Passamos quase a noite inteira conversando. Descubro que ele tem 19 anos e havia sido aceito em Yale, mas preferiu mudar para cá para dar aulas de música, e como ele não estava em seu melhor momento financeiro, Cassie deixou ele morar com ela.

– Já está ficando tarde, melhor irmos dormir – ele diz.

– Também acho. Onde fica o banheiro? Quero tomar um banho.

– No final do corredor. Se precisar de uma toalha, pode pegar no armário embaixo da pia. Boa noite – ele diz e sai do quarto.

Pego minha necessaire e me dirijo até o banheiro. Pego uma toalha aonde Will havia me dito, ligo o chuveiro e entro. Depois de 20 minutos, percebo como estou cansada e decido sair do banho.

Me seco e me enrolo na toalha. Percebo que não trouxe meu pijama para o banheiro. Tento abrir a porta, mas está emperrada. Começo a me desesperar e puxar a porta com força. Quando vejo que não funciona, começo a socar a porta e gritar.

– PAI! WILL! SOCORRO! – grito feito uma louca.

– ASHLEY – escuto meu pai do outro lado da porta.

– Pai, me ajuda, eu estou presa – digo, me sentando no chão.

– Will, você não disse para ela não trancar a porta porque estava emperrada? – ouço Cassie brigar com Will.

– Eu me esqueci – diz Will.

– Tá, tudo bem. Cassie, vai pegar algo para abrir a porta – fala meu pai. Escuto ela descer correndo as escadas – Fique calma Ashley, já vamos te tirar dai.

Depois de alguns minutos angustiantes nesse banheiro minúsculo, Cassie chega e escuto alguém tentando abrir a porta.

– Ash, tá tudo bem? – diz Will se ajoelhando ao meu lado. Não respondo e apenas ando até meu quarto, tentando me acalmar.

– Obrigada – digo ao meu pai antes de fechar a porta. Dessa vez não tranco. Acho que vai demorar um pouco até que eu tranque alguma porta novamente.

Coloco meu pijama e me deito. Depois desse dia acho que a melhor coisa a fazer é dormir.

Acordo com o sol em meu rosto. Olho no relógio ao lado da cama e vejo que são 7:15. A melhor coisa do mundo é acordar num domingo cedo com o sol na sua cara.

Troco de roupa e desço até a cozinha. Cassie já está fazendo o café da manhã.

– Bom dia – diz ela – Dormiu bem?

– Tirando o fato que só conseguia me lembrar de como aquele banheiro é apertado quando você não tem como sair, dormi.

– Eu ainda não acredito que o Will não te avisou da porta. Ele nunca se lembra de nada. Acho que ele tem Alzheimer.

– Tudo bem – digo rindo. Cassie parece ser melhor do que eu pensava. - Me desculpe pela grosseria ontem – digo constrangida.

– Não tem problema. Minha mãe também se casou novamente, e eu sei que não é a melhor coisa do mundo. Quem ficou mais revoltado foi o Will. Qualquer coisa que o marido da minha mãe falasse era motivo para briga, até que um dia eles começaram a agir mais civilizadamente. Agora acho até que eles são quase amigos.

– Quantos anos você tem? É que você parece apenas alguns anos mais velha que eu.

– Tenho 24 – ela diz – sei que sou nova para o seu pai, mas idade é só um número – ela sorri. Concordo com a cabeça.

– Olha, parece que as duas mulheres da minha vida estão se dando bem – diz meu pai entrando alegre na cozinha.

– Sua filha é muito simpática – responde Cassie.

– Hey mana, o que tem pro café? – diz Will entrando meio sonolento na cozinha.

– Panquecas e bacon.

Quando Cassie diz bacon, parece que os olhos de Will vão saltar das órbitas.

– Sério? Cadê?

– Espera eu terminar, morto de fome. Ashley, você pode me ajudar?

Vou até o fogão e frito algumas tiras de bacon, quase queimando-as. Coloco num prato e levo para a mesa.

– Desculpa, mas não sou a melhor cozinheira do mundo, então não deve ter ficado grande coisa – digo.

Will nem liga para o que eu disse e pega três quartos do bacon que está no prato.

– William, deixe um pouco pra gente – diz Cassie dando um tapa na mão de Will. Não consigo evitar rir da cara de criancinha abandonada que ele faz.

Parece que meu tempo aqui vai ser um pouco melhor do que eu imaginava.