Gwen Stacy

Meus olhos voltaram a queimar sem controle. Vê-lo antes era uma sensação maravilhosa, mas vê-lo agora? Lembrando-me de tudo, e sabendo tudo que havíamos passado juntos... e o que ele tinha feito mesmo assim.

Em mais umas de suas tentativas estúpidas de tentar me proteger.

O mundo pareceu se calar por um instante, e o som de meu coração, tão forte em meus ouvidos (e me perguntei se ele também conseguia ouvi-lo bater), era o próprio som da decepção e raiva e saudade que eu estava sentindo.

— Peter. — respirei fundo, tomando coragem. — Eu sei o seu segredo.

Ele me olhava em choque.

— Eu lembrei, Peter.

— Gwen, eu... — ele tentou se aproximar, porém me afastei. Ele parou, me respeitando. Por uma vez, queria que ele não respeitasse. Ajudaria bastante a odiá-lo. — Você está bem? Eu...

Há quem estou tentando enganar? Odiá-lo? Meus ombros caíram como se eu estivesse carregado bastante peso. Eu o amava e aquilo estava me matando.

Por que ele mentiu pra mim? Por que? Ele já devia saber que eu me lembraria mais cedo ou mais tarde... Ele escolheu o pior lado. Escolheu mentir.

— Eu posso explicar, Gwen.

— Não, você sempre tem uma explicação. Para com isso. Eu estou farta. Por que, Peter?

Eu sentia vontade de bate-lo.

Eu sentia vontade de beija-lo.

Que amor era esse, que sufocava?

— Eu estava tentando te proteger.

— Você sempre está tentando me proteger! Eu não sou nenhuma donzela em perigo, não vê? Eu nunca fui uma!

— Tenta me entender, você quase morreu. Ou se esqueceu do perigo que passou?!

— Eu não me esqueci! Mas eu aceitei isso, no momento que soube que você era o Homem Aranha.

— Mas eu não posso aceitar! — exclamou alto, finalmente se aproximando. Me encontrei paralisada, o observando enquanto tentava não chorar. — Me corrói saber que você pode se machucar a qualquer momento.

— O que você não entende é que eu posso me machucar a qualquer momento, estou sujeita a isso e você não pode impedir!

Ele negou com a cabeça.

— Você quase morreu nos meus braços, Gwen! Têm ideia do que isso fez comigo?! — ele quase gritou em meu rosto, me segurando pelos ombros. — Não de novo! Eu não vou deixar! Enquanto eu viver, eu farei de tudo para deixa-la segura!

— Eu sinto muito pelo o que você sentiu, Peter, sinto mesmo... — eu disse tocando seu rosto. — Mas e quanto a mim? E eu? Pensou no que eu sentiria?

Peter fecha os olhos, suspirando.

— Quando eu me lembrei... eu estava sozinha.

Ele abriu os olhos, me olhando como um cachorrinho de rua. Não amoleci, acusando:

— Abracei a primeira pessoa que eu vi! Eu... eu queria que fosse você, sabia disso?! Eu queria que você tivesse me ajudado a- — me calei, engolindo o choro.

— Gwen...

— Peter...

Ele abaixou os olhos, franzindo o cenho agoniado.

— Você está cega! Não vê o perigo à sua frente! Não sabe o que está dizendo! Você- — arfante, ele tenta dizer.

— Estou cansada de todos tomarem as minhas decisões!

— ...precisa me ouvir, ao menos uma vez na vida...

— Mas é você que não ouve!

— ...não percebe que comigo, suas chances de morrer a qualquer instante aumentam pra 100%?

— Tenho 19 anos, uma saúde de ferro e inteligente o bastante pra dizer que essa porcentagem está errada.

Dei um passo pra frente. Meu corpo colado ao dele. E nossas respirações estavam tensas.

— Isso... — falei devagar e repousei minha mão em seu peito. — É maior do que você, Peter. Não pode mudar o que sentimos, não pode.

Ele pôs as mãos em minha cintura, me puxando ainda mais pra si.

— Eu quero estar com você todos os dias da minha vida. Eu acordo e penso em você, eu fecho os olhos e penso em você. É você. Você. Você. — sua voz rouca e ele se esforçava como se estivesse numa luta mental consigo mesmo. — Nos meus sonhos é sempre você... e nos pesadelos...

Pisquei, controlei-me pra não chorar e falei:

— Eu perdoou você. Podemos resolver isso juntos. 

Ele me olhou de modo intenso. Eu quase me perguntei em que ele estaria pensando naquele momento, mas era óbvio de que ele estaria em conflito.

E acabou que por me soltar devagar.

— Todas as vezes que eu olho pra você...— seus olhos começaram a se encher de lágrimas, assim como os meus estavam. — Eu me lembro... da Torre e... Eu quase não fui rápido o suficiente...

Solucei. — Peter...

— Eu preciso aprender a ser mais forte primeiro... pra impedir se... se..

— Peter...

— Tinha sangue na sua cabeça, Gwen.

— Peter.

— E não respirava.

— Peter! Eu não morri!

— Eu não deixei você morrer!

Chorei, deixando as lágrimas escorrerem em meu rosto como uma cachoeira.

— Eu não deixei você ir... Mas você ia me deixar...

— Eu não ia. — disse, minha voz totalmente embargada.

— Ia sim. — ele tinha lágrimas nos olhos também, quando começamos a chorar? Parecia que sempre chorávamos quando estávamos juntos. — Eu não entendo como ainda pode estar aqui.

Algo dentro de mim derreteu e cruzando os braços, eu repeti o que ele me disse há tempos atrás:

— Porque você é a minha direção.

Quando ele se declarou pra mim na ponte. Quando ele me fez sorrir boba.

Ele limpou suas lágrimas, e eu aproveitei e limpei meu rosto também.

Houve um instante em silêncio até que Peter voltasse a falar:

— Gwen, você bateu a cabeça. Acho que está confusa.

Ai meu Deus.

— Como é que é?

Eu não ia chorar de novo.

— Você me escolheu uma vez. — falei franzindo o cenho. — Por que não escolhe de novo? 

— Porque... Eu não posso. — Oh, como doía ouvi-lo. — Você estaria melhor sem mim, sei que estava.

— Não tem como saber disso.

— Sei sim. — Peter insistiu. — Quando eu fui te ver aquela noite na sua janela, vestido de Homem Aranha, você estava sorrindo-

— Porque você estava lá. Foi me ver.

— Estava segura. Bem.

— É, depois de presenciar o ataque do Abutre que você não tinha como controlar. — acrescentei, irônica. — Você não é Deus, Peter. Não pode estar comigo sempre.

— Eu não posso destruir você, Gwen. Eu sempre perco algo no final, não posso correr esse risco, não com você. — seus olhos desviaram-se para longe, talvez lembrando-se dos pais. – E eu ainda prometi ao seu-

Irritação cresceu em meu peito instantaneamente.

— Não me venha com aquela promessa! Já estou farta! Eu vivo pelo hoje, e não pelo amanhã! E muito menos por promessas que eu não não participei. Desde o começo, eu estava do seu lado. Eu te ajudei. Eu achei que iríamos ser nós contra o mundo. Mas não importa mais não é? É tudo passado pra você.

— O que? Não-

— Quer saber? Você está certo. Eu nem sei o que eu estou fazendo aqui!

Seus olhos se desesperaram enquanto seguiam meus movimentos.

— Aonde você vai? — não respondi, indo até a porta. — Gwen, não, espera!

— Adeus, Peter.

— Você não pode sair assim...

Me virei, oh aqueles olhos castanhos. O que eu não faria por eles?

Peter nunca me pareceu tão angustiado como agora.

— O que quer que eu faça?

— Eu... eu não sei, eu...

— Peter. Peter, você escolheu... — eu disse, e repeti, querendo acusá-lo de algo, querendo... eu só queria causar alguma reação antes de ir embora. — Você escolheu... e não foi a mim...

Havia tanta coisa que eu ainda queria dizer. Mas no momento tudo que eu conseguia fazer era encara-lo.

E então, assentindo, eu saí.

Ao menos, teria saído, se algo não tivesse me puxado de volta.

E eu estava nos braços de Peter novamente, a teia grudada em minha cintura. O fitei assustada.

— Minha direção. — Peter sussurrou. — Me desculpe.

Exatamente como quando nos beijamos na primeira vez.

E da mesma forma, ele o fez.

Me beijando!

Hesitei e o tentei afastar de mim, nós precisávamos conversar, não beijar! Mas... Wow! Como ele conseguiu aqueles músculos?

É claro que eu não ia consegui o afastar, ele era o Homem Aranha. Aguentava o peso de carros, então, como eu iria me soltar dele? E sem ao menos perceber, eu não estava mais tentando afasta-lo de mim... Eu estava o puxando.

Yeah! Viva a bipolaridade!

Argh! Dane-se...

Suas mãos desceram para minha cintura, enquanto as minhas subiram de seu peito até seu pescoço. Meu coração nunca esteve tão acelerado. Arranhei seu pescoço, o sentindo aprofundar o beijo cada vez mais. Ele pôs a mão dentro dos meus cabelos, e eu arrepiei com o toque. Ele sorriu entre o beijo.

Virei um pouco pra ele, vendo-o sorrir.

— Adoro quando você fica vermelha. — ele sorri e eu fechei a cara.— É verdade, parece que seus olhos se destacam mais...

— Acho que já me arrependi.

— Naaah, eu acho que não.

Rolei os olhos, me afastando. Ele se aproximou e eu dei outro passo pra trás.

— O que foi? Eu não mordo.

— Claro que não, só pica. — alerta de piada ruim, porque aranhas... dentes... ele... acho que estou aprendendo com Peter. — Ainda estou brava com você, o que você fez... 

— Quer saber? Sempre que falar que está brava comigo, eu vou entender como um "eu te amo".

— Como um "eu te amo" ? — pergunto incrédula, ele apenas sorri. — Tá! Olha... e-eu vou embora agora.

Porém Peter não permitiu que me afastasse, e segurou minha mão, puxando-me como para uma dança.

— Eu não vou deixar você ir embora. Não mais.

Abaixei a cabeça, nossas trocas de palavras, tão como antigamente, me deixavam com uma esperança agridoce.

— Você vai me deixar de novo. — falei sentindo um aperto no coração. — Você já fez isso várias vezes comigo...

— Não Gwen. E sabe por que? Porque você estava certa. Você sempre está, eu é que... eu é que sou cabeça dura. — murmurou fitando meu rosto com tal intensidade, como se tentasse gravar cada detalhe meu. — Eu não vou te deixar... pois eu não posso. Não consigo. Eu tentei. Tentei e... não dá. Não sou forte o suficiente pra isso. Minha força sempre veio de você. Todas as vezes que eu te magoei, eu prometo... Eu vou consertar. Por favor, diga que ainda tenho tempo.

Fechei os olhos, sentindo sua respiração em meu rosto, meu coração acelerado.

— Diga que-

— Eu amo você. — interrompi, sem conseguir controlar a certeza que carregava.

Peter pareceu respirar aliviado. — E eu amo você.

Abri os olhos e sorri boba.

— Você.

Ri feliz. Não me aguentei com aquele olhos castanhos me olhando e o beijei.

E meu coração se encheu de alegria ao ver que estava sendo retribuída.