Stay With Me escrita por Lady Liv


Capítulo 34
Capítulo 34 - Veneno


Notas iniciais do capítulo

Deem uma olhada na capa da fanfic. :v
ISSO! ISSO! ISSO! É EXATAMENTE ISSO QUE VOCÊS ESTÃO PENSANDO!!
VOLTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEI
E COM MUITAS IDÉIAS!!! Gente, não estou bem! Sério. Acho que não tomei os remédios hoje. O_O
Saudades? Eu sei que sim u_u
Esse capítulo pode parecer chato no começo e eu realmente ia deixar ele assim, mas não resisti ç.ç NÃO ME MATEM! PLEASE!
O próximo pode demorar just a little porque vai ter muita coisa que eu vou querer por nele! *-*
Obrigada pelos comentários! Vocês são demais! TIA KATH AMA VO6!! AMORES DA MINHA VIDA ♥
Boas volta ás aulas, boa sorte gente! *.*



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Gwen Stacy

 

A manhã de domingo não poderia chegar mais rápido e eu acabei por me acordar tarde aquele dia, um grande sorriso no rosto ao me lembrar da minha reconciliação com Peter.

Ele havia me deixado em casa naquela madrugada, um beijo em minha testa e uma promessa de fazer melhor.

— Não é muito bom com promessas. — Eu havia dito, erguendo a sobrancelha em desafio.

— É, mas essa é a primeira que eu vou cumprir.

— Oh, é mesmo?

— Sim, somos um casal maduro agora.

— Que adulto.

Nós sorrimos e ele me beijou singelamente.

Ainda podia sentir as borboletas no estômago, mesmo agora. A certeza de que tudo ficaria bem. Uma nova fase em nossas vidas e nós iríamos nos reconstruir as poucos, com a mesma paciência e leveza que sempre apreciamos.

Nosso amor iria carregar uma confiança tão forte como uma rocha, eu sabia disso em meu coração.

Me levantei da cama após o que pareceu uma hora, ainda pensando em tudo que havia acontecido e fui direto tomar outro banho quente. Tive sorte em não ter pego um resfriado hoje de madrugada... oh, mas eu faria tudo de novo!

Aproveitei e cortei as pontas de meus cabelos (que já passavam dos ombros), e deixei o celular no viva voz enquanto respondia as ligações de uma Jennie cheia de ressaca, a assegurando de que estava bem e em casa.

Liguei também para minha mãe, perguntando sobre minha tia doente. Com tudo que havia acontecido, eu senti bastante a falta dela esses dias.

— Ela está melhor, devo pegar um avião e chegar um pouco antes dos seus irmãos voltarem do acampamento. Vamos passar o próximo fim de semana juntas, querida. Um momento de garotas, sei que estamos precisando.

— Estamos mesmo! E eu tenho tantas coisas pra te contar!

— Humm, que tom de voz é esse? — Ela riu, e mesmo no telefone, senti minhas bochechas queimando. — Algo me diz que tem haver com um certo fotógrafo...

— Pois é... nós... estamos bem unidos.

Eu não me abria exatamente com minha mãe quando se tratava de Peter então ela não tinha ideia da loucura que foi a semana-simbionte que passamos... o que não era ruim! Com nosso histórico de altos e baixos, eu preferia não sujar a imagem dele com términos e voltas constantes. Minha família já era protetora o suficiente.

Após desligar e sair do banho, preparei um sanduíche e fui tentar me entreter com a TV quando uma reportagem me assustou:

 

"—...ainda não há sinal do Capitão América, mas as perguntas não acabam por aí. Quem estava no controle esse tempo todo, afinal? HYDRA? S.H.I.E.L.D? Estávamos em perigo todo esse tempo? A Viúva Negra dos Vingadores, e como nós descobrimos realmente se chamar, Natalia Romanova, confirmou a presença no Senado de Washington para responder diante do júri e da impressa o que realmente-”

 

Deixei a TV no mudo, pegando o celular novamente. As imagens mostravam toda destruição ocorrida em Washington. Será que agora a S.H.I.E.L.D estava destruída? Senti um bolo se formar em minha garganta.

Peter.

Ele trabalha pra S.H.I.E.L.D, digo, HYDRA, digo, wow, nem sei mais... O que raios estava acontecendo!? Acessei a internet e ao que parecia, todos os segredos da agência estavam vazados. Podia jurar que meu coração errou uma batida.

Busquei por HOMEM ARANHA no Google, mas nada de anormal apareceu. Franzi o cenho, discando o número dele.

— Oi! Err-

— Deixa eu adivinhar. — Peter me interrompeu. — Viu o noticiário né?

— Digamos que seus amiguinhos não foram nada silenciosos.

— Eu sei, eles têm que aprender comigo.

— Fiquei preocupada, Peter, bastante! — Confesso. — Isso que aconteceu vai atrapalhar os Vingadores?

— Eu também não sei Gwendy. Maria Hill convocou uma reunião na Torre Stark para explicar a situação melhor hoje a noite, mas... até agora ninguém me olhou estranho ou me chamou pelo nome, então...

— Está seguro.

— Isso.

Suspirei aliviada, me calando por alguns segundos, quando uma ideia me vem a cabeça.

— Hoje a noite? Então vai estar com a tarde livre? Porque... eu estou sozinha em casa e... não sei, talvez a gente podia assistir um filme ou... ou sei lá, alguma coisa. — Eu ri. — Eu quero ver você. Peter? O que você acha? Peter?

Ele não respondeu, estranhos barulhos do outro lado da linha. 

— Peter?

Espera ai... Isso são tiros?!

— Oi, desculpe, é que estão atirando em mim. — após um tempo, ele responde, como se fosse a coisa mais normal do mundo. — O que dizia?

— Tiros!?

— Pois é, eu-

— Garoto! O que você tem na cabeça?! Lutando e falando no telefone-

— Quer saber? Você tem total razão, eu vou ter que desligar e-

— Não ouse!

— -e resolver isso aqui rapidinho.

— Onde você está!?

— Eu te amo.

— Peter, se você-

E desligou.

Ah mocinho, teremos uma conversa muito séria mais tarde.

 

Harry Osborn

 

Apertei os olhos para o guia de viagens em minhas mãos e resistindo a vontade de amassá-lo.

— Está pensando em viajar, Felícia?

Ela para na porta do quarto, uma escova de cabelo na mãos.

— Anda mexendo nas minhas coisas quando não estou olhando?

— Só quando elas ficam jogadas por ai.

Ela balança a cabeça, se aproxima e tira o folheto das minhas mãos.

— Isso não é da sua conta.

E quem diria que Felícia Hardy morava numa simples pensão no subúrbio de Nova York, tomando café da manhã quase todos os dias com outras 13 mulheres irritantes. Eu não a entendia, de verdade. Ela era inteligente, tinha um emprego estável, joias (certo, a maioria roubada, mas não que isso me importe)... e ainda preferia ficar aqui, o que tinha nesse lugar?

Não importava, era um bom lugar para evitar perguntas. Faziam semanas que eu não me encontrava com Wilson Fisk, mas sabia que ele tinha ligações com a HYDRA. Não podia arriscar ser chamado por ele agora. E tudo que importava agora-

Eram as diversas destinações que eu encontrei marcadas sob a mesinha de canto do quarto de Hardy, aparentemente.

— É melhor você me responder. — seguro seu braço antes que ela volte para o banheiro.

— Eu não tenho medo de você, Harry.

— Não é de mim que deve ter medo. — ela puxa o braço de volta se afastando enquanto se senta na penteadeira perto da janela.

— O que você está pensando em fazer?

— O que você está pensando em fazer?

Ela bufa, rolando os olhos. Sou consumido por um sentimento novo. Se Felícia pensava em partir, ela estava muito enganada. Ela não podia me deixar. Não agora, não quando eu estava tão perto.

— Não são meus, são da Selina. — ela cita a amiga que vive ao lado, balançando a mão no ar. — Ela vai casar, pediu minha ajuda com a lua de mel.

— Que gentil da sua parte.

— Eu sou uma boa moça.

— É claro que é.

Ela se soltou, indo até o guarda roupa e mexendo em suas coisas.

— Vai falar o que você ou está chateado por eu ter uma vida normal?

— Eu não estou-

— Você devia tentar um dia desses. — ela me interrompe, sem parar o que estava fazendo.

— Tentar o que?

— Uma vida normal.

Suspiro, rolando os olhos.

— Não tenho motivo algum para isso. — digo, e com surpresa, percebo o quão errado as palavras soam em minha boca. Não, eu tinha um motivo.

Mas meu rancor era grande demais para me deixar levar por aquele sentimento. Como eu podia me acertar com ela quando eu mesmo não consigo fazer isso comigo? Com Peter?

Após um longo momento de silêncio, Felícia finalmente vira pra mim, o rosto inexpressivo e profissional:

— Então, o que você queria?

— Um favor.

— Qualquer coisa.

Ignoro o calor em meu peito e desvio o olhar. Era mais fácil falar quando não estava encarando seus olhos.

— Eu não posso mais acessar pessoalmente os Projetos Especais da Oscorp, os investidores me proibiram de entrar lá desde que...

— ...que você enlouqueceu e matou todo mundo? — ela completa, e mesmo não a olhando, posso imaginar seu sorriso cínico.

Normalmente eu teria me irritado, mas estava começando a me acostumar com o comportamento rebelde que ela vinha demonstrando ultimamente... também não podia negar que gostava.

— Vou hackear o programa de segurança por alguns minutos e você vai pegar algo de lá pra mim.

— Por que não pede para eu mata-los também? — ela perguntou ficando frente a frente comigo. — Afinal, sou a sua criminosa particular certo?

Fecho os olhos por alguns segundos respirando frustrado.

— Não é? — ela pressiona, e eu a olho finalmente.

É um erro, percebo. Ela está bem perto, não é o mais perto que já estivemos, mas perto, aguardando a minha resposta. Seus lábios em uma linha séria e comprimida, o gloss que ela havia passado brilhando e eu já podia imaginar o gosto que ele deveria ter se eu juntasse nossas bocas. A pele tão alva que meus dedos formigavam para toca-la. E o mais impressionante, o mais assustador-

Seus olhos. Um castanho com um pouco de verde, e eu podia jurar que havia um pingo de dourado neles. Hazel eyes. Olhos de um gato. Eu via neles... a expectativa, de que talvez, talvez, haja uma chance.

Uma chance.

Para o que? Eu não sabia, mas oh, como eu sentia.

— Alguém já te falou que você tem lindos olhos? — não me aguento e pergunto, e por um momento, parece que ela vai sorrir.

Mas então sua mão se ergue e eu sinto minha face esquerda arder com o tapa que havia recebido.

Posso ouvir seus suspiro frustrado, balançando a cabeça da mesma maneira que eu havia feito à alguns segundos.

— Fala logo, o que você quer eu pegue de lá que é tão importante?

— Você sabe o que é. — cruzo os braços erguendo as sobrancelhas. Sinto um tipo frio de adrenalina correr em minhas veias em ansiedade.

Ela arregala os olhos em minha direção, parecendo meio chocada. Talvez não imaginasse que eu fosse querer usar aquilo agora.

— O veneno das aranhas.

— Sim.

— Mas...o simbionte... tudo isso...

— Eu sei.

— É cedo, Harry.

— Não, é o momento certo. — nego, sorrindo. — Já passamos tempo demais fora desse jogo.

 

Eddie Brock

 

Meus pés se moviam automaticamente pelas ruas, podia sentir o celular vibrando no bolso do terno de vez em quando, mensagens do porquê eu não havia aparecido no trabalho que eu não fazia questão de responder... eles nunca notavam minha falta mesmo. Só quando era para me demitir.

Seria isso? Eu estaria sendo demitido de novo? E por que isso não parecia importante? Devia ser... era importante...

Franzi o cenho, me esforçando a lembrar. O dia anterior passou como um borrão, imagens distorcidas como num sonho. Acho que fui infectado. Gwen estava certa, aquilo foi loucura, o que eu estava pensando?! Encontrar provas contra o Homem Aranha-

Homem Aranha.

Era tudo culpa dele.

Uma raiva se apoderou de mim e eu apressei os passos.

— Você me tirou tudo, Aranha! — minha voz saiu diferente, rouca, adoentada. — Vai tirar minha saúde também?!

Fome.

Sim, eu precisava comer. Era por isso que deixei o planetário da NASA tão depressa. Precisava me recuperar, me esconder. Andei por horas e horas até finalmente chegar ao meu bairro. Sim, agora eu me lembrava.

Parei em frente ao pequeno apartamento, apertando os olhos para a placa grudada na porta.

AVISO DE DESPEJO:

VOCÊ TEM 3 DIAS PARA DEIXAR A RESIDÊNCIA

— Meu apartamento! — a voz saiu incrédula de minha boca. Como ele ousava!? Depois de todo o meu esforço... até isso ele ia tirar de mim!?

Era um pesadelo.

Arranquei o papel com raiva e chutei a porta, entrando em casa furioso. Fui direto para a cozinha abrindo os armários, olhando as sacolas, por baixo dos potes, buscando, buscando, buscando...

Fome.

Não tinha nada aqui que pudesse me satisfazer. Nada.

Ele também me fez mal.

— O que? Quem está ai?! — arfei assustado, largando o balde de lixo.

Eddie.

— Quem é você?! Onde está?! — peguei uma faca e apontei, olhando desconfiado pelos cômodos. Quem poderia ter entrado aqui? — É melhor aparecer! Eu estou armado!

Como pretende matar o Homem Aranha com uma faca de manteiga?

Arregalei os olhos, parando. Aquela voz...

Meu coração acelerado.

— Quem disse que eu pretendo mata-lo?

Eu sinto a sua raiva, ela é igual a minha. Você só precisa abrir sua mente e eu te mostro como usa-la.

— Onde você está?! — gritei me preparando para sair do quarto, quando eu finalmente notei. No espelho. — Mas... o que...

No espelho de meu quarto, a minha silhueta, o meu reflexo. Era eu. Mas ao mesmo tempo, não era.

Eu estou dentro de você.

— A gosma...

Simbionte, na verdade.

— Você me infectou.

Não. Eu melhorei você.

— Não, não... — fechei os olhos, me recusando a olhar. Eu estava ficando louco, só pode. Uma alucinação, febre, alguma coisa. Sim.

Eddie.

— Não!

Precisa me aceitar.

— Por que!? — gritei para o espelho, como se estivesse brigando comigo mesmo. Ele estava na minha cabeça, ele estava me fazendo de hospedeiro. — Por que eu deveria te aceitar!?

Porque eu sei como é se sentir rejeitado.

— Sabe?

E eu sei como acabar com o Homem Aranha.

Entortei a cabeça tentando entender. As informações pareciam demorar a chegar na minha mente. Cada vez que o simbionte falava a voz dele se tornava mais e mais igual a minha. Seus pensamentos e os meus se confundindo. Eu não deveria confiar. Não deveria, não... deveria... deveria.

Deveria.

Apertei os olhos.

— Me fala.

 

Gwen Stacy

 

Passei o resto do dia terminando trabalhos da faculdade.

Para a maioria das pessoas, domingo era o dia da preguiça e descanso, mas seu eu me deixasse levar por isso agora, passaria o resto da semana atolada em estresse.

Caramba, qual era o ponto em explicar o lançamento de um foguete quando isso não ia me ajudar em nada em medicina molecular? Me arrependi na hora de ter pego aquela matéria. Eu espero que esses pontos valham a pena!

Ao ver que anoitecia, resolvi pedir comida italiana. Não estava com cabeça para cozinhar. Coloquei uma calça jeans confortável e uma blusa branca, calçando meu sapatênis enquanto esperava o entregador chegar quando-

A campainha toca.

Franzi o cenho, o entregador não teria conseguido subir sem antes passar pelo porteiro do prédio, então como-

Me aproximo da porta, tentando enxergar pelo olho mágico.

Eu sabia que a vida de Eddie Brock não estava muito fácil ultimamente, mas não imaginava que ele próprio estivesse tão mal. Ele acenou para mim como se pudesse me ver, sorrindo como se não estivesse parecendo um total mendigo.

— Eddie! — exclamo, abrindo a porta com os olhos arregalados. — O que aconteceu com você?

— Oi Gwen.

Primeiro que ele estava descalço, o cabelo bagunçado e úmido, o que me fez me perguntar se ele havia pegado chuva? O clima estava esfriando cada vez mais, afinal. A regata preta que ele vestia tinha rasgos visíveis e as calças pareciam ter sido pegas de um lixão. Estranhamente, não havia odor. Então o que quer que fosse, era físico. Ele parecia doente.

— Você está bem?

— Sim. — ele respondeu, quase confuso. Eu não acreditei. — Eu posso entrar?

Chocada, assenti.

— Se estava de saída, posso voltar outra hora.

— Não, que isso. Eu só estava esperando o entregador, pedi comida italiana.

— Oh.

— Pode ficar pra comer, se quiser.

— Que gentil de sua parte. — ele sorriu, sentando-se no sofá. Me sentei do outro lado, na antiga poltrona de meu pai. — Você está sozinha? Cadê a sua mãe?

— Minha tia está doente. — expliquei, o observando de modo atento. — Você não está doente, está? Anda dormindo direito?

— Ah, eu estou ótimo, de verdade.

— Humm.

Pensativa, só noto os breves segundos de silêncio quando uma pergunta volta a minha mente.

— Como entrou aqui? Meu porteiro não avisou-

— Sabe, eu... — ele me interrompeu, fechando os olhos. — Eu descobri uma coisa horrível. Por isso eu vim.

— Oh, o que é?

— É complicado.

— Hey.

— Sua palavra, eu sei. — ele disse, me fazendo soltar uma breve risada pelo nariz. — Eu finalmente entendo o que significa.

Assenti, pacientemente. Ouço meu celular vibrar ao lado a TV, mas ignoro.

— Eu quase perdi meu apartamento hoje.

— O que?

— Foi barra, o dono até ameaçou chamar a polícia... eu o convenci, eu acho. Ele não teve como dizer nada contra. — Eddie diz, lambendo os lábios com uma careta. — Perdi muitas coisas recentemente, Gwen. Precisava de ajuda. 

— Você pode contar comigo, Eddie.

— Eu posso?

— É, o pessoal também, Allison, John... todos nós gostamos de você.

— O pessoal... e quanto a você?

— É, eu... — coço a nuca, desconfortável. — Eu também, eu sou sua amiga.

— É?

O celular voltou vibrar continuamente, me fazendo virar confusa.

— Pode atender.

— Não, depois eu retorno. — dispensei, voltando a fitá-lo. Alguma coisa estava errada, eu podia até sentir. — Eddie, o que aconteceu? Me fala.

Ele abaixa a cabeça em silêncio, respirando fundo.

— Eu consegui.

— Conseguiu o que?

— Ajuda. Pra entender. — ele adiciona após um momento, e eu começo a notar o quão intensamente ele me olha. Era desconfortável, e me lembrava um pouco de quando conheci Harry. Tolice, Gwen!, engoli em seco pensando. Ele é Eddie, ele só precisa de apoio pra voltar a ser um cara divertido. — Não quis acreditar no começo mas... ontem, quando estava no planetário-

Ele para, parecendo incomodado com o celular vibrando atrás de mim. Não podia negar que eu também estava. A tarde toda sem ligações e agora isso, quem poderia ser? Minhas contas estavam em dia.

— Atende Gwen.

— Eddie.

— Atende.

— Eu não acho que-

 Atende! — me encolho por instinto. Eddie havia gritado comigo. Em seus olhos vejo a raiva se esvaindo tão rápido como surgiu. — Desculpa.

Alguma coisa estava errada, o observo e tento não parecer assustada.

Automaticamente, me levanto e pego o celular, indo até a cozinha onde me sinto mais segura. Haviam facas aqui. Certo. Bom. Qualquer coisa...

Droga, o que estou pensando!? Era Eddie Brock, não um estuprador ou sei lá! Ele era o mesmo cara bobo e de bom humor de sempre, só estava... doente. Ou estressado. O que poderia ter acontecido? O jeito acusador que ele estava me olhando me fazia tremer só de lembrar. Eu não fiz nada, eu hein.

Certo, celular. Quem poderia estar-

Não tenho tempo para checar, outra ligação surgindo e me forçando a atender.

— Peter? — pergunto surpresa, ele não deveria estar em reunião agora?

— ONDE É QUE VOCÊ ESTAVA?! TEM IDEIA DE QUANTAS MENSAGENS EU DEIXEI?!

— Oooh, pra que tanta gritaria, o que-

— Não, olha, esquece. Importante. Onde você 'tá!?

— Em casa.

— Ah, graças a Deus! — sua respiração aliviada soa alto do outro lado da linha. — Ok então, me faz um favor? Fica aí, não sai daí! Eu estou indo te buscar.

Pisquei.

— Me buscar? Por que!? O que está acontecendo?

— É o simbionte, Gwen. Ele foi roubado de novo. — Peter sussurra como um segredo. Consigo imaginá-lo se apoiando em uma parede, cabeça abaixada e ombros tenso, igual a mim. — Não se preocupe, já sabemos quem está com ele, eu estou indo aí pra te explicar melhor. Você não vai acreditar.

— Peter, toma cuidado. — aviso preocupada.

— Chego aí em cinco minutos.

— Certo, eu só vou mandar o Eddie ir embora e te espero no telhado. 

Há um silêncio do outro lado da linha, nem mesmo ouço a respiração de Peter, e são alguns segundos até ele finalmente dizer, com a voz falha:

 Eddie... está ai?

— É.

— Gwen... corra.

— Como é que é? — eu solto uma risada nervosa, mas no fundo, bem lá no fundo, eu sei. Eu sei o porquê. Me recuso a acreditar, mas eu sei.

— Gwen, você tem que correr! 

— Não.

— Gwen- Gwen!

— Não! Para de me assustar!

— Pode deixar de ser teimosa ao menos uma vez na vida?!

— Se você deixar de ser idiota ao menos uma vez na vida.

— Gwen! — há vozes do outro lado, ele estava falando com outras pessoas também. — O mais rápido que puder, sim. É.

— Peter?

— Ainda está parada?! Corra, Gwen! Que droga, eu estou indo pra aí! Aguente firme!

— Peter!

Ele desligou.

Ele desligou e me deixou sozinha.

E eu sei.

Ouço a porta da sala se abrindo devagar, causando um som irritante. Me arrepio ao ouvir, olhando para trás.

Eddie.

Eu não era burra, não era difícil fazer as contas. Invadindo o planetário, vindo até minha casa, a sensação ruim pelo modo que ele sorria, a ligação desesperada de Peter... Oh céus. Sinto meu corpo começar a tremer, meu coração se acelerando. Deposito o celular em cima da bancada da cozinha antes de caminhar-

—um pouco cambaleante demais, mas tudo bem.

Chego a sala, olhando ao redor. Não há ninguém. A porta estava aberta.

— Eddie?

Será que ele havia ido embora? Me aproximo e o procuro no corredor, não o encontrando. Minhas mãos em punho aliviam um pouco.

Fecho a porta devagar.

Estranho.

É aquela sensação de estar sendo observada de novo-

— Eddie não existe mais. — a voz dele não passa de um sussurro atrás de mim, me paralisando completamente, como um balde de água fria sobre minha cabeça. — Ele era bobo. Ignorante. — fecho os olhos fortemente, tentando, em vão, conter qualquer lágrima que venha a descer. — Ah, e antes que comece com a ladainha de "o simbionte está mexendo com a sua cabeça", não, não é. Ele apenas me ajudou a ver de verdade quem realmente é você.

Engolindo em seco, tomo coragem e me viro, ainda não coragem o suficiente para olhá-lo, mas consigo perguntar:

— O que ele disse.

— Nenhuma mentira, aparentemente.

— Você sabe.

A risada dele preenche meus ouvidos, e sua sombra se aproxima de mim, invadindo meu espaço. Mantenho meus olhos no chão.

— De qual parte você fala? De que Peter é o Homem Aranha? De que você estava envolvida com ele esse tempo todo? Rindo de mim?

Nada do que eu dissesse iria mudar o jeito que ele estava pensando. Lembrava-me bem de como havia sido quando o simbionte estava em Peter, tudo que eu podia fazer agora era ter esperança de que Eddie ainda pudesse ser salvo, mesmo que-

Ele agarra meu queixo, me puxando contra seu rosto. Por um momento assustador, penso que ele vai me beijar-

Mas não. Não é isso. Os lábios dele encostam em meu ouvido. — Meu problema não é com você, Gwen. — Ele diz, mas tudo que eu consigo ouvir é o meu próprio coração, batendo, pulsando, desesperado para me fazer correr dali. Fazendo o contrário, eu espero. — No momento que eu soube que era o Peter... Eu entendi. Estava tão na cara. Homem Aranha não tem fraquezas. Peter Parker têm.

Espero o momento certo e quando o encontro-

Próximos, ele não consegue impedir quando meu joelho acerta sua área masculina com toda a minha força, e quando ele se dobra surpreso, giro braço direito para a esquerda e o trago em direção ao seu rosto, o acertando com meu cotovelo do jeito que meu pai me ensinou anos atrás.

Em um piscar, já estou do outro lado da sala, a risada dele me acompanhando.

— Fraqueza? Eu? Acho que o alienígena na sua cabeça está um tanto enganado! — com a adrenalina em meu corpo, encontro coragem em dizer. Ele era uma bomba prestes a estourar. Eu precisava enrolá-lo. Precisava de mais tempo até que Peter chegasse. — Eu já estudei simbiontes, Eddie, e ele está te usando!

— Cala a boca.

— Acredite em mim, quando alcançarem a simbiose vai ser muito, muito pior! Vai se alimentar dos seus órgãos e da sua energia, vocês vão ser um só! Consegue se imaginar vivendo assim?! Tem que se livrar dele! 

— Você é patética, Gwendolyn.

Aperto os olhos, erguendo a cabeça em desafio.

— Acha mesmo que eu acreditaria nas suas palavras? Tudo que faz é pensando em si própria. — acusa, sua voz aumentando a cada passo. — Descobri que tenho mais em comum com o simbionte do que com qualquer um. Eu vi o quanto fomos rejeitados, o quanto fomos torturados! Tratados como lixo! Por você, pelos cientistas da NASA, mas principalmente, pelo Homem Aranha!

Dei a volta pelo sofá para escapar de sua aproximação, vendo seu rosto se contorcer de modo assustador. 

Meu Deus, eu não posso ficar aqui. NÃO POSSO FICAR AQUI!

De novo não, por favor.

— E adivinha o que eu descobri, Gwendolyn?!

Agarrando o braço do sofá, ele o arremessa com uma força sobre-humana contra a TV. Um grito me escapa, e eu bato as costas contra a parede.

A distração me fez tirar os olhos dele por alguns segundos, e ao olha-lo, não o reconhecia mais.

— Somos como veneno para pessoas como ele!

Sua regata começa a se esticar, a calça se tornando uma espécie de tecido líquido, cobrindo todo seu corpo. Uma aranha branca e grande é estampada em seu peito, cobrindo os ombros largos. Eddie está mais alto do que nunca, mais alto que um humano comum, mais alto do que Peter jamais esteve quando o simbionte o controlava, seus músculos quase se estourando de tão grandes.

E quando seu rosto finalmente foi coberto, foi com pesar que eu percebi.

Era tarde.

Eles alcançaram a simbiose.

 NÓS SOMOS VENOM!

Será que ainda dá tempo de correr?

  


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Notas finais do capítulo

Quem gostou põe #RunGwenRun! Nos comentários. Sério, não precisa falar mais nada. Só isso e já me deixam felizes

"O simbionte mexeu com minha cabeça como um pesadelo, não sabia o que era real e o que não era!"

—Peter Parker.