Estava perdida em meus pensamentos outra vez, enquanto caminhava como uma sombra atrás daquele que eu tanto admirava. Seth estava à nossa frente assoviando uma música que ele gostava enquanto girava as chaves em seu dedo indicador. Jacob parecia muito mais sério que o normal... Claro, e a culpa é sua Renesmee Cullen, que teve a grande idéia de mordê-lo durante madrugada.

O passo apressado fez com que não demorássemos a chegar à enorme garagem Cullen. Havia duas motos entre os carros colecionados pela família. Duas BMW esportivas, ambas do modelo K1300, uma azul e outra vermelha. Natal passado eu convenci meu pai a comprar para que eu as desse de presente para Jake e Seth, claro que a vermelha era de Jacob. Para ser bem sincera, foi difícil que Emmett e Rosalie aceitassem que eu desse algo tão valioso aos dois lobos. Meu pai resmungou um pouco, mas acho que era ciúme bobo de pai, foi quando minha mãe se meteu, e todos acabaram aceitando. Os meninos ficaram tão felizes que passaram a semana toda fazendo tudo que eu pedia, até mesmo quando eu levantava para pegar água, um deles corria na minha frente. Era engraçado, e divertido também.

Seth montou rápido, e Jacob parou para me dar passagem. Ele teimava em me colocar um capacete, afinal, eu era filha de Bella, a pessoa mais desastrada que já nasceu, e ainda tinha sua parte humana dentro de mim. Assim que terminou de ajeitá-lo na minha cabeça, ele ficou me olhando por um tempo, e mais uma vez, meu rosto se encheu com uma cor avermelhada.

-Que foi Jake? –perguntei sem jeito.

-Você está linda, Nessie, eu não tinha reparado.

Curvei o pescoço bruscamente, para abaixar o rosto e franja cobriu meu olho esquerdo, Seth riu baixinho, como uma criança levada. E adivinha, Jacob abriu o tal sorriso de lobo que me fazia derreter.

Jake sentou na moto também, ajeitando o capacete, para variar ele só aceitou colocar aquilo porque eu disse que quebraria o meu se ele não pusesse, e o outro Quileute acabou entrando no jogo também.

Enfim pegamos a estrada para a escola. Eu estava agarrada às costas largas e quentes dele e não posso negar que me sentia muito bem estando assim. O garoto Black era muito mais que meu porto seguro, ele era simplesmente feito para mim... E ainda assim eu quis matá-lo esta manhã... Mais uma vez uma enxurrada de pensamentos ruins invadiu minha mente, sorte Edward não estar perto para ouvi-los e ficar me reprimindo o tempo todo.

Fiquei observando a vegetação verde, amarela e marrom clara, mas contar árvores estava realmente me dando sono, embora eu simplesmente amasse todo aquele verde da cidade. Me distraí, e fui voltando a madrugada, lembrei do sonho, e da lenda do povo deles, que os meninos tinham me contado. Era tudo uma grande loucura, esse tal imprinting não parecia ser real, mas por outro lado, se algo como eu existe, porque isto não seria verdade também?

E sobre a história da mamãe... Afinal, que diabos havia acontecido entre eles dois para serem tão próximos a ponto de que o meu Jacob a presenteasse daquela forma? Ora Nessie, pare de bobagens, está com ciúmes porque ele fez um presente para sua mãe e não para você? Mas para compensar, ele te encheu de presentes e amor durante seus seis anos de vida. Contudo, ele ainda optou por esconder seu passado de mim, ninguém naquela casa tocava no assunto quando eu queria saber, nem mesmo meu irmão emprestado queria me contar, e isso confirmava minhas suspeitas de algo sério.

Fechei os olhos, e apoiei a bochecha sobre a jaqueta de couro que ele usava. Forks era frio, nós precisávamos disfarçar, Seth usava uma jaqueta jeans e eu optei por ficar apenas com as mangas compridas da blusa branca, até porque, não estava tão frio assim, na verdade, até era um dia bonito, para lá, claro!

Fiquei martelando sobre essa idéia de minha mãe e Jacob. Amantes? Não, seria impossível, caso contrário papai jamais aceitaria que os dois passassem tanto tempo sob o mesmo teto, e provavelmente ele teria arrancado a jugular de Jake se fosse verdade.

Apertei meus braços sobre sua cintura, ele pareceu tremer, afrouxei na hora, com medo de tê-lo machucado. Mas oras, era Jacob ali, e não um humano frágil qualquer. Subi minhas mãos sobre seu corpo, procurando seu coração, para me acalmar com aquele som agradável de vida. Tum-dum, Tum-dum. Era tão bom sentir seu coração pulsando sob minhas mãos. Acabei soltando uma pergunta idiota:

-Para quem seu coração bate Jake?

-Ora, para você Nessie. –ele fez uma pequena pausa e senti meu peito inflar de felicidade. –Para Billy, minhas irmãs, para a matilha e para sua mãe também.

-Ah...

Nada mais me escapou dos lábios. Para mamãe também. Claro, porém, mesmo esperando por uma resposta como essa, eu senti uma faca rasgando minhas costas, atravessando meu peito e espetando meu coração inúmeras vezes. Controle-se Renesmee, é de sua mãe que estamos falando!

Continuei pensando sobre aquilo, desejando muito saber o que acontecera. Até sentir uma coisa estranha brotando em minha mente. Um pensamento diferente, o formato era diferente, meio apagado, não era exatamente meu, mas estava vindo para mim.

Agarrei-me a ele, como uma pessoa segurando fumaça, o que era aquilo afinal?

Mamãe estava em cima de uma moto, e o garoto de cabelos negros e pele avermelhada de frente para ela, sorrindo radiante enquanto segurava suas mãos sobre o freio e acelerador da moto. Ele estava lhe dando instruções, mostrando detalhadamente como aquilo funcionava, apertando suas mãos de modo caloroso e... Argh! Eu fiquei como uma boboca, olhando aquilo, sofrendo em silêncio.

Bella deu a partida, e como eu já esperava, a moto deu um pinote e ela voou como uma filha de papel, caindo no chão bruscamente com aquela coisa de metal por cima. Jake agarrou sua moto e acelerou até ela, ajudando a garota a se livrar daquilo. No momento seguinte ele arrancou a blusa e jogou para ela colocar sobre o ferimento na cabeça, enquanto se desculpava por sangrar. Onde estava Edward naquela hora?

Entraram no carro, e foram até a casa do vovô Charlie. Mamãe mudou de roupa, escondendo os vestígios do crime, era muito mais que óbvio que meu avô jamais a deixaria brincar numa moto.

Dentro do carro outra vez, ela reclamou com ele, pois deveriam ter pegado um casaco para ele, pois estava frio, entretanto, Jacob afirmou que não sentia nada. Mamãe ficou encarando-o, não... Encarando o corpo dele! Deus, que isso?! Claro que o Quileute percebeu, e ficou sem graça:

-Que foi?

-Nada. Só não tinha reparado antes. Sabe que você é até bonito? –respondeu mamãe.

Jake virou os olhos, e a felicidade foi visível em sua expressão. Parecia amor. Ele começou a falar de novo:

-Você bateu a cabeça com muita força, não foi?

-Estou falando sério. –ela estava mesmo convicta.

-Bom, então eu até agradeço.

Mamãe riu de seu jeito brincalhão.

A cena sumiu, eu estava na moto outra vez, agarrada em Jake, tremendo, com sensações demais, frio, calor, nervosismo, ansiedade. Meu corpo parecia um emaranhado de emoções. Engoli seco, tentando me livrar da náusea.

-O que foi isso Ness? Você tirou isso de mim?

A voz rouca de Jake parecia fria, irritada, mas com um toque de desespero. Eu havia mesmo arrancado aquela lembrança dele? E pior, sem sua permissão. Meus poderes estavam crescendo então?

-Não sei eu... Pensei em você, na mamãe... Na moto... E de repente...

-Acalme-se, você está tremendo!

Eu fui tentando relaxar, controlando minha respiração, ainda muito confusa e enjoada. Apertei meu estômago com uma das mãos, enquanto a outra forçou meu corpo contra o dele ainda mais. Tudo aquilo se passou em menos de cinco segundos.

-Papai está fazendo falta hoje... –resmunguei. –Queria que ele me explicasse tudo isso... Confusão demais para um dia só.

-Tudo bem Nessie, apenas tente não fazer isso de novo, não gostei nada do que aconteceu. Guarde sua curiosidade para o dia certo.

Há tempos eu não o via tão nervoso. Seth nos olhava o tempo todo, parecia ter percebido que algo estanho acabara de acontecer, e sem dúvidas faria chover milhões de perguntas quando chegássemos à escola.

Algo apertou meus órgãos, me senti mal por ter deixado o lobo irritado. Eu o amava mais do que tudo, e a última coisa que eu queria era fazê-lo sentir raiva e ficar longe de mim. Contudo, eu precisava saciar minha curiosidade! Precisava arrancar a verdade dele, não hoje, e talvez nem essa semana, mas alguma hora eu o tocaria, com a mesma força de vontade que tive hoje.

O maior problema seria esconder a verdade do leitor-de-mentes-Cullen. Deveria me distrair todo o fim de semana para na pensar nessas coisas, visto que meu pai era defensor fervoroso da mamãe, e concordava que eu não tinha que saber nada ainda.

As motos pararam num estacionamento cheio de carros. Chegamos à escola.

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