Capitulo III _ O Porão

Depois de passar a noite em claro no quarto de Gabi, mesmo estando fora do quarto longe do laço e da boneca não consegui pregar o olho por um só instante.

As coisas giravam na minha cabeça, tudo parecia parte de um quebra cabeças gigante, que eu precisava montar a todo custo, e a peça chave para tudo isso era a boneca, pois depois que ela apareceu que as coisas começaram a acontecer.

Por mais absurdo que pareça cheguei a pensar que ela poderia ter vida própria, comentei por alto com Gabi se um objeto inanimado pode adquirir vida.

Gabi riu da minha pergunta achando que era brincadeira e me questionou perguntando se eu não estava ficando louca, essa é outra coisa que não saia da minha mente.

Será que eu estou ficando louca?

Não seria novidade, outro caso de esquizofrenia na família, mas não, eu vi e tenho certeza do que vi, primeiro o cartaz, depois a letra de sangue na minha carteira, o corpo da menina assassinada violentamente, o laço sujo de sangue, o bilhete e a boneca.

É tudo muito real, e tudo me trás de volta a pensar na boneca, ela esconde um segredo, talvez quando eu descobri lo tudo isso tenha um fim, ainda estou com medo, por que alguém iria querer fazer mal a minha família ou a eu mesma, sim digo alguém pois descartei a hipótese de ser a boneca pois seria perturbador de mais e totalmente fora do normal.

Para manter minha lucidez coloquei em mente que uma pessoa está usando a boneca como um instrumento para me apavorar, mas ai surge mais perguntas:

Por que isso?

Por que comigo?

E a que mais me intriga quem é o responsável por isso.

Decidi que o jeito mais fácil de descobrir a pessoa seria descobrindo de quem a boneca era, talvez fosse quem eu procurava.

E se a boneca apareceu no porão, lá seria o melhor para eu procurar por pistas.

Aproveitei que ainda não tinha aula para investigar na parte da manha, a entrada do porão ficava fora da casa o que para mim já não parecia normal.

A cada degrau que descia minhas pernas ficavam mais tremulas, eu não sabia o que realmente iria encontrar lá em baixo, mas esperava encontrar respostas para tudo o que estava acontecendo.

Era absurdamente assustador estar naquele porão mesmo sendo de dia, eu me sentia em um daqueles filmes de terror bem previsíveis que a mocinha tá no porão escuro tentando se esconder e do nada o maníaco assassino aparece e da um fim nela.

Tive que rir por tal pensamento afinal eram oito e meia da manha, e eu estava no porão da minha casa não poderia ter nenhum maníaco morando aqui.

Ou poderia?

Parei por um instante para raciocinar direito, já estava pensando loucuras e mal tinha descido metade da escada.

Respirei fundo e desci os degraus que faltavam quase correndo, lá em baixo era escuro, frio e úmido.

Fui tateando pela parede até achar o interruptor, quando a luz acendeu fiquei aliviada, mas durou pouco tempo, pois quando olhei para o chão haviam manchas de sangue para todos os lados, eu queria gritar por alguém mas minha voz não saia, então lembrei do bilhete da boneca, se alguém tivesse que resolver esse mistério esse alguém seria eu.

Tomei coragem e comecei a seguir os rastros, o porão parecia pequeno olhando de fora, mas dentro a realidade era totalmente diferente, os rastros me levaram até um velho armário, diferente do resto da mobília do lugar este não estava empoeirado, e o motivo não é porque a pessoa que quer me apavorar resolveu tirar o pó dos livros velhos não, aquilo só podia ser uma passagem secreta.

Comecei a mexer nos livros para ver se algo acontecia, alguns minutos se passaram e nada, já ia desistir quando acidentalmente derrubei um livro e dele caiu um papel dobrado, me abaixei para pegar, então constatei que não se tratava de um simples papel, mas sim uma foto.

Em um canto havia alguns rabiscos que eu não consegui entender e uma data, e não era qualquer data, mas sim o dia do meu nascimento.

Fiquei surpresa com a coincidência, mas quando abri a foto tive um súbito choque.

Lado a lado estavam dois bebes idênticos, duas meninas de tipi tope rosa, a do lado direito tinha um E bordado no peito dentro de um coração, e a da esquerda tinha igualmente o bordado só que ao invés de uma E tinha um C.

Um arrepio cruzou a minha espinha, aquele bebe com a letra A bordada no tipi tope era eu no dia em que nasci, e não cheguei à conclusão pela data da foto, eu tinha aquele tipi tope em uma das minhas bonecas.

E muitas vezes ao me ver brincando com ele mamãe dizia que aquela tinha sido a primeira roupa que eu tinha usado, e depois ficava observando calada, como se lembrasse de algo triste, as vezes parecia que ela queria me contar algo, mas sempre desistia antes mesmo de falar.

Agora eu sei o que era eu tinha uma irmã gêmea, mas o que será que teria acontecido com ela?

Teria morrido logo após o parto e por isso eles nunca me contaram.

Qual seria o nome dela?

Ao pensar isso foi como se algo estalasse em minha mente.

Um “C” no tipi tope dela estava bordado à letra C, será que seria a mesma pessoa que está me atormentando e assina seus feitos com a letra C?

Será que minha irmã estaria viva?

E se fosse porque minha própria irmã estaria fazendo isso comigo? E o mais importante, meus pais sabiam algo sobre isso?

E se sabiam por que nunca me contaram?

Cada vez mais perguntas invadiam meus pensamentos, minha cabeça começava a doer, e só o que eu queria agora era uma explicação que fizesse sentido.

E o único que poderia me dar uma agora seria meu pai.

Mas uma duvida pairou sobre mim, se eu o confrontasse atrás de respostas, ele me diria a verdade?