Olho em volta pela primeira vez e observo bem o quarto. As paredes são cor-de-rosa, minha cor preferida quando era pequena, e meu pai deve ter pensado que ainda era. Há uma cama na parede direita com algumas prateleiras sobre ela, uma mesinha de cabeceira e um guarda-roupa na esquerda e um daqueles bancos que ficam na janela.

Começo a desfazer minhas malas. Coloco meus livros nas prateleiras e guardo minhas roupas, então pego meu iPod e vou sentar na janela. Coloco no modo aleatório e fico olhando os carros passando lá embaixo.

Logo que escurece, escuto alguém bater em minha porta.

– Queri... Ashley, o jantar está pronto. - escuto meu pai dizer.

Alguns minutos depois já estou na cozinha, e vejo a mulher que abriu a porta para mim levando uma panela até a mesa.

– Ah, oi, não tivemos a oportunidade de nos apresentarmos. Sou Cassie – ela diz me estendendo a mão com um enorme sorriso no rosto.

– Ashley, mas você já sabe – digo meio carrancuda.

Nesse momento, mau pai entra na cozinha com o garoto que eu havia visto mais cedo e se sentam à mesa.

– Esse é o William, irmão da Cassie – diz meu pai.

– Pode me chamar de Will – ele diz e pisca para mim. Olho-o com cara de desprezo, mas ele apenas ri.

Cassie tenta puxar assunto comigo várias vezes, mas quando percebe que o máximo que vou fazer é balançar a cabeça em resposta, ela para, então jantamos em silêncio.

Depois de mais alguns minutos totalmente calada, meu pai dá um soco na mesa derrubando um pouco do suco que está na jarra.

– Ashley, não vou tolerar isso. Você não pode ficar calada como se nem estivesse aqui. Isso não vai fazer com que viremos uma família feliz como éramos anos atrás. Mas você tem que entender que eu segui em frente. Você também deveria.

– Quer dizer que tenho que esquecer que você abandonou eu e a mamãe pra nunca mais voltar? Que você fingiu que eu não existia durante cinco anos, tirando algumas ligações que você fazia a cada seis meses? Agora você também quer que eu planeje seu casamento com uma mulher que não deve ser nem dez anos mais velha do que eu, para que tenhamos um final feliz como nos filmes, que a filhinha abandonada entende os motivos do papai que foi injustiçado pela mãe? Eu nem queria estar aqui, para início de conversa, então sinta-se honrado apenas pela minha presença.

Levanto-me arrastando a cadeira e corro para meu quarto, trancando a porta ao entrar.

Procuro meu celular e ligo para minha melhor amiga, Kaylee. Depois de dois toques ela atende.

– ASH! Meu Deus menina, que saudade.

– Você foi se despedir de mim no aeroporto hoje de manhã – digo rindo.

– E daí? Tem um prazo antes de poder sentir saudade da minha melhor amiga? Mas então, como está sendo ai?

– O que você acha? Incrível, não quero nunca mais voltar para casa. - digo ironicamente.

– Desculpe, mas achei que você poderia ter se acertado com o seu pai.

– Não, eu que peço desculpas. É que estou muito estressada por estar aqui e ter que organizar esse casamento. Espera, tem alguém aqui batendo na porta – digo quando escuto batidas leves na porta.

Abro a porta já esperando ver meu pai, mas para minha surpresa é Will.

– O que você quer? – digo ríspida.

– Oi pra você também – ele diz entrando no meu quarto e sentando na cama.

– Dei permissão? – pergunto arqueando uma sobrancelha.

– A casa é mais minha do que sua. - responde.

– Ainda não respondeu minha pergunta. O que você quer?

– Só vim ver se você estava bem – ele diz fazendo carinha de gato de botas, que admito, quase fiquei com pena.

– Ok, já viu. Agora tchau.

– Olha, ela é bravinha. Gosto de garotas assim. - ele diz dando um sorriso malicioso.

– E eu não gosto de garotos intrometidos, que é o que você está sendo. Então se não sair por bem, vai sair por mal.

– Acho que começamos com o pé esquerdo. - diz ele se levantando da cama – Não tenho culpa se minha irmã vai casar com o seu pai, então você não tem motivos para ficar com raiva de mim. Além do mais, vou ser quase seu tio, então não vejo motivos para não nos darmos bem. Que tal recomeçar? – ele diz estendendo a mão – Sou William, mas pode me chamar de Will.

Olho desconfiada para ele, mas depois de algum segundos de relutância, aperto sua mão e digo:

– Sou Ashley, mas pode me chamar de Ash.