Elos de Fogo - Profecia da Bruxa escrita por Kuro_Hana


Capítulo 17
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Dináh bem que tentou, mas não convenceu a moça usar o vestido. Todos saíram de dentro da casa para ver Lanios e Lady Gretel entrarem na carruagem.

A Lady se despedia enquanto seu escravo segurava a porta para que ela entrasse, uma leve brisa levantou folhas e uma nuvem passageira passou pelo sol. Em seu intimo algo a inquietou:

–Um minuto, esqueci uma parte de minha roupa.

O escravo abriu a boca para tentar dizer que ela estava com o traje completo, mas o olhar dela o calou.

E voltando com uma bainha na mão ela entrou e se sentou na carruagem:

–Feche a porta.

Lanios obedeceu e levou um susto terrível quando a viu tirar uma espada real da bainha:

–Algo me diz que precisarei dela hoje...

Essas palavras obscuras fizeram com que ele se arrepiasse, ela acrescentou:

–Coloque esse colar pro lado de dentro da blusa.

–Por quê? Sempre andei com ele a mostra e nada me aconteceu.

–Não podemos arriscar, guarde-o.

Mesmo sem compreendê-la ele obedeceu, estava certa em sua intuição.

Quando os lordes se reuniram no salão e antes que a música de iniciasse houve uma cerimônia agradecendo os Deuses da criação.

Desconfortável Lanios levou a mão ao peito tocando as contas por baixo da blusa enquanto observava os Policrença cantando seus hinos antigos.

O ambiente estava lindamente enfeitado, mas não passava de um armazém como o de Punyburg com mesas e comida em abundancia com o espaço central dedicado para dança.

As fantasias e máscaras eram as mais variadas.

Lorde Daring se vestia de príncipe encantado; Lorde Lewis de pirata da Somália com o rosto pintado de tinta marrom, destacando seus olhos claros e com um tapa olho; Lorde Fagin estava de prisioneiro com toca e roupas listradas e uma plaquinha pendurada em seu pescoço onde se via “171”. Irálem não foi, provavelmente ainda estando de luto pelo sobrinho.

A música começou a tocar, descontraindo e fazendo todos dançarem, pela primeira vez Lanios pensou que talvez esse não fosse seu mundo, talvez nunca se esquecesse as mortes que viu no dia em que foi capturado, da crueldade com que o trataram arrancando-o da cama aos murros e pontapés e depois as mortes que divertiram o povo de Punyburg durante o Festival do Sangue, o mesmo povo que logo depois o acolheu.

Sentado viu Lady Gretel dançando com Daring rodando pelo salão:

–Espero que não leve isso a mal.

Era Lewis rindo com seu tapa olho já pendurado no pescoço, provavelmente se referindo a pintura borrada de seu rosto:

–Não nem um pouco... – disse o escravo – você foi muito criativo.

O Lorde riu e se sentou ao lado dele:

–Os antigos piratas eram incríveis! Os do Japão, os da Somália, os do Caribe, se pudesse voltar ao passado me juntaria ao bando deles.

Lanios concordou quieto, não fazia ideia do que era um pirata, Sonsocs tinham um acesso pequeno a livros, os que restavam inteiros eram proibidos para os civis só as grandes autoridades podiam lê-los.

Os Ossis ao contrario se dedicavam a desvendar os mistérios do passado pela leitura e arqueologia, tomando para si os grandes avanços desse tempo remoto, como as maquinas a vapor, armas de fogo, produção em série, o metal temperado e é claro os postes amarrados que eram mantidos funcionando a todo custo.

O Lorde continuou seu monologo sem ligar se estava sendo ouvido ou não, o que ele dizia muito interessaria Lanios se ele estivesse em um bom momento, pois ele era muito curioso sobre o passado, mas ele estava cabisbaixo e somente escutava o que Lewis dizia.

Ele só saiu desse torpor quando sentiu uma mão pesada agarrando a sua:

–Então você é aquele que dizem ser o favorito de Lady Gretel.

O sorriso de Lewis deixou o escravo envergonhado, e vendo a pulseira que ele usava o lorde continuou:

–Isso é ouro mesmo! Ela deve gostar mesmo de você para te por dentro de casa... – um lampejo malicioso passou por seu rosto e ele perguntou – Por acaso você faz serviços caseiros para a Lady?

Sem entender bem o que ele queria dizer com caseiros, Lanios respondeu:

–Bem eu faço alguns.

–Esse “alguns” inclui serviços de quarto para a Lady?

Lorde Lewis riu de sua insinuação e riu ainda mais do escravo respondendo envergonhado:

–Não, claro que não. Nunca tive nada do tipo com ela.

A resposta acendeu em Lewis outra pergunta, dessa vez um pouco menos constrangedora, porém extremamente delicada:

–Então você pode dizer qual dos quatro lordes tem mais chances com ela?

A pergunta espantou Lanios, ele não pensava que eles pudessem ter tal interesse nela:

–Bom, quatro não – corrigiu Lewis – já que Fagin tomou um fora!

Sem se conter o grandalhão soltou uma gargalhada. E sem saber o que dizer Lanios coçou a cabeça e respondeu:

–Ela não fala dessas coisas comigo.

–É verdade... Mulheres comentam essas coisas com quem gosta da mesma fruta que elas.

Vendo a cara que o ouvinte fez, ele acabou explicando sua piada:

–Outras mulheres e homens que gostam de homens. Melhor que eu pergunte à Daring depois que terminarem essa dança.

–Como você sabe que ele...?

Mais uma vez Lewis gargalhou:

–Sou bom em pegar as coisas no ar, reparei que o jovem Lorde de Wolf Hills gostava de Salem, antes mesmo que ele próprio soubesse.

–Mas o povo dele aceita? Parece que não se incomodam com isso ¹

–Não se incomodam mesmo, que ele viva feliz como bem entender. Somente a mãe dele que era Sonsoc se incomodava com a felicidade do filho em amar Salem... – ele se interrompeu para o olhar o salão e repentinamente se levantou puxando Lanios – vem comigo!

O Lorde o levou pela mão:

–Como eu disse, sou bom de pegar as coisas no ar e sei que você quer dançar com Lady Gretel desde que entrou aqui!

O pobre Lanios não teve como responder e foi arrastado até onde estava o par:

–Daring, precisava trocar umas palavras com você – e entregando o escravo a Gretel, piscou para ele – Não se esqueça de perguntar para sua dona o que me contou!

A Lady ficou levemente corada e abaixou a aba do chapéu para tapar seus olhos:

–Então – começou ela quando Lewis e Daring se afastaram – o que queria me perguntar?

Embaraçado ele gaguejou tentando achar algo para dizer:

–... Você sabe... O que é um pirata?

Rindo ela respondeu:

–Eram pessoas que vendiam CDs e DVDs falsos e roubavam navios.

O som de uma polca agitada se espalhou pelo salão e fez o casal dançar entre outros tantos ali amontoados e a bebida cumpria bem seu papel de saciar a sede e animar os convidados.

Era clara a energia que pairava no ar, fazendo todos entrarem num ritmo frenético. Lanios via se operar uma verdadeira mudança em sua dona, que provavelmente também havia bebido, e ele não recusou alguns copos.

O ritmo constante se manteve fazendo com que os dois se divertissem por todo o salão, ademais todos se divertiam, riam e faziam algazarra. Até que uma voz se levantou na multidão, não demorou e outras vozes se juntaram à ela, Gretel se juntou às vozes que cantavam:

– O que está acontecendo?! Que música é essa?

Como era monocrença, Lanios não sabia o que era aquilo começando tão de repente:

–É um encantamento, tanta felicidade conjunta merece que os Deuses sejam chamados para participar.

Sorrindo ela tentou levá-lo ao meio do salão onde todos começavam a formar um grande círculo, mas ele se recusou a tomar parte no ritual Policrença:

–Assista pelo menos, é realmente algo muito bom!

Sugeriu a Lady. Ele voltou a se sentar enquanto todos davam as mãos e giravam entoando em uníssono o encantamento. Todos pareciam ser um único animal se movendo, ondulando e cantando intensamente.

O coração de Lanios batia descompassado, aquilo era selvagem e parecia afetá-lo no intimo, o brado de tantas vozes juntas enchia o recinto ecoando pelas paredes, envergonhado outra vez se sentiu excluído, aquele não era seu lugar. Por baixo da camiseta ele sentiu as contas de madeira contra o peito.

Sem pensar duas vezes se levantou, o ambiente parecia abafá-lo e ele precisava de um pouco de ar fresco.

Ao vê-lo sair do salão um tremor raivoso passou por Lady Gretel, imediatamente ela abandonou a roda e o seguiu indo para fora.


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Notas finais do capítulo

¹ O povo Sonsoc era preconceituoso em relação a homossexualidade



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