O fogo na lareira aquecia toda a sala; Não que eu tivesse frio, nada disso; Não me lembro a ultima vez que tive frio, acho que nunca. Havia um calor dentro de mim; Um fogo que ardia e aquecia-me. E esse era o meu poder.

De algum modo estranho, eu possuía o fogo dentro de mim!

Suspirei, sentada no sofá vermelho da sala. James já deveria ter voltado; Será que lhe aconteceu algo? A rainha de Winterland não o magoaria! Magoaria?

Na realidade, eu não sabia nada sobre ela, nem sobre o reino; Eram as regras. Não podíamos conviver ou atravessar a fronteira. Eu nem mesmo sei como é a fronteira!

Tudo o que sabia do reino vizinho era o que estava escrito no livro de Conduta. Chamado o reino do gelo, Winterland era o que se podia dizer por frio, ou pelo menos, era o que dizia o livro.

No entanto, havia rumores e lendas sobre a rainha de Winterland. Diziam que ela era fria e tinha sido o seu coração gelado que dera o nome do reino. Eu não acreditava!

Peguei numa madeixa do meu cabelo loiro e comecei a brincar com ela, enquanto encarava o fogo crispar. Senti duas mãos taparem-me os olhos e ri.

– James – disse ainda a rir. Só ele me fazia isso.

– Bom noite, Emily – cumprimentou e sentou-se do outro lado do sofá, uma vez que as minhas pernas não o deixou aproximar-se. – Como estás?

– Óptima e tu? Correu tudo bem?

– Estou bem – disse. Passou as mãos pelo cabelo, o que indicava que estava nervoso. – Digamos que o reino é um pouco diferente do nosso.

– Diferente como? Bom ou mau? E a rainha? É simpática? Os rumores são verdade? – Questionei sem o deixar responder.

– Calma Em – pediu e riu-se. – Uma coisa de cada vez – disse. – A rainha é jovem, tem a tua idade. Chama-se Katherine e, bem, é um pouco parecida com o que dizem.

– Como assim? – Perguntei confusa.

– Embora eu ache que Katherine seja uma boa rainha, ela é um pouco fria – constatou. – Eu vi uma rapariga do povo dizer que queria ser como ela.

– Fria? A rapariga quer ser como ela?

James suspirou.

– O povo acha-a linda e carinhosa, pelo menos foi isso que eu percebi. Pelo que ela deve ser uma boa rainha, certo? – Perguntou ele. Assenti. – No entanto, quando a conheci a ideia com que fiquei foi que ela era fria. Tu acreditas que ela tem um trono de gelo?

– Trono de gelo? – Arregalei os olhos. – A sério? E o reino?

– O reino é coberto de neve e gelo – informou. – Mas o mais estranho é que não é frio. Quer dizer, é mais frio do que aqui, mas não é frio como quando Fireland está no inverno, percebes?

– Mais ou menos – admiti. – Mas deixa! O que ela disse sobre sábado?

James voltou a passar as mãos pelo cabelo, despenteando-o.

– Bem, se a quiseres na tua celebração, terás de a fazer na fronteira – informou. – Ela faz anos no mesmo dia e, tal como tu, não pode sair do reino até concluir o ritual. Não me perguntes porquê!

– Se calhar está assustada com a ideia de atravessar a fronteira.

James sorriu de lado.

– Acredita em mim – pediu. – Katherine não me parece ser o tipo de mulher que tem medo de quebrar as regras.

Franzi o sobrolho.

– Então não tenho ideia do porquê – admiti. – Mas ela vai estar na fronteira, certo?

– Sim – afirmou. – Ela e mais um homem – olhei-o curiosa. – Acho que deve ser namorado ou parceiro. Ele foi o único a desafiá-la no castelo, deve, pelo menos, ter algum tipo de confiança com ela.

– Se calhar é só amigo – contrapus. – Tu também és meu amigo e desafias-me, às vezes.

– Talvez – disse pensativo.

Então, James contou-me tudo sobre a sua viagem. Sobre como era a fronteira, o reino e o castelo. Contou-me sobre William, o suposto parceiro de Katherine, e da sua curiosidade em conhecer o meu reino. Falou-me sobre Katherine, descrevendo-a. Segundo James, ela era bonita com os cabelos pretos e os olhos azuis.

Tão diferente de mim.

Dias depois.

Finalmente, sábado havia chegado. O meu aniversário! Vinte e um anos! O meu poder tinha atingido a maioridade, ou seja, estava completo. Era incrível! Eu sentia-o ainda mais quente dentro de mim.

Tal como combinado, eu estava na fronteira á espera de Katherine. James tinha vindo comigo, mas apenas ele. Não queria mais ninguém… o que eu queria mesmo, era conhecê-la. Quer dizer, vivi toda a minha vida sendo vizinha dela e nunca sequer a vi.

James tinha razão. A fronteira era algo fácil de ver. Uma linha imaginária que dividia o verde do branco. Sorri.

Como será Katherine?

Ajeitei o meu vestido vermelho sem mangas, de um ombro só. Tinha calçado uns sapatos pretos de salto e usava o anel de rubi que sempre estava no meu dedo. Estava bonita, mas simples. Precisava de vestir algo que simboliza-se o fogo!

Esperei alguns minutos, então ela apareceu.

Montada num cavalo tão preto quanto os seus cabelos. Ela era linda! Porem, tal como James descreveu fria. Os olhos azuis pareciam pedras de gelo. A seu lado, vinha um homem.

Ele tinha os cabelos cor de bronze, olhos verdes. Possuía algumas sardas. Alto e musculoso, mas sem exagero.

Ambos, homem e mulher, desceram dos cavalos e encaminharam-se até mim e James. William tinha um sorriso na cara, ela não. Mas rapidamente isso foi resolvido quando o homem lhe deu uma pequena cotovelada. Katherine apressou-se a colocar um sorriso na cara, que não lhe chegava aos olhos.

Analisei-a melhor. Trazia vestido um comprido vestido azul que aclareava. Uns sapatos prateados de salto e um anel que não consegui ver bem

Pararam à minha frente. A um metro de mim. James aproximou-se.

– James – Katherine cumprimentou. Este apenas assentiu com a cabeça.

– O meu nome é Emily – apresentei-me alegremente. – É um prazer conhecer-te.

Ela sorriu.

– Katherine, e o prazer é meu – afirmou. – Este é William Stone – apresentou o homem a seu lado.

Estendi a mão a Kate e esta apertou-ma. Senti um choque quando lhe toquei e sei que ela também o sentiu porque retirou a mão, rapidamente, e deu um passo atrás. No entanto, os seus olhos não revelaram nada.

– Estás bem? – Perguntou Will à sua rainha.

Antes de dar uma resposta, Kate percorreu os seus olhos por mim, analisando-me. Depois sorriu e virou-se para Will.

– Óptima, como sempre – garantiu.