.

A sereia ficou sem ar por alguns segundos, mas continuou tentando acertar a morena com o tridente, apesar de a heroína se esquivar de todos os seus golpes. Melissa sentiu suas costas baterem na parede e só naquele momento percebeu que as duas já haviam percorrido toda a sala do trono. Melody tentou, mais uma vez, cravar o tridente no peito de Batgirl. Por ser ágil, ela conseguiu sair da linha do ataque, uma das pontas do tridente, no entanto, passou de raspão por seu braço, deixando um pouco de sangue pingar.

Quando pensou que a sereia atacaria mais uma vez com o tridente, recebeu um soco no maxilar, por pouco não tendo o mesmo deslocado. Melody era muito forte, quase tão forte quanto Apolo. Melissa teria que tomar mais cuidado, tanto para não ser atingida pelo tridente quanto para não levar outro golpe daqueles.

Se recuperando da pancada, a heroína segurou o tridente com as duas mãos e deu um chute no peito da seria, vendo-a soltar o objeto e cambalear para trás. Batgirl, então, jogou a arma para o outro lado e andou na direção de Melody, acertando um soco em seu rosto e sentindo sua mão doer logo em seguida. Era como socar uma parede de concreto.

— Isso era para doer? — um sorriso escárnio se abriu no rosto da morena, que não perdeu tempo e acertou uma joelhada no estômago de Batgirl, segurando seus dois braços e a empurrando para o chão. — Você não tem poderes, nunca vai conseguir me vencer, idiota!

Melissa tentava se livrar da pegada de Melody, mesmo sabendo que fazer isso seria inútil. Ela sentiu as garras da sereia aumentarem pouco a pouco, começando a entrar na pele de seu braço e causando uma dor terrível. Apesar de tentar se controlar, logo que sentiu as garras sendo tiradas com força de seu braço, Batgirl deu um grito de dor, podendo sentir uma grande quantidade de sangue inundar o chão.

— E agora, heroína, você morre! — a sereia estava pronta para rasgar a garganta de Melissa, quando foi brutalmente empurrada e bateu com a lateral do corpo na parede do outro lado da sala do trono.

Quando Melissa levantou os olhos, viu que fora Apolo quem a impedira de matá-la. O herói tinha a respiração descompassada e caiu de joelhos bem na sua frente, parecendo estar confuso.

— Apolo! Apolo, pode me ouvir? — a morena colocou as duas mãos no rosto do herói, fazendo-o olhar para cima e podendo ver um certo brilho roxo sumir, dando lugar a coloração azul normal.

— Você... Está sangrando. — disse, de forma surpresa e quase desesperada.

— Eu vou ficar bem. Pode me dar licença, por um segundo. — a principio ele não entendeu, vendo a jovem empurrá-lo para o lado. Quando se virou, viu que Melody estava pronta para cravar o tridente em suas costas, passando direto do alvo graças a Melissa.

Batgirl segurou o tridente pela haste e o empurrou com força para trás, acertando em cheio o estômago da sereia. Ela, em seguida, conseguiu empurrá-lo para cima e acertou o queixo de Melody, fazendo-a largar o tridente e cair no chão.

Apolo ajudou Melissa a se levantar e ambos mantiveram seus olhares na vilã caída.

— O que acham que vão fazer agora? Ainda estão no meu reino. — a sereia sorriu, massageando seu maxilar.

— Não acho que esse seja seu reino. — Melissa falou e então jogou o tridente na direção da porta. Quando Melody se virou, viu Scott segurando o objeto de ouro. Ele segurava sua mãe desmaiada em um dos braços e estava acompanhado de Kate e Grace.

— Você vai pagar por tudo o que fez, Melody. — o atlante disse, seu tom era firme e confiante.

— Acho que não, primo. — ela se levantou e apertou um botão do bracelete de prata em seu pulso. Segundos bastaram para que vários guardas chegassem a sala do trono. — O príncipe trouxe pessoas da terra para nossa amada cidade, atacou a rainha e agora está tentando me ferir. Matem a ele e seus amigos!

— Agora ferrou mesmo. — Grace comentou, se preparando para começar a brigar com todos eles.

Scott nem se deu ao trabalho de tentar convencê-los do contrário. Melody, naquele momento, era quem estava sentada no trono e eles eram a guarda real, obedeceriam todas as ordens dela até que seu pai retornasse. Ao invés de gastar saliva a toa, ele colocou sua mãe no chão, encostada na parede, e se virou para os guardas no momento em que receberia um soco. O herói segurou o braço do homem que o atacara e o jogou de cara na parede, fazendo a mesma se quebrar.

Apolo desembainhou sua espada ao perceber que Scott não tentaria contradizer sua prima, logo iniciando uma luta brutal contra três guardas ao mesmo tempo. Melissa correu até Kevin, não entendendo como ele ainda podia estar sob o efeito dos encantos da sereia. Se Apolo já havia voltado, ele também deveria tê-lo feito.

Kate, sem nem fazer muito esforço, desarmava os guardas e o empurrava para longe, sem feri-los, já que sabia que estavam cumprindo ordens. Quando viu dois deles se aproximarem de Grace por trás, a heroína deixou o grito do canário sair, derrubando não apenas dois, mas seis dos guardas de uma vez só.

Melody viu isso e constatou que Kate era uma ameaça. A sereia correu na direção dela. Os reflexos da loira, no entanto, impediram que a morena acertasse o soco que tentara acertar no rosto da heroína. A vilã, porém, conseguiu segurar o braço de Kate e o torceu com facilidade, fazendo-a dar um grito de dor e cair no chão.

Kevin sentiu uma dor forte na cabeça quando ouviu o grito de Kate. Seus membros pareceram voltar ao seu controle e ele fez a primeira coisa que lhe veio a mente; Voou a toda velocidade para cima de Melody e a empurrou para longe de Kate, consequentemente destruindo a parede, o que fez com que os dois caíssem do lado de fora do palácio.

Quando chegaram ao chão, Superboy olhou para o lado, vendo Melody desmaiada com várias pedras de concreto e mármore ao seu redor. Ele, então, olhou para cima e voou de volta para dentro do palácio, rapidamente andando até onde Kate estava caída.

— Kate! — o moreno se ajoelhou ao seu lado, vendo-a abraçar o próprio braço e se segurar para não gritar de dor. — Vai ficar tudo bem, eu estou aqui.

A loira o viu segurá-la no colo e se virar para os outros, que lutavam com os guardas. Ele ia mandar todos pararem de brigar quando a porta se abriu bruscamente. Todos viram um Aquaman extremamente irritado entrar na sala e gritar:

— Pelo amor de Poseidon, o que significa isso?! — todos pararam imediatamente, o chão pareceu tremer só com o grito do rei de Atlantis ecoando pela sala.

— Uhuu! Ganhamos! — Grace comemorou, quebrando o silêncio que reinara.

§

Horas depois, a Liga havia sido chamada para Atlantis, onde encontraram seus filhos. Scott explicou tudo a seu pai e aos outros.

— A missão era uma armadilha, foi tudo planejado para que eu saísse de Atlantis e a deixasse desprotegida. — Aquaman disse, ouvindo Mera dizer algo mais.

— Seu filho salvou nosso reino, assim como seus amigos. Sabemos que nada vai estar desprotegido quando estivermos fora, pois eles estarão aqui. — a rainha sorriu e abraçou Scott. Aquaman deu um aceno com a cabeça para o filho, algo mais do que o suficiente para deixar o jovem herói extremamente feliz.

Kate e Melissa estavam no pequeno hospital que havia no palácio. Batgirl levava alguns pontos nos braços enquanto Canário tinha seu braço engessado. Kevin e Apolo estavam lá com as duas, tentando distraí-las da dor conversando, mas Melissa não prestava atenção na conversa. Ela ainda não havia entendido como o feitiço fora quebrado, eles haviam simplesmente ouvido as heroínas gritarem e as ajudaram. Será que aquilo podia ser algo mais? Talvez.

Ele foi tirada de seus pensamentos quando Batman entrou e se aproximou.

— Por mais que eu não goste de você sendo uma vigilante, preciso admitir que fez um bom trabalho. — ele disse.

— Me poupe do discurso. — antes de a enfermeira terminar de enfaixar o braço ferido da morena, ela se levantou da maca e andou para fora da sala.

— Melissa! — o cavaleiro das trevas a seguiu e colocou a mão em seu ombro. — Até quando vai agir dessa maneira?

— Não se faça de inocente, o que você fez não tem perdão! — ela retrucou, tirando a mão dele de seu ombro.

— Eu fiz aquilo para te proteger!

— Onde colocar uma garota de oito anos em um colégio interno é protegê-la?! Que monstro faz isso com a própria filha?! — houve alguns segundos de silêncio. Bruce desviou o olhar e Melissa virou as costas para ele. — Você não tem coração... Deve ser por isso que minha mãe foi embora!

Ele a viu andar para longe e permaneceu parado no corredor. Logo percebeu a presença de mais alguém e se virou, vendo Superman.

— Por que não conta logo a verdade a ela, Bruce? — o kryptoniano perguntou. Batman apenas se virou e seguiu na direção oposta a que Melissa fora.