Projeto Mutante escrita por Bianca Vivas


Capítulo 4
A Médica e o Inspetor


Notas iniciais do capítulo

Bem, essas notas serão curtinhas, simplesmente porque eu não vou precisar me desculpar por me atrasar tuts... tuts...
Então, eu revisei esse capítulo uma trezentas vezes (inclusive agora, antes de postar), mas se tiver passado algum erro, me avisem. Por favor. E, claro, dar as boas vindas aos novos leitores e agradecer pelo pessoal que comentou. Sem me esquecer de pedir aos fantasminhas que se manifestem haha :)
Ah, preparem-se. Porque vocês verão o detetive em ação :3



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Diana

 

O inspetor e a médica continuavam ali, parados, esperando que Viktor os acompanhasse. Diana olhava de um rosto para o outro, tentando entender o que estava acontecendo. Por que a Scotland Yard estava atrás do detetive bonitão? Ela ia perguntar isso na lata, mas Viktor segurou seu braço e a empurrou para trás dele.

— O que querem? — Ele perguntou, cauteloso.

Olhava para todos os lugares da rua, observando as pessoas. Queria ver se alguma delas segurava armas. Também buscava um meio de fugir, caso aquela conversa saísse do controle.

— Este é um assunto sigiloso, Detetive. — A médica respondeu, sem hesitar. — Não é seguro tratarmos dele no meio de uma rua movimentada como esta.

Realmente, a Augusta era um lugar movimentado. Cheio de pessoas diferentes. Inapropriado para se tratar de assuntos sigilosos. Mas Diana estava com a impressão de que não era apenas esse o motivo para a médica manter-se evasiva.

— Por que é que ele não fala nada? — Diana perguntou, sem pensar, e recebeu um olhar de desaprovação do detetive. — Quer dizer, ele é o inspetor da Scotland Yard, certo? Ele é quem deveria explicar as coisas aqui, não a senhora.

Viktor segurou o braço da garota ainda mais forte. Ela estava sendo imprudente. Nenhum dos dois sabiam com que tipo de pessoa estavam lidando, e ela estava agindo por impulso. Sem calcular que qualquer coisa que dissessem ou fizessem poderia colocá-los em maus lençóis mais tarde.

— Ele é inglês, senhorita. Não fala uma única palavra em português. — A médica deu de ombros, mas passou a fitar Diana com mais intensidade ainda. Quem era aquela garota?

Os quatro ficaram em silêncio por um tempo. Viktor aproveitou para passar a mão pela cintura de Diana e colar o corpo dela ao dele.

— Isto está errado... — a menina murmurou.

— Perdão...? — Aya ouviu e a interrompeu.

— Isto está errado — a menina repetiu, dessa vez mais alto. Então voltou-se para Viktor: — Eu estudo Direito e este não é o modo como as coisas funcionam. Aliás, a Scotland Yard nem ao menos tem jurisdição aqui no Brasil. Se você tivesse alguma pendência fora do país, seria a Interpol a te procurar. Não a polícia londrina.

Por um momento a médica pareceu surpresa. Mas, um instante depois, havia se recomposto. Aquela garota era esperta demais, e poderia ser um empecilho em seus planos.

— Sim, mas todos nós sabemos que nem sempre é assim que as coisas funcionam.

Viktor sabia que a médica estava falando a verdade. Como dissera Diana, a Scotland Yard não tinha jurisdição no país. Contudo, o Brasil abaixava a cabeça para tudo o que os Estados Unidos e a Inglaterra diziam. As coisas haviam melhorado muito nos últimos anos, mesmo assim o país continuava a ser manipulado por aqueles banqueiros nojentos de primeiro mundo.

Era por isso que estava demorando tanto para agir. Já estava segurando a bolsinha que Diana levava a tiracolo, e onde deveria estar a chave do carro dela. Porém, não sabia ainda se aquela médica e aquele inspetor eram realmente impostores.

— Olha, a garotinha aqui tem razão, por isso, ou vocês me dizem porque querem que eu os acompanhe, ou nada feito. — Ele já estava com a chaves do carro de Diana em uma das mãos e a carteira dela no bolso de trás da calça.

— Sinto muito, detetive, mas o senhor não tem a opção de não nos acompanhar.

Ela sorriu ao dizer isso. Então, o tal inspetor tirou uma seringa de dentro do casaco e começou a ir em direção a Viktor. O detetive, por sua vez, abriu a porta do carro e empurrou Diana lá dentro.

— Pro Itália — ele disse antes de fechar a porta.

O momento de distração foi perfeito para o Inspetor segurá-lo pelo pescoço e se preparar para injetar o liquido da agulha nele. Viktor, entretanto, foi mais rápido. Ele girou, trazendo Lewis para sua frente e, ali mesmo, começou a socar o estômago dele. A seringa caiu e a Dr.ª Aya tratou de correr atrás dela. Conseguiu pegá-la pouco antes de cair dentro de um bueiro. E voltou correndo para onde o detetive estava lutando com Frederico.

Ao contrário do que imaginara Viktor, o inspetor Lewis era muito bom de briga. Desviava, chutava e socava. Já atingira o detetive uma meia dúzia de vezes. Quase desestabilizara-o em uma delas. Contudo, Viktor era ágil demais para um ser humano comum e, ainda por cima, tinha sido treinado no exército brasileiro. Não iria perder aquela briguinha.

Alguns transeuntes pararam para ver a briga, mas poucos deram real importância. Era São Paulo e aquela era a Avenida Augusta. Ali, acontecia de tudo. Melhor assim, pensou Viktor, que não queria ser detido pela polícia. Já tinha problemas demais para acrescentar aquele a lista.

Quando percebeu que Aya se aproximava com a seringa nas mãos, ele mudou o foco da luta. Prendeu a cabeça de Lewis com uma chave de braço e deu um jeito de jogá-lo para cima dela. O inglês caiu em cima da médica, completamente tonto. Aya caiu no chão da calçada, mas não soltou a seringa. Viktor decidiu que aquela era uma boa hora para dar o fora dali.

Desatou, então, a correr, antes que os dois se recuperassem. Empurrou algumas pessoas que passavam por ali e jogou algumas ao chão. A Avenida Augusta estava muito cheia de jovens naquele momento. A passagem era difícil. Atravessou, então, a rua. Quase fora atropelado por um carro e derrubou uma moto.

Pelo canto do olho, viu que Aya e Frederico haviam se levantado. Estavam correndo atrás dele. Contudo, Viktor era mais rápido que qualquer ser humano. Logo os dois ficariam para trás. Ele só precisaria despistá-los. Procurou correr mais rápido.

Então ele viu um beco e decidiu entrar ali. Ficar um pouco, só para ver se os dois impostores — porque agora ele tinha certeza de que eram impostores — perdiam seu rastro.

O beco estava cheio de mendigos. Alguns já dormiam, enquanto outros tentavam se aquecer numa fogueira feita numa antiga lata de lixo. Ao ver o fogo, Viktor se lembrou da carteira de Diana. Precisava queimar os documentos dela e sumir com os cartões de crédito. Porque, caso não fizesse, os outros dois poderiam conseguir rastrear a menina e acabar chegando até ele.

Pediu licença a um dos mendigos que estava perto da fogueira improvisada e jogou ali todos os documentos de Diana. Carteira de Identidade, CPF, Carteira de Motorista, Título de Eleitor, Carteira de Estudante... Em seguida, quebrou em vários pedaços o plano de saúde e os vários cartões de créditos. Jogou os pedaços no fogo também. Tirou de dentro da carteira também o dinheiro da garota e duas fotos. Guardou tudo isso no bolso da jaqueta e entregou a carteira para os mendigos. Deixou-os ali admirando o presente que acabaram de ganhar e partiu para o Edifício Itália. Para encontrar com Diana.

Dessa vez, ele estava andando devagar. Olhou apenas algumas vezes para trás e para os lados, só para verificar se estava sendo seguido. Mas, de resto, procurou agir normalmente. Apenas quando chegou na rua do Edifício Itália é que ele começou a andar mais rápido. Já avistara o Honda preto de Diana e não viu motivos para não se apressar.

— Para o Brás. Rápido! — Disse, já entrando no carro e batendo a porta.

— Epa, epa, epa — Diana falou mais alto. — Antes você vai me explicar direitinho o que está acontecendo aqui!

— Se eu soubesse eu te explicaria, garota. Acontece que eu estou tão no escuro quanto você. — Girou a chave na ignição, forçando-a a apertar o acelerador. — Agora, para o Brás. E rápido!

Diana começou a dirigir, mas não desistiu das perguntas. Ela nunca desistia.

— E o que nós vamos fazer no Brás?

— Nós? — Viktor riu ironicamente. — “Nós” não vamos fazer nada no Brás. Eu — apontou para o próprio peito — vou visitar um velho amigo e tentar entender que diabos está acontecendo, enquanto você — apontou para Diana — vai para casa descansar como uma boa menina e fingir que nada disso aconteceu.

— Como é que é?! — Diana quase gritou, e então estacionou o carro. — Olha aqui, senhor “Eu sou o Detetive e mando aqui” — ela apontou o dedo na cara dele — eu não mandei você me meter nessa confusão, mas agora que eu estou aqui, eu vou até o fim. Então vamos deixar uma coisa bem clara aqui: ou eu vou junto, ou você pode descer do meu carro e ir atrás desse seu amiguinho a pé, correndo o risco de topar com aqueles dois malucos. Você escolhe.

Diana cruzou os braços na frente do peito, para mostrar que não desistiria. Viktor suspirou e resolveu ceder.

— Só porque eu não posso perder tempo.

A menina sorriu e pisou no acelerador.

Se pudesse, Viktor teria se livrado dela, mas dependia de Diana para chegar ao Brás e a casa do Nogueira. Então, ia ter que aguentar o falatório da garota que, no fim das contas, acabou não sendo tão irritante quanto ele pensava que seria. Na maior parte das vezes, ela só ficou falando “como isso tudo é muito louco” ou “se eu contar, ninguém vai acreditar”. Também falou de um tal de Samuel, que Viktor não fazia a menor ideia de quem era, e nem fazia questão de descobrir. E, como não ligava a mínima para o que ela dizia, logo se desligou, pensando no que iria fazer assim que chegasse a casa do Nogueira.

Ele não sabia como encararia o melhor amigo. Não depois da tarde que tivera com sua ex-noiva. Provavelmente Catarina já contara tudo a ele, já que eram amantes. Ou talvez Catarina ainda não tivesse tido coragem de contar ao Nogueira que revelara o caso de anos dos dois ao detetive. Viktor não sabia qual das opções era a pior.

Com certeza não conseguiria falar com Nogueira com naturalidade. Quem sabe até o enfrentasse? Mas, e se Nogueira já soubesse que ele sabia de tudo e decidisse pedir desculpas? Perdoaria o melhor amigo por dormir, durante anos, com a sua noiva?

A cabeça de Viktor dava voltas e mais voltas toda vez que pensava nisso. Decidiu parar e se concentrar no motivo da visita a Nogueira: a Dr.ª Aya e o Inspetor Lewis. Provavelmente, o delegado não saberia nada sobre os dois, mas poderia ajudá-lo a descobrir. Nogueira tinha muitos contatos e era um excelente investigador, apesar de tudo.

Ficou tão imerso em seus pensamentos que Diana teve que chamá-lo quando chegaram ao Bairro do Brás. Viktor deu o endereço do Delegado Nogueira. Como Diana não sabia onde era, ele teve de ir explicando o caminho.

Pararam num edifício cinza, seis andares e sem elevadores. Nogueira morava no último deles e eles teriam de subir todos aqueles lances de escada se quisessem descobrir alguma coisa.

— É bom que goste de andar — ele disse à garota e puxou-a pelo braço.

Quando chegaram no sexto andar, Diana estava arfando, enquanto Viktor não tinha nem suado. Ela olhou para ele impressionada:

— É isso que eu chamo de boa forma física.

Ele revirou os olhos e tocou a campainha. Alguns segundos depois, o delegado Nogueira apareceu na porta. Tão logo a abriu, irrompeu em súplicas:

— Eu juro que eu não queria, mas foi mais forte que eu! — Ao ouvir aquilo, a raiva que deveria sentir pela traição finalmente apareceu e Viktor segurou Nogueira pelo colarinho da camisa e colocou-o contra uma parede — Eu ia te contar! Eu juro! Mas o tempo foi passando e...

Nogueira parou de falar nesse instante, porque o punho de Viktor acertou o seu rosto. Diana assistia a tudo impressionada. Aquele homem era mesmo uma caixinha de surpresas! Estava gostando muito daquilo.

— Você é o meu melhor amigo! O MEU MELHOR AMIGO! — O detetive berrou, dando um soco no estômago do delegado.

— Eu ia te contar, Viktor. Eu juro! — Nogueira disse, com uma voz fraca. — Eu ia te contar!

— Ah, é? E posso saber quando ia ser isso? — Então ele soltou o outro homem e caiu no chão. — A minha noiva e o meu melhor amigo! Como eu nunca percebi isso?

— Os homens nunca percebem nada. — Diana disse e Viktor se lembrou da presença dela.

O detetive logo se recompôs, mas Nogueira levou um susto ao ver a garota ali e continuou pregado na parede.

— Quem é ela? — Perguntou, meio abobalhado.

— Uma amiga. — Viktor respondeu rispidamente, depois suspirou e falou mais devagar — Olha, eu não quero brigar com você. Pelo menos não agora. No momento, eu só preciso de sua ajuda.

— Por que não vai direto ao ponto, Viktor? — Diana gritou da janela. Estava dando uma voltinha pela pequena sala do apartamento.

— Tudo bem, mas eu ainda vou me explicar.

— Eu não quero suas explicações.

— Mas eu preciso fazer isso.

Viktor estavas e irritando, não tinha muito tempo.

— Já que você quer discutir isso, vamos discutir —falou, sentando no sofá. — Eu passei a noite passada toda me embebedando porque Catarina e eu brigamos. Quando eu saí da delegacia e fui até a casa dela tentar acertar as coisas, ela me disse que a gente nunca mais iria se ver. E o motivo? SABE QUAL FOI O MOTIVO? — Viktor parou para respirar e Nogueira engoliu em seco. — Porque ela estava grávida. De outro. E esse outro era o meu melhor amigo. O MEU MELHOR AMIGO!

— Espera — Nogueira empalidecera —, você está me dizendo que a Catarina está grávida? De mim?

— Gente... — Diana chamou, mas ninguém deu importância. Ela ainda estava na janela.

— Você não sabia?

— Gente...

— Ela nunca me disse nada. — Nogueira sentou e passou a mão pelos cabelos. — Meu Deus... Ela está grávida...

— Gente...

— Pensei que você soubesse. Sinto muito. Acho que ela não queria que você soubesse assim.

— Gente... — Diana chamou pela quarta vez, já se impacientando.

— O que é? — Viktor gritou de volta, irritado demais.

— Me digam que nesse prédio tem porteiro. Porque a tal doutora e o inspetor inglês estão vindo para cá.

Viktor levantou do sofá imediatamente. Foi até o quarto do Nogueira e tirou de dentro da gaveta da cômoda uma Glock. Preferia seu revólver, mas aquela arma teria de servir. Pelo menos não estariam indefesos. Voltou a sala e puxou Nogueira pelo braço. Diana o seguiu imediatamente. Desceram as escadas correndo, sem nada dizer, enquanto o delegado não parava de perguntar o que estava acontecendo.

Ao chegarem a calçada, viram Aya e Frederico indo em direção ao prédio. Se esconderam atrás de um carro. Diana tapou a boca do delegado para ele parar de falar, quando Aya passou por ele.

— O que vamos fazer? — Sussurrou Diana, ainda com a mão na boca do delegado — Eles logo vão descobrir que não estamos lá.

Viktor olhou para os lados. Precisavam sair dali rapidamente. Como Diana dissera, os dois perseguidores logo descobririam que eles não estavam dentro do prédio. E não podiam mais usar o carro, já que não sabiam se estava sendo rastreado ou não. Precisavam de outro jeito. Foi aí que Viktor viu dois rapazes estacionarem suas motos na calçada.

— Vamos para minha casa.

Viktor saiu de detrás do carro e foi até eles.

— Parados aí! — Gritou, e os meninos paralisaram de medo. — A moto de vocês está apreendida. Passem as chaves. — Mostrou o distintivo e os meninos, nervosos, entregaram as chaves sem hesitar.

Entendendo o que estava acontecendo, Diana também saiu detrás do carro e puxou o delegado. Nogueira sentou em uma moto e Viktor na outra. Diana foi na garupa do detetive. Nenhum dos três se importou em colocar o capacete.

— É bom que saiba atirar. — Viktor disse, entregando a ela a Glock de Nogueira.

No momento em que as duas motos arrancaram, os perseguidores saíram do prédio. Ainda puderam ver Viktor e Diana em cima da moto. Seria uma bela caçada aquela.


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Notas finais do capítulo

Apenas comentem e me digam o que acharam. Quero muito saber a opinião de vocês. Sério mesmo. É muito importante para mim saber o que acham. E não custa nada. Só um ou dois minutinhos, no máximo. Então comentem!



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