Era estranho ir para a escola nas costas de Seth, quero dizer, não estranho exatamente, mas sim diferente. Estava tão acostumada com ele que estar com outra pessoa, mesmo sendo meu atual namorado me parecia esquisito. Namorar Seth já era bastante estranho. Por mais que ele fosse simplesmente perfeito, amável, carinhoso e me tratasse como uma verdadeira princesa, eu queria que fosse ele.

Estávamos na estrada, na moto azul agora. Eu apenas observava as folhagens, outra vez, enquanto pensava sobre o assunto. Tia Alice estava muito preocupada com o meu futuro, afinal, ela não conseguia ver nada, já que havia dois lobos atravessando meu caminho.

Ela nos arrumou outra vez, roupas lindas, caras, e de tecidos de boa qualidade. Eu realmente não ligava nada para uma etiqueta, mas ela parecia se divertir com isso, então eu a deixava brincar. Seth acabou virando um boneco nas mãos dela, com uma desculpa que “você está namorando a minha sobrinha agora, então vai se vestir descentemente para andar ao lado dessa beldade!”. Eu? Isso me parecia mais uma piada.

Eu usava uma calça jeans justa (já disse o quanto eu amo jeans?), num tom azul-acinzentado. Junto com uma blusa preta de botões, com um casaco preto bem comum, por cima. O qual Alice xingou com todas as letras por não combinar perfeitamente com a roupa. Ah, claro, tênis. Eu tinha toda a classe e percepção dos vampiros, mas às vezes meu lado destrambelhado da mamãe mostrava sua existência, por isso, nada de salto alto.

Seth estava bonito, com uma calça não muito larga, num jeans escuro, e uma blusa de manga comprida verde-escura. O tecido era bem fino para que o garoto não morresse de calor ali em baixo, mas ninguém perceberia se não tocasse muito nele. E eu não deixaria ninguém encostar no meu namorado...

Escola outra vez.

Já era sexta feira, e ele não havia aparecido na mansão. Claro que eu nem preciso comentar que estou morrendo de saudades. Entretanto, todo aquele mal estar estava bem menor, visto que a companhia de Seth era simplesmente perfeita. Ele me mantinha distraída o tempo inteiro. Ou quase.

Suspirei ao chegar lá, vendo aquelas garotas irritantes esticarem seus pescoços de girafa para nos encarar. Estavam procurando Jacob, ouvi bem as frases e Seth também. Ele sorriu para mim e estendeu a mão, eu mordi o lábio inferior, e forcei um pequeno sorriso antes de entrelaçar nossos dedos.

Os comentários foram agradáveis aos meus ouvidos, na verdade, foram satisfatórios. As garotas estavam se rasgando de inveja, ciúmes, e tudo mais que poderia se sentir de ruim. Mas claro que algumas davam suspiros de alegria por ele estar livre, e apenas Seth comprometido.

Estaria tudo bem se não tivesse a infelicidade de ficar sozinha. Aquilo sim era terrivelmente doloroso. Sem Seth ao meu lado, meus pensamentos voaram para o domingo, o pior dia de minha vida. O dia em que eu morri e renasci das cinzas que sobraram. Meu amor por ele era impossível de negar, mas eu precisava, pela minha própria felicidade.

Fiquei na minha, como sempre, sem tentar fazer amizade com muitas pessoas. Mas eu senti que tinha um ímã, pois vários garotos e garotas vieram falar comigo. Me perguntei porque não fizeram isso na semana passada, e acho que a resposta era realmente ele. Visto que ficava emburrado com qualquer passo que dessem na minha direção.

-Oi.

         Eu estava andando pelo corredor quando uma voz feminina me vez estremecer. Eu estava tão distraída em meus pensamentos, que nem percebi a aproximação de um humano. Me virei para ver e mal pude acreditar, era a garota ruiva que andava com aquela tal de Kate.

         -Oi. –falei de mau humor. –Posso ajudar?

         -Seu nome é Renesmee, não é?

         -Sim. –estreitei os olhos, o que aquela garota queria comigo? –E o seu é...?

         -Ah, eu me chamo Stacy. Olha, vim me desculpar pelo nosso comportamento na semana passada. Sabe, a Kate queria muito ter falado com você, mas vocês não têm aulas juntas hoje... Então eu estou falando por nós.

         -Ah. Tudo bem, sem problemas. Contando que não decidam dar em cima deles de novo. –ops, falei demais.

         -Deles? Como assim? Semana passada nós achamos que o outro, Jacob, era seu namorado, mas agora vimos que é aquele outro garoto... Então qual o problema em ficar com o de cabelos compridos?

         Tive que respirar fundo e contar até cem mentalmente, com a velocidade dos vampiros de falar. Percebi que minha boca se movia involuntariamente enquanto eu tentava não bufar de ódio.

         -Não interessa. –respondi malcriada.

         -Ai, me desculpe, eu não queria ofender nem nada...

         -Tudo bem, mas olha, não se meta com eles, para o seu bem. J-Jacob não quer saber de nenhuma garota, até porque ele tem uma namorada.

         -Ah, tem é? –outra voz, que parecia mais um guincho. Era Kate.

         -Sim. –respondi entre dentes.  –Para o seu bem, não tente nada com ele, ou a Leah vai destruir sua vida, e não estou falando literalmente. Se você tem amor à sua integridade mental e física, fique bem longe dele.

Ela suspirou, parecia decepcionada, mas a parte mais estranha de tudo era como elas estavam me tratando bem. Como assim? ... Tudo bem, vai ver era simplesmente inveja, e agora passou, pois descobriram que ele não era meu namorado.

-E então...? –Kate começou uma tagarelice chata. –Renesmee, que nome comprido.

-Homenagem às minhas avós. Mas todo mundo me chama de Nessie.

-Nessie. –senti um tom de ironia na frase. –Claro, é bem mais curto que seu nome real. E então, já conhece a escola?

-Sim, Scott me mostrou semana passada.

-Scott? Aquele loiro da classe de física? –nós três assistíamos a essa mesma aula, juntos.

-Sim. –suspirei. –Bom, se me derem licença, vou almoçar e encontrar meu namorado.

-Ah, claro, nós também vamos. Vem com a gente. –Stacy sorriu para mim.

-É, vem com a gente, vamos retocar a maquiagem antes de ir para o refeitório encontrar os meninos bonitos.

Kate riu, e eu rejeitei mais uma vez. Contudo a insistência foi tanta que eu não pude negar o convite, pensei que seria falta de educação de minha parte. Fui com as meninas, acreditando que tudo foi apenas um mal entendido.

Eu entrei primeiro, assim que chegamos ao banheiro. Fui andando para lavar as mãos antes de comer, foi então que percebi um movimento estranho, mas antes que pudesse fazer qualquer movimento. Senti uma dor se alastrar pela minha cabeça, e mais uma vez, estava dormindo.

Acordei no banheiro, trancada num boxe e debaixo do chuveiro ligado. Meu corpo chacoalhava sem parar, de frio por culpa daquela água congelante que caía sobre mim. Roupas? Só havia trapos em meu corpo.

Sentei com dificuldade, meu corpo inteiro estava dolorido. Esfreguei os olhos e forcei um pouco a vista, tentando procurar o motivo daquilo tudo, e entender o que estava acontecendo. Lembrei das garotas, lembrei da pancada e coloquei a mão na parte lateral da cabeça, onde uma delas havia quebrado um taco de beisebol.

Eu era forte, mas ainda meia-vampira, e sentia dor, mas não tão grave quanto seria caso fosse uma humana inteira. A água escorria por meu corpo, cheio de marcas roxas incrivelmente dolorosas. Passei a mão por meu rosto, havia apenas um corte irritante que atravessava o lado esquerdo de meus lábios, passando um pouco na direção do queixo.

Fui tirar os cabelos do rosto e passei a mão sobre a cabeça. Cabelos... Cabelos? Tremi ainda mais, e dei um salto para ficar de pé. O mundo girou e eu caí deitada, outra vez no chão de mármore do banheiro.

Decidi me levantar lentamente. Aos poucos, para não tomar outro tombo daquele. Abri a porta com um soco, pois estava trancada pelo lado de fora. Acabei estourando a fechadura, mas isso pouco me importava agora. Fiquei olhando meus próprios pés, tentando tomar forças para encarar o espelho.

As lágrimas rolaram de desespero, pois eu já sabia o que havia acontecido comigo. Deus, como as pessoas podem ser tão cruéis? Ou será que eu nasci para ser infeliz... Meu coração ia pular de meu peito devido a força com que batia. Meu corpo ainda tremulava sem parar.

Levantei a cabeça de uma vez e soltei um grito horrível que ecoou pelo corredor do banheiro feminino. Eu caí sentada no chão, chorando desesperada. Segundos depois havia várias garotas lá dentro, tentando me acalmar.

Elas destruíram meu cabelo.

Cortaram igual a cara suja delas, na altura do pescoço, completamente torto. Elas arrancaram a coisa mais linda que existia em meu corpo. A coisa que ele mais gostava em mim, e que o meu namorado também gostava.

Ouvi os gritos de Seth, mandando que o deixassem passar, pois eu era sua namorada. Pude ver a cena, os garotos o segurando para que ele não invadisse o banheiro, enquanto ele tremia, tentando evitar a transformação. Por sorte, a vantagem do medo que um lobo causava sobre os humanos comuns funcionou.

A porta se escancarou, e eu não faço idéia como ela se manteve inteira com o soco que ele havia dado para abrir. As meninas ao meu redor se encolheram, abrindo espaço para que Seth se aproximasse de mim.

Eu não o olhei, não tive coragem. Apenas continuei agarrada aos meus joelhos, aos soluços. Senti seus braços quentes me envolverem e me tirarem daquele chão úmido e frio.

Não me lembro bem das coisas, sei que fui parar no hospital, com o diretor da escola e o chefe de polícia Swan (mais conhecido como vovô Charlie). Apenas ele e Seth ficaram no quarto comigo, enquanto ele faria as perguntas necessárias para averiguar o caso.

-Trote. –ele resmungou. –Será que esses jovens não aprendem nunca? Olha o estado dela! Está toda machucada!

-Fique calmo vovô... –respondi sem vontade. –Isso vai se curar mais rápido do que você pensa.

-Parece que o cabelo doeu mais que as pancadas. –Seth tentou sussurrar para ele, e meus olhos se encheram de lágrimas.

-Liguei para sua mãe Nessie, ela e Edward estão voltando da faculdade. Seu pai me disse que Carlisle estava para chegar hoje de viagem, então assim que ele pisar em Forks, vai te examinar para ter certeza que não houve nada grave. Você tomou uma pancada muito forte na cabeça, se fosse uma pessoa normal teria no mínimo um problema sério.

-Eu estou bem. –respondi outra vez, com a mesma força de antes. Ou seja, quase nula.

-Vamos descobrir quem foi Renesmee, isso eu te prometo, e essas garotas vão pagar pelo que fizeram.

-Eu sei quem foi, mas não vai adiantar falar, não temos provas de nada. Apenas meu depoimento contra os delas. Eu estava sozinha no corredor, e ninguém nos viu entrar no banheiro.

-Nessie, meu amor. –Seth estava muito preocupado, e percebi que vovô não gostou de ouvir a frase. –Vamos ter que ficar aqui no hospital até seus pais chegarem. E sabe como Bella é, ela não vai sossegar até Carlisle aparecer por aqui.

-Sem problemas... Não tenho nada interessante pra fazer mesmo.

Dei de ombros. Meu ódio estava superando as barreiras do meu auto-controle, eu estava falando friamente, da mesma forma que falei com ele no dia que o vi beijando a Leah. Pensar naquilo doeu outra vez, contudo, meu cabelo realmente estava me incomodando mais.

-Ligaram para Alice? –perguntei.

-Ela estava caçando pelas fronteiras do Canadá, deve chegar aqui em dez minutos. –vovô foi rápido. –Sei que não é hora pra isso, mas vocês estão mesmo namorando?

Ele falou a palavra como se fosse um xingamento. Ouvi Seth rir, e acabei deixando um sorriso escapar, só mesmo Charlie e Seth para fazerem essa droga de momento engraçado.

-Sim, estamos. –Seth respondeu.

-Ah. Juro que achei que fosse Jacob que...

Apertei os olhos, e olhei para Seth, que fazia vários gestos, tentando impedir Charlie de falar sobre ele. Mas era tarde. Minha mente começou a vagar outra vez. Fiquei me perguntando o que estaria fazendo agora. Se ele sabia o que havia acontecido comigo, ou sabia e deixou para lá.

As facas invisíveis agiram novamente. Era terrível pensar que ele estava me evitando, que não viria me ver mesmo sabendo o que aquelas imbecis haviam feito. Respirei fundo, numa tentativa inútil de controlar o choro.

-Nessie!

Tia Alice e tio Jasper estavam de pé na porta. A atmosfera do lugar ficou tranqüila e amável demais para meu gosto. Nem raiva de Jazz, por ter me deixando calma, eu pude sentir.

-Tia, pode dar um jeito no meu cabelo?

O queixo dela caiu ao me ver. Claro que ela foi rápida o suficiente para evitar uma reação ainda pior. Alice segurou um grito e uma expressão de horror que tentaram se formar de imediato. Era visível que estava tão arrasada quanto eu.

-Claro, minha querida. Eu trouxe uma tesoura... Charlie me ligou e falou que havia feito isso com você, mas eu não achei que estaria desse jeito.

Jazz fez ainda mais esforço para conter a ira de Alice, e evitar que ela simplesmente esmigalhasse as pessoas como papel. Imagine quando tia Rose visse, seria impossível segurá-la.

-Eu não vou contar quem fez, para evitar um problema maior. Quando a tia Rose chegar, ela vai virar uma fera, e tenho certeza que se alguém der com a língua nos dentes, ela mesma vai se vingar das garotas, então...

-Não se preocupe Nessie, ninguém vai falar nada. –tio Jasper sorriu para mim, me tranqüilizando ainda mais.

-Obrigada.

Sentei na cama, para que Alice desse um jeito em meus cabelos. Pelo menos uma coisa me reconfortava, que eles iriam crescer novamente, lindos, cheios de cachos herdados do vovô Charlie. Alice foi muito rápida. A parte superior de meu cabelo era bem lisa, e também as meninas haviam  cortado de forma irregular, por isso, acabei ficando com um corte bem similar ao de tia Alice. Pontas repicadas e espetadas em várias alturas.

Me senti melhor, mas ainda assim, sentia falta do comprimento e dos cachos avermelhados que eu possuía anteriormente. Os humanos eram isso? Seres invejosos e vingativos, que não se continham e formavam guerras desnecessárias em qualquer situação. Mesmo tão besta quando aquela?

Alguns minutos de silêncio se passaram. Seth estava sentado ao meu lado da cama, acariciando minha mão, quando a porta abriu de novo.

-Filha!

Papai e mamãe falaram ao mesmo tempo, dando um passo rápido ao meu encontro. Edward foi rápido e captou tudo que estava na minha mente. A parte superior de seus lábios repuxou para cima, num rosnado de ódio. Toquei na mamãe, dando toda a visão do que acontecera.

 Foi um dia caótico e totalmente fora do comum para mim. Meus avôs e meus tios chegaram de viagem mais tarde, contudo, eu já estava em casa, no sofá, com Seth me dando colo enquanto assistíamos a um filme irritante sobre amor.

-Minha linda, o que fizeram com você?

Os olhos de Rosalie mostravam uma tristeza ainda maior que a minha. Provavelmente estava com raiva, mas Jazz estava controlando nossos sentimentos, para ninguém explodir de repente.

-Rosalie, me deixe examiná-la primeiro, depois você faz as perguntas. –vovô com sua voz tranqüila e paciente.

-Tudo bem. Venham aqui, eu conto para vocês de uma vez.

Todos que haviam chegado tocaram em alguma parte de minhas mãos, assim dei a visão do acontecimento outra vez. Ainda assim, ninguém demonstrou raiva, apenas mágoa e pena. Não gostava disso, mas era inevitável.

Doutor Carlisle me examinou, e disse que em dois ou três dias nenhuma marca estaria em meu corpo, entretanto, o cabelo ia demorar a crescer. Tentei manter a calma, e pedi para que me deixassem quieta hoje. Encarreguei papai de contar sobre ele e meu novo namoro com Seth, pois estava sem cabeça para falar naquilo outra vez.

Ele estava me fazendo muita falta, tanta, que voltei a chorar outra vez. A paciência de Seth me espantava. Ele sabia pelo que eu estava chorando, mas ainda assim tinha muito cuidado comigo. Me carregou no colo até o chalé. Bella convenceu Edward a nos deixarem sozinhos outra vez.

-Desculpe por tudo isso.

Falei sinceramente, quando ele deitou na cama, me espremendo contra a parede enquanto se ajeitava. Seth não era tão gigante quando ele, mas ainda assim, era bem alto e espaçoso. Por mais que a cama fosse grande, jamais seria suficiente. Ele me colocou sobre seu peito outra vez, e eu fique apenas ouvindo aquele som lindo do bater de seu coração.

-Você não tem que se desculpar. Na verdade, eu é que tenho, deixei isso acontecer com você. –ele mordeu os lábios, era óbvio que se sentia culpado.

-Que isso, não fale essas coisas, nem mesmo Alice poderia prever o que aconteceu. Foi de repente. Eu dei uma chance a elas, achando que foi só um mal entendido, mas pelo visto, era uma busca de vingança por algo que eu não fiz.

-Eu te amo, Nessie.

-Eu também te amo, Seth.

Nos beijamos profundamente.

Não queria pensar como seria o dia seguinte. Quando a ficha da semana inteira caísse diante de meus olhos. Teria que enfrentar um problema sem ele e pior, sem nem ao menos vê-lo.

Eu estava morta de saudades. Por mais que, agora, meu coração estivesse dividido entre ele e Seth. Pois o lobo de cor areia simplesmente era a criatura com o coração mais puro e belo que já havia pisado neste mundo. Sua compaixão gerava sentimentos bons no meu interno. Eu algumas vezes hesitava ao pensar nele.

Ouvi uns barulhos do lado de fora. Meu pai e tio Jasper. Provavelmente vieram conferir se estava tudo bem comigo e perceberam que não era bem assim. Senti uma onda de sono me tomar... Bom, não fui só eu. Seth piscou várias vezes, de forma lenta e relaxada. Até que pegamos no sono de vez.

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