A sala está começando a ficar bem cheia, resta somente alguns lugares por ali e aqui, mas, nada que impeça o "show" de começar.

Um som, como um hino de glória começa a tocar, e todos se levantam. Eu fico ali sentado, olhando para Shisuodin e Shisudva. Dva faz um sinal com os dedos para eu me levantar, e eu obedeço.

O hino para, e a cortina começa a se abrir lentamente, e de lá um homem, não vestido de branco como os outros, mas de vermelho, aparece atrás da cortina, com duas mulheres vestidas de um prata brilhante, uma de cada lado.

Uma das mulheres, dá um passo a frente e diz para todos ouvirem, bem alto:

–Ajoelhem-se diante de seu líder, Kêntrikou! -As duas mulheres se ajoelham diante dele.

Deve haver uma espécie de tradutor mental, pois todos que estavam em pé começaram a se ajoelhar, um a um, inclusive Odin e Dva. Porém, eu me nego a me joelhar por alguém que será responsável pela nossa morte e de que foi responsável pela morte de meu irmão.

A figura masculina começa a me olhar, ao contrário dos outros e outras que vivem aqui, ele possui expressões faciais, e tudo dedura a sua imensa raiva sobre mim, principalmente o seu rosto.

Uma das mulheres que está ao seu lado, não hesita, e se levanta gritando e dando uma ordem expressa para mim:

–Vamos! Ajoelhe-se logo! -Ela grita e todos olham para ela sem se levantarem.

Enquanto uma boa parte da plateia está me encarando, a figura sinistra, Kêntrikou, estica sua mão na frente da boca da mulher que estava gritando, como uma ordem de silêncio, e diz:

–Por que não se ajoelha? -Sua voz é grossa, e não metálica como a dos outros sistemas.

–Você não é meu líder! -Eu grito para que todos possam ouvir.

–Como ousas?! -A mulher fala novamente.

–Cale a boca mulher. -Ele diz olhando para a mulher com a roupa brilhante. -Não fale sem eu dar a ordem.

–Sim, meu senhor. -Ela se ajoelha.

–Vocês! -Ele grita. -Levantem-se todos!

Todos se levantam e ficam de pé. Shisuodin e Shisudva estão me encarando, como se eu tivesse feito uma besteira tremendamente grande.

Kêntrikou aponta seu dedo para mim e começa a falar:

–Estão vendo ele?!

Não há resposta da plateia.

–Ele ousa me desafiar, e me insultar. -Ele fala calmamente. -o que vocês acham que eu devo fazer com ele?

A mulher mais uma palpita.

–Matá-lo?

–Cale a boca mulher! Não lhe ordem para falar!

Ela se acanha.

–Vocês acham que eu vou matá-lo? -Ele pergunta.

Todos os selecionados abaixam e levantam a cabeça, dizendo que sim.

–Não. Eu não vou. -Ele para e continua. -Ele já fez isso consigo mesmo.

Quando eu vou dar uma resposta a ele, e tento dar um passo a frente. Shisuodin põe a mão na minha frente, me impedindo.

–Não faça nada. -Ela diz.

–Não faça absolutamente nada. -Shisudva completa.

Então eu me sento sem ordem alguma e fico lá, encarando aquela figura masculina de roupa vermelha. E ele, repete. Fica me encarando.

A outra mulher que estava ao seu lado, não a enxerida, diz para todos:

–Comecemos a cerimônia de seleção dos grupos.

A outra mulher prolonga a fala da primeira:

–Serão vinte grupos, com dez pessoas cada. E uma delas, será o líder do bando.

–O grupo sobrevivente, ganha a liberdade. -A primeira mulher continua. -E os perdedores, ganharão Sorano como moradia.

–Iniciemos o sorteio. -A enxerida diz.

Kêntrikou, vai para o fundo e se senta em um trono cromado e detalhadamente esculpido; enquanto as duas mulheres trazem dois baús de prata.

Uma delas, a enxerida, abre um deles. E a outra, é claro, abre o outro.

–Começaremos pelo grupo... -A enxerida põe a mão no baú e termina a frase lendo um papel. -...Pelo grupo Leão.

–No grupo Leão teremos... -A outra mulher repete a cena no outro baú, e depois de dez nomes citados o grupo Leão está formado.

Após os grupos serem feitos, os integrantes são agrupados num canto e esperam junto. Depois de mais ou menos quinze grupos com nomes de animais, a enxerida inicia outro grupo:

–Agora sortearemos o grupo... -Ela põe a mão no baú. -...O grupo Onça.

A outra mulher começa:

–Nesse grupo teremos... -Ela põe a mão no baú com os nomes e começa a falar. -Aabheer Yerukala.

Ela continua:

–Angel Jackson.

A garota se dirige ao canto designado com o outro garoto. A mulher, sem perder tempo pega dois nomes de uma só vez.

–Joana Oliveira e Marcael Jesuzmonth.

–Vá Marcael, e não faça besteiras. -Shisudva diz sem tirar o olho do palco.

Eu vou para o local, junto com os outros três, e fico lá. Não digo nada, acho que dessa vez é melhor obedecer as Shisus. A outra menina que foi sorteada junto comigo, tem um nome comum, seus cabelos são negros e sua pele é parda.

Eu me encosto na parede e espero terminar a seleção do resto dos grupos. No meu grupo, aparentemente, há pessoas dos mesmos países, eles estão conversando entre si, menos Joana e eu.

Terminada a seleção uma das mulheres chama cada um dos grupos e manda eles subirem ao palco, onde os dez integrantes ficam um ao lado d'outro, enquanto Kêntrikou seleciona o líder desse grupo.

–Agora, chamo o grupo Onça para a seleção do líder. -Enxerida diz.

Nós subimos e ficamos um ao lado d'outro, eu fico na ponta, Kêntrikou, começa a andar para lá e para cá, como se estivesse pensando em selecionar um líder perfeito.

–Vejamos. -Ele diz e vai de uma ponta a outra. Para em mim e diz. -Você.

–Eu? -Não consigo acreditar.

–Você.

–Mas...

–Eu escolho você para ser o líder do seu grupo. Boa sorte em controlá-los. -Ele sai.

Parece que agora eu tenho uma grande responsabilidade em mãos.