Rede de Mentiras escrita por Gaby Molina


Capítulo 6
Capítulo 6 - O outro lado de mim


Notas iniciais do capítulo

Oi :3



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I'm friends with the monster that's under my bed

Get along with the voices inside of my head

You're trying to save me, stop holding your breath

And you think I'm crazy, yeah, you think I'm crazy

Well, that's nothing.

— The Monster, Eminem feat. Rihanna

Fletcher

Eu não esperava abrir a porta e encontrar Clarissa grudada no pé de Elena. Pelo menos, não muito.

A morena enroscou-se no pé direito da outra, pedindo pelo amor de Deus para que ela se sentasse, até que me viu, porque aí começou a gritar comigo (sem soltar Elena, é claro). Eu já nem sabia mais quem eu tinha que acalmar.

— Bem, ainda bem que eu trouxe mais de uma pílula — Ethan murmurou, e eu deixei escapar um riso baixo em meio ao caos.

— FLETCHER! — Clarissa gritou, impaciente.

Segurei Elena e pedi que a morena se sentasse. Ela bufou e o fez.

— Alguém me diz agora o que diabos está acontecendo ou eu vou direto para a sra. Lover.

— Temos uma X-9 — zombei com Ethan. — Odeio delatores.

— Fletcher!

— Está bem! Está bem! Blackery, converse com a loira. Eu cuido da outra.

— Hã, tem certeza de que é uma boa ideia? Quero dizer, ela me odeia e tal — Ethan defendeu.

— Nesse exato momento, parceiro, eu tenho a leve desconfiança de que ela não te odeia.

Ethan suspirou. Ele que quis vir, de qualquer forma. Sentou-se ao lado de Elena e pegou sua mão, dizendo algo em voz baixa. Clarissa continuava me lançando seu olhar mau (pelo menos, acho que era para ser o olhar mau).

— É uma atuação? — indaguei.

— O quê?

Suspirei. Elena me mataria por aquilo. Provavelmente não tanto quanto porque envolvi Ethan. Isso sim despertaria seus desejos homicidas.

— Quando eu saí... Vocês conversaram?

— Um pouco.

— E ela parecia... normal?

— Bem, ela tentou me bater e fugir, eu não consideraria isso como normal.

— Ela falou sobre mim?

— Érrr... Um pouco.

— O que ela disse? — Clarissa hesitou. — Clarissa. Vou saber se mentir.

Ela suspirou.

— Ela... disse que você é meio bonitinho.

Eu ri.

— Ela disse o quê?

— Que você é meio bonitinho, por trás da coisa de "Eu vejo gente morta". Acho que ela quis dizer que você é meio sombrio.

Eu ergui uma sobrancelha.

— Você acha?

— Fletcher — Elena me chamou. — O que é tudo isso? Por que incluiu todas essas pessoas? Olha, eu sei que não deveria ter fugido, mas...

— Mas você fugiu! Você sempre foge!

Ela recuou. Parecia tanto com ela mesma.

— Me desculpe.

Eu queria correr e abraçá-la, dizer que tudo ficaria bem. Por isso precisava de Clarissa ali. Para me lembrar dos fatos. Para me manter focado e me lembrar das prioridades.

— O que mais ela disse? Quando eu saí? — murmurei para Clarissa.

— Ela disse que você não gosta dela. Que ela é apenas uma inconveniência. Que você gosta de outra garota.

Eu desabei.

— Merda. Merda. Merda.

— O que foi?

— Ela está de volta.

— Quem?

— A razão pela qual Elena está em Carmen Hallow.

Clarissa

—... Clarissa, conheça Jessie.

— Elena Jessica?

— Não. Jezebel. Apropriado, não acha?

— Eu... O quê?

— Fletcher — Elena fitou-o, fingindo estar decepcionada. — Que saudade de você.

— Uma vez deu certo quando eu bati a cabeça dela na parede e a fiz desmaiar — comentou Fletcher para mim. — Não que eu me orgulhe disso.

Estreitei os olhos, fitando Elena.

— Você quer dizer que... essa não é a Elena?

— Nop.

— Ela tem... uma gêmea do mal?

— Se é assim que você quer chamar um transtorno de personalidade múltipla.

Foi muita coisa para digerir de uma vez só. Ele estava dizendo que Elena, Elena Donovan, a feliz, bonita e controlada Elena Donovan tinha uma personalidade alternativa?

— Então... Ela, hm, não se lembra de mim?

— Ela não se lembra de nada dos últimos... três meses, talvez.

— Prazer — Jessie acenou. — Sou a Jessie.

Eu não conseguia dizer nada.

— Trouxe seu copo d'água — disse Fletcher, entregando-lhe um copo, e imaginei que ele havia colocado as pílulas de ansiedade nele.

Jessie caiu no sono uma hora depois. Fletcher sentou-se ao meu lado.

— Jessie finge ser a Elena às vezes. Ela sempre tenta fugir, mas nunca me disse por quê. Estou ficando cada vez pior em diferenciá-las, e isso me assusta. Por isso precisei de você. Sinto muito por ter te arrastado para isso. Elena não vai ficar feliz, mas... eu não tive escolha.

— Elena tem uma segunda personalidade — resumi. — que toma conta do corpo dela às vezes. E finge ser ela. E dá em cima de você.

Ele se remexeu, desconfortável.

— É complicado.

Seu tom deixou claro que eu não deveria perguntar sobre o assunto.

— E você lida com isso sozinho?

— Elena é minha colega de quarto. Temos um pacto entre colegas de quarto em Carmen Hallow. Cuidamos um dos outros. Seu colega de quarto é como sua família aqui. Eu cuido de Elena. Ela cuida de mim.

— Mas você não... Quero dizer... Fletcher, isso está acima da sua capacidade.

— Você não me conhece há nem um mês, não tem o direito de me dizer o que está acima da minha capacidade ou não.

Certo, eu mereci essa.

Ethan continuava fitando Elena/Jessie, com os dedos da mão entrelaçados nos dela. Qual era o problema entre ele e Elena?

Depois de algum tempo, fomos todos dormir. Fletcher convenceu Ethan a voltar para o próprio quarto, e prometeu que o chamaria caso algo acontecesse, o que considerei uma promessa válida, já que o moreno provavelmente não ia dormir mesmo. Estava agitado, mais do que o normal.

Já eu acordei às seis da manhã com uma vozinha aguda gritando.

— ONDE ESTÁ ELA?! — Clarke escancarou a porta. — POR QUE NINGUÉM ME CHAMOU?!

— Shhhh — Fletcher murmurou, exausto.

Elena se mexeu um pouco, mas não acordou.

—... Ela tá bem, Clarke, sossega.

— Fletcher, seu energúmeno, sabe que Elena é minha responsabilidade.

— Não, ela deixou de ser sua responsabilidade quando chegou a Carmen Hallow. Ela está bem. Se ela não estivesse bem, eu provavelmente te chamaria.

Clarke bufou, mas suavizou o tom de voz.

— O que acontece quando ela acordar?

— Eu não sei. Depende.

— De quê?

— De quem acordar.

A porta se escancarou de novo.

— Por que toda essa barulheira?! — a sra. Lover estreitou os olhos.

Clarke e Fletcher sorriram.

— Nada, só conversando. Não fale muito alto, Elena está dormindo.

A mulher franziu o cenho, mas por fim fechou a porta com cuidado. Tudo em que eu consegui pensar foi que é assustador o que um sorriso pode esconder.

Fletcher

— Eu vou... ler lá embaixo — disse Clarissa e correu, como se isso fosse ajudá-la a fugir da situação, mas a verdade é que você não pode fugir de algo que está na sua cabeça.

Tentei dar de ombros e parecer indiferente, mas a verdade é que eu não queria ficar sozinho com a Elena. Não queria que Clarissa soubesse disso, no entanto, por isso não disse nada. Era de se pensar que conforme o tempo passava eu ia conhecendo Elena e Jessie melhor e ficava mais fácil reconhecê-las, mas na verdade parecia ficar cada vez mais impossível. E eu sabia que grande parte disso era minha culpa.

Mas, de novo, você não pode fugir do que está na sua cabeça.

O que importa é que eu estava lá quando ela acordou. Franziu o cenho.

— Tudo bem aí? — murmurou quando percebeu que eu a estava fitando.

— Acho que sim.

— O que está acontecendo? Estou meio dolorida — ela torceu o nariz. — Não consigo me lembrar de como cheguei aqui.

Uma centelha de esperança vã se acendeu em mim.

— Está tudo bem. Está com fome?

— Um pouco, na verdade.

— Vem, ainda deve ter café da manhã.

Desci com ela até a cozinha, onde ela pegou suco de laranja e pão com manteiga. Até aí normal.

— Seu cabelo fica legal desse jeito — comentou ela quando me sentei.

— Eu... Hum, valeu — respondi, desejando desesperadamente que fosse minha melhor amiga sentada em frente a mim.

Nisso Ethan chegou.

— Bom dia — disse ele, se sentando.

— Bom dia — ela respondeu, tomando o último gole do suco.

— Ah, oi, Jessie.

Franzi o cenho.

— Como diabos você...?

— Por acaso você já viu a Elena me dando bom dia?

Jessie revirou os olhos, frustrada, e cruzou os braços.

— Vou dar uma volta.

Segurei-a.

— Ah, mas não vai mesmo. Vem cá.

Ethan me ajudou e nós a arrastamos até a sala da psiquiatra. Merda, Elena me mataria por isso. Eu já podia ouvir os berros no meu subconsciente. Contamos tudo a Teresa, que agradeceu e convidou Jessie a entrar na sala.

Eu e Ethan começamos a andar em círculos pelo corredor, distraídos.

— Cara, você parece cansado. Deveria dormir um pouco, eu te chamo se der em alguma coisa — ofereceu Ethan.

Balancei a cabeça.

— É o tipo de cansaço que dormir não conserta.


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