Sol e Lua escrita por Aislyn


Capítulo 12
A Chama da Esperança




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Demorou cerca de uma semana até ela sentir-se bem o suficiente para caminhar um pouco, sempre com a ajuda de uma enfermeira. Ainda sentia-se fraca, porém, tinha muita vontade de voltar à ativa o quanto antes. Quando voltou de seu passeio matinal, Unohana a aguardava com uma expressão agradável estampada no rosto.

– Aiko-san... Me regozija saber que está se recuperando. Não sabe o quanto temi por sua saúde e jamais me perdoaria se algo tivesse acontecido.

– É bom vê-la, taichou! – Aiko sentou-se com cuidado e Unohana sentou ao seu lado. – Eu não lembro muito bem o que aconteceu... É estranho, não?

– Pelo contrário, Aiko, isso é bem comum após sofrer tantos ferimentos em uma batalha. Saiba que estou orgulhosa pelos seus feitos, soube que você controlou muito bem a sua zanpakutou.

– É incrível, Unohana-taichou! Mizuki me ensina tantas coisas... Ela consegue fazer tudo o que eu preciso e nunca me abandona. É uma pena que nossa parceria não tenha sido o suficiente para acabar com aquele homem cruel... Ele era um Número mesmo?

– Era sim, mas, não sabemos mais nada a respeito dele.

– Entendi... E então, taichou... Como todos conseguiram se salvar? Eu forço a minha memória, no entanto, não consigo lembrar! – Aiko começou a ficar agitada, desde que recobrou a consciência, tentava recordar o que aconteceu naquela noite.

– Aiko-san... Como isto pode chegar aos seus ouvidos cedo ou tarde, vou contar. – Unohana hesitou, respirou fundo e continuou. – Kuchiki Byakuya a salvou naquela noite e você colocou-se na frente de um ataque que ia na direção dele.

– Kuchiki-sama – sussurrou Aiko. – Por que, taichou... Por que ele faz isto?

Aiko tentando controlar suas lágrimas, sem pensar e ignorando toda a dor que sentia, abraçou Unohana e esta, mesmo surpresa, abraçou a jovem tentando consolá-la.

– Não sei responder, minha querida. Eu quero tanto que você se afaste dele, porém, tudo o que acontece aproxima ainda mais vocês dois. Vou deixar que você siga o seu coração e faça o que achar melhor. Se quiser agradecer, vá e eu não vou impedi-la.

– Não, taichou! – ela afastou-se e olhou seriamente para Unohana, começava a lembrar do que aconteceu. – Mais uma vez nós dois estamos quites. Mesmo que eu tenha sido tola em não pensar que alguém no nível do Kuchiki-sama poderia desviar ou conter aquele ataque facilmente, ainda assim, eu o protegi. Minha dívida foi paga na mesma noite.

– Você não precisa ser tão dura, Aiko-san, de qualquer forma, pense bem no que vai fazer. Agora, tenho que ir.

Aiko acompanhou os passos de Unohana com o olhar, achou que não havia sido tão convincente. Como já se sentia bem o suficiente para andar por si mesma, foi até o seu quarto e trocou de roupa, finalmente vestiu o seu shihakushou e arrumou a zanpakutou na bainha. Não costumava recorrer à maquiagem, mas como estava com os lábios muito pálidos, passou um batom cor de boca e usou também um lápis de olho e sombra azul. Penteou com cuidados os cabelos e os prendeu no alto da cabeça, colocando o prendedor dourado por entre eles. Ainda precisaria se acostumar com aquele novo corte forçado, pois, amava seus longos cabelos. No fundo de sua gaveta, estava um par de luvas brancas e ela as colocou para ocultar os curativos que tinha próximos aos pulsos. As luvas iam um pouco abaixo dos cotovelos e para a sua mobilidade, a sua confecção terminava antes de chegar aos dedos. Não estava tão bem, ainda tinha alguns arranhões no rosto e infelizmente era impossível ocultá-los. Assim que viu que não havia ninguém no pátio, saiu pela janela e continuou à espreita, até chegar à Casa Kuchiki. Antes havia se informado com um oficial a respeito da onde o taichou estaria trabalhando naquela noite. Aiko chegou a tempo de ver um shinigami saindo dali após entregar alguns papéis para Byakuya e como não havia mais ninguém, ela entrou. O taichou estava atrás de sua mesa no escritório particular, com papéis que pareciam não acabar mais. Ele tinha que analisar, assinar e carimbar cada um, mas parou quando notou a presença dela que estava parada em meio àquela sala.

– Olá, Kuchiki-taichou – cumprimentou Aiko após uma mesura.

– Você se recuperou rápido – disse ele, desta vez, largou o papel que tinha em mãos para se dirigir a ela. – Mas, ainda não deveria estar perambulando sozinha.

– Já estou cem por cento e eu não vim aqui para ser repreendida... Vim para resolver as coisas entre nós.

– Que eu me lembre, não temos nenhum assunto pendente – falou ele secamente.

– Eu vou ser direta. Não quero mais que se aproxime de mim... O senhor não tinha que estar lá naquela noite.

Byakuya estranhou o fato de ela estar o tratando com tanta polidez novamente, então se levantou e ficou diante dela. Sabia que ela ainda não tinha maturidade suficiente para medir as consequências de seus atos, tampouco, controlar os seus impulsos e já a conhecia bem para saber que aquele era o seu jeito, apesar de tudo.

– Você não sabe de nada! Recuso-me a entrar em detalhes sobre as ordens que um taichou deve cumprir e...

– O senhor me irrita – disse ela com um sorriso irônico nos lábios. – No máximo um fukutaichou teria sido escalado para uma missão como aquela, enfim. Só quero pedir que nunca mais chegue perto de mim. Se eu tivesse que morrer naquela noite, faria parte da minha opção como shinigami.

– Mais alguma coisa? – Perguntou Byakuya, não discutiria com ela, tudo o que mais queria era encerrar aquela conversa.

– Não! Agradeço a atenção... Mais uma vez, minha dívida foi saldada – ela bateu os com os calcanhares e girou, antes de passar pela porta, falou. – Espero não vê-lo tão cedo, passe bem.

Byakuya deu de ombros, era muita petulância por parte de Aiko e ele quase respondeu, no entanto, ponderou e mais uma vez nada disse. Era quase certo que a jovem não estava falando sério e mais certo ainda de onde a encontraria, se realmente estivesse disposta a não pisar mais ali. Com tranqüilidade, se dirigiu até a Cerejeira que tinha ao lado de sua casa e lá estava Aiko, embaixo dela, tocando em uma flor com delicadeza.

– Parece que você não faz jus às suas palavras, senão, já estaria bem longe.

– Eu só quis me despedir dela – falou Aiko sem prestar atenção nele. – Não se superestime desta forma, fica feio.

– Por que está sendo tão grosseira? Entra na minha casa com uma pedra em cada mão, quando deveria ser grata por tudo o que eu já fiz por você... – Byakuya não parecia estar tão bravo, ainda mantinha o tom de sempre em sua voz, todavia, surpreendia a jovem com suas palavras. – Se não quer nunca mais pisar no mesmo caminho que eu, quero que saia imediatamente, do contrário...

– Do contrário, o quê? – Desafiou Aiko.

– Vou tratar de tirá-la daqui à força!

– Que piada... Será que não é apenas uma desculpa para tocar em mim?

Um estalo se fez, ela estava com a mão sobre o lado direito do rosto. Byakuya acabara de dar um tapa nela sem empregar muita força, mas o suficiente para magoá-la imensamente. A oficial o encarou com raiva e quando foi desferir um tapa contra ele, Byakuya segurou seu pulso e apertou, ignorando os curativos que sentiu por debaixo da luva.

– Não seja tão imbecil...

– Agora eu sei porque todo mundo se afasta de você... Não é por respeito. Todos o abominam e com razão. Talvez, eu tenha sido a primeira pessoa a ensaiar algum tipo de sentimento bom por você depois que resolveu erguer esta barreira que o separa do mundo... Arrependo-me muito por isso, pode acreditar.

– Eu não a culpo – Byakuya afastou-se, caminhou um pouco até chegar ao seu jardim. Ficou observando as carpas e kois em seu lago, não sabia o que fazer. Aiko o seguiu de cabeça baixa e parou atrás dele. Um frio repentino percorreu a espinha do taichou, estava um pouco arrependido de ter batido nela e apertado seu pulso ferido.

– Sabe... – Começou ela falando baixinho. – Eu odeio tanto este seu jeito arrogante. Odeio a forma como finge que está prestando a atenção em papéis para não olhar nos olhos de quem está falando com você. Também odeio esta sua mania de falar sem emoção alguma, como se o fizesse apenas por fazer. Não gosto nem um pouco deste seu olhar, sempre frio, impenetrável. E o pior de tudo, é que mesmo odiando tudo em você... Ainda assim eu o amo. E tanto... Tanto, que não sei nem como dizer. Parece que dói, machuca o meu coração e a minha alma amar você, Kuchiki-sama. Sempre que eu tento esquecê-lo, você surge e me faz sofrer. Me diz, o que eu posso fazer para amenizar isso? Até quando penso que vou conseguir me afastar de você, nos aproximamos ainda mais. Tudo o que eu mais queria é poder tocá-lo e, no entanto, você parece ser inalcançável... Distante. Não sabe o quanto eu desejo a chegada do Eclipse... O dia em que o Sol e a Lua finalmente poderão se encontrar, mesmo que o momento não dure mais do que alguns minutos. O dia em que o Sol finalmente poderá aquecer o meu rosto... O meu corpo. Eu sei... Isso nunca vai dar certo. Está destinado a dar errado. Mas, não me deixe abandonada aqui no silêncio...

Byakuya não conseguia encará-la, podia ouvir seus prantos e seu tom de súplica ao questioná-lo, queria muito poder secar as lágrimas dela. Sem reação, ele ficou em silêncio, mesmo com a sua vontade gritando para que se virasse. Aiko entendeu o que o silêncio dele significava, tinha que arrumar coragem para sair dali de verdade e nunca mais voltar. Ela ergueu a mão na direção dos cabelos dele, hesitou quando ia tocá-los.

– Realmente, eu jamais poderia alcançá-lo... E não são as diferenças que nos separam. Lembro que quando eu cheguei nesta casa, achei que uma garota de origem humilde nunca poderia sonhar com um homem como você – disse em tom de confissão. – E o que aconteceu? Essa garota que não tinha nada, ganhou tudo... Pessoas se curvam diante dela em seu mundo. E ainda assim, o seu amor continua sendo impossível, quando em todas as histórias, a princesa sempre conquista o seu príncipe. Agora, eu vou fazer jus às minhas palavras. Prometo que nunca mais vou me aproximar, a não ser que tenha ordens para isso.

– Espere, por favor... – Byakuya virou-se e se aproximou de Aiko, fitando-a no fundo dos olhos. – Você sabe bem o que está dizendo?

– Com toda a força do meu coração e a plenitude de minha alma, eu sei. A única coisa que eu realmente não sei é o que vai acontecer com este amor... Eu não gostaria de algo tão bonito se findasse, algo que até então, eu tenho orgulho de possuir dentro de mim.

– Infelizmente, eu não posso corresponder aos seus sentimentos, Aiko...

– Agradeço pela sinceridade – interrompeu ela.

A oficial continuou a chorar, jamais imaginou que ouvir aquilo poderia causar tanta dor, era ainda maior do que sentir seu corpo ser atravessado pela lâmina do inimigo. Por outro lado, Byakuya sentiu um aperto no peito quando ela falou em sinceridade, pois, não estava sendo sincero. De fato, jamais amaria uma mulher da mesma forma que amou Hisana, mas mesmo assim, sentia por Aiko uma espécie de amor indefinível. Não era o mesmo sentimento que tinha por Rukia, por um exemplo, mas era parecido. Tinha a necessidade de proteger a jovem oficial, mas também, sentia-se na responsabilidade de mostrar para ela que não era tão fácil o caminho que havia escolhido e para isso, jamais hesitaria em atacá-la se fosse necessário. Só conseguia distinguir o seu sentimento de um amor fraterno, ao lembrar-se das sensações que teve quando as mãos dela tocaram o seu corpo ou quando seus lábios tocaram os dela, ou o seu corpo molhado naquela cachoeira. Queria tê-la junto dele, todavia, pensava em renunciar a isso pelo bem de Aiko. Não desejava que ela esperasse mais do que ele podia dar... Tinha que falar isso, mas como? Era a pergunta que ele fazia para si mesmo enquanto a observava.

– Pelo menos, não posso retribuir da mesma forma tão rápido todo este amor que você me reserva.

Aquilo era uma luz em meio às trevas, ainda mais para ela, que estava para sair dali sem qualquer esperança. Parecia que o olhar dele estava mais próximo, podia até enxergar um brilho dentro dos olhos dele, algo novo. Naquele instante quem não sabia o que dizer era Aiko. Não queria assustá-lo, nem agir de forma precipitada. Decidiu ir embora e deixar com que ele a procurasse se um dia quisesse, antes, sorriu docemente e comentou, tentando disfarçar a sua tristeza momentânea:

– Ah... Para não achar que odeio tudo em você, eu gosto deste cachecol. Sempre quis usar um! – Ela piscou o olho e deu as costas, erguendo a mão para acenar. – Até mais!

Já passava das 20:00 quando Aiko saiu do refeitório, acabara de jantar com os colegas e mesmo com o baixo astral, conseguiu rir um pouco. Após ver os pacientes no centro, se dirigiu até o seu quarto. Nem conseguiu fechar a porta, um shinigami que ela não conhecia surgiu em sua frente.

– Kannogi Aiko? – Perguntou impaciente.

– Sim, sou eu...

– Este pacote é para você! – Ele entregou um embrulho nas mãos dela e saiu dali resmungando. – Nunca pensei que pudesse virar entregador... Que ultraje!

Aiko riu e fechou a porta. Estava curiosa a respeito do que recebeu, era algo aparentemente fofo, enrolado em um papel cintilante de tom branco e amarrado por uma fita vermelha. Assim que tirou a fita, ela desembrulhou rapidamente e não conseguiu fazer nada a não ser sorrir e correr para o espelho. Em seu pescoço, havia enrolado o cachecol rosa chá que havia recebido. Nem precisava perguntar de onde ele vinha, só tinha dúvidas a respeito de seu significado.

– Será que isto é um convite? Ou um pedido de desculpas... E agora, o que eu faço?

Seu coração mandava fazer uma coisa e a razão outra bem diferente. Tinha que pensar... Mas, não demorou muito até tomar a sua decisão. Em menos de dez minutos, estava diante da Casa Kuchiki e não fez cerimônia para passar pelo portão. Estranhou não encontrar Byakuya no escritório, procurou no quarto e também não achou. Ela coçou a cabeça e foi até o jardim, ao longe, o viu em pé na pequena ponte que existia sobre o lago, olhando para o horizonte. Ela aproximou-se e com cuidado, colocou a mão sobre a dele que estava segurando no corrimão. Byakuya virou o rosto para olhar diretamente para Aiko, ela parecia ficar ainda mais bela com aquele adorno no pescoço e ele a admirou com os olhos.

– O que aconteceu, Kuchiki-sama? – Perguntou preocupada, afinal, não parecia normal a expressão dele quando chegou. Poderia jurar que algo o incomodava e não tinha muito a ver com eles dois. – Será que eu posso ajudar?

– Na verdade... Hoje ou amanhã, vou para o Hueco Mundo. Estamos só esperando o portal ficar pronto, pode ser questão de horas, talvez dias. Não sei, ao certo.

– Mas, vai voltar logo, não vai?

– Não sabemos o que vamos enfrentar, por isso, não há uma estimativa. Então, estou em alerta.

– Eu... Eu quero ir também.

– Você não pode, sabe que não pode – Byakuya colocou a outra mão sobre a dela. – Yamada Hanatarou é o único oficial do Yonbantai que irá nessa missão, no mais, somente a taichou e a sua fukutaichou.

– Bem, vou falar com a Unohana-taichou mesmo assim.

– E se eu pedisse que não o fizesse? – Byakuya desviou o olhar e atravessou a ponte, puxando Aiko gentilmente pela mão até o outro lado. Lá havia um banco embaixo de uma árvore.

– Se você me disser que irá voltar de lá a salvo, eu posso pensar nesta possibilidade.

– Não posso prometer. Vou fazer o que tiver de ser feito, apenas isso.

O taichou sentou-se no banco e ela fez o mesmo, ficando ao seu lado. Aiko não sabia o que falar, precisava dar um jeito de ir para o Hueco Mundo, tinha consciência de que seria útil, contudo, não queria desapontar Byakuya após um pedido sincero. Ela encostou a cabeça no ombro dele, sentiu que ele estava rígido, desconfortável. Ele gostava da espontaneidade de Aiko, só não conseguia agir da mesma forma. Tentaria utilizar um meio mais fácil, para no mínimo, se aproximar dela.

– E então... Diga-me quais são os seus objetivos? Agora que já conquistou seu espaço, deve almejar algo ainda maior.

– Bem, eu quero continuar ajudando a todos e conhecer ainda mais a minha zanpakutou. Sei que falta muito para que eu a domine por completo, então, vou treinar para isso. Confesso que uma patente maior não é o meu principal objetivo... Posso continuar fazendo o que eu mais gosto, sem precisar focar nisso.

– Entendo.

Aiko elevou a cabeça e sorriu, perdendo um pouco o receio que tinha ao lado dele, tentou tocar os seus cabelos. Ao ver que Byakuya não teve nenhuma reação, ela prosseguiu e enrolou uma mecha em seus dedos. Os cabelos deles eram lisos, macios... Davam até um pouco de inveja, já que ela não tinha tanto cuidado com os seus, a não ser um bom shampoo e creme condicionante, sobretudo depois de terem sido cortados. No mais, estava gostando daquela aproximação vagarosa, e estranhava isto, pois sempre fora uma pessoa precipitada. Byakuya gostou daquele afago, era algo inocente e não esperava mais de alguém como Aiko. Para mostrar que estava aberto àquilo tudo, ele a envolveu com o seu braço direito, tocou gentilmente o rosto dela e acariciou. Não queria apressar nada, pelo contrário, gostaria que ela ficasse com ele daquele jeito, sem perguntar nada.

– Kuchiki-sama, algo me diz que isto é uma despedida. E despedidas são tristes demais...

– Mesmo que seja, voltaremos a nos ver.

– Assim espero – Aiko ajeitou-se, encostando a cabeça no peito de Byakuya e passando o braço esquerdo por detrás das costas dele, segurando em sua cintura. Estava tranquila, sentindo-se realizada por estar tão próximo do ser amado. – Será que eu posso chamá-lo pelo nome? – Perguntou timidamente. – Claro que, somente quando estivermos a sós.

Byakuya assentiu, afinal, não havia problema algum em ser chamado pelo nome, quando estava ficando tão íntimo dela. Nem de longe Aiko parecia aquela jovem indefesa que ele encontrou naquele distrito pobre de Rukongai, trava-se de uma pessoa completamente diferente. Gostava do jeito atrevido dela, a forma como o desafiava e também, a sinceridade como chorava. Via em Aiko uma jovem mulher altiva, cheia de classe, uma verdadeira princesa digna da Casa Kannogi. O andar dela era sempre seguro, a fronte erguida, os olhos voltados para o seu interlocutor, não importasse em que ocasião. Começava a reunir em sua cabeça inúmeras razões para gostar dela.

– Aiko, está começando a ficar frio. Gostaria de um chá?

– Acho perfeito! – Ela levantou-se e segurou na mão dele, foi praticamente arrastando-o até o interior da casa, direto para a sala de chá. – Eu preparo!

Após dez minutos, ela voltou com uma bandeja em que dispôs um bule de porcelana branca e duas xícaras. Byakuya estava acomodado em uma almofada, diante dele havia uma mesinha, do outro lado, mais uma almofada. Aiko colocou a bandeja sobre a mesa, acomodou-se e com cuidado serviu o chá, da forma como sua mãe lhe ensinou. Só conseguiu acalmar-se quando Byakuya provou e fez um gesto de aprovação com a cabeça. Ambos ficaram em silêncio até o término da bebida.

– O que há de divertido para se fazer aqui? – Como sempre, ela teve que tomar a iniciativa.

– Nas horas vagas eu gosto de treinar a caligrafia, ler ou desenhar...

– Ah, isso nem de longe é diversão – protestou ela. – A Casa Kuchiki não possui jogos legais?

– Bem, alguns, mas...

– Nem sei por que eu perguntei! Só acho muito sem graça escrever só por escrever ou ficar por aí caminhando à noite. Você tinha que ter algum tipo de diversão, taichou!

– E o que é diversão para você? – Ele achou engraçado o fato dela lhe chamar de taichou naquele momento.

– Ora! Gosto de ouvir música... Dançar ou jogar conversa fora. Jogar Xadrez com o papai, ou a aprender a cozinhar com a mamãe. Também adoro cultivar Bonzais com o Ukitake-taichou – ela colocou o dedo no queixo enquanto pensava. – Byakuya-sama, quando quero me divertir, qualquer coisa simples serve!

– Você tem mais tempo que eu para essas coisas – disse ele, aquilo soava como uma crítica. – Por isso pode fazer tantas coisas.

– Eu sei que o trabalho de uma oficial de patente tão baixa não parece tão importante – Aiko baixou a cabeça e mudou o tom de sua voz, antes tão alegre. – Mas, eu dou duro! Acordo mais cedo do que todos, ajudo com a burocracia do Centro Médico, cuido pessoalmente dos pacientes menos críticos e isso é um trabalho para as enfermeiras. Também faço a minha parte nos laboratórios, até mesmo com a limpeza eu colaboro. Sempre que necessário, vou cuidar dos jovens da academia que se machucam... Só descanso nos meus dias de folga em minha casa e ainda assim, cuido dos empregados que adoecem, visito alguns doentes de Rukongai para levar medicamentos e fazer curativos. Não me esqueço do Ukitake-taichou, assim como não esqueço de nenhum outro enfermo que precise de mim. Então, seu julgamento foi errôneo, Byakuya-sama.

– Me desculpe, eu não sabia disso.

– Você não sabe de muita coisa! Aposto que nem se importa com o que os seus subordinados fazem, sentem ou pensam.

– Já tenho muito para me preocupar, deixo o meus homens livres nas horas vagas, isso já é o suficiente.

– Você sabe que não é! – Aiko começava a alterar-se. – Um bom líder sempre zela por seus subordinados. Preocupa-se com o seu bem-estar. Sei que vou ouvir algo do tipo: “você nem sabe o que é estar no meu lugar”.

– Estou de bom humor hoje – falou o taichou em tom de provocação. – Além de quê, você não me deu motivo algum para retrucar. Sabe que eu não me preocupo com o que está dizendo.

– Ai, seu cretino! – Ela bateu com as duas mãos na mesa, cruzou os braços e virou-se para o outro lado, ficando de costas para ele. – Hunft!

– Nossa conversa acabou aqui, é isto?

– Uma conversa é algo que só acontece quando as duas pessoas compartilham do mesmo assunto. Sinceramente, eu não sei o que vejo em você...

– Talvez nada. Quem sabe isso não é apenas o capricho de uma garotinha...

– Então, eu não sei por que você corresponde, bakayarou!

Byakuya respirou lentamente. Parecia estar tendo um dèja vú. Será que ela não poderia simplesmente ficar calada e aproveitar o momento que estavam tendo? Parecia que estavam fadados a discordar de tudo, eram completamente opostos e, no entanto, ainda assim havia um imã que os atraia.

– Por que você não se vira e age como uma mulher? Se quiser que eu aceite o seu ponto de vista, é o mínimo que poderia fazer.

– Aceitar? Você acabou de dizer que não dá a mínima para o que eu disse... Agora vai se contradizer também?

– Pare com isso! – Byakuya parecia ter sido jogado contra a parede, na realidade, controlava-se para não magoá-la ainda mais. – Uma curiosidade... Você não deveria estar em seu posto?

– Desviando o assunto... Típico de você! – Aiko levantou com agilidade e em seguida se virou para encará-lo de frente. – Se foi uma indireta, eu entendi. Boa noite, taichou.

– Não coloque palavras na minha boca. Eu apenas quis saber como saiu de lá sem problemas.

– Para começar, eu tenho liberdade para fazer o que eu quiser depois do expediente. Então, não devo satisfações para taichou algum.

– Você é insuportável! – Byakuya também se levantou e caminhou um pouco, até ficar de frente com ela. – O ponto positivo é que estou cultivando a minha paciência com você.

– Insuportável é você! – Rebateu ela com a cara amarrada. – Aliás, basta por hoje... Sua presença tem que ser dosada. Já reparou que não podemos ficar cinco minutos em harmonia? E tudo começa com um comentário estúpido de sua parte.

– Eu acho que nós podemos conviver em harmonia... Desde que você se coloque em seu lugar.

– E qual é o meu lugar? – Aiko estava vermelha de raiva, quase a ponto de não responder por seus atos. – Imagino que seja bem abaixo dos seus pés.

– Esquece isso e como está tarde, eu vou me retirar. Se quiser, pode ficar por aqui... Eu posso pedir que arrumem um quarto.

– Fico grata... Mas, eu tenho muito o que fazer ainda, para você ver o quanto eu trabalho, mesmo depois do expediente. Boa noite novamente!

Byakuya não levou a sério nada do que Aiko disse depois de ter ficado com raiva e ficou pensando no quanto ele era infantil às vezes discutindo com ela. Lembrava-se de seu avô que dizia quando ele era criança que precisava levar as coisas de um jeito mais leve. Para ele, o ponto forte da shinigami era o de não se calar diante das coisas que julgava serem erradas, contudo, ainda assim isso o preocupava. Ouvir sem questionar tinha de ser uma qualidade para alguém que passaria o resto de seus dias recebendo ordens, não importando em que posição se encontrará daí a anos.

“Indômita” – pensava ele. – “É uma pena não saber quando voltarei a vê-la, essa noite não podia ter terminado desta forma.”


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