Mais um sábado daqueles! E meu humor também não ajuda nadinha... Claro que a família em peso estava aqui, tentando me animar, mas nada estava dando certo. Eles precisariam de, pelo menos, mais um mês inteiro contando três piadas por segundo para conseguir.

Estávamos na mansão, mais precisamente na cozinha, enquanto vovó Esme preparava comida... Era algo italiano, não sei bem o nome, pelo menos tinha um cheiro gostoso. Seth estava empolgado, e ficava repetindo que adorava aquele treco, que a meu ver, pareciam vermes gordos feitos de massa de batata.

-E você, minha linda, está melhor hoje? –a voz angelical de minha avó pareceu um sino me despertando.

-Hã? Ah, estou sim. –respondi de má vontade, tentando ser simpática.

-Porque vocês não vão dar um passeio hoje, crianças? –ela teimava em nos tratar como se tivéssemos cinco aninhos.

-Ótima idéia querida. –vovô Carlisle entrou na cozinha. –Seth, leve a Renesmee para dar uma volta em Port Angeles, comprar algumas coisas. Alice me disse que você anda quase tão interessada em roupas quanto ela.

-Bom, não tanto quanto ela, eu só gosto de estar bem vestida.

-Bem vestida e de tênis! Carlisle, ela destrói os visuais lindos que eu crio para ela! –Alice invadiu a cozinha feito uma bala.

-Ah, não começa, Alice, a Nessie fica linda até com os trapos que usa pra dormir. –Seth sorriu e abraçou minha cintura, me dando um beijo na bochecha. Ouvi meu pai resmungar alguma coisa impossível de entender.

-Exagerado... Podem falar, eu sei que estou ridícula com esse cabelo.

-Você tem sorte por eu não me sentir ofendida, Nessie. –Alice me olhou curiosa. –Não ficou tão ruim assim, claro que eu também preferia como antes. Mas você não precisa se preocupar, eu vi que seu cabelo vai estar lindo quando o ano terminar.

Estreitei os olhos. Se Alice não podia me ver, como sabia que meu cabelo estaria assim? Bah! Vai ver era só uma mentira para tentar me animar. Todos começaram a tagarelice outra vez, mas eu decidir não me meter. E acabei escutando alguns resquícios da conversa de meu pai e minha mãe na sala.

-Ela está sentindo falta dele, dá para ver. –Edward falou para ela. Fiz questão de cantarolar mentalmente para não pensar no assunto.

-Sim, Renesmee está bem triste por Jacob estar longe de nós. Mas ela fez sua escolha, decidiu ficar com Seth, e agora tem responsabilidades quanto a isso. Ela não pode simplesmente esquecê-lo e correr atrás do outro, caso contrário irá magoar Seth, e sei que nossa filha jamais desejaria isso.

-Não dou cinco meses para eles e... Nessie pare de prestar atenção aqui.

-Desculpe. –murmurei da cozinha.

Seth me olhou preocupado e eu tentei sorrir, para tranqüilizá-lo. Não deu certo e o menino-lobo me puxou para um daqueles abraços de urso, enquanto bagunçava meus cabelos curtos, num afago meio brutal.

-Vou te levar a La Push.

Seth fez a casa inteira parar. Alguns rosnados e reclamações estouraram no lugar. Eu mal consegui distinguir as vozes de tamanha confusão. Carlisle falou alguma coisa e todos pararam na mesma hora, enquanto eu tentava assimilar a frase.

-É sério, sei que você não está agüentando ficar aqui olhando para o teto, e também sei que você ama aquela praia... De qualquer forma a Sue me pediu para ir vê-la hoje, e como eu me recuso a te deixar por, até mesmo, meio segundo. Vou te levar comigo.

-Não sei se isso é uma boa idéia. –vovô se opôs.

-Você enlouqueceu cachorrinho? Se tirar a Nessie daqui e levar para aquele ninho de animais, eu juro que arranco sua cabeça e...

-Chega, Rosalie. –Esme e sua autoridade inigualável.

-Você quer ir, filha? –papai falou, aparecendo na porta, com Bella ao seu lado.

-Não sei...

-Olha Nessie, entendo que você não queria ir para vê-lo, mas ele não está em La Push, eu evitei falar sobre isso para que você não sofresse. Mas na segunda, quando você decidiu que ia namorar comigo, Leah me ligou, e disse que Jake havia se transformado em lobo e começou a correr sem parar. Desde então ela me mantém informada.

Eu fiquei perplexa.

Ele realmente esteve correndo essa semana inteira simplesmente porque eu decidi que ele não pisaria mais aqui? Ah, não! Correção, a culpa era unicamente dele e se não tivesse decidido beijar a Leah, nada disso estaria assim.

-Bom, já que ele não está lá... Seria uma boa idéia dar um oi para Billy e Sue.

-Seu avô está lá. Sabe como eles ficaram próximos depois da morte de meu pai. –Seth deu de ombros. –Agora mamãe virou cozinheira particular para esses dois velhos.

Claro que Seth abriu um sorriso lindo, mas ainda não era aquele sorriso de lobo, faltava uma dose de malícia para que se igualasse.

Fui me arrumar, enquanto prestava atenção na conversa desanimada dos vampiros da casa. Parece que papai estava muito preocupado, visto que tia Alice não conseguia ver nada ao meu redor, ainda mais quando ia para La Push. Além de toda a preocupação de costume, ainda havia um outro porém. Da ultima vez que eu pisei naquela praia, voltei para cá com um pedaço faltando.

Tomei um banho fervente, enquanto a malandra da Alice preparava roupas para mim e meu namorado. Será possível que ela sempre tinha algo guardado para qualquer ocasião? Não duvido nada que tivessem até mesmo vestidos longos e ternos em algum lugar da casa, esperando a oportunidade de, talvez, um casamento.

Meu corpo inteiro travou com a palavra casamento, enquanto lágrimas enchiam meus olhos. O sabonete escorregou da minha mão... Ao mesmo tempo em que eu tinha repulsa por toda aquela atenção excessiva que uma noiva ganhava num casamento, eu, um dia, sonhei com um vestido branco simples, ao lado dele, de terno e gravata.

Fui dar um passo para trás, e esqueci que havia deixado o sabonete cair, acabei pisando nele e tomando o tombo mais ridículo da minha vida. Será possível que nessa última semana eu apenas cairia? Não importando o sentido da palavra.

-Nessie? Machucou? –papai ouvindo meus pensamentos de novo. Aquilo estava me dando nos nervos.

-Não... –murmurei, ficando de pé e olhando um novo roxo na grande coleção que havia em meu corpo.

-Filha! Que barulho foi esse? –mamãe me chamou, preocupada.

-O que aconteceu? –a voz era de Seth.

-Ela caiu, mas só bateu o cotovelo, e acho que quebrou algo no boxe. –a voz tranquila de meu pai acalmou os vampiros mais preocupados da face da terra. Que família!

-Quer que eu dê uma olhada, querida? –vovô, como sempre atencioso.

-Não, estou bem mesmo. Obrigada.

-Nessie, já está saindo? Vou levar suas roupas. –a voz de tia Alice vinha de outro cômodo.

-Pode trazer.

Eu saí do banho, enrolada numa toalha. Atravessei o corredor branco até a réplica o meu quarto do chalé. Claro que a vampira baixinha de cabelos negros já estava lá dentro, com um sorriso lindo... Que me pareceu um tanto maléfico.

-O que você armou dessa vez, Alice? –perguntei na mesma hora, ao ver sua expressão de levada.

-Eu? Nada, só vim aqui te deixar linda. Por incrível que pareça, pude ter uma visão. Você vai ficar sozinha com a Sue por alguns minutos, e alguns garotos Quileutes vão te admirar bastante. Foi aí que vi a roupa que você estará usando.

-Lá vem... –resmunguei.

-Relaxe menina.

Ela sorriu e me mostrou uma calça xadrez, preta, com as listras bem finas, em cinza. E uma blusa vinho de seda, cheia de detalhes. Com mangas compridas e gola alta. Para esconder os hematomas ridículos que aquelas vacas me deixaram. Bom, as roupas conseguiam omitir as marcas roxas, nas o corte no lábio e o cabelo eram mais visíveis do que eu gostaria.

Enquanto eu me aprontava e tentava dar um jeito naquela juba, Alice desceu para arrumar Seth. Assim que eu apareci na sala, tive vontade de mordê-la. Ela simplesmente havia combinado as nossas roupas. A calça de Seth era preta também, e a blusa num modelo masculino similar à minha, pelo menos a cor era outra. Azul escuro.

-Tchau, gente. –corri, dando um beijo na bochecha de cada um. –Prometo voltar inteira.

Edward deixou um risinho nervoso escapar, e Bela esmagou a mão dele, que estava entrelaçada com a dela. Querendo ou não, ele fez uma expressão de dor, visto que mamãe ainda podia ser considerada uma vampira transformada recentemente. Sua força havia diminuído desde a mordida, mas ainda estava mais forte que os outros.

Eu e Seth subimos na moto, resmungando das estranhas combinações que Alice estava nos colocando. Claro que não tínhamos nenhuma opção de escolha, e isso era realmente terrível. Pelo menos nos meus pés eu mandava!

Estávamos na moto, outra vez. Seth andava evitando se transformar para não ter que dividir os pensamentos com ele, mas seria bem feito se ele soubesse que agora eu estava namorando seu amigo, por culpa daquele beijo repulsivo. Só pensar me revirava o estômago.

Apertei os braços contra Seth, e ele se assustou um pouco. Não demorou muito para chegarmos na reserva. Sue, Billy e Charlie estavam nos esperando, e nos receberam com uma recepção calorosa. Doía um pouco olhar para Billy e ter que lembrar dele, mas eu conseguiria evitar chorar na frente de todos.

Todos na cozinha. Sentados ao redor de uma mesa retangular, de madeira crua. Tia Sue estava de pé na bancada, preparando outra torta de maçãs para o lanche. Visto que a primeira acabou em alguns minutos com a gula do lobo. Era uma receita que ela havia visto na TV, e eu realmente havia adorado. Isso era raro, eu geralmente preferia sangue.

-Fale a verdade Sue, minha neta não é linda? –vovô era, de fato, o mais coruja de todos.

-É claro. –tia Sue sorriu, graciosa. –Não podemos negar que ela e Seth ficam uma graçinha quando estão juntos.

Eu abaixei o rosto enquanto o rubor tomava minha pele pálida. Ouvi tio Billy pigarrear, com um motivo visível: insatisfação. Ele preferia mesmo que ao meu lado fosse seu filho, e não o “menino da Sue”, como costumava chamar.

-Ora, Billy seu velho resmungão. –ela terminou de lavar as mãos e secou num pano de prato, pendurado em um bolso do avental azul de plástico. –Você não tem que reclamar porque Seth foi mais rápido que seu filho.

Vovô Charlie deu uma risadinha, no mesmo instante que Billy engasgou, e eu me encolhi ainda mais. Seth passou o braço por meus ombros, era visível um pequeno rubor em seu rosto também. A pior parte é que os adultos não percebiam o quanto estavam nos constrangendo.

-Menos gente, vocês estão deixando a Nessie sem graça. –meu anjo protetor estava me salvando mais uma vez.

-Fale a verdade, Seth, não se sente mal por passar seu amigo para trás?

Tio Billy espetou de novo, será possível que esses velhos não têm mais o que fazer além de fofocar a vida dos filhos e netos? Tanto eu quanto Seth, enrugamos a testa. Percebi um tremor leve correr o corpo do menino-lobo, e eu esprimi o meu contra o dele, numa tentativa inválida de distraí-lo.

-Eu jamais teria feito isso com Jacob... –coloquei a mão abaixo de meu pescoço, querendo segurar meu coração. Seth enfiou o nariz entre os cabelos destruídos, me dando um beijo.

-Então o que aconteceu, afinal? –agora a curiosa foi Sue.

-Achei que Jacob nem conseguiria esperar Nessie crescer. Ele parecia que nunca ia desgrudar dela, quando ainda era um bebê, e de repente Seth está namorando minha neta.

-Olha, eu nunca teria feito nada de ruim para qualquer amigo meu. Mas foi o próprio Jake que cavou sua sepultura. Ele beijou a Leah, sei lá porque, mas beijou e nós vimos.

Vi o olhar de todos transtornados com aquela novidade. Billy e Sue principalmente, pelo visto a frase gerou um efeito quase tão ruim para eles, quanto foi para Seth. Charlie não ligou muito, ou, ao menos, fingiu.

-Será possível que sua irmã sempre se mete nessas confusões? Primeiro com Sam, e agora Jacob?! Essa garota vai ter que me ouvir quando chegar em casa!

-Isso é realmente algo estranho. Meu filho não falava muito sobre essa história de ter sido imprinted, mas, pelas lendas, sei bem com é isso... Não achei que ele fosse capaz de pensar em outra garota estando tão vidrado na Nessie.

Eu evitei uma expressão ruim, mas meus olhos já estavam se enchendo de lágrimas, as quais eu tive que controlar muito para que não fugissem. Falar nele ainda era pior que a morte para mim. Seth percebeu meu incômodo, e percebi que ele fez um sinal para que trocassem de assunto. Sue foi a primeira:

-Leah já deve estar chegando, melhor prepara algo para aquela esfomeada comer. Esses dois me dão o triplo de despesas depois dessa história de lobisomens.

Ela abriu um largo sorriso, e o nome da irmã de meu namorado me puxou para a realidade novamente. Estar na casa dela só não era ruim, pois a casa era de Seth, e o cheiro enjoativo da garota se dissipava um pouco, com o aroma de eucalipto tomando o local.

Ainda assim, a última coisa que eu queria era ainda estar aqui quando Leah chegasse. No mínimo ela me trataria muito mal e jogaria na minha cara que ele a preferiu, porque ninguém gostaria de algo como eu. Bufei com esse pensamento.

-Tia Sue, obrigada, a torta estava ótima, mas está anoitecendo e eu tenho que ir embora...

-Tudo bem querida, pode ir antes de Leah chegar, sei que vocês duas não se dão nada bem. –nada escapava de Sue Clearwater.

-Ah, obrigada.

Corri, para dar um beijo na testa de cada um deles. Claro que vovô Charlie exigiu um abraço e uma visita na próxima semana. Fiquei esperando alguns minutos enquanto Seth arrumou uma mochila cheia de bermudas.

Fomos para a praia, na BMW azul (chamá-la de moto é quase uma ofensa). Perdemos mais algumas horas lá, admirando o céu e a linda paisagem que La Push oferecia. Deitados sobre as toras de madeira úmida.

-Ness, eu preciso falar com Sam, saber. Contar as últimas que aprontaram com você, afinal ainda estou de olho, não é? –ele abriu um largo sorriso, e eu retribui.

-Claro, vá. Eu vou ficar aqui pela praia mesmo.

Trocamos um beijo caloroso, e Seth partiu.

Fiquei olhando o céu por uns dez minutos, até que senti um cheiro irritante. Entretanto, estava tão distraída com meus pensamentos que não reparei a aproximação dela, até que sua voz arrogante me despertou.

-Sozinha é? Achei que o idiota do Seth estaria aqui puxando seu saco.

Rosnei.

-Leah... Claro, a única pessoa irritante suficiente para se meter com quem está quieta.

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