Não sei o que faço agora. Talvez eu possa fugir, mas seria muito arriscado, e tem Isaac, eu sei que Joanna cuidaria bem dele, mas ela pode enlouquecer já que Paul morreu e ela dificilmente pode manter a casa sem o emprego dele. E foi nesse momento que o pequenino bateu na porta, hoje de manhã.

– princesa Elizabeth?

– quem é?

– sou eu, Isaac.

Destranquei a porta, o deixei entrar e tranquei novamente. O abracei fortemente, ele não podia ser nenhum parente meu ou coisa e tal, mas eu tinha um grande afeto por ele, nós somos órfãos (eu de mãe e ele dos dois), fugimos de casa e fomos acolhidos por uma família, mas a que o acolheu era composta por rebeldes, mas agora eu poderia perde-lo mesmo o conhecendo a pouco tempo.

– você acha que eu devo ir embora?

– por mim você morava aqui comigo.

Ele começou a chorar o que me contagiou.

– posso te chamar de Elie?

– claro!

– eu queria ficar aqui com você no castelo, dormir no colchão do seu quarto que nem da última vez.

Tão fofo...

– eu também... – sorri para ele. – pensei em fugir...

– acho que fugir não seria bom agora, já que todos sabem que você é a princesa.

– verdade.

– você tem uma vida aqui, não a perca por minha causa. – ele encarou o chão.

– eu poderia ir com você, mesmo pelo pouco tempo que o conheci.

– te amo! – ele me abraçou e eu fiz o mesmo.

– também.

– sua coroação é amanhã.

– eu sei...

– e eu vou embora amanhã também...

– eh...

Eu tinha que fazer alguma coisa, eu era a princesa! Seria coroada rainha e meu pai deixaria de assumir o cargo, meu irmão iria para a França e eu nasci alguns segundos antes que minha irmã, o que me fazia a mais velha.

– e se você ficasse?

– eu? Mas como?

– eu vou me tornar rainha! Eu posso te deixar morar no meu quarto antigo!

– bem... Tomara que consiga! – ele estava bem mais feliz agora. – eu tenho que tomar o café agora.

Abri a porta e ele correu em direção as escadas. Me troquei e sai no corredor para tomar meu café também, quando vi Frederick caminhando por ali.

– bom dia vossa majestade. – ele disse, brincando.

– bom dia soldado Woodwork. – entrei na brincadeira.

– animada para ser rainha?

– nem de longe.

– o que você está planejando fazer? Vi Isaac entrando no seu quarto triste e saindo feliz.

– qual o problema?

– você quer deixá-lo no castelo?

– é o pretendo.

– posso ajudá-la?

– como?

– não sei, posso te proteger dos rebeldes. – ele segurou minha cintura, o que me deu um frio na barriga. – posso te proteger de tudo, minha rainha.

Sorri um pouco corada.

– pare com isso Woodwork, as pessoas vão ver. – me lembrei de que estávamos em pleno corredor do castelo.

– quem se importa? Gosto que elas vejam.

Eu ia falar alguma coisa, mas foi interrompida quando seus lábios se tocaram com os meus. Passei a mão sobre seu cabelo loiro e ele fez o mesmo com o meu, ele me soltou por um instante, e acho que demos sorte do corredor estar vazio.

– tão linda...

– tão indiscreto... – nós rimos. Acho que até perdi a fome.

– vai fazer quantos anos mesmo?

– vinte.

Parei para pensar, dois anos no castelo? Eu não escrevo todo dia, pois as vezes perco meu diário, mas é muito tempo!

– amanhã?

– sim.

– nossa princesa, sabia que eu faço vinte e um daqui a alguns meses? – ele sorriu.

– você me disse, viu Ethan e Luna?

– saíram.

– ah.

– com licença? – ouvi Luna dizer por trás de mim.

Percebi que Frederick ainda estava com as mãos na minha cintura, e eu com os braços em volta do seu pescoço. Fiquei vermelha. O soltei e dei atenção a ela.

– vocês formam um lindo casal sabiam? – ela disse com um sorriso.

– você e Ethan também.

– nós sabemos. – ela e ele se encararam por alguns segundos. – sabiam que aqui é o corredor?

– bem, acho que ele é o único que não sabe. – apontei para Fred.

– o rei não acha ruim de vocês namorarem mesmo você sendo uma selecionada? – Fred perguntou para sua irmã.

– o que ele poderia fazer? Beth vai ser rainha amanhã.

– e ela vai deixar Isaac no castelo. – ele completou.

– mesmo? Que bom! Ele é tão fofo! Então vamos indo, tenho alguns livros para ler.

– resolveu quebrar as regras agora? – eu disse rindo.

– quebrar as regras? Você vai permitir a leitura mesmo. – ela saiu andando.

– eh... eu também vou indo. Tenho que achar o Isaac. – eu disse.

– então thau, princesa. – ele me beijou mais uma vez.

– thau...

Desci as escadas.

– Isaac? Onde você está?

– Elie? – ouvi a voz dele atrás da porta do escritório do meu pai. O que ele estaria fazendo ali?

Abri a porta e vi-o sentado numa cadeira com meu pai em outra.

– oi Elizabeth. – meu pai disse.

– oi... o que você ele está fazendo aqui? – perguntei a meu pai.

– bem, ele estava tomando uma vitamina na cozinha e o convidei para entrar, algum problema?

– nenhum... mas, o convidou para entrar para que?

– ele me deu alguns biscoitos! – o garotinho falou feliz.

– menos mal... quer dar um passeio no jardim? – perguntei para Isaac.

– claro! – ele se levantou e correu até a porta.

– então te vejo depois. – disse a meu pai e nos despedimos.

Eu e Isaac estávamos caminhando pelo jardim quando me veio uma pergunta a cabeça.

– sobre o que vocês estavam conversando? – perguntei a ele.

– sobre você.

– sobre mim?

– é. Ele disse que como você vai fazer vinte anos, não se pode governar sem um rei.

Já entendi o rumo da conversa.

– e o que mais?

– ele foi falando algumas coisas sobre conversar com os príncipes da França, e mais algumas coisas.

– você não estava prestando atenção?

– esqueceu que tenho sete anos? – nós rimos. O aniversário dele é daqui a um mês.

– você acha que um príncipe francês combina comigo?

– não. – ele disse rindo. – acho que o único que daria um bom rei para você seria o Frederick.

– você acha?

– tenho certeza!

Continuamos andando até anoitecer, estou sentada na cama e vou parar de escrever por hoje.