Elos de Fogo - Profecia da Bruxa escrita por Kuro_Hana


Capítulo 8
07


Notas iniciais do capítulo

espero que entendam a separação de sonho e realidade, alguns amigos leram e acharam confuso. *-*



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Lorde Fagin a trouxe de volta até a porta de casa, ela esperou que a bela carruagem se distanciasse e tomou o rumo dos campos.

Caminhando pelas sombras ela conseguiu chegar ao armazém sem que ninguém a tivesse visto, o tempo que ela ficara supervisionando a imobilização dos prisioneiros rendeu-lhe exatamente o que ela queria e se lembrava bem onde a corda que ela queria estava amarrada.

Seguindo a parede ela achou a janela que costumava não trancar direito, delicadamente ela forçou a tranca e entrou sem barulho. A lua estava nova e a escuridão era total, o silêncio só era cortado pelo ronco de um dos homens e por soluços indefinidos à distância.

Lady Gretel se abaixou com cuidado e tocou a argola em que as cordas daquele ponto estavam presas, como ela esperava, ali só havia duas (exatamente as duas em que os presos continuaram com a corda nos pulsos por desobediência). Simplesmente guiada pelo instinto ela seguiu a segunda engatinhando e sentiu um cheiro familiar, à muito tempo reprimido por sua memória:

–Lanios...

Ela chamou quase sem voz:

–Lanios...

Ele se mexeu e tentou organizar as idéias:

–Gre-Gretel?!

Com um movimento rápido ela tapou a boca dele:

–Fique quieto e venha.

Ela ergueu a corda e a cortou com uma pequena adaga que sempre levava à cintura e com alguns puxões ela o levou direto a janela:

–Saia por ai...

Ainda mole de sono, ele pulou para o outro lado e ela logo depois, Gretel tomou a frente e levou-o bosque adentro:

–Eu achei que estivesse morta.

Lanios era o nome do jovem negro, seus olhos brilhavam em um misto de pasmo e alegre:

–Você vai nos libertar! Graças ao Deus algo de bom irá acontecer!

–Não vou libertá-los.

A espinha dele gelou e sem poder evitar ele a inquiriu:

–Você é uma Sonsoc! Como pode deixar que seus irmãos sejam assassinados?!

–Engana-se... Eu posso, e posso porque sou uma Ossi e só aos Ossis, meu povo, eu devo lealdade.

–E mesmo que sejam Sonsocs, são pessoas como você!!!

Ela sorriu friamente e disse:

–Agora são escravos.

Lanios não podia conter sua indignação:

–Como pode falar assim?! Como se as vidas deles não significassem nada, eles tem família, amigos e gente que os ama.

–Antes de começar uma guerra a nação deve pensar nos riscos que seu povo correrá, e a sua nação pelo visto não pensou assim.

–Mas nem todos são soldados ali dentro! Muitos são só trabalhadores pegos de surpresa por uma guerra que nem sabiam que iria acontecer.

–Servirão como advertência contra ataques futuros.

Com um puxão firme na corda ela o levou cada vez mais fundo entre as árvores:

–Você não é a Gretel que eu conheci, você era só uma menina tímida que rezava por seus pais mortos antes de voltar pro quarto.

–Era...

Após perceber que o barracão não podia mais ser visto e que ela continuava avançando, Lanios parou de caminhar:

–Vou ficar parado até que você me conte o que vai fazer comigo.

–Só vou levá-lo para um lugar onde possamos falar com segurança...

Com um puxão violento ela tirou-o do lugar, mas ele se recusou a caminhar:

–Eu não sinto mais minhas mãos!

–Ainda bem que não, senão estaria sentindo a dor torturante de estar com os pulsos esfolados em carne viva.

Todas as palavras que ela dizia tinham um tom frio, todas calculadas para não demonstrarem nenhuma emoção, mas uma pergunta foi mais forte que qualquer cálculo:

–Depois que eu fugi, trouxeram a Ane de volta?

–Não... – ele relutou em dizer – desde aquele dia ninguém do orfanato a viu de novo...

Ela segurou as lágrimas e as palavras dele tiraram-na de sua concentração:

–Quando ficamos sabendo que Primio Antonio iria fazer “aquilo” com você também todos ficaram assustados, saber que “aquilo” acontecia com Ane cortava o coração da gente...

Gretel com um impulso violento agarrou a garganta dele com uma das mãos e o prendeu contra o tronco de um pinheiro:

–Você sabia! Todas as Primias sabiam?!

Ele tentou se soltar da mão dela, mas seus pulsos estavam presos, a força que ela exercia fazia com que sua cabeça pulsasse dolorosamente:

–Responda!!! Todas as Primias sabiam?!

Com a voz estrangulada ele balbuciou:

–Sabiam...

A única coisa que impedia o que Lanios sufocasse era o seu colar de contas vermelhas de madeira, que não permitia que a mão dela se fechasse ainda mais a volta de seu pescoço:

–Elas... Elas sabiam – sem conseguir segurar as lágrimas, elas desceram grossas e mornas. A mão dela se soltou lentamente e com delicadeza ela pousou a cabeça no ombro dele – elas nunca ajudaram Ane, sempre que eu tentava conta à elas eu era ignorada...

Ela molhou a camisa dele, talvez por saber que estavam a sós, continuou chorando:

–Quando eu insistia demais em dizer que Primio Antonio abusava de Ane, a Superiora ¹ me surrava com o atiçador de brasas e me punha de castigo no quartinho do carvão... E teve uma dessas vezes em que eu pedi... – demorando alguns segundos ela corrigiu com um soluço – implorei a ela que arranjasse logo uma família para Ane, que a levasse para longe dali. Eu implorei de joelhos e ela me deu um tapa... Ela me deixou trancada no quartinho por uma semana, sem água, só com mingau frio e salgado para comer à noite.

Lanios sentiu vontade de chorar e de abraçá-la, tentar sanar as velhas feridas do passado:

–Eu me lembro dessa semana... Primia Carmem disse que você estava mentindo e que se comportava de maneira imprópria... Mas a gente sabia que você não estava mentindo...

–Numa das vezes que tentei ajudar Ane a fugir a própria Superiora nos pegou tentando arrombar o portão. Eu disse que Ane não podia ficar ali, que Primio Antonio à maltratava e ela respondeu que Ane merecia tudo aquilo e que não passava de uma pequena prostituta... Nós duas apanhamos aquela noite...

Com carinho Lanios passou seu nariz nos cabelos sedosos dela e chorou ouvindo os soluços da Lady. Por um instante todos os músculos De Gretel se retesaram e com outro ímpeto assassino ela se afastou dele e cuspiu raivosamente essas palavras:

–Você... Você também não fez nada!!! – dessa vez lágrimas de puro ódio escaparam de seus olhos – você não fez nada!!! Nunca tentou fazer qualquer coisa que libertasse Ane daquilo, a pequena e magricela Ane ruiva e sardenta. Reze para que seu Deus lhe de uma morte rápida!!!

Ela agarrou a corda do chão e o puxou pelo caminho de volta, sem sucesso ele tentou remediar as coisas... No fundo ele reconhecia que sua omissão havia custado demais às duas meninas, mesmo sabendo que contar aos adultos nunca dava o resultado esperado ele sabia que devia ter tentado:

–Por favor, você pode fingir que não me ouve, mas eu sei que presta atenção em cada palavra que eu digo.

Com pouco animo ele tentava forçar seu corpo para trás atrasando a volta:

–Se não quer me ouvir tudo bem, mas me conte o que aconteceu! Foi você que fez...?

Surpreendendo-o, ela parou e sem se virar ela se limitou a dizer com a mesma voz fria de antes:

–Fui eu e não me arrependo de coisa alguma.

Lanios não precisou de outro puxão e começou a acompanhar os passos dela, ele suava frio e algo em seu interior dizia que os guardiões da morte já o rodeavam, talvez por não conseguir aceitar aquela realidade ele se recusou a acreditar que estivesse acordado e rezou para que fosse apenas um terrível pesadelo.

O caminho de volta à janela foi em clima tenso, e o único som que se ouvia era a respiração cansada de Lanios:

–Entre, eu vou amarrá-lo de novo numa das argolas, e para o seu bem espero que nenhuma palavra seja dita.

Ele concordou com um maneio de cabeça, sem animo de dizer qualquer palavra.


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Notas finais do capítulo

¹ Superiora/Superior cargo acima dos Primios e Primias, geralmente alcançado após anos representando a Monocrença. Nesse cargo a pessoa atua gerenciando templos, orfanatos e entidades religiosas em sua cidade e região



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