Santana ficou alguns segundos ainda olhando para a porta. Tantos anos de rejeição e agora alguém simplesmente se importava. A morena era muito acostumada a desconfiar das pessoas, mas algo dentro de si dizia que ela simplesmente podia confiar naquela loira, então ela apenas respirou fundo e foi tomar um banho para tirar o cheiro de alcool, suor e sexo do corpo.

Depois do banho, a morena foi até o guarda-roupas e abriu as duas portas do lado esquerdo, onde havia escrito um “Britt” com adesivos em cada lado, e escolheu as roupas que melhores lhe cabiam, uma regata azul um tanto surrada e um short jeans rasgado que não ficava apertado, mas destacava muito bem as coxas morenas.

O apartamento não era muito grande e não tinha muita coisa para fazer. Santana organizou as poucas coisas que estavm fora de lugar e começou a ficar realmente entediada e andar pelo quarto. De repente, ela parou em frente ao guarda-roupa e deu uma olhada nas portas do lado direito. Mordeu o lábio sendo tomada por curiosidade e as abriu lentamente. Haviam adesivos na parte interna como no lado esquerdo, mas esse diziam “Lucy Quinn”.

“Quinn” –esse nome parecia familiar e Santana repetiu algumas em sua mente para tentar lembrar quando, finalmente, veio um flash em sua mente: a voz de Brittany próxima ao seu ouvido pronunciando esse nome.

Por um instante, Santana se sentiu magoada por ter sido chamada por outro nome, mas então se lembrou que nem ela sabia o nome de Brittany naquela noite para se sentir magoada de alguma forma e, pelos adesivos no guarda-roupas, fosse quem fosse, Quinn tinha mais direitos sobre Brittany sobre do que Santana.

Mas o que havia acontecido com a tal Quinn? Santana aproximou um pouco mais o rosto para analizar as roupas. Calças jeans, camisas variadas e vestidos soltinhos e geralmentes cheios de flores. Cores claras como rosa, branco, amarelo e azul. Tudo muito bem preservado como se esperassem sua dona voltar a noite para escolher o que mais lhe agradaria naquela hora para usado.

Algum tempo de análise e Santana fechou a porta tentando limpar a mente de toda essa curiosidade, depois tornou a andar de um lado para o outro no quarto até decidir ir explorar o resto do apartamento com mais atenção. Foi então que reparou de fato nas fotos dos porta-retratos em cima dos móveis. Algumas de Brittany, outras de outra loira e outras em que as duas estavam juntas. Santana supos que aquela fosse a tal Quinn. Era uma loira bonita, Santana tinha que admitir. Cabelos longos e ondulados, olhos dourados, sorriso meigo.

Santana queria saber mais sobre ela. E também queria saber mais sobre Brittany. Talvez não fossem duas coisas diferentes. A história de Brittany estava interligada a daquela loira.

Era quase noite quando Brittany chegou em casa e Santana levantou do sofá em um sobresalto.

Brittany: _Calma, Santana. Sou só eu.

Santana: _Tudo bem. Eu só estava pensando em outras coisas.

Brittany: _Eu trouxe comida. Imaginei que iria estar com fome.

Santana: _AH. Um pouco. Eu imaginei que você estaria com fome e pensei em cozinhar, mas não tem comida aqui.

Brittany: _Tem comida aqui sim.

Santana: _Coisas em latas e pacotes brilhantes não são comida.

Brittany ficou estática por um segundo. A voz de Quinn ecoou em sua cabeça em um devaneio.

“Amor, coisas em latas e pacotinhos não são comida. Eu vou no mercado comprar comida de verdade e amanhã eu ti ensino a cozinhar.” –Q

“Vida, você diz que vai me ensinar a cozinhar amanhã já tem mais de três anos.” –B

“É porque eu gosto de cozinhar e não vejo problema em fazer isso pro amor da minha vida. Mas acredite, Bitt-Britt, um dia eu ensino.” –Q

Um dia. Um dia pode ser tarde demais. Um dia foi tarde demais. E agora ela tinha um armário cheio de besteiras e um coração cheio de tristeza. Um dia foi tarde demais.

Santana: _Brittany? Brittany? Brittany, você tá bem?

Brittany: _Oh. Sim, eu estou bem. É só que... Deixa. Pra lá. Eu vou comprar ingredientes e... Espera. Você sabe cozinhar?

Santana: _Eu sou latina. Cozinhar é comigo mesmo. Mas não precisa mudar de assunto, Brittany. Você disse que se importava comigo e não deveria estranhar eu estar me importando com você também.

Brittany: _É que isso é muito pessoal e eu... Eu não to pronta pra compartilhar isso com você por enquanto.

Santana: _Tudo bem. Você precisa do seu espaço e eu entendo isso perfeitamente.

Brittany: _Obrigada, Santana.

Santana: _De nada. Se quiser, pode me chamar de San. Ou Sant.

Brittany: _Sant, você pode me chamar de Britt se quiser.

Santana: _Obrigada, Britt.

Brittany: _De nada. Agora vamos falar do que é importante. O que se compra pra fazer comida latina? Eu nem sei o que se compra pra fazer comida daqui.

Santana: _(risos). É melhor eu ir com você. Eu posso ti ensinar a cozinhar um pouco também, se você quiser. Não é tão complicado e quero que você se alimente bem quando eu for embora. –Brittany fez uma expressão sofrida e contraiu os lábios como se estivesse segurando o choro. –Britt, tem certeza que tá tudo bem?

Brittany: _E-eu... –a loira respirou fundo duas vezes até conseguir forçar um sorriso que não chegou. –Eu estou bem.

Santana: _Está mesmo?

Brittany: _Estou. É síndrome de Willy Wonka, alguns devaneios.

Santana: _Os devaneios de Willy Wonka são causados por lembranças de um passado não muito agradável. É o seu caso?

Brittany: _Quem me dera. O problema é que tenho lembranças de um passado realmente muito agradável. Mas nós falamos sobre isso outro dia, okay? Agora eu vou tomar um banho e depois nós comemos. As compras a gente deixa pra amanhã.

Santana apenas assentiu e Brittany foi tomar banho.

Por mais que a latina estivesse ainda mais curiosa sobre o passado de Brittany e qualquer informação sobre Quinn, ela sabia que esse não era um assunto para se por em pauta tão cedo, então decidiu apenas deixar que as coisas rolassem.