Dois meses se passaram e Bella desistiu de me trancar no quarto longe de Jacob (depois de muita reclamação da Alice, sobre o quanto ela demorou a encontrar as peças certas para mim). Na verdade ela nem ligava muito, o maior problema era a má impressão que isso causaria a Nahuel, e, é claro Edward. Será que ele não entendia que nós não íamos fazer nada? E por mais que estivesse dentro da minha cabeça, parecia que uma parte dele não conseguia confiar... Argh, meu pai às vezes agia como um avô!

No final ele mesmo acabou se dando por vencido, de tanto ver os pesadelos que eu tinha quando Jake não estava ao meu lado. Essas malditas crianças não saíam da minha mente e eu chegava a sentir dor de cabeça! Os sonhos eram sempre diferentes um dos outros, a única coisa incomum eram as crianças de olhos brilhantes lilases, cabelos negros como a noite, e pele pálida como a lua.

Eu estava achar que começava a ficar louca de vez. Carlisle tentou buscar algumas respostas com Nahuel, para saber se ele também tivera algum tipo de perturbação, como esta. E para nossa infelicidade, a resposta foi negativa. Ou seja, o problema não era com essa tal ‘nova raça’.

Toda noite eu sonhava com esses menininhos e menininhas, com Jake ao meu lado, o sonho geralmente não era ruim, contudo, assim que ele se afastava aquilo se tornava um pesadelo. Um pior que o outro, e um mais real que o outro. Eu estava exausta, e agora, descobrimos que híbridos podem ter olheiras, porque as minhas andam bem fundas.

Os Cullen estão todos muito preocupados (nem preciso falar nos lobos, que andam se descabelando) com essa minha fraqueza. Eu quase não sinto fome, e quase não durmo, porque tenho medo de sonhar outra vez com esses pirralhos em perigo. Jake anda quase tão cansado quanto eu, parece que ele sente todo o meu sofrimento (que não é exatamente um sofrimento). Pelo visto compartilhamos tudo, até a exaustão.

Contudo, graças aos (agora três) garotos da minha vida, ainda tenho forças para sorrir e me divertir. É impossível não rir quando Jake e Nahuel começam a discutir que um anda roubando no jogo (Carlisle comprou videogames para eles). Nunca vi rivais como eles. Meus fins de semana andam bem chatos, tendo que assistir os dois lobos e o mestiço disputando no PlayStation 3, em seguida no Xbox, e, por último no Nintendo Wii. Por sorte, tenho tia Alice e sua tara por compras!

Minha vida parecia cada vez mais pacata, nunca imaginei que viver poderia ser tão chato. Mas acho que a culpa é minha, na verdade eu vivo como qualquer adolescente normal, o problema é que eu vivia me metendo em todo tipo de confusão, e, depois de dois meses sem nenhumazinha sequer, parecia que eu andava no tédio.

Recesso de fim de ano.

Graças a Deus eu não precisava ir para a escola sempre, como os alunos normais. Afinal eu já sabia tudo mesmo, papai era, sem dúvida alguma, o melhor professor de todos! Decidi tirar férias prolongadas. Com uma desculpa que estávamos programando acampamentos e coisas do tipo. Bem que eu tentei convencer Edward a me deixar acampar, mas ele achava perigoso. Ora, perigoso? Qualquer coisa seria mais racional que isso, afinal, o que poderia ser mais forte que dois lobisomens e dois mestiços unidos?

Também tinha outro motivo para o adiamento da volta às aulas. Mamãe, tia Alice e vovó Esme estavam arrumando os preparativos do casamento. Do meu casamento. Aquilo ainda me soava tão estranho! Parecia uma piada esquisita. Elas simplesmente não queriam esperar para fazer a festa. Por sinal, eu achava que mamãe estava animada demais para alguém que odiava festas.

Decoração, flores, bolo, vestido. Ai! Vestido e sapatos era o que realmente me matava, eu queria uma coisa, e Bella outra. Deus, o casamento era meu e ela queria mandar em tudo! Eu queria uma festa simples, sem muita pompa, com um vestido comum e rosas para todos os lados. Enquanto ela queria a maior festa de todas (até maior que a dela).

-Bella, eu acho que Nessie tem o direito de escolher. –disse tia Alice, em mais uma discussão sobre o casamento.

-Sim, eu concordo, ela pode, pelo menos, escolher o vestido. –concordou vovó Esme.

-Ah não! Eu não tive direito de escolha, então ela também não vai ter. –respondeu mamãe, teimosa como sempre.

-Claro que não teve, mas a culpa foi sua, já que você nem queria casar! Então eu mesma tive que tomar providências. –retrucou Alice.

-Posso me meter?

Aquela voz fez todos pararam. Era tia Rose, a pessoa que nem queria saber do casamento de sua única sobrinha com um ‘cachorro’. Pelo visto as coisas andavam boas, já que ela mesma decidiu colocar o nariz na conversa.

-Claro! –respondemos todas juntas.

-Bom, acho que dá pra dividir meio a meio. Façamos a festa do jeito que Bella e Esme querem, e o vestido, a Nessie e Alice escolhem.

Eu pulei no pescoço dela, abraçando Rosalie com vontade. Ela pareceu meio confusa de início, mas logo retribuiu, dando um longo suspiro.

-Obrigada tia, eu achei que você nunca fosse entender.

-Eu não entendo, ma acho que já consigo engolir isso. Nessie, tudo que eu prezo é o seu bem e se o seu gosto é ruim a ponto de escolher um lobisomem, o que eu posso fazer se não te desejar felicidades? –respondeu ela, sorrindo enquanto passava as mãos pelos meus cabelos.

Pelo visto as coisas começavam a se ajeitar. Mamãe ficou tão comovida com a aceitação de Rosalie que não ousou se opor a idéia da minha ‘madrinha’. Deixei as mulheres discutindo e fui andando até a sala, onde os meninos jogavam compulsivamente. Fiquei parada, de braços cruzados, esperando que eles me olhassem.

Nada.

Bati o pé no chão com força, fazendo um barulho oco ecoar pelo lugar.

Nada outra vez.

Aqui estava me irritando, então dei um pigarro alto, ainda batendo o pé no chão sem parar.

Outra vez eles nem se moveram.

Cansei, e dei um grito horrível. Foi engraçado vê-los saltar da poltrona e me olharem assustados. Abri um sorriso cínico, irritado e satisfeito por tê-los feito perder o jogo.

-Achei que não iam me dar atenção nunca mais. –reclamei.

-Desculpe. –disseram os três ao mesmo tempo, aquele coro era muito irritante.

-Nós vamos a Vancouver outra vez. –suspirei ao dizer isso. –Bella aceitou que eu escolhesse o vestido, graças a Rosalie, que finalmente parou de dar pra trás. Então vamos tentar comprá-lo hoje. Seth, Nahuel, vocês querem ir?

-Hey! –Jake exclamou furioso. –E eu?

-Alice te mata se você ver o vestido antes da festa. –respondi.

-Mas por quê? –ele parecia mesmo confuso.

-Tá de palhaçada Jacob? Pelo amor de Deus, todo mundo conhece aquela babaquisse que diz que dá má sorte se o noivo ver o vestido antes do casamento. –disse Seth, dando um tapa na nuca de Jake.

Segundos depois eles estavam correndo, para sorte de Seth, Jacob era maior e tinha menos agilidade para correr por entre os móveis da sala. Eu respirei fundo e sentei no sofá, ao lado de Nahuel, assim que Seth começou a apanhar diretamente na cabeça, de Jacob.

-Decidiram a data, afinal? –perguntou o moreno.

-Ah, nem sei. Não agüento mais toda essa loucura de casamento. –falei sinceramente.

-Entendo. Com essas tias, mãe a vó, totalmente loucas por festa acho que ninguém agüentaria muito tempo. –ele brincou.

-Loucas por festa? Acho que só Alice mesmo... Só que eu não pretendia casar tão rápido. Achei que ia terminar a escola, pelo menos.

-Você se arrependeu, Renesmee?

O movimento na sala parou e eu arregalei os olhos. Como ele podia me fazer uma pergunta como aquela? A coisa que eu mais amava, e mais queria neste mundo era Jacob e ele próprio perguntava uma coisa completamente absurda como estas? Senti meu sangue ferver.

-Ah, você acha que eu me arrependi, Jacob, ou melhor. Eu pareço ter me arrependido de aceitar casar com você? –perguntei seca.

-Não... Não é isso Nessie. –ele ficou desconcertado. Agora me chamava de Nessie de novo, não é? Engraçadinho.

-Estou me controlando pra não rasgar seu pescoço. –retruquei sinceramente.

Jake se encolheu, como um cachorro, que está prestes a apanhar do dono, ou, no mínimo, está tomando uma bronca daquelas por ter feito alguma besteira. Era bom se encolher mesmo, porque essa foi a pior pergunta que ele me fez na vida. Seria melhor ter mantido a língua quieta dentro da boca!

Ele se aproximou de mim e ajoelhou ao lado da poltrona, apoiando os braços na almofada que eu segurava no colo. Fazendo círculos invisíveis com o dedo no travesseiro fofo.

-Amor, desculpe, eu não... –ele começou, mas parecia que ia levar uma eternidade para completar a frase, então eu o interrompi.

-Ta. Não precisa pedir desculpas, deixa pra lá. –ainda estava tentando controlar a raiva momentânea.

-Hey... Não fique com raiva de mim...

Ele falou com voz chorosa, cutucando meu braço com o dedo repetidamente. Oh, claro que eu não ia ficar com raiva, é impossível sentir coisas ruins por ele. Jacob é a pessoa mais incrível do mundo, mesmo agindo como um idiota algumas vezes. Eu segurei seu rosto quente entre minhas mãos, e colei nossas testas.

-Você merecia uma bronca, mas como eu te amo muito, muito, muito, vai ganhar um beijinho se prometer que nunca mais vai duvidar do amor que eu sinto por você.

 Ele sorriu e puxou meu corpo com força, e eu caí da poltrona, no colo dele (como aquela ridícula cena do ‘beijo de princesa’). Eu ri abobada e Jake uniu nossos lábios num beijo profundo e lento. Nem sei quanto tempo ficamos daquele jeito até que ele decidisse me soltar.

-Eu te amo. –não me cansava de repetir isso, apenas para ouvir a resposta.

-Eu também te amo, Nessie.

-Ah, por favor, eu vou vomitar se vocês continuarem com isso! –disse tio Emmett, que agora estava jogando com Nahuel e Seth, no lugar de Jake.

Enfim nós saímos, Jake e Seth voltaram para La Push dar um pouco de atenção á suas respectivas famílias e também para a alcatéia. Nahuel preferiu ir com a gente para conhecer o tal lugar que Alice tanto amava. Até onde eu sei, ele nunca andou muito pela civilização.

Foi uma tarde bem agitada. Compramos tantas coisas que as mãos foram insuficientes para carregar, então Alice decidiu contratar um caminhão exagerado para carregar tudo. Não era tanta coisa assim, mas foi bom, visto que poupou nossos esforços para carregar sacolas sem rasgá-las entre tanto mato, pedras e galhos.

O mês passou rápido, e as festas de fim de ano trouxeram animação para todos. Os Cullen deram uma grande festa, e convidaram os Charlie, Billy, os Clearwater, e até minha desconhecida avó: Reneé e seu marido Phil. Tudo graças a grande capacidade da tia Alice e tia Rosalie, de maquiar as pessoas. Todos nós ficamos parecendo bem mais velhos, e ainda teve uma confusão com lentes de contato para mamãe, já que seus olhos, antes da transformação, eram como os meus.

Eu estava ansiosa para conhecê-la, contudo, a mulher não pôde saber da verdade. Edward usou a mesma mentira que havia tentado com Chalie, que eu era a filha órfã de seu irmão mais velho, o qual ele só descobriu que tinha após a morte do mesmo. Pelo menos tive a sorte de ter me acostumado a chamar todos pelo nome, e não simplesmente de pai, mãe e etc.

Era natal, e todos já haviam trocado presentes, quando Reneé se aproximou para puxar assunto comigo. Eu sorri gentilmente para ela, Bella nem se preocupou, teimava em dizer que a mãe era cabeça-de-vento demais para reparar quaisquer semelhanças.

-E então, Nessie, não é?

-Sim. –sorri.

-Quer dizer que você namora o melhor amigo da Bella, hã? Ela falava bastante desse garoto, Jacob. Mas eu sempre achei que ele era apaixonado por ela, bom, talvez fosse apenas aquele mal de mãe, que acha que todo o amigo na verdade quer namorar sua filha. –disse ela, rindo.

-Ah... –o que eu ia falar contra isso? Não vou negar que me incomodou bastante, e pior, atiçou minha vontade de saber mais sobre o passado.

-Dezoito anos? –perguntou a mulher, mudando de assunto.

-Dezessete. –respondi.

Ela franziu o cenho e olhou para Jacob, que conversava animadamente com Seth, Sue, Billy, Charlie e Leah, que não estava nem um pouco animada como os outros.

-Ele não é velho demais pra você?

-Ah, não tanto, Jake é mais novo que a Bella, na verdade ele tem vinte e quatro anos. Sete anos não é tanto assim... É?

Claro que todos sabiam do disfarce na escola, menos ela, que jamais ousou pensar que Jacob e Seth estudavam comigo. Entretanto, por mais que eles aparentassem ter seus vinte e poucos anos, os rostos ainda era joviais como de um menino.

-Bella falou que estão noivos.

-Sim, nós vamos nos casar em breve. –contei à ela, sorridente.

-Não é um pouco... Cedo demais?

Deu para perceber a aflição nos olhos da moça ao pensar em nossas idades e principalmente neste tal compromisso sério. Infelizmente eu não poderia explicar o que havia entre nós, e muito menos sobre tudo isso de vampiros e lobisomens. Mamãe disse que ela não suportaria tanta informação.

Tive que dar algumas desculpas esfarrapadas, heranças e coisas estranhas do tipo. Contudo, fui sincera com ela, e contei que nos amávamos incondicionalmente, e que, talvez apenas o amor de Bella e Edward fosse comparado ao nosso. Claro que Reneé achou aquilo meio estranho e prematuro, mas deixou pra lá.

Foi uma festa legal, e logo depois veio outra mais divertida ainda. Ano novo. Desta vez papai deixou que eu fosse para La Push, ver os fogos de artifício na praia junto com os lobos e suas famílias. Contudo, ele mandou um espião, Nahuel foi atrás de nós. Nada contra, mas era meio chato ter que dividir a atenção.Só fomos dormir no dia seguinte, quando amanheceu e todos voltamos juntos para Forks. Quero dizer, Eu, Seth, Jake e minha nova sombra, o mestiço.

Em muito pouco tempo eu me tornarei a senhora Black, em vez de Renesmee Cullen, mas antes aconteceria algo bem divertido. A tal virada de noite em La Push, programada pelo pessoal da escola acontecerá na próxima semana.

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