Os meninos desceram da moto, arrancados os respectivos capacetes.

O estacionamento simplesmente parou!

Todos, sem exceção, estavam olhando para nós! Enquanto meus genes de Isabella afloravam, num momento de embolação... O capacete ficou preso! Enquanto eu lutava contra aquele treco, Seth se escangalhava de rir, e Jacob, também rindo, veio me ajudar, tirando aquilo com uma facilidade anormal. Eu apenas o olhei sem jeito.

Dei uma rápida passada de olhos no local. Todos sussurravam, apontavam e comentavam sobre nós. O assunto dos homens era principalmente as motos, enquanto as garotas babavam pelo físico espetacular e beleza dos meninos. Eu rosnei, e eles riram mais uma vez.

-Uau, somos o centro das atenções. –reclamei.

-E você adora isso, não é Nessie? –disse Jake sarcástico.

-Eu gosto! –os olhos de Seth brilhavam, senti um pouco de repulsa sobre a felicidade repentina dele. -Essas garotas bonitinhas estão falando de mim! Uau! Nunca ninguém falou de mim assim!

-Seth, você quer ouvir que é lindo de morrer? Posso repetir isso pra você meio milhão de vezes e garanto que será muito mais sincero que qualquer uma delas... Poupe-me, você sabe tão bem quanto eu o que elas querem! Vocês são apenas objetos, como roupas bonitas para mostrar aos outros todos os dias. –bufei.

-Tem alguém morrendo de ciúmes por aqui. –Jacob, outra vez, e eu senti vontade de arrancar seu pescoço fora.

-Ciúmes? Parem cinco segundos para ouvir o que essas criaturas estão falando que vão entender bem o que eu quero dizer!

Nós realmente paramos, com uma desculpa que eles mexiam nas motos. Três patricinhas conversavam, em meio a risadinhas histéricas e irritantes. Mordi os lábios para não atacá-las bem ali.

Uma dela parecia “líder do bando”, cabelos loiros, falsificados, lisos demais, e tão claros que chegavam a arder os olhos quando o sol os tocava, e olhos verdes enormes e brilhantes. Contudo, seu rosto era esquelético, e era tão magra, que eu achei que fosse quebrar com uma ventania. A outra tinha cabelos curtos, castanho-claros e olhos da mesma cor, pouco mais baixa e menos esbelta, na verdade, poderia chamá-la de rolha de poço. E a última tinha as madeixas vermelho-fogo, espigados e esquisitos, com olhos azuis, não era tão bonita, mas a melhor de todas, menos irritante também.

A loira despeitada era a pior delas, com um sorriso sínico no rosto, bancava a líder de torcida entre as outras. Senti uma forte repulsa, principalmente, sobre ela. Dava nojo olhar. Ela começou uma tagarelice irritante sobre nós três:

-Viu o mais alto? Espero que aquela coisinha ali seja namorada dele, assim vou ter mais um roubo espetacular na minha lista. Ela vai rodar fácil, fácil!

-Ninguém resiste a você Kate! -guinchou a morena.

-Claro que não! E não vão ser eles que irão agora.

Jake ergueu uma sobrancelha e eu apertei os punhos. O que aquelas criaturas estavam achando?! Era por isso que mamãe temia minha ida a escola? Que eu tentasse simplesmente estripar essas garotas irritantes? ... Ela tinha razão, eu iria fazer isso agora mesmo! Os lobos seguraram meus braços entre os seus, e foram literalmente me arrastando. Claro que de longe pareciam que estávamos apenas de braços dados, mas eu estava resmungando em sussurros, na velocidade vampírica.

-Relaxe, vai ter coisa pior por ai Ness. –disse Seth alegremente.

-Se elas mexerem com algum de vocês dois, eu juro que vou arrancar o pescoço de cada uma com as unhas!

-Calma garota, não precisa ficar irritada, sabe que pra mim só existe você no mundo, monstrinha.

Jake me deu um beijo na testa e eu me derreti. A raiva desapareceu em poucos segundos, dando lugar à esperança e felicidade. A cena era bem parecida como quando Bella tocava Edward, e ele relaxava como se estivesse nas nuvens. Ri de minha própria ação ridícula.

Chegamos à secretaria. A moça que estava no balcão precisou de três segundos para se recompor ao fitar nós três. Me perguntei porque ela estava tão assustada, já que havia encarado Edward, Emmett, Jasper, Rosalie, Alice e Bella, todos na mesma época. Tudo bem que Jacob e Seth eram praticamente deuses indígenas. Soltei uma risadinha e comecei a falar:

-Olá, eu sou Renesmee Cullen, e este são meus primos, Jacob e Seth Black.

-Claro! A mais nova integrante da família Cullen, tão bonita quanto todos os outros. –ela sorriu gentilmente. –Estávamos esperando a chegada de vocês, aqui estão os horários. Sejam bem vindos a Forks High School.

-Obrigada.

De início eu corei ao ouvir o elogio, depois sorri gentilmente, pegando os papéis da mão dela. Os meninos literalmente arrancaram os horários das minhas mãos e logo começamos a compará-los. Graças a Deus eu estava na mesma turma que Seth em todas as matérias, e na mesma que Jake na grande maioria. Pelo menos não teria de ficar sozinha.

Começamos a marcar as atividades extras. Obvio que eu pus artes e música, o lobo mais novo colocou música também, e as outras eram todas esportivas, junto com seu melhor amigo.

Primeira aula, biologia. Assim que entramos na sala o professor ergueu uma sobrancelha e me encarou curioso. Jake bufou e Seth o ignorou, cantarolando. Os meninos foram na direção das cadeiras, mas o professor me chamou.

-Senhorita. Renesmee Cullen? Não é? E aqueles devem ser os irmãos Black.

-Sim senhor. –respondi sorrindo.

-Bem vindos a Forks. Espero que seja tão boa quanto seus irmãos eram na minha matéria. Edward sem dúvidas daria um ótimo biólogo, e a sua namorada...

-Esposa. –eu corrigi automaticamente e me envergonhei. –Desculpe...

-Esposa, claro, havia me esquecido. –ele riu. –Pode se sentar, a aula já vai começar.

Eu fui até a cadeira, sorridente e orgulhosa do desempenho de meus pais. Claro que meu pai era perfeito, e tinha a vantagem da idade, mas mamãe, então, também era ótima na escola, uma companheira a altura da perfeição de mármore chamada Edward... Claro que eu também já havia estudado tudo isso com papai, mas tive um pouco de receio.

Expulsei Jacob de perto da janela com um pequeno gesto de minhas mãos, ele se levantou e me deu o lugar, sentando ao meu lado. Seth estava atrás de nós, contando piadas e comentando sobre as pessoas que nos rodeavam, até que um garoto sentou ao seu lado. O lobo jovem deu um muxoxo, mas ainda assim não conseguiu ficar de boca fechada, soltando algumas coisas que só nós três tínhamos capacidade de ouvir.

O tempo passou rápido. Bom, talvez não tanto quanto eu esperava. A próxima aula era história. Fácil, sempre tive uma queda por histórias, não importando de que tipo, talvez por influência do meu estranho poder. Seth se sentou ao meu lado e nós tagarelamos bastante.

-Isso é como uma impressão? –ele perguntou de repente. –Sabe, isso do sangue.

-Não sei dizer. Mas é tão incontrolável e obsessivo quanto. É estranho, já que no imprinting é necessidade de proteção, e nisso de “sangue perfeito” é destruição.

-Claro, mas eu não perguntei nesse sentido. Sua tia falou que seu pai ainda sente isso por Bella. Quero dizer, ele a ama incondicionalmente.

-Onde aprendeu essa palavra? –brinquei. –Andou lendo o dicionário Seth Black?

-Não me chame assim, gosto muito do meu sobrenome, ok? Bobona. –respondeu em tom de brincadeira.

-Claro, claro. Estava fazendo piada, afinal agora você, para a escola toda, se chama Black! –fiz uma pequena pausa. –Se eu te responder, ele vai saber, então pense o seguinte. Papai é louco pela mamãe, mas a maioria das pessoas que tinham esse cheiro para um vampiro, acabaram mortos. É tão incontrolável que não dá pra parar, é como se você estivesse há semanas sem comer e de repente colocassem um prato à sua frente, com a comida que você mais gosta, e mesmo desesperado, tivesse que se controlar para simplesmente não devorar tudo de uma vez só.

Suspirei, olhando pela janela, uma brisa gélida jogou meus cabelos para trás, e os cachos acabaram atingindo o rosto de Seth, que ficou algum tempo tentando achar fiapos em sua língua. A cena era engraçada, na verdade, ele era engraçado. Sempre me senti muito bem ao lado do garoto gigante, que todos os lobos cismavam em chamar de baixinho. Era mais fácil falar com ele do que com Jake, eu sempre tive que ter cuidado para não soltar a língua e denunciar meus sentimentos.

-Entendo. –ele respondeu por fim, sacudindo seus cabelos negros, para tirar do rosto. –Deve ser mesmo muito difícil.

-Você não faz idéia. Mas eu tenho uma grande vantagem. Claro que o cheiro dele é ótimo para mim também, mas não é tão doloroso quanto o de Bella para papai. –corei um pouco com aquela frase.

-Deve ser esquisito. –Seth fez uma careta.

-E você Seth? Quando vai arranjar uma namorada? Ou uma impressão. –sorri.

-Ah, sei lá. Tive uma namorada há pouco tempo, mas não deu certo... É difícil namorar sendo um lobo. Tenho que fazer coisas para a alcatéia o tempo todo. E isso gera ciúmes né. Nenhuma garota normal aceita esse tipo de coisa, a não ser que seja mesmo o imprinting ou alguém como você, que sabe de tudo e está no meio dessa confusão.

-Faz sentido. Mas porque você não me contou Seth? Fiquei chateada agora...

-Desculpe Ness, eu sabia que não ia durar, já começou com problemas demais, ela sempre queria saber onde eu estava, porque sumia tanto e sempre precisava fazer isso. –ele suspirou desanimado, pobre Seth.

-Eu que peço desculpas Seth, afinal, você passa a maior parte do tempo aqui por minha culpa e por Jake também, que anda precisando ser mais controlado.

-Relaxa garota, a culpa jamais vai ser sua.

Ele afagou meus cabelos, e me olhou nos olhos. Havia tanta intensidade no olhar dele, que eu me assustei e o fitei com surpresa. Seth era uma criatura curiosa e diferente do normal, eu nunca o vi de mau humor!

-Meninos, se vocês pudessem parar de namorar e dar um pouco de atenção à aula eu agradeceria.

O professor sorriu de forma sarcástica, eu virei um morango, como sempre, e abaixei o rosto, deixando o cabelo funcionar como uma parede. Seth riu sem jeito, falando que éramos primos e não tínhamos nada de namoro.

Hora do almoço, amém! Seth foi pegar um caminhão de comida (se bem que nem uma casa inteira entupida de comida mataria a fome desses garotos). Eu fui atrás de uma maçã, não sou tão fã de comida humana assim. Um garoto se aproximou de mim, sorrindo. Até que era bonito, tinha olhos azuis, cabelos loiros, físico legal, mas claro, nada comparado aos lobos. Parecia uma boa pessoa, gentil. Ouvi um pequeno estrondo, Jake acabara de socar a mesa com violência, enquanto nos encarava irritado. Agora entendo porque Seth veio atrás.

-Oi, você é a garota nova né, a do nome comprido.

Eu ri.

-Sim, Renesmee, mas pode me chamar de Nessie.

-Prazer Nessie, eu me chamo Scott. Estamos na mesma turma de história, biologia e mais algumas outras.

Ele estava sorridente, mas eu fiz uma expressão de desculpas, não havia reparado. Pudera, com Seth tagarelando sem parar em meu ouvido, e Jacob me distraindo, não dava para prestar atenção em outra coisa.

-Tudo bem, seu namorado estava te ocupando. –Scott continuou a falar, reparando minha desatenção.

-Que? Namorado? Não, não, são meus primos, os dois. –sorri sem jeito. –Desculpe por não reparar, é que eles falam demais.

-Qual sua próxima aula Nessie?

-Artes, eu acho... –franzi a testa, tentando lembrar.

-Deve ser sim, a minha também é, posso te levar até a sala, se quiser.

-Claro, seria ótimo, ainda estou meio perdida por aqui.

Jacob rosnou outra vez, por sorte quase ninguém ouviu. Eu o olhei, irritada, e fiz um sinal para que fingisse ser educado, e ameacei-lhe com o punho fechado. Scott riu, e passou a mão em meu ombro.

-Pelo visto seu primo não ficou muito satisfeito comigo aqui... Tudo bem vai lá, quando o almoço acabar eu vou estar ali na porta do refeitório te esperando. Até logo Nessie!

E ele saiu da mesma forma estranha que apareceu. Eu abri um sorriso gratificante, estava orgulhosa de mim mesma já que fiz meu primeiro amigo humano e não tentei matá-lo. Caminhei convencida até a mesa, jogando a maçã de uma mão para a outra.

-Viram! Fiz um amigo! –falei com os lábios esticados.

-Amigo? Aquilo lá é um abutre, não um amigo! –Jacob falou grunhindo, não agüentei e soltei uma risadinha, Seth me acompanhou.

-Relaxa Jake, mano, assim vai ganhar cabelos brancos antes do tempo!

-Esses garotos só querem uma coisa! Nessie é bonita, ela chama atenção em meio a essas garotinhas magrelas e sem graça... Qualquer cara vai querer tirar proveito da inocência dela, e eu não vou deixar esses babacas fazerem isso!

Inocência dela? O que ele acha de mim? Que eu realmente tenho seis anos de mentalidade, pelo amor de Deus! Só não voei em seu pescoço na mesma hora porque ele havia me elogiado. Oops, meu rosto ardeu outra vez, e eu abaixei automaticamente.

Ouvi passos irritantes, saltos contra o chão. Minhas narinas inflaram na mesma hora. Aquelas criaturas estavam entrando no lugar, com suas poses de poderosas, que pra mim, estavam mais para caídas. A loira-nariz-em-pé se aproximou da mesa, tentando se fazer de sexy para cima dos meninos. Eu rosnei e Seth segurou meu punho com um olhar preocupado.

-Olá rapazes, eu me chamo Kate. –guinchou aquela praga loira, ela me olhou de cima a baixo, e voltou a encarar os dois. –Bem vindos a Forks, espero que percebam logo de quem devem ser amigos aqui. Nós damos muitas festas legais e saibam que estarão convidados para a próxima, mas claro, sem essa coisinha aí.

Eu levantei da cadeira para encará-la, mas não foi preciso. Jacob se aproximou de mim, ficando parado às minhas costas, e passando o braço em volta de meu pescoço, apoiando-os em meus ombros. Eu o olhei surpresa, e ele logo começou a falar.

-Claro, agradeço o convite, mas recuso de imediato, pois eu sei muito bem quem são as pessoas certas por aqui. Não gosto muito de garotas do seu tipo, então nem perca tempo, garota.

Ele nem a chamou pelo nome! Eu abri um sorriso gigantesco, provavelmente o maior que já havia conseguido formar em meus lábios, e ergui a sobrancelha, encarando aquela garota, com um ar sarcástico. Kate olhou para Jacob ofendida, com a boca aberta e uma ruga enorme entre os olhos. As garotas com ela se entreolharam nervosas, provavelmente sem saber o que fazer para acalmar a galinha-mestre.

-Cuidado com as palavras, ou pode fazer inimigos. –ela ameaçou.

-Inimigos? Espero que tentem brigar comigo, vai ser divertido.

E mais uma vez ela ficou sem palavras, apenas se virou de costas e saiu trotando como um cavalo selvagem. Claro que eu pulei no pescoço de Jacob, dando milhões de beijos na bochecha do garoto, enquanto Seth ria e ele tentava fugir.

-Por isso que eu te amo Jake!!!

-Claro, Nessie, claro, mas pare com isso! Estamos na escola.

-Ah é...

Eu fiquei sem jeito, e disfarcei o pequeno escândalo sentando novamente enquanto mordiscava a maçã.

O intervalo acabou. Jacob resmungou palavrões em alto e bom som, enquanto eu dizia para ele tentar confiar nas pessoas, e não se meter com meus amigos. No final, depois de Seth também falar bastante, ele aceitou que eu fosse para a aula com Scott. Jake era muito engraçado com seu ciúme doentio de irmão mais velho... Mas eu gostava daquilo, torcia para que ele passasse a sentir ciúmes de mim como mulher, e não como um parente de sangue.

-Oi Scott. –eu sorri para ele.

-Oi Nessie, pronta para a aula de artes?

-Claro! Eu amo artes!

-Isso é obvio, afinal você escolheu a matéria, certo? –disse ele em tom de brincadeira.

-Desculpe. –fiquei um pouco sem jeito.

Nós conversamos bastante, Scott era pouco mais velho que eu, em questão de data de aniversário. Claro que a minha tem algumas contas para fazer, já que eu só tenho seis! (Rsrs). Conheci mais umas pessoas durante a aula, todos eram bem simpáticos, exceto algumas meninas que pareciam estar com inveja do garoto loiro conversando comigo. Ignorei o fato.

Recebi olhares feios, mas não podiam me culpar tanto, eu não escolhi conhecer os dois garotos mais perfeitos do mundo, Jake e Seth, e nem pedi para que o menino mais popular da escola quisesse ser meu amigo. Fiquei um pouco receosa de criar inimigas no primeiro dia, mas de fato, já tinha ganhado muitas, com a pequena humilhação que a tal Kate-cabelo-de-palha havia recebido de Jacob.

Foi um dia legal, e teria sido ainda melhor se eu não tivesse lembrado daquela situação horrível entre eu e o Quileute naquela mesma manhã. Assim que chegamos na mansão, os lobos se transformaram e foram até La Push, para dar um oi à família, enquanto Alice me bombardeava com perguntas engraçadas.

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