Forever (jakeness) escrita por NiaBlack


Capítulo 23
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Eu acordei com alguém fazendo cócegas em meus pés e meu nariz. Comecei a me contorcer sob o sofá, até que caí no chão, com um baque oco de pedra contra madeira. Os dois arteiros gargalharam alto, enquanto eu me levantava com dificuldade, tirando os cabelos do rosto e tentando descobrir o que estava acontecendo na casa.


         -Acorda, bela adormecida. Temos aula hoje. –a voz levada era de Seth.


         -Temos o que? –perguntei com dificuldade, não conseguia pensar.


         -Aula, sua lerda! Escola! Sabe o que é isso? –e o garoto continuou brincando com a minha sonolência.


         -Claro que sei, seu besta. –resmunguei, mas a frase saiu totalmente embolada, fazendo os dois se dobrarem de rir outra vez. –Parem com isso, idiotas.


         Estalei o pescoço de um lado e de outro, e comecei a andar. Meus pés doíam absurdos, de ter ficado toda a longa noite anterior sobre um salto como aquele. Nunca pensei que fosse capaz de sentir este tipo de falha humana, entretanto, pelo visto eu era mais humana do que realmente pensava.


         Subi as escadas resmungando mentalmente, enquanto Edward mandava que eu me controlasse, pois tanta raiva àquela hora da manhã não era legal. Mas o que eu poderia fazer? Estava sentindo dor e ainda tinha que ir para a escolar, olhar a cara de vômito daquele trio de enjoadas.


         Banho; roupas novas da Alice; café-da-manhã. Estava grata por estar com um All Star nos pés, definitivamente era algo confortável, diferente daqueles escarpins que tentaram me matar ontem à noite. Fazia muito frio, por isso Alice optou por uma blusa de lã,com mangas longas e gola alta,e jeans diferente de todos os outros que eu já usei um dia, e um casaco para disfarçar. Senti pena dos meninos quando os vi usando algo parecido comigo, provavelmente estavam morrendo de calor por baixo das golas que pegavam no pescoço e mangas que alcançavam as mãos. Entretanto, não posso negar que as blusas realçaram o físico perfeito de cada um, pois eram meio justas. Dessa vez ela manteve o estilo de Jake, deixando-o usar jeans com cara de surrado, até alguns rasgos propositais. Seth estava mais comportado.


         Eu achava muito engraçada a mania dela de sempre vestir os dois parecidos, trocando apenas as cores e estilos, entretanto, quando um estava com mangas longas, o outro também estava, e o mesmo servia para qualquer outra blusa. Hoje Jake estava de branco com um dragão negro nas costas, e Seth de roxo bem escuro.


         Já estávamos no estacionamento da escola, mal vi o tempo passar enquanto dirigia a moto, convenci o Quileute a me deixar comandá-la hoje, e acredite, ele quase enlouqueceu com a velocidade que eu guiava. Seth apenas ria, afinal, já tinha andado na garupa comigo algumas vezes.


         Chegar à escola foi tão ruim quanto eu pensava que seria! Todos nos olhavam embabacados, afinal, antes do sumiço de Seth eu estava andando de mãos dadas com ele, e não com seu “gêmeo mais velho”. Acredite, com esse cabelo, de costas os dois pareciam realmente gêmeos, mas acho que todos os lobos parecem irmãos de sangue, nunca vi tanta gente igual junta! Não vou negar que confundo um ou outro às vezes, (Jake me mata se souber disso).


         Olhares reprovadores, enojados, pasmos, felizes, tristes, radiantes. AS fãs de Seth andam nas alturas, graça a Deus, assim teria menos trabalho com Jacob. Ninguém mandou esse menino-lobo ficar rindo pra todo mundo... Assim elas se apaixonam fácil.


         Fomos para a sala, mas para minha infelicidade o professor faltou, e uma inspetora de cabelos ruivos entrou na sala, chamando Jake e Seth, provavelmente tinha algo a ver com o desaparecimento de Seth no mês. Nós inventamos uma doença contagiosa, mas acho que não colou, provavelmente Carlisle teria que fazer um atestado para justificar.


         Fiquei sozinha na sala. Ótimo, tudo que eu queria...


         -Hey, Ness. –Scott se aproximou de mim sem mais nem menos, quase me assustei, e tive que fingir.


         -Tudo bem? –sorri para ele.


         -Tranqüilo. E aí menina, seu namorado finalmente decidiu voltar pra escola? –perguntou, se sentando ao meu lado.


         -O quê? Ta falando do Seth? –estava um pouco distraída ainda.


         -É, o mais novo não é seu namorado? –seus olhos brilharam de repente.


         -AH! Não, não. Na verdade o Jake é, sabe, o Seth andou fazendo trabalho de irmão mais novo: tomando conta da namorada do mais velho.


         -Ah, saquei. Então você e o grandão se ajeitaram. –brincou. –Vocês ficavam andando de mãos dadas por aí, por isso achei que...


         -Nada, somos amigos desde que eu nasci. –e ele mal sabia o quão literal isso era. –Como irmãos, Seth é o meu gêmeo de outra mãe.


         -Oi. –uma menina de cabelos castanhos apareceu perto de nós, sorrindo. –Você é a filha do Doutor Carlisle, não é?


         -Quê? –levei alguns segundos para digerir a pequena mentira. –Ah, sim, Renesmee Cullen, prazer.


         Os olhos dela também brilharam. Nunca achei que seres humanos pudessem ser tão estranhos. Ela estava visivelmente feliz, e apenas por falar meia dúzia de palavras comigo? Bom, sempre tive um certo carisma com as pessoas, mas não achei que ainda funcionasse. A menina sorriu, estendendo a mão:


         -Eu sou Nicole Reeves.


         Franzi a testa, provavelmente se apertasse a mão da menina, ela acharia que eu estava queimando em febre, mas por outro lado, se sentiria ofendida caso eu me recusasse. Então fiz o melhor que pude: aceitei o cumprimento.


         -Desculpe nunca ter falado com você antes, mas é que você está sempre com aqueles dois meninos, e eles parecem tão... –ela mesma interrompeu a frase.


         -Encrenqueiros? –eu completei rindo. –Acredite, os Black são gente boa, e a encrenca que os segue... Nenhum de nós morde, sabe.


         Ela corou de vergonha, e eu achei aquilo bem divertido, enquanto ria, imaginando o que a pobre menina (ainda mais baixa que eu) pensava dos dois índios gigantes. Scott começou a falar de novo:


         -Eu disse que ela era simpática, mas você ficou com medo.


         -Eu não fiquei com medo! –agora a vermelhidão era de raiva. Notei que a cor dos olhos dos dois era idêntica.


         -Vocês são parentes? –perguntei sem querer.


         -Ah, somos primos de terceiro grau, nada muito próximo. –Nicole respondeu e eu percebi que ela gostaria que eles fossem muito mais que primos. Tive que sorrir de volta.


         -A minha mãe é prima da mãe dela. Sabe como é, em Forks todo mundo é parente. –brincou Scott, e eu ri outra vez. Era tão fácil conversar com humanos, não sei por que minha mãe e os Cullen tinham tanta dificuldade.


         -Você vai a festa? –Nicole perguntou animada.


         -Festa? –indaguei confusa.


         -Sim, o pessoal ta arrumando um “acampamento”. Sabe, passar a noite na praia de La Push, cantando e bebendo em volta de uma fogueira, enrolados em milhões de casacos, afinal lá faz bastante frio à noite.


         Frio? Não para mim.


         -Já foi em La Push? –Scott cortou meus pensamentos.


         -Já, Jake e Seth são originalmente de lá.


         -Legal! –disseram os dois ao mesmo tempo.


         -Eles devem saber tudo por lá, convide-os também, vai ser ótimo ter mais gente! Mande levar uns amigos. –riu a menina, interessada demais nessa parte de amigos.


         Ficamos conversando por mais um bom tempo, até que os gêmeos falsos retornaram à sala. Percebi uma inquietação por parte de Jacob, enquanto eu conversava animadamente com os dois humanos de olhos aguados. Seth, por sua vez, ajudava no assunto, falando pelos cotovelos de todas as trilhas de La Push.


         Melhor que qualquer um, esses dois conheciam cada buraco da reserva, afinal, vivam correndo para cima e para baixo, fazendo a vigília em forma de lobo. Sem contar que se os dois topassem ir nesse tal acampamento, os outros lobos enfiariam o nariz por lá, e contariam algumas histórias misteriosas. Meu interno começou a se animar. Seria muito bom ir à praia, se eu não tivesse de castigo. De qualquer forma pediria a Edward, em prol da minha sociabilidade, que estava apenas começando a aflorar.


         As pessoas começaram a se aglomerar à nossa volta, me bombardeando com perguntas, e perturbando o juízo dos garotos, principalmente essas garotas irritantes. Me controlei muitas algumas vezes para não expulsá-las a base de dentadas, de perto do MEU Jacob. Contudo ele próprio dava jeito nisso, o que me deixava muito satisfeita.


         A melhor coisa em namorar alguém imprinted? É que ele não olha para mais ninguém a não ser você. Dá para se sentir o último biscoito do pacote, mesmo quando não é uma verdadeira beldade. Eu me sinto como uma relíquia, sendo admirada e conservada a todo tempo, debaixo do cuidado exagerado de um colecionador... Parece que ele é uma criança, que está olhando um arco-íris, fascinado com sua beleza única.


         E aos olhos de um vampiro? Como vou explicar... É como ter a comida mais deliciosa do mundo, à sua frente e não poder tê-la. Mas ao mesmo tempo, Jake é um lobo na visão de um lince, e este lince (louco) decidiu amar seu inimigo e cuidar dele com o maior carinho do mundo. Parece meio doentio, não?


        


Já estávamos no último tempo de aula, eram aproximadamente três da tarde quando acabava a aula de química. Os alunos limpavam os materiais do laboratório, cuidadosamente, para que não acabasse em acidentes. Nem preciso dizer que eu estava nervosa vendo todos aqueles humanos mexendo com vidros e coisas cortantes. Contudo, foi muito pior do que eu poderia imaginar.


Jake, com sua força anormal, acabou fazendo farelo de três tubos de ensaio. Obviamente, os vidros finíssimos entraram em sua mão, provocando vários cortes. O sangue escorreu e eu tampei o nariz imediatamente, apavorada, com os olhos arregalados. Meu noivo me olhou, implorando desculpas com suas pérolas negras. Entretanto, era tarde demais.


Aquele cheiro almíscar invadiu minhas narinas, e algo começou a se revirar dentro de mim. A garganta queimando, como se estivessem colocado brasas dentro dela. Era estranho pensar que sentir sede doía, mas no meu caso era a mais pura verdade. Seth não teve muito tempo para reagir, então se colocou entre nós dois, esperando que eu avançasse para Jacob como um animal selvagem e faminto.


Meu coração estava disparado, e a respiração também, infelizmente estava tudo fora do meu controle, seria fácil parar de inspirar se fosse qualquer outra pessoa, mas aquele cheiro era tão viciante que eu mal conseguia para de puxá-lo para dentro de meus pulmões.


Dei alguns passos para trás, vacilante. E Seth me acompanhou, talvez para me segurar caso qualquer outra coisa acontecesse, enquanto as pessoas se reuniam em volta de Jake, fazendo perguntas idiotas tipo “está tudo bem?”. A pior parte é que tudo isso aconteceu em apenas três segundos, e a mão de Jacob estava apenas começando a cicatrizar. Entretanto, o pior já havia acontecido, havia no chão, e logo este sangue.


-Eu passei mal...


Foi a única coisa que reuni forças para dizer, antes de disparar pela porta, numa velocidade humana e chata. Eu precisava correr muito mais que isso antes que o monstro; mais conhecido como meu estômago, decidisse agir. Assim que saí da escola peguei o caminho do bosque, e corri do meu jeito. Numa velocidade que apenas outro vampiro ou os lobisomens conseguiriam alcançar.


Acho que corri por uns quinze minutos, claro que foi contando com a parte lenta a qual eu tive que atravessar boa parte da cidade como humana. Parei perto de um riacho, e observei um leão das montanhas andando do outro lado, provavelmente observando algum animal para atacar. Eu precisava dele.


Dei uns passos para trás e corri, saltando de um lado ao outro do rio. Era como voar, tão gostoso e divertido. O predador rosnou para mim, ficando em posição de ataque, com os pelos eriçados. Eu curvei o corpo, esperando que ele viesse ao meu encontro, e aí acabaria com aquilo de uma vez.


Não deu outra. Ele correu na minha direção, irritado por eu tê-lo atrapalhado. E sem pensar duas vezes eu aparei seu ataque. Rolamos de um lado para o outro, em meio a mordidas e arranhões. Era a primeira vez que eu atacava um felino sem meus pais ou um dos lobos por perto, eles geralmente me davam uma ajudinha. O mamífero era forte, muito mais do que eu podia imaginar. Nós caímos dentro do rio de água gelada, e essa foi minha vantagem. Tudo bem que ele acabou me causando alguns ferimentos profundos, antes que eu conseguisse cravar meus dentes em sua jugular e acabar com aquela luta esquisita.


Palmas.


Olhei para trás assustada, nem havia notado a presença de alguém. Respirei fundo, um cheiro estranho, o qual eu só havia sentido uma vez: durante a batalha com os Volturi. Fui caminhando dentro do rio, para voltar à terra firme, forçando os olhos para decifrar a imagem.


Um homem de pele morena, cabelos e olhos bem negros; estava parado ali perto. Meu coração palpitou, e acabei deixando um sorriso escapar. Eis a única pessoa que se assemelhava a mim, um homem, metade vampiro e metade humano, que também salvou minha vida a seis anos atrás.


Nahuel.


 


Era estranho e confortante, lembrar que eu não era a única aberração deste mundo, e a prova disso era o belo homem que estava bem à minha frente. Ele sorriu para mim, e tirou o casaco marrom, de couro, que estava usando, estendendo para eu pegar. Olhei confusa.


-Sinto tanto frio quanto você, mas mesmo assim obrigada. –tentei ser educada.


-Ah, não é por isso. –até sua voz era bonita, ele insistiu com o casaco e eu fiquei sem entender. –Suas roupas não ficaram em bom estado depois de lutar com aquele cara ali.


Eu olhei para trás, procurando o tal “cara” e lembrei que na verdade era do felino que ele estava falando, acabei dando uma risada, e aceitei o casaco, um pouco sem jeito. Eu havia mesmo ficado um caco, roupas rasgadas, sangue escorrido dos ferimentos que já tinham se curado (graças ao sangue que eu bebi logo depois. Ainda sentia um pouco das dores da luta, e pensaria duas vezes antes de encarar um leão das montanhas, sozinha, outra vez.


 -O que faz por aqui? Nas minhas lembranças você morava na América do Sul. –disse, fechando o zíper do casaco.


-Sim, mas decidi vir por aqui ver como as coisas estavam, afinal já fazem quase sete anos, e você é a única mestiça que eu conheço, além de minhas irmãs.


Aquilo tudo era bem estranho, por mais que eu não conseguisse pensão em Nahuel como um inimigo, afinal somos iguais, e não acho que criaturas raras como nós poderiam entrar em uma luta. Ainda assim, tinha um pouco de receio, pois graças aos meus primeiros meses de vida, aprendi a não confiar em nada nem ninguém, até mesmo em uma pessoa que aceitou vir até aqui (naquela época) para nos ajudar e ver como as coisas poderiam ter sido, caso não tivesse matado sua própria mãe para nascer.


-Vamos até a casa, Edward e Carlisle ficarão satisfeitos em vê-lo.


Ele assentiu, e logo começamos a correr pela floresta outra vez, agora na direção da mansão, quase tão branca quanto nós, dos Cullen. Claro que só levamos alguns minutos para chegar lá, mesmo com Nahuel sendo mais lento que eu.


Comecei a pensar alto, para mostrar ao papai nosso mais novo visitante, se bem que ele conseguiria ler a mente do homem junto a minha. Tinha uma recepção no quintal, com direito a família toda.


-Nahuel, seja bem vido. A que devemos sua presença? –Carlisle foi o primeiro, sempre muito cordial.


-Uma pequena curiosidade. Quis saber como andava a Renesmee, afinal ela já é quase adulta... Somos iguais e ainda assim diferentes, pois ela nasceu de um amor verdadeiro, e sua mãe está viva. –a forma que ele falava era realmente estranha, dava para ver tristeza em seus olhos.


-Claro, nós já imaginávamos que um dia ou outro apareceria para vê-la. –disse mamãe sorrindo.


-Venha, vamos entrar. –convidou Edward.


Fomos até a casa, em meio a sorrisos e conversas. Logo estavam todos sentados pelos sofás, poltronas e cadeiras. Os Cullen, como sempre, muito hospitaleiro, receberam o híbrido como se fosse da família, oferecendo tudo e mais um pouco. Nahuel era excepcionalmente educado, e aceitou apenas um copo de água, dizendo que havia caçado pouco antes de mim.


-Falando em caçar. –ele continuou. –Sua filha é uma ótima caçadora, ela enfrentou um felino de grande porte, sozinha! Eu mesmo não gostaria de encarar um daqueles, parecia faminto.


Meus pais me olharam horrorizados, e eu me encolhi no sofá, com um sorriso forçado. Droga, ele tinha mesmo que dar com a língua nos dentes? Não era mais fácil ter apenas me parabenizado, e não contar para mais ninguém.


-Nessie, o que eu te disse sobre caçar mamíferos carnívoros? –papai ia me dar uma bronca da frente das visitas? –Não, eu não vou falar nada, agora, mas espero que esteja com os ouvidos prontos para quando estivermos sós.


Nahuel fez uma careta, me pedindo desculpas. E finalmente a fixa de alguém caiu, tia Alice olhou em volta, caminhou até o lado de fora, procurou mais um pouco, e retornou para a sala:


-Onde estão os meninos, Ness?


-Ah, Jake se cortou na aula de química. –a sala inteira parecia feita de pedra naquele instante. –Então eu corri, e acabei atacando a primeira coisa não-humana que atravessou meu caminho.


-Eu sabia que era arriscado deixar os dois juntos. –tio Jazz e sua preocupação anormal.


-Não começa. –reclamei. –Eu me controlei muito bem, se quer saber! Consegui sair, e correr como se fosse humana até o bosque. Bom, sobre o leão das montanhas vocês já sabem, e logo em seguida encontrei Nahuel, que me emprestou essa jaqueta e... Ah, vou tomar um banho.


Fiquei de pé e corri para o segundo andar, indo até meu quarto, enquanto escutava a conversa no andar de baixo. Preferi me manter em silêncio, tentando evitar confusões. Era interessante ter Nahuel por aqui, mas por outro lado eu não gostava muito. Não queria dividir atenção com ninguém mais, apenas Jake e Seth já eram muito mais que suficientes.


-Será ótimo se puder passar algumas semanas conosco. –convidou vovó Esme.


-Sim! -concordou Carlisle, animado. –Assim pode nos contar melhor sobre seu desenvolvimento, para podermos ajudar nossa querida Nessie.


-De onde veio esse apelido? –perguntou Nahuel curioso.


-Ah, aquele lobo fedorento colocou nela, assim que a menina nasceu. –tia Rose respondeu ríspida, ao lembrar de Jacob.


-Lobo? –ficou silêncio por alguns segundos, enquanto Nahuel digeria a informação. –Ah, claro, aqueles lobos que estavam aqui quando os tais ‘vampiros da realeza’ apareceram.


-Sim, a matilha de Jacob e Sam. Eles se uniram a nós para proteger nossa filha e o território. Assim acabamos nos tornando aliados para todas as guerras, visto que esta não foi a primeira. –explicou Bella.


-Jacob? Esse foi o cara que se cortou? –além de tudo, Nahuel era curioso demais para o meu gosto.


-Sim, ele é o noivo da Nessie. –Emmett respondeu.


-Noivo? –sua voz era de choque. –Ela está noiva de um lobisomem? ... Quero dizer, isso não é meio, bizarro?


BIZARRO? Quem era ele para chamar meu noivado com Jacob de bizarro? Ele sim que era a coisa estranha por ali, afinal a minha mãe está viva! Estava com tanta raiva que soquei a parede com força, por sorte não quebrou, mas a minha própria mão doeu.


-Nessie, tudo bem? –Jasper perguntou, fazendo com que todos ficassem calmos.


-Sim, não foi nada. –respondi mal humorada.


-Eles nasceram um para o outro, espere ela voltar, que poderá te explicar melhor através das visões. –disse Esme, posso até imaginar o sorrido da mulher. Ela era tão ‘mãe’.


-Eu concordo que é bizarro. –tia Rose e sua língua afiada. –Nessie merecia coisa muito melhor do que um cachorro!


Eu suspirei. Me recuso (graças a Jasper) a tentar lutar contra esses doidos. Assim que saí do banho, Alice estava sentada em minha cama, sacudindo os pés para cima e para baixo. Não tive dúvidas, ela estava tramando algo.


-Vim te vestir, querida. –disse sorridente.


-Vá em frente. –desde quando eu aceito tudo tão tranquilamente? Ah, maldito Jazz.


A roupa já estava separada, e eu apenas comecei a vesti-la. Um short jeans, bem clara, bem acima do joelho, justa demais, e uma blusa com um generoso decote em ‘v’, de seda preta e mangas longas. Vesti sem reclamar, colocando All Stars de cano longo (precisamente até o joelho), em seguida, e desci, com os cabelos úmidos. Bah, eu gosto de rock, e as vezes esse lado ativa 9pelo menos quando Alice não age em excesso).


-Nahuel, eu vou colocar sua jaqueta para lavar, e quando tiver pronta eu devolvo.


-Ah, obrigado. –ele sorriu gentilmente.


-Me dê, querida, deixa que eu faça isso por você. –Esme sorriu, pegando o casaco marrom de minhas mãos. Ela gostava mesmo de cuidar da casa.


-E obrigado pelo convite, mas não posso aceitar, não quero dar trabalho à ninguém, e além do mais eu nem trouxe nada. Só a roupa do corpo e disposição para ficar um dia.


Isso, um dia só e suma daqui.


-Nessie. –papai apenas disse meu nome, sem que ninguém entendesse.


Dei de ombros, e fui caminhando até a varanda. Tia Alice se colocou ao meu lado rapidamente, balançando o corpo para frente e para trás. Ouvimos um barulho de moto, e meus olhos brilharam, meus amores estavam aqui. Claro, foram direto para a garagem, guardar suas respectivas (e lindas) K1300.


-Acho que ele vai morrer de ciúmes, ainda mais com você vestida assim. –ela sussurrou para mim, naquela velocidade vampiresca.


-Droga Alice, você só mete em confusões!


-Vai ser divertido.


Disse ela, rindo maliciosamente. Eu respirei fundo, e ouvi a porta da garagem abrindo outra vez, e incondicionalmente um sorriso me escapou. Não pude me conter e corri até eles, me atirando nos braços de Jacob com todo meu ‘peso extra’. Ainda assim ele me segurou firme e sorriu torto... Me derreti na mesma hora, perdendo as forças, enquanto Jake me tomava nos braços.


-Visitas? –ele me perguntou.


-Sim, mas tente se acalmar. –minha frase só fez tudo piorar, e seus braços me forçaram contra seu corpo.


-Cheiro estranho... Por acaso é aquele...?


-Sim, o híbrido, Nahuel. –disso, o interrompendo. -Hey Seth, chega aqui.


E assim mostrei para os dois, de uma vez, o que aconteceu. Graças a minha nova habilidade de captar sentimentos e pensamentos, percebi uma inquietação da parte de ambos, ao me verem com as roupas rasgadas na frente de Nahuel.


         -Meninos, tentem se controlar. –eu ri, após mostrar a lembrança. –Vocês trocavam minhas fraldas e estão reclamando do nadinha que ele viu!


         -Não por muito tempo, afinal você começou a andar, falar e saber se vestir muito antes do que qualquer um de nós imaginaria. –respondeu Jake.


         -Ah, você preferia trocar minhas fraldas por uns quatro anos então? –falei sarcástica, Seth riu.


         -Claro que não, graças a Deus você cresceu muito rápido e agora já posso me aproveitar. –respondeu Jake, com um sorriso malicioso.


         Eu virei um morango em segundos, e escondi meu rosto no peito do rapaz, enquanto seu corpo sacudia numa risada, e o outro lobo o acompanhava. Estávamos na varanda quando comecei a pensar como Seth andava se sentindo. Assim que Jake apagasse de sono eu chamaria Seth para conversar.


-Alguém por aqui perdeu uma meia vampira pelo caminho? –disse meu amado, assim que entramos na casa. Todos riram levemente, exceto Nahuel.


-Você deve ser o Jacob. –disse o híbrido.


-O noivo da Nessie. –respondeu, estendendo a mão.


Eu gelei naquele instante, parada atrás de Jake, como se estivesse escondida. Dava para sentir e ver as faíscas de fogo que irradiavam dos corpos de ambos. Era como se dois inimigos mortais estivessem numa trégua por um motivo único, e o meu medo, era que este motivo fosse eu.


-Bom, como íamos dizendo, agora teremos mais um na casa. Nahuel vai morar conosco por algum tempo, para que eu possa estudá-lo melhor e ajudar Nessie no que ela precisar. –disse Carlisle.


Para minha infelicidade, eu teria que agüentar esta pequena luta de olhares por mais um bom tempo, e talvez piorasse conforme a paciência dos dois fosse esgotando. Contei até mil naquela noite, para aceitar a proposta de minha mãe de dormir sozinha. Ainda tive que fazer janta para os três e dividir a atenção que era de Jake e Seth.


Foi bem engraçado ver Jacob relutando em ir tomar banho, e ter que me deixar ‘sozinha’ com Nahuel. Ele fez um gesto engraçado para Seth, mandando-o ficar de olho e eu simplesmente adorei aquela reação. Era de subir o ego, ver Jake-Deus-grego sentindo ciúmes de mim!


-E então, o que você faz da vida, Renesmee? –ele começou a puxar assunto.


-Ah, eu agora estou na escola, sabe, aparências. Afinal, o Dr. Calisle não podia adotar mais uma menina que não estudasse. –respondi gentilmente.


-Então na mentira vocês são todos filhos dele?


-Não só na mentira, aqui nos consideramos uma família. Carlisle e Esme são os pais, todos os obedecemos ele, além disso, todos aqui tiveram a vida salva por ele, e eu também posso me considerar um desses sortudos, afinal, se não fosse por meu avô os Volturi teriam sido muito mais hostis.


-Entendo. Isso é bem engraçado, essa história de família me parece meio surreal. –eu percebi que Nahuel se perdeu em seus pensamentos.


-Você tem sua tia, ela é sua família, então não venha me dizer que não entende. –respondi seca, Seth riu.


-Mas não é como aqui. Minha tia não gosta de mim tanto quanto vocês gostam uns dos outros, afinal, eu sou o monstro que matou a irmã dela e a transformou em um ser imortal bebedor de sangue.


Senti muita pena dele naquela hora. A sinceridade cruel e dura, por trás das palavras de Nahuel, me fez tremer... Em pensar que eu quase fiz o mesmo com a minha preciosa mãe... Tive um impulso imediato de abraçá-lo, afinal, não havia ninguém no mundo para confortá-lo, visto que sua tia não se importava muito com os sentimentos do garoto. Na verdade, ela só estava com ele porque sua irmã pediu antes de morrer.


-Está tudo bem agora. Sei que é difícil esquecer o passado, mas pense que ela estava feliz. Não foi um assassinato, e sim uma troca. Sua mãe trocou a vida dela pela sua, e você não tem que se lamentar por uma escolha que ela fez.


Senti meu ombro ficar molhado, ele estava chorando?


Aquilo me chocou ainda mais, provavelmente o pobre homem nunca teve ninguém com quem contar e desabafar, ninguém que entendia verdadeiramente seus sentimentos de culpa e sua natureza diferente. Afinal, ele não viva com suas irmãs.


Seth ficou nervoso, andando de um lado para o outro, falando para Nahuel ficar calmo, que tudo estava bem agora. Mas acho que o problema não era unicamente o choro repentino do rapaz, e sim, a reação de Jacob se aparecesse e me visse abraçando o mestiço. Ah, era legal que Jake sentisse ciúmes, mas aquele coitado precisava de mim, alguém que fosse semelhante.


Juro que eu mesma me assustei com minha mudança repentina de pensamento, mas entendi rápido o porquê. Éramos iguais, e nada podia mudar isso, talvez ele fosse o mais próximo que eu teria de uma ‘raça’. E além da semelhança, eu sempre fui coração mole. Odeio quando alguém chora perto de mim, e geralmente tento ajudar, isso quando não começo a chorar também!


-Hey, ta tudo bem, não precisa ficar assim. Você já tem 150 anos, não tem mais idade pra chorar. –brinquei, e parece que deu certo.


Nahuel e Seth deram uma pequena risada (com a diferença que a de Seth era nervosa). Ele se afastou de mim e enxugou os olhos sem deixar que nós víssemos seu rosto e em seguida abriu um sorriso. A partir daquele momento, comecei a ver Nahuel era apenas uma criança carente, até o jeito dele não parecia muito o de um adulto. Era como Seth, eternamente um menino.


-Desculpe por isso. É que ver sua família e pensar como a minha poderia ter sido... Se aquele imbecil do meu pai tivesse algum sentimento pela minha mãe, ela poderia estar viva agora, ao meu lado.


-Acredite, eu sei como se sente. Quando eu estava dentro da Bella temia pelo futuro dela. Eu sabia o jeito que teria que nascer, mas tive a sorte de ter uma família de vampiros ao meu lado... Bom, acho que a sorte grande, na verdade, foi ter Edward com seu poder de ler mentes. Ele viu que eu a amava e não queria feri-la.


-Sorte mesmo. –ficou um silêncio horripilante por algum tempo. –Eu fico me perguntando quantos de nós há por ai. Se existe o suficiente para formar uma nova raça.


-Acho que nenhum de nós tem como saber a resposta. –Seth finalmente falou, eu já estava ficando preocupada com ele, já que o menino-lobo nunca foi de ficar em silêncio por muito tempo.


-Só andando por aí, e ainda assim seria difícil de achar. –falei.


-Não exatamente. Com os poderes que sua tia e seu pai têm, seria muito fácil encontrar mestiços. Ela poderia vê-los nas visões, e seu pai, ouvi-los há metros de distância. –disse Nahuel, e eu não pude discordar dessa vez.


-Sim, mas nem todos podem ser como nós. Não duvido nada que existam híbridos mais perversos que os próprios Volturi, então eu prefiro ficar por aqui, sem saber o que anda por esse mundo.


Jacob apareceu, com cara de poucos amigos. Usando uma blusa preta e calça jeans puídas, do jeito ‘encrenqueiro’ de sempre. Eu sorri e passei meus braços em volta de seu corpo quente. Ele, por sua vez, me deu um beijo no alto da cabeça, e apertou meu tronco contra o seu.


-Te amo. -sussurrou em meu ouvido.


-Eu também.


Houve uma inquietação na sala. Vinda dos dois meninos que estavam ali. Seth virou o rosto bruscamente, encarando fixamente para um quadro (de minha autoria) que estava perto a escada. Enquanto Nahuel pareceu ficar sem chão, sem saber o que fazer. Então decidiu se levantar e dar uma volta.


Jake rosnou baixinho, e eu percebi que seriam longas semanas, enquanto esses dois estivessem vivendo sob o mesmo texto. Respirei fundo, juro que a última coisa que eu queria era arranjar problemas. Mas pelo visto os problemas gostavam mesmo de me perseguir.


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Notas finais do capítulo

Que tal mais um ser irritante pra perturbar?
Lembro que escrevi o destino dele ontem /devil. E estou matando vcs de curiosidade falando disso agora, não? Muhauhauhauah

Bjoo povo!!
NiaBlack.



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