InFamous: A Tirania de Rowe escrita por Thuler Teaholic


Capítulo 17
Contador de histórias


Notas iniciais do capítulo

Esse aqui é um capítulo que eu estava planejando desde que criei a fic. Apesar de, naquela época, o Hunter não existir, ele é uma peça vital neste lado da trama.
Pegando nesse gancho, a fic já tem muitos personagens além dos que eu planejei inicialmente, e o plot está bem mais elaborado.
Esse cap era um marco que indicava o meio da Fic, agora, não tenho mais tanta certeza



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Lee estava de volta ao Forrest’s pela terceira vez só naquela semana, e ainda era quinta-feira.

O bar estava cheio e ele estava sentado em uma banqueta junto ao balcão, tamborilando o tampo composto por imagens com as unhas bem cuidadas. Hunter estava sentado ao seu lado com o capuz levantado, os dedos longos penduravam-se na borda do balcão, como se segurassem na ponta de um abismo.

Lee olhou admirado para os dedos do colega, não que tivesse o costume de reparar nos dedos alheios, mas porque eram, de fato, singulares. Todas as falanges possuíam cicatrizes, os nós eram marcados por fendas esbranquiçadas na pele escura, como se houvessem sido rasgados mais de uma vez. As unhas eram curtas, menos as dos indicadores, que deviam ter meia polegada de comprimento além de parecerem ter sido afiadas. Porém o mais estranho era o dedo anelar da mão direita, era magro e ossudo e coberto por uma queimadura horrível que não poderia ser tão recente quanto parecia, como se houvesse sido queimado até o osso, e, além disso, um anel grande e disforme envolvia toda falange como se houvesse sido posto ainda líquido no dedo.

O condutor de fumaça poderia dizer que Hunter merecia as mãos que tinha. A primeira vista, ele parecia um vândalo qualquer, mas numa segunda olhada, era possível ver que ele não era nem de longe, tão inofensivo. Ele emanava coerção como uma fera, as mãos ágeis e a postura levemente encurvada lembravam um lobo com o dorso eriçado, pronto para a confusão e ansiando por ela.

Mas seus olhos...

Lee levaria na boa um lobo com um olhar frio, assassino, calculista, mas não era isso que via em Hunter.

O olhar do sujeito era leve, efêmero, quase amigável, dotado de um brilho alaranjado. Era como se ele visse tudo, mas não olhasse para nada em especial, perscrutando o fundo de sua alma sem julgar. Lee só havia visto esses olhos como esse em lugar.

Hunter era um lobo com olhos de corvo.

— De novo por aqui? — A voz do barman tirou Lee de seus devaneios. Deu para Forrest seu melhor sorriso culpado, correndo os dedos pela raiz dos cabelos escuros.

Forrest suspirou e se recolheu para trás do balcão, pegando uma caneca de metal cheia de amendoins e dosando um quarto disso em um pote pequeno que empurrou para a outra extremidade do bar. Lee assoviou ao ver os amendoins deslizando por quinze longos metros até as mãos de uma mulher que os levou para uma mesa.

­— Onde estão seus amiguinhos? — O homem mais velho perguntou, servindo um pouco de amendoim para o condutor de fumaça sabendo que ele adorava. Lee pescou um entre os dedos e comeu cerimoniosamente.

— Não sei, por aí. — Respondeu vago, pegando mais alguns e saboreando lentamente. — Faz um tempo que não vejo eles.

Forrest grunhiu em aprovação. — Não gosto que você ande com eles, são má influência.

O condutor esmagou um amendoim entre os dedos quando desatou a rir, crédulo que fosse uma piada, parando logo depois de ver a expressão do barman.

Limpou a garganta e perguntou. — Por que você diz isso?

— Você não combina com eles Lee, simples assim. — O tom de Forrest dizia que não era simples assim.

— Não é só isso. — O condutor de fumaça cruzou os braços. — O que foi? Você não gosta deles?

O homem se debruçou sobre o balcão, aproximando-se de Lee. — Não é isso, moleque. — Começou com carinho. — Vocês, eles e essa caralhada toda de bêbados... — Canecas foram erguidas quando essas palavras saíram e um viva coletivo surgiu dos frequentadores que repetiam “caralhada de bêbados” enquanto batiam as canecas, com cuidado para não quebrar.

Ao ver isso, Forrest prosseguiu em um tom quase sussurrado. ­ — Como eu dizia, vocês são como os filhos que eu nunca quis, e eu gosto de todos vocês. — Sorriu cúmplice para Lee, mas disse em tom mais baixo ainda. — Alguns mais do que outros. — Abanou a mão, afastando a distração. — O ponto é, alguns são inteligentes como você, certos. — Lee sorriu torto com a lisonja. — Mas alguns são estúpidos, idiotas, mentes-pequenas, ou simplesmente pessoas ruins, como é o caso do Emerick, da Emma, da Zoey e do Zach.

Depois de uma pausa dramática, prosseguiu, pousando a mão no ombro do condutor. — Você é diferente deles, Lee, melhor, então não se deixe estragar.

Lee fungou, sorrindo. — Pode dei...

— Odeio interromper esse momento tão lindo. — Hunter cortou. — Mas nós não viemos aqui para conversar, ou viemos? — Ergueu a sobrancelha para o condutor de fumaça, que corou de leve.

Ao se dar conta da presença de Hunter, Forrest teve um sobressalto. — O que você está fazendo aqui? — Aparentemente, soou mais rude do que pretendia pela surpresa.

— Bom te ver de novo, velho. — O humano respondeu, sarcástico. — Será que você poderia me arranjar uma bebida, pelo amor de Deus?

Lee carregou o sobrolho. — Vocês se conhecem desde quando?

Forrest bateu as mãos no balcão e aproximou-se do rosto de Hunter, erguendo o queixo e encarando o sujeito. — Da última vez que ele passou aqui, estava meio morto de fome, meio morto de sede, meio morto de sono. — Bufou. — É de se impressionar que ele já esteja parecendo pronto para a ação.

Retribuindo o olhar, Hunter respondeu desafiador. — Eu sempre estou pronto para agir.

Forrest estava com a expressão sombria, pegou uma caneca atrás do balcão e a brandiu na direção do rosto de Hunter, que caiu para trás derrubando a banqueta, desviando e se levantando com uma cambalhota logo a tempo de ver o barman saltar de trás do bar segurando uma garrafa pelo pescoço. Antes que conseguisse alcançar sua faca, a garrafa zuniu a sua frente e fez Hunter se esquivar para trás, onde esbarrou com um cara grande e mal encarado, que o empurrou na direção do barman possuído.

Hunter não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo, sabia apenas que um homem como dobro da sua idade com síndrome paterna estava tentando matá-lo com uma garrafa long-neck.

O humano novamente estendeu a mão ao cinto onde guardava suas muitas facas e ganchos recém-adquiridos quando viu que este não estava lá. Olhou para os lados procurando quando ouviu.

— Procurando por isso? — Virou-se para trás e viu uma menina de não mais de quinze anos segurando seu cinto e mostrando a língua. Todos ao redor riam.

Hunter tentou lembrar qual foi à última vez que ele havia matado uma criança e como havia sido, se ele havia sentido remorso. Não conseguiu lembrar e chegou à conclusão que iria arriscar ficar de consciência pesada.

Deu um passo na direção da menina e viu seu sorrisinho coalhar, sendo substituído por medo.

“Eu vou te matar.” Moveu os lábios sem emitir som e um cordão de contenção se formou ao redor da pirralha.

— Não dê as costas para mim! — Forrest avançou como um touro na direção do humano e o agarrou, erguendo-o pelo pescoço e derrubando ele contra uma mesa.

As bordas da visão de Hunter escureceram quando sentiu o impacto ecoando por suas costas e fazendo-o morder a língua. Seus ouvidos estavam cheios dos aplausos e da ovação da pequena multidão naquele bar.

Quando obrigou o ar a voltar para seus pulmões, caiu da mesa e se levantou, mantendo-a entre ele e o barman.

— Vamos. — O homem mais velho cuspiu. — Mostre-me do que é capaz! — Deu uns passos para trás e abriu os braços, convidando o humano a machucá-lo.

Aceitando o convite, Hunter deu rolou sobre a mesa, puxando a lâmina fina escondida em sua bota e dando o bote, pronto para perfurar a garganta de Forrest, mas o barman conseguiu segurar seu pulso e torcê-lo, fazendo a mão se abrir involuntariamente e soltar a lâmina.

O velho pegou a faca e saltou sobre outra mesa, abrindo alguma distância. Girou e lançou a faca no rosto de Hunter, que rodou para o lado, vendo a lâmina rodar a centímetros de seu rosto e cruzar todo estabelecimento, ficando-se em um alvo para dardos, duas marcas longe do centro.

Todos no bar gritaram selvagemente, vangloriando a proeza. Forrest levantou os braços, recebendo as honras.

Aquela brecha era grande demais para que Hunter a desperdiçasse.

Saltou em cima da mesa e puxou o corpo com os braços, usando o impulso para chutar o inimigo no meio do peito. Sem hesitar, deu mais dois socos no peito do barman antes de rodar e acertar uma cotovelada em seu rosto, seguida de um soco na têmpora que o fez tontear e recuar uns passos apenas para tropeçar na banqueta caída que Hunter estivera sentado, estatelando com o traseiro no chão.

Possesso, Forrest quebrou a garrafa no chão, formando uma faca improvisada e levantou para golpear o adversário, mas estacou no meio do movimento ao ver o cano da pinball gun apontado para o meio de sua testa.

A expressão de Hunter era puro gelo enquanto puxava a alavanca da arma em seu pulso. Via os condutores sacarem suas armas e terem as mãos envoltas em poder pela visão periférica, mas não desviou o olhar do barman ajoelhado nem por um segundo, vendo a expressão furiosa ser substituída por um grande sorriso.

— Acalmem-se, idiotas. Eu só estava testando ele. — Ergueu as mãos e soltou a garrafa quebrada. — Eu me rendo.

Hunter soltou o ar e percebeu que um silêncio de túmulo pairava no ar.

— Abaixe essa mão, moleque, eu só estava te testando. — Relutante, o humano abaixou a mão e soltou a alavanca lentamente. — E me ajude a levantar, já não tenho mais idade para saracutear por aí feito um macaco. — Hunter estendeu a mão para o homem caído lentamente e o ajudou a levantar, sentindo os ouvidos estalarem com súbita a gritaria da clientela enlouquecida que aplaudia o show.

— Não faça essa cara, moleque. — Forrest sorriu caloroso. — Venha comigo, vou te mostrar como as coisas funcionam por aqui. — O barman empurrou um Hunter atônito pelo bar.

O humano recebeu vários tapinhas de todos ali, inclusive um de Lee, que sorria em aprovação.

— Como você pode perceber, esse aqui não é um bar comum. — Forrest fez um gesto amplo indicando o os arredores. — Duvido que já tenha visto um bar tão grande antes.

Por conta do número de clientes ali, Hunter não conseguia ter uma dimensão apropriada do lugar, mas lembrava-se vagamente da última vez que estivera ali e matara Lemitz. Devia ter uns trinta metros quadrados, além de um pé-direito alto.

Do lado de fora, Hunter havia notado que o bar possuía mais de um andar e, provavelmente, mais de dois, além de possuir uma grande estufa como as que havia visto nos arredores da cidade.

A fachada do lugar era muito ampla, luminosa e caótica. Várias placas, cartazes e néons penduravam-se ali, todas exibindo nomes diferentes e que Hunter não reconhecia, sendo que nenhuma dizia algo como “Forrest’s” nem nada do tipo. Uma pessoa que não conhecesse o lugar, dificilmente saberia que este seria seu nome.

Mas a parte mais estranha era a de dentro, sem dúvidas. O lugar era velho, não necessariamente velho, mas algo fora de sua época.

Lâmpadas incandescentes e fluorescentes pendiam do teto de forma errática e desordenada, lustres apagados balançavam pra lá e pra cá, sendo que alguns eram muito elaborados; não suficiente, muitas outras coisas estavam penduradas, mas o humano não conseguiu nenhuma com exceção da moto.

— Por que tem uma moto pendurada no teto? — Perguntou para quem quisesse responder, realmente não fazia sentido.

— É uma história. — O velho explicou e sondou os arredores como se procurasse por alguém. — Stephanie, será que você pode responder essa?

— É uma scooter! — Respondeu prestativa uma garota atrás do balcão que empilhava alguns pratos. A pele era escura, bem parecida com a de Hunter e os cabelos crespos cresciam rebeldes. — A scooter, no caso.

— E o que a scooter te diz? — A pergunta do barman parecia já ter sido feita muitas vezes, e todos ali aparentemente sabiam a resposta.

Todos menos Hunter

— Conta a história de um casal de italianos que se apaixonaram enquanto andavam de scooter pelas ruas de Nápoles. — Respondeu de cor, a menina.

— E... — Forrest gesticulou para que ela continuasse.

Ela riu de leve antes de responder. — Conta a história dos Scooter Brothers.

— E como é essa história? — O barman sorria também.

Todos ali respiraram fundo e começaram a cantar a plenos pulmões.

Hey! You! You on the scooter!

For now on, you’re my Scooter Brother!

And now, mate, Scooter Brothers we are!

So let’s go out on a scooter adventure!

Scooter Brother! Scooter Brother!

Forrest indicou para que eles parassem e voltou-se para Stephanie.

— E que história essa música te conta?

— A de um criminoso com dois amigos que dominavam as ruas de Los Santos, seu nome era Trevor. — A presteza da garota era militar.

— E quais histórias o Trevor tem para te contar? — A pergunta soou como uma pegadinha e realmente foi uma. Stephanie se moveu, desconfortável antes de responder.

— Muitas, Forrest, não conheço todas. — Desviou o olhar, meio envergonhada.

— Eu sei que não, acho que eu não deva me lembrar de todas. — Comentou, divertido.

Todos olharam para ele com espanto, menos Hunter, que definitivamente não sabia o que estava acontecendo.

Forrest olhou para as expressões de espanto e levantou as mãos em um gesto apaziguador. — Calma, só estou brincando!

Os nós de choque nos rostos da clientela desataram-se em risadas um tanto nervosas.

— O ponto é que — Voltou a se dirigir ao humano. — esse bar é uma história escrita com histórias. — Indicou as paredes repletas de pôsteres sobrepostos, as prateleiras sobre o bar apinhadas de esculturas bustos e outras histórias mais palpáveis. Dirigiu-se a uma prateleira baixa e pegou o que Hunter imaginou que fosse uma miniatura de uma cabine telefônica azul e arcaica. Conseguiu distinguir apenas a palavra “POLICE” antes que Forrest jogasse o objeto de uma mão para outra com um sorriso saudoso.

— Algumas são muito, muito boas. — Comentou, aparentemente saindo de um torpor. Apontou para o balcão que parecia uma colcha de retalhos de tantas imagens, devolvendo a miniatua a seu lugar e indicou uma imagem no tamanho de um palmo. Hunter se aproximou e averiguou.

Eram duas pessoas abraçadas, um homem e um menino com cabeças de rato, e no fundo, Hunter identificou um símbolo que havia visto algumas vezes pichado nas paredes lá para o oeste, uma espécie de “X“ com traços nas pontas virados em sentido horário, mas diferente dos que Hunter vira pichados, esse possuía a figura de um gato no meio, com um pequeno bigode quadrado e com o cabelo penteado para o lado.

Franziu o cenho e olhou para o barman que tinha a expressão sombria, como se lembrasse de dores do passado.

— Algumas são muito, muito tocantes. — Desviou o olhar da figura e caminhou rente a parede, procurando por algo, quando encontrou, sinalizou para Hunter. Era um pôster com um grande navio que navegava por águas repletas de icebergs.

— Algumas são muito tristes, mas que acabam bem. — O homem fungou e guiou o humano para uma porta nos fundos.

— Está me levando para onde? — Hunter quis saber, sempre cauteloso.

— Vou te mostrar as estufas. — O barman explicou, abrindo a grande porta e empurrando Hunter lá dentro.

Era terrivelmente úmido e abafado, além de ser bem iluminado. Hunter reconheceu o lugar como sendo a estufa que havia visto do lado de fora.

— Parece ser maior por dentro. — O humano comentou.

Forrest deu uma risada curta e entoou em um sotaque forte. — Time Lord technology!

Ao ver a expressão do jovem, pigarreou e acrescentou.

— Desculpe-me, velhos escorregam em memórias com muita facilidade. — Empurrou Hunter pelo ombro novamente e mostrou o lugar. — Aqui nós criamos algumas frutas, legumes e grãos para que aqueles bêbados tenham o que comer. — Indicou um terreiro com uma fileira de plantas rasteiras. — Esses aqui são os amendoins que o Lee adora. — Depois, apontou para uma árvore enorme e frondosa que crescia fora da estufa. — Aquilo é uma nogueira, de onde eu pego as nozes. — Passou por cima de algumas raízes que se espalhavam pelo chão de forma caricata e encontrou um vaso grande e retangular, que levantou e mostrou para Hunter, que reconheceu aquilo como sendo trigo. — É desse trigo que eu tiro a farinha para...

— Mas — O jovem interrompeu. — Aqui pode ser bem grande, mas não tem como produzir o bastante para aquelas pessoas lá dentro.

O barman gargalhou com gosto. — Mas eu não trabalho sozinho aqui, algumas pessoas, como a Stephanie, por exemplo, me ajudam a cuidar de tudo. Ela, no caso, é hérbocinética, e me ajuda a cuidar das plantas. — Andou alguns passos, embrenhando-se na estufa, quando abriu um alçapão no chão, revelando algumas escadas que desciam para a escuridão.

O cheiro de mofo e levedo atingiu o humano como um chute — Ali é a adega, onde eu preparo minha cerveja e outras coisas pra deixar aqueles idiotas lá na frente bêbados. — Fechou o alçapão. — Isso encerra nosso tour, alguma dúvida?

Hunter tinha, de fato, algumas, mas arriscou fazer apenas as melhores. — Por que você partiu pra cima de mim lá no bar?

— Ah! Aquilo? — O tom do barman era divertido. — Eu tinha umas suspeitas em relação a você, e aquilo só confirmou.

Hunter carregou o sobrolho. — Quais suspeitas?

— Suspeitei que você fosse igual a mim. — Sorriu para o jovem. — Humano.

As palavras eriçaram os pelos da nuca de Hunter, fazendo um gelo escorregar por sua espinha.

— Estou muito feliz por encontrar outro humano por aqui que tenha as bolas para sair de sua toca. — Forrest gargalhou e passou a mão pelo cabelo curto e claro. — E ainda ter coragem de se passar por condutor! Moleque, você é único! — Ao ver a máscara fria que o rosto de Hunter havia se tornado, acrescentou em um tom mais baixo. — Não precisa arrancar minha cabeça, moleque, estou te contando a verdade. Acredite ou não, eu gosto daqueles idiotas lá dentro, mas viver cercado de tanto ego é sufocante.

Hunter se manteve em silêncio, fazendo uma quietude anormal pairar pela estufa.

Depois de algum tempo, decidiu quebrar o silêncio. — Porque você faz isso?

Forrest suspirou e passou as mãos pelo rosto curtido pelo tempo. — Esse lugar conta as histórias que não tem mais ninguém para contá-las, e tudo aquilo que fomos, somos, ou seremos, são histórias contadas por nós mesmos, onde nós somos os protagonistas, heróis ou vilões.

Fez uma pausa.

— O mundo pode desabar, mas suas histórias não podem se perder, então eu as mantenho vivas. — Deu as costas para Hunter e caminhou de volta para o bar.

— Mas na sua história, quem você é? — O jovem perguntou.

— O contador de histórias, só isso. — Respondeu de costas, saltando sobre as raízes. — Nem todos nascemos para o heroísmo, moleque, parece ser o nosso caso. — Abriu a porta da estufa e o ruído do bar entrou. — Todos só querem saber de serem os protagonistas, os heróis, os mocinhos, os salvadores. — Dirigiu um olhar ao jovem. — O que todos se esquecem é que são os coadjuvantes que fazem a história ir pra frente.


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Notas finais do capítulo

Vocês conseguiram pegar todas as referências?