JD - Just a Dream escrita por Vee Skye Bancroft


Capítulo 6
Mirian V – As páginas de Frank




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“You have beautiful eyes.”
– Matthew Hollings.

11 de Fevereiro de 2011.
“Olá novamente. Eu não acreditei que fosse possível, mas... foi. Conheci um garoto chamado Frank hoje, ele foi completamente amável comigo, no entanto, nada fora do normal, é claro. Apenas me chamou a atenção, a forma que me olhou, senti que meus olhos reluziram, tanto quanto os dele.
Tomei um tom rubro no rosto, toda e qualquer vez que trocávamos um mero olhar. Sinto como se houvessem pequenos bichinhos no meu estômago, brincando de pega-pega. É uma sensação estranha, mas eu gosto.
Acho que pode ser algo idiota de dizer... Mas, sinto que estou apaixonada.”


Ela começou a sibilar baixinho, as palavras escritas em tinta azul de seu caderninho preto – ou se preferir, um diário. Estavam parados debaixo de um chorão, que fazia muito bem em tocar o chão, com graça e simplicidade. O clima estava muito calmo, mas o inquietante movimento que Mirian fazia com as unhas estava começando a deixar Armin um pouco – muito –, incomodado.
Pulou alguns dias, desde o primeiro encontro entre eles, e foi passando por uma dezena de páginas de uma única vez, olhando atentamente. O moreno estava mais preocupado com as têmporas dela, que se uniam de forma suficientemente relevante.

06 de Dezembro de 2011.
“Aqui estou eu. Trago novidades. Bom, não sei se consegue lembrar-se de Frank, o novato do mês de fevereiro, mas, enfim, ele me convidou para alguns encontros e como não achei que fosse algo muito interessante, decidi não datar nada. Fomos à um restaurante no centro da cidade desta vez, nisso tudo, já estávamos como bons amigos.
E pouco antes da noite acabar, algo... Surpreendente, aconteceu! Céus, foi o meu primeiro beijo! Roubado completamente, um atrevimento mais do que significativo, para ser necessário pagar na mesma moeda (Se é que me entende). Acredito que apaixonada é pouco, enquanto escrevia isto, arrepiei-me completamente, só de lembrar-se dos lábios adocicados dele, deslizando suavemente sobre os meus, tão rápido, mas ao mesmo tempo, tão perfeito! Eu consigo ainda sentir os meus lábios latejarem, com a brutalidade que ele mordiscou a parte inferior dos mesmos. Agora devo me deitar, já é muito tarde e já sonhei acordada por tempo suficiente. Boa noite!”


Armin fez uma cara de desdém, apertando os olhos, incrédulo. Ela quase sorriu, por muito pouco, mas então se lembrou do real motivo disso tudo. Ela havia prometido, não se apaixonar por mais ninguém e Mirian não era o tipo de pessoa que descumpre promessas.
– Certo, pode continuar, eu aguento. – disse ele, provavelmente lembrando-se da conversa que tivera com Jullieta.
Ela assentiu hesitante e um leve rastro de tremor ressoou por seus lábios. Agora seus olhos mantinham-se totalmente pressionados, para segurar as várias lágrimas que ela poderia derramar. Reabriu os olhos novamente, passando o polegar por ambas as extremidades dos mesmos.
Provavelmente, tratava-se de lembranças muito ardilosamente felizes, e lembrá-las, poderia ser o mesmo que magoar ainda mais a ferida escancarada. Salgá-la, por conclusão. Com uma voracidade surpreendente, pulou mais algumas várias páginas, parando logo em seguida em uma delas, com a data destacada em marca texto azul claro. Esse dia, continha pelo menos três mini-páginas, contando algo que de fato era interessante. Um sorriso bobo dançou nos lábios rosados dela, que não conseguiu conter algumas lágrimas que vieram a derramar.
Desta vez, fora o garoto quem enxugara as mesmas, utilizando-se das costas de sua mão, tocando suavemente nas maçãs do rosto dela. Uma réliz e certeira pontada de culpaperfurou o coração de Mirian e seu estômago protestou junto com esta sensação. As mãos da mesma tremulavam e ela já respirava com certa dificuldade, impedindo-a de sentir o cheiro da lama recém criada, graças ao jardineiro – aquele típico cheiro de chuva –, e esse era o odor que mais lhe acalmava, conseguintemente, ela ficou mais tensa.

29 de março de 2013.
“Já estamos para fazer um ano de namoro, no dia 05 de abril. Não direi que tudo foi às mil maravilhas, mas meu olhar perante Frank se remodela todos os dias. Ele acaba sendo muito transparente e fácil de desvendar, o que torna qualquer coisa que ele planeje, muito óbvia. Isso que me incomodava há alguns dias atrás, se tornou algo que aprecio. Ele é o tipo de pessoa que se você não sabe como, aprende a gostar.
Mas se tem algo, que definitivamente eu condenarei sempre, será a insistência dele, em crer que a culpa de algumas simples discussões que temos, são de Jullieta, que nada tem haver com isso.
E, no entanto, não sinto um pingo de ódio. Acho que mesmo que ele terminasse comigo, não me sentiria triste, talvez um pouco surpresa. Já que com ele, tudo é meramente rápido. Assim que gosto dele, fui feita para ele, é definitivo. Não acho que conseguiria amar outra pessoa.”
– ela soluçou ao dizer essa última frase, e foi tristemente encarada por Armin, que sorriu amargamente com o remédio mal dosado. – “No fim da tarde, combinamos de tirar uma foto, simples, sem mais nem menos. (Bem, eu nunca gostei de espelhos, eles mentem muito). E então, subimos ao meu quarto, e ficamos encarando o espelho, todo manchado com poeira (Já disse que também sou preguiçosa?), mas ele apenas sorriu e soltou umperfeito!, abafado em um mordiscar de lábios, analisando os raios de sol que possivelmente prejudicariam a foto.
Quem diria, que a melhor e mais importante foto da minha vida, a que se encontra emoldurada em um porta-retrato na cômoda ao lado da minha cama, seria com ninguém menos que a pessoa que mais amo? E é claro, um detalhe importante: a foto empoeirada mais linda que já vi. Era quase mística a forma que os olhos esverdeados dele reluziam em contraste com a luz que vinha encaminhada pela janela. Quase místico.”


Tombou o corpo para trás, dando de encontro com o tronco da árvore, gemendo de dor logo em seguida. Mas não, ela estava esboçando um sorriso sofrido junto às lágrimas e isso, tinha se tornado algo indecifrável. Armin olhava para todos os cantos, nervoso, sem saber o que fazer. Era sempre assim, quando ela começava a chorar, ele ficava tenso. Recolhe-la nos braços, ou não? Essa era a maior dúvida.
– Escuta se não quiser continuar, pode deixar pra lá. – forçou um sorriso, enquanto apertava a bainha de seu próprio moletom preto, tentando controlar a vontade que tinha de desabar.
Mirian negou com um único olhar. Por mais que tudo aquilo doesse tanto para ela, como para ele – neste caso, vê-la triste o estava destruindo, mesmo que fosse preciso encarar tudo isso. Ela agora estava quase sentada no chão, mas se recompôs, esticando as mangas de seu próprio casaco para utilizar sobre os olhos encharcados.
– Vou continuar. – fungou rapidamente, respirando fortemente em seguida. – Não se preocupe, eu estou bem. – piscou algumas vezes, para ver melhor.
Novamente ela pulou várias páginas, indo de encontro com a frente da última. O diário estava completo, bem ali. Mais uma leitura de frente e verso e tudo se acabaria. Armin estremeceu. Se fosse o que ele estava pensando, não seria nada bom.

30 de maio de 2014.
“Eu acordei. Este quarto branco me cercando. Talvez eu tenha ficado louca e então, vim parar aqui. No entanto, por que eu estaria com soro nas veias?
Foi quando senti uma grande dor, abrangendo toda a minha cabeça, me contorci na cama. Minha visão estava um pouco turva, mas consegui visualizar perfeitamente Castiel, parado bem ao meu lado.
Por fim, eu consegui visualizar direito o que estava à minha volta. Um quarto de hospital. Eu me lembrei. Não chorei, eu simplesmente não conseguia, se ainda havia uma chance de Frank estar vivo, essa com certeza eu saberia pela voz de meu amigo.
Chamei Castiel, que despertou logo em seguida. Ele estava péssimo, os olhos miúdos com enormes olheiras embolsadas. Ficou apenas me olhando conformado, enquanto deslizava suavemente as mãos sobre meus cabelos. Ele me contou tudo, mas não deixou de demonstrar o quão feliz estava por ter sobrevivido.
Nada estava muito claro, então redirecionei a cabeça para o fundo da sala, e me reparei com Jullieta, deitada em uma cama. Meu coração palpitou em protesto e senti meu corpo se aquecer. Estava com medo de duas pessoas terem talvez, morrido ao meu custo. (Sim, eu ainda não conseguia acreditar).
E bem, aqui estou alguns dias depois de todo o ocorrido, ainda incrédula. Não participei do velório, não queria ter de visualizar a verdade, mas me sentia incomodada como nunca. Decidi aparecer apenas no enterro. Mesmo, que eu também tivesse sido uma vítima do acidente, eles pareciam colocar a culpa sobre mim.
Todos me olhavam furiosamente, com lágrimas doloridas pingando do queixo. Eu olhei em volta e cada passo que seguia, em direção ao caixão, ressoava na minha cabeça, aumentando o nó em minha garganta, me sufocando. Diferente dos demais, Clarice, a mãe de Frank, me olhava com compreensão e se debulhava em gritos desesperados. Quando cheguei perto do corpo frio, ela se levantou do chão, para poder me abraçar.
Envolveu os braços em torno de meu pescoço, encaixando o rosto em meu ombro direito. Retribui ainda sem entender toda essa solidariedade. Foi quando ela sussurrou a frase que me atormenta no momento, e que tenho absoluta certeza que vai me perseguir por toda vida.Ele morreu em troca da sua vida. Viva, como se fosse minha filha.
Ela se soltou de mim, e desmoronei. Olhei para Frank que estava deitado ali, como se estivesse simplesmente dormindo. Poderia pensar que era uma pegadinha, ele adorava fazer coisas desse tipo. Soltei um sorriso, ao mesmo tempo em que desatei o nó da garganta junto às lágrimas. Chamei por ele, com a voz embriagada, engasgada. Ele não se moveu. Estava sem cores, pálido, quase tão cinza quando o céu daquele dia. Desabei sobre o caixão, e chorei como nunca pensei que poderia chorar...
O mais engraçado disso tudo é que... As páginas acabaram, bem quando a vida dele se apagou por completo.”


Ele conseguiu reparar que essa última página estava mais amarrotada que as demais, tal como se tivesse sido encharcada. Ou então, nesse caso, ela talvez poderia ter chorado sobre ela enquanto escrevia.
Armin não conseguiu mais se segurar, e agarrou-a em um abraço forte, que a fez se sentir tão mais calma que foi assustador. Ela fechou os olhos e entrelaçou os braços nas costas dele, que a manteve assim, se sentindo segura. O que ele não queria deixar transparecer era, que se a visse tão triste dessa forma, quem acabaria chorando, seria ele.
Ele a ninou por um bom tempo, em um silêncio doloroso para ambos. Mirian conseguia sentir como os músculos dele estavam tensionados, ele estava nervoso.
– Ainda vai tentar ficar ao meu lado? – ela disse entre um soluço e outro, abafando a voz no ombro direito dele.
– É claro. Eu não desistiria de você. Nunca. – apertou mais fortemente a cintura dela contra seu corpo, mas ela o empurrou calmamente, com a palma da mão direita.
– Não... Você... Você deveria sair daqui! Abandonar-me, para sempre. – sibilou ao marejar os olhos novamente. – A culpa foi minha! Não vê?! Se eu não tivesse sido tão estúpida naquela briga, e insistido para irmos embora, ele nunca teria morrido. – colocou a mão sobre o peito, sentindo um peso enorme no coração.
– E eu nunca teria conhecido você. – rebateu, fazendo-a arregalar os olhos. – Tem certeza de que te faço tão mal, a ponto de querer me afastar? – pousou a mão na bochecha dela.
– Errado! Faz-me bem te ter ao meu lado, mas... E se você... – abaixou a cabeça, murmurando o resto da frase com dificuldade.
– Faria o mesmo que ele fez. Sim, eu daria minha vida para proteger você. – completou, erguendo calmamente a cabeça dela em direção ao seu olhar. – Ele não morreu por você, mas sim para proteger você. – sorriu sinceramente para ela.
Ela ergueu um sorriso e derramou ainda mais lágrimas, se jogando a mais um abraço.
– Agora chega disso. Vamos passear, por algum lugar legal. Por favor. – implorou ele, fazendo-a rir.

Mirian o tinha posto a prova. Mas ele não tinha desistido, então agora estava pronta para dar uma chance a ele, uma chance de conquistá-la definitivamente. Sempre que estava com Armin, o mundo que se tornara cinzento, ganhava cores. Na verdade, cintilava.
Eles voltaram para dentro da escola e se depararam com um garoto que estava procurando por Jullieta. Mirian, como uma romântica incorrigível, pensou logo em um admirador e também o que Castiel pensaria disso, já que tiveram uma conversa séria pouco tempo depois da mo’rte de Frank, e ele confessou tudo aquilo, de gostar da mais velha, e que também havia passado. Agora o grande amor do ruivo, era a ruiva.
No fim do dia, ela marcou de ir conhecer a casa do moreno – ou seja, os pais dele consequentemente –, para uma partida de vídeo-game, tem até uma aposta envolvida nisso tudo – um beijo –, e ela não estava a fim de perder.

Então, quando acabaram as aulas, ela correu diretamente ao encontro de Armin. Logo de cara, ela acabou conhecendo o pai do mesmo, que veio buscá-los. Um homem de cabelos louros e olhos cristalinos. Tinha um jeito bem tranquilo, logo de cara. Mirian se perguntou apenas uma única coisa: O que será que eles vão pensar de mim?
E outra coisa que lhe surgiu, foi o que estavam passando com tudo aquilo, referente à Alexy. Ela conseguia imaginar muito bem, a mãe deles tristemente se debulhando em lágrimas, exatamente como a mãe de Frank, e isso lhe fez subir um arrepio pela espinha.
– Então você é a namorada de Armin? Mirian? – disse o pai dele, quando adentraram o carro. – Prazer, meu nome é Arnaud Valdez. – estendeu a mão para a mesma, que aceitou timidamente.
Armin ficou tão vermelho quanto os cabelos de Castiel, e olhava nervoso para o pai.
– Não somos namorados... – concluiu tristemente e ela sentiu o peso que essas palavras lhe causaram.
Bem, realmente não eram. Mas ele tinha uma chance com ela agora e ela não seria mais arisca. Não estava apaixonada por ele, Mirian o ama.
– É, não somos. – confirmou, depois esboçando um sorriso, enquanto enrubescia. – Pelo menos não ainda. – Armin virou-se para trás de olhos arregalados e ele logo estampou a felicidade nos lábios.
E finalmente, estavam na frente da casa dele.


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