Stay With Me escrita por Lady Liv


Capítulo 35
Capítulo 35 - O que faz de alguém corajosa


Notas iniciais do capítulo

gwendolyn maxine stacy, pessoal



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Gwen Stacy

 

Se você me pedisse para narrar detalhadamente as coisas que aconteceram, eu não conseguiria.

Não fazia ideia de como ainda estava viva. Foi tudo tão rápido.

Foi como se eu tivesse levado um choque, e todos os volts gritavam correr, correr, correr. Correr para longe. O primeiro cômodo que eu cheguei foi a cozinha e eu praticamente me joguei contra a pia, vendo a enorme faca que minha mãe cortava as carnes da casa pendurada num suporte da parede. Agarro-me a ela sem pensar duas vezes e ouço seu grunhido atrás de mim, me virando a tempo de vê-lo pular em minha direção.

Me desvio à tempo, quase caindo. O ouvi bater contra as panelas penduradas e abro a porta da cozinha, correndo pela casa ainda com o facão em mãos.

Correr, correr, correr.

Pra onde?! Pra onde?! Pense Gwen!

Por que eu não consigo pensar?! Ah é, tem uma monstruosidade aracnídea tentando me matar.

Devo ter batido nas paredes umas cinco vezes até chegar no corredor que dá pro terraço do prédio. Minha casa não era muito grande, mas talvez pelo desespero, ela me pareceu mais um labirinto. Meu andar era o último, portanto-

E tudo dá errado quando caio com tudo de cara no chão, sangue escorrendo em minha boca, e meu pé sendo segurado, e Eddie- não, ele não é mais Eddie. Como ele disse mesmo? Oh, Venom... sim, faz sentido. Do outro lado do corredor, quase agachado, a mão estendida em minha direção, uma espécie de teia entre nós, agarrada na minha perna.

Quer brincar um pouquinho, Gwendolyn?

Ele começou a me puxar. Tento me segurar segurar, minhas unhas rasgando pelo chão. Venom parece se deliciar com meu esforço.

O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?

Correr, correr, correr.

Não, não é possível.

O que eu-

A faca!

Com esforço me sento, esticando o braço e passando a parte afiada na teia. Uma, duas, três, quatro vezes! Talvez o desespero tivesse me dado mais força, no entanto não foi o suficiente, nunca vi algo tão resistente. Nem mesmo as teias do Homem Aranha. Tento me levantar, e ele joga outra teia em minhas costas me puxando para seu corpo. Me debato, grunhindo.

— É prazeroso ver o seu medo.

Seu rosto estava ao lado do meu, e-

Droga, pra quê eu fui abrir os olhos? Ele abre a boca para falar, consigo ver o quão grandes são seus dentes, e quando sua língua começou a sair, pude ver quase lentamente as linhas finas de sangue se abrindo conforme ele a mexia, cortando a si mesmo. Sinto todo o meu almoço se revirar em meu estômago, o nojo e o medo e o desespero conforme ele se inclinava, rindo.

O que acha de nos divertirmos um pouco, ahm? — sua língua passa pelo lado direito do meu rosto, me babando. Suas mãos abraçam minha cintura em um abraço esmagador, o ar foge de meus pulmões causando uma forte dor em meu interior. Alguns gritos me escampam. Ele gargalha de mim. Sinto suas garras roçarem em minha pele. Ah meu Deus, não! Eu não podia acreditar que Eddie estava dentro daquele monstro. Ele é o monstro, Gwen. Sendo levada pelo desespero, ergo meu braço mais alto que posso e por trás, consigo encravar a faca em seu abdômen com toda força que tenho. Sou arremessada contra a parede logo em seguida. Se eu já não conseguia respirar, agora tinha piorado. Lágrimas escapam de meus olhos e é impossível segurar o choramingo. O barulho de vidro quebrado preenche meus ouvidos. Ele havia me jogado contra um quadro, só podia ser. — Gwendolyn!

Venom puxa a faca de sua pele com facilidade. Ótimo, eu havia o irritado.

— Achei que estávamos nos divertindo. — Zombo com dificuldade, surpreendendo a mim mesma. Ah Peter, deixaria você orgulhoso agora!

A porta pro terraço é no final do corredor e por algum milagre, eu consigo chegar até lá. Meu braço direito pressionado contra meu peito, tentando diminuir a dor que eu sentia. Me sinto totalmente ridícula ao tropeçar no pequeno batente da porta, mas consigo fechá-la com um chute.

É incrível o que pode-se acontecer quando se está desesperado. Nunca mais duvido da força da gravidade que eu via nos filmes de terror.

Minha respiração está arfante. Perto de uma caixa do terraço, vejo algumas barras de ferro. São do sistema de saneamento, eu reconheço. Eles estavam reparando tudo mês passado. Me aproximo e pego um cano com a ponta afiada. Preciso me defender de alguma forma, enquanto der.

Peter, por favor... Chamo numa oração silenciosa. Não demore.

Fecho a boca e percebo o quão silencioso está lá dentro. Meu coração bate sem freio em meu peito e eu franzo o cenho. Não abra a porta! Meu instinto diz, mas... onde ele estava? Teria escapado? Pela janela, talvez? Ele poderia me atacar com facilidade aqui do lado de fora. Eu estava exposta o bastante. Me aproximo da porta devagar, não com a intenção de abri-la, mas sim de tentar ouvir o que se passa por trás dela. E então-

Uma mão monstruosa atravessa o metal da porta, quase me acertando. Sufoco o grito, me afastando o mais longe possível. Minhas pernas parecem se enrolar nelas mesmas enquanto eu giro procurando alguma rota de fuga. A escada de incêndio era muito longa, mas era minha única opção. Mas eu também sei que Venom conseguiria me pegar assim que eu descesse dois degraus. O choro preso em minha garganta começa a ganhar vida, permitindo lágrimas teimosas descerem pelo meu rosto. O vento bate forte em meus cabelos e ao tentar afasta-los dos olhos, vejo uma gosma na minha mão, percebo que deve ser o sangue dele. É preto e diferente e alien.

Sinto um arrepio na espinha e ao me virar eu o vejo, a cabeça virada para o lado quase confuso, como um cachorrinho.

Ele não vem atrás de você? Que pena, nós pensamos que ele viria. Seria ótimo ter mais alguém pra brincar.

Não o respondo, apertando o metal fortemente em minhas mãos, a parte pontuda virada na direção dele. Oh, era patético. Eu não teria chances.

Mesmo assim, não cairia sem lutar.

Mas não se preocupe, Gwendolyn. — Venom diz, se aproximando. Estou começando a odiar como ele sempre me chama pelo nome completo. —  Nós vamos prolongar o máximo possível. Quero que ele veja o que nós vamos fazer.

— Pode vir.

Ele para por um instante, voltando a me fitar como se estivesse confuso. Meu rosto é como um mármore enquanto o encaro. Quem ele pensa que é?! Acha que pode vir e me fazer de isca?!

Eu sou a filha de meu pai, George Stacy. Ele me ensinou a fazer o que era certo. Eu fui criada com amor e determinação pela minha mãe, Helen Stacy, entre meus irmãos, Philip, Howard e Simon. Eu não ia cair tão fácil assim. Eles me ensinaram a ter coragem, mesmo se eu estivesse apavorada.

E oh, como eu estava.

Consigo enxergar o que parece ser um sorriso se formando em sua boca monstruosa.

— VEM CÁ!

Ele corre em minha direção. Eu me preparo para acerta-lo com o resto de forças que me restava, e então-

Aconteceu.

Antes de conseguir se aproximar de mim, uma sombra vermelha e azul pousa a minha frente.

Ambos paramos, chocados. O ar me escapa e eu sinto como se pudesse chorar ou rir ou chorar e rir de alívio. O Homem Aranha vira a cabeça pra mim, e mesmo sem ver sua expressão, tenho certeza que ele só quer ver se eu estava bem. Assenti fracamente.

Ele voltou a encarar o seu inimigo venenoso, e não posso deixar de pensar que agora, era o nosso inimigo.

 — É sério? Você veio atrás dela? — Meu herói perguntou em um tom que eu nunca havia ouvido antes, sem ironias, sem humor. — Você cometeu um grande erro.


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Notas finais do capítulo

THE TRETA IS COMING